História do Movimento Anarquista no Brasil

Edgar Rodrigues


História do Movimento Anarquista no Brasil


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Com 8.511.965 km2 e uma população de cerca de 160 milhões de habitantes, "encontrado pelos navegadores portugueses em 1500", colonizado à força de chicotadas e da decepação de pares de orelhas com as mãos dos capitães do mato", cresceu pela força do trabalho escravo, como os demais países "descobertos" por espanhóis, italianos, holandeses, franceses, ingleses e outros.

A questão social começou quando uns poucos figurões alugaram e compraram braços humanos para desbravar a terra, abrir estradas, construir pontes, moradias, carruagens e tudo o mais capaz de proporcionar uma vida confortável aos comandantes da miséria e do progresso do Brasil.

Nos quase 500 anos de história aconteceu de tudo um pouco: compra e venda de gente como nós nos leilões em praça pública, uso de escravos novos para reproduzir filhos (mão-de-obra com pouco custo e nenhum risco) com escravas sadias, trabalho pela comida, trapaças para tomar terras férteis aos nativos, prisões, espancamentos a gosto dos patrões e tudo o mais que o cérebro humano é capaz de imaginar para dominar seus semelhantes. E eram todos boas almas tementes a Deus...

A opressão seguiu-se às fugas e à formação dos quilombos, o mais importante foi instalado em Palmares (1602-1695), resistiu quase um século, teve 20 mil habitantes vivendo em comunidade sem leis nem amos. Zumbi e seus companheiros anteciparam- se a Tiradentes dois séculos tentando formar uma nação dentro do Brasil.

Independente em 1822, no grito do português Pedro I (4° de Portugal), o Brasil foi palco de muitas fugas e revoltas populares: a Setembrada e a Novembrada (1831); Levante de Ouro Preto (1833); a Sabinada (1837); a Balaiada (1838); a Cabanagem (1835-1840); a Guerra dos Farrapos (1835-1845); a Revolução Liberal (1842); a Revolução Praieira e a Proclamação da República em 1889. Pouco antes (13 de maio de 1888) havia sido promulgada a Lei Áurea acabando com a prática de comprar e vender gente.

A rebeldia iniciada na contramão pretendia mudar a prática patronal, surrada, vergonhosa, anti-humana!

Do velho mundo chegavam as ideias revolucionárias de navio, em livros publicados na Europa. Entravam pelos portos do Rio de Janeiro, de Santos, atravessavam as fronteiras invadindo o Brasil um pouco na cabeça de cada imigrante que vinha em busca de liberdade e de terra fértil para semear o anarquismo.

Nas duas últimas décadas do século 19 alguns jovens brasileiros foram estudar na França e em Portugal e lá souberam das ideias libertárias. Outros estudaram no Brasil mesmo e encontraram livros de Kropotkine nas livrarias e na leitura respostas para suas inquietações.

É dessa época Manuel de Mendonça, autor da novela social "Regeneração". O médico e higienista Fábio Luz encontrou na Bahia Palavras de um Revoltado, de Kropotkine, leu essa revolucionária obra e tornou-se anarquista. Escreveu e publicou Ideólogos e Os Emancipados, duas obras libertárias do início do século 20, sendo desde então considerados os primeiros escritores brasileiros a tratar da questão social no romance.

Aos dois intelectuais anarquistas juntaram-se Elísio de Carvalho, o estudante de medicina J. Martins Fontes, Pedro do Couto, Rocha Pombo, Pausilipode da Fonseca, João Gonçalves da Silva e Maximino Maciel, formando o grupo que publicou, no Rio de Janeiro, mais adiante, a revista Kurtur, e fundaram a Universidade Popular, em 1904, duas iniciativas anarquistas.

Avelino Foscolo, começou em Minas Gerais, Reinaldo Frederico Greyer, no Rio Grande do Sul, Ricardo Gonçalves (tem uma rua com seu nome em São Paulo), Benjamin Mota, Edgard Leuenroth e João Penteado, em São Paulo; Orlando Corrêa Lopes, Francisco Viotti, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto e José Oiticica, no Rio de Janeiro. De Portugal chegou Neno Vasco, um ilustre advogado, fez escola como anarquista em São Paulo (1901-1911), entre outros responsáveis pela sementeira anarquista no território brasileiro.

Em 1890 chegaram da Itália Giovani Rossi e seus companheiros para fundar a Colônia Cecília no Paraná.

A São Paulo, Guararema, chegou o italiano Artur Campagnoli e aos poucos Gigi Damiani, Alexandre Cherchiai, Oresti Ristori, Frederico Kniestedt, valorosos militantes italianos e de outros países que, depois de dar um salto no escuro para se ajustar ao clima tropical, às formas de trabalho, aos costumes, à alimentação, ainda tiveram que aprender o idioma português. A única coisa que pouco diferenciava o Brasil da Europa era a questão social, a exploração do homem pelo homem.

Lícito é destacar que o motor de propulsão do movimento anarquista no Brasil veio da Itália, foram os imigrantes deste país que sacudiram e agitaram com maior intensidade a questão social, as reivindicações e começaram uma propaganda sistemática do anarquismo e do anarco-sindicalismo. Em idioma italiano ou em português, publicaram dezenas de jornais, fizeram centenas de palestras, realizaram espetáculos teatrais com peças revolucionárias e por isso muitos foram presos, expulsos e outros tiveram de mudar de atividades para se esconder, embora uns poucos também tenham melhorado de vida e abandonado as ideias.

Dessa sementeira que envolveu em primeiro plano os italianos, seguidos e apoiados por portugueses, brasileiros, espanhóis e outros, circularam pelo Brasil mais de uma centena de jornais e revistas (entenda-se títulos) anarquistas e anarco- sindicalistas, sendo quatro diários; fundaram e dirigiram escolas de ensino racionalista, formaram grupos de teatro e representaram mais de uma centena de peças libertárias e anticlericais, fizeram comícios públicos contra a guerra, o serviço militar obrigatório, reduziram a jornada de trabalho (quando chegaram oscilava entre 16 e 10 horas diárias), bateram-se pela higiene e segurança no trabalho, por uma infinidade de melhorias tornando o trabalho menos penoso para o proletariado do Brasil. Mais de um milhar foram expulsos com a roupa do corpo acusados de agitadores estrangeiros, umas dezenas morreram lutando com a polícia. O primeiro anarquista assassinado foi o italiano Polenice Mattei, em São Paulo, no dia 20 de setembro de 1898.

Para se entender a trajetória do anarquismo no Brasil, confundido com o movimento sindicalista revolucionário ou anarco-sindicalista, é preciso definir ainda resumidamente o que os distingue e por que se confundem.

Movimento Anarquista: ação de grupos anarquistas, em conjunto ou separadamente, composto por células orgânicas, comunas, grupos, centros de estudos, uniões e federações.

O movimento anarquista não é exclusivamente uma organização de operários para operários, é ação de indivíduos que se opõem e dão combate ao capitalismo, almejando a derrocada do Estado e a reconstrução de uma Nova Ordem Social, descentralizada horizontalmente, autogestionária. Não é a revolta dos estômagos, é a revolução das consciências! O Movimento Anarquista não se firma na luta de classes ou pretende instalar os governados no lugar dos governantes, seus fins são de acabar com as classes, tornar o homem irmão do homem, independente de cor, idade ou sexo. Não visualiza a igualdade metafísica ou de tamanho, força, necessidades, quer a igualdade de possibilidades, de direito e deveres para todos.

Anarco-Sindicalismo: corrente sindicalista, assim chamada a partir da cisão provocada no 5° Congresso da AIT (Primeira Internacional dos Trabalhadores), em Haia, no ano de 1872, adotada pela maioria dos operários do Brasil até a implantação dos sindicatos fascistas pelo Estado Novo de Vargas, em 1930.

O anarco-sindicalismo é ao mesmo tempo uma doutrina e um método de luta.

Como doutrina, parte do trabalhador, célula componente da sociedade que pretende aperfeiçoar e desenvolver. Como método de luta, pretende a anulação do sistema capitalista pela ação direta, pela greve geral revolucionária e a substituição por uma sociedade gerida por trabalhadores em autogestão. Sua força reside no conjunto de organizações operárias (sindicatos, uniões e federações) voluntárias, livremente associadas.

A diferença entre sindicalismo e anarquismo consiste nos métodos e alcance. O movimento anarquista é de indivíduos, pretende torná-los unidades ativas, independentes, capazes de produzir e gerenciar em autogestão, sem as muletas políticas, religiosas, sem chefes: vai até onde a liberdade e a inteligência o possa levar. O sindicalismo é um movimento de operários (inclusive de ofícios vários), voltado mais para a gerência da produção e do consumo. Seu espaço é limitado, materialista, sem a dimensão e o alcance de filosofia de vida do anarquismo.

Bolchevismo: Variedade de socialismo. Doutrina política dos democratas russos que desejavam a aplicação integral do programa máximo de Lenin e Plekhanov. É empregado também como sinônimo do comunismo e do marxismo. Nasceu em agosto de 1903, durante o 2° Congresso do Partido Social Democrata Russo, iniciado em Bruxelas e terminado em Londres. Chegou ao Brasil depois da Revolução Russa de 1917, ganhando corpo com a formação do PCB em 1922. Disputou com os anarco-sindicalistas a supremacia dos sindicatos, transformando-se desde então num sério opositor aos movimentos anarquista e sindicalista.

Revendo a caminhada histórica do movimento libertário brasileiro, descobre-se que andaram pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo socialistas da escola de Fourier, Garibaldines, Maria Baderna da escola de Mazini; anarquistas adeptos de Proudhon e Bakunin e revolucionários da Comuna de Paris chegados clandestinamente ao Brasil em busca de asilo político.

Para o autor a história do anarquismo em terras brasileiras começou a ser escrita efetivamente em 1888 com a chegada de Artur Campagnoli. Foi este bravo militante italiano, artista joalheiro, falecido em 1944 em São Paulo, quem teve o mérito de fincar o mais visível e incontestável marco anarquista no Brasil. Chegou a São Paulo em 1888, comprou uma área de terra considerada improdutiva e fundou a Colônia Anarquista de Guararema, com ajuda de libertários russos, franceses, espanhóis, italianos (a maioria) e nas décadas de 20 e 30 teve a colaboração de brasileiros. Dois anos mais tarde veio o engenheiro agrônomo Giovani Rossi e cerca de 200 imigrantes da Itália, em duas levas, para fundar a Colônia Cecília no Paraná. Esta experiência ácrata resistiu de 1890 a 1894 às investidas do governo da República, que acabava de implantar-se no Brasil. Asfixiada por cobranças de impostos indevidos, pelas invasões militares, os mais resistentes esperaram a expulsão, radicando-se nas imediações para olhar de longe a palmeira onde por quatro anos tremulou a bandeira preta e vermelha do Anarquismo.

São desta mesma época os periódicos ácratas: Ghi Schiavi Bianchi, São Paulo, 1892, em idioma italiano e tendo como diretor Gallileu Botti; L'Avenire, São Paulo, 1893, em italiano e português; Il Risveglio, São Paulo, 1893, em italiano.

O Libertário, em português, saiu em 1898, em São Paulo, sob a direção de Benjamim Mota; O Despertar, Rio de Janeiro, em 1898, sob a direção de José Sarmento Marques, e em janeiro do mesmo ano de 1898 realizou-se o Primeiro Congresso Operário no Rio Grande do Sul com a participação de dois centros anarquistas. Em 20 de setembro foi assassinado Polenice Mattei, o primeiro mártir do anarquismo, em São Paulo, Brasil.

Em mais de cem anos, o movimento anarquista do Brasil sofreu inúmeros revezes. Chegou a contar com o apoio de quatro diários, dezenas de semanários, mensários, bimensários e periódicos. Atravessou fases dificílimas sem nenhum porta- voz nem poder reunir seus militantes.

Nesse mesmo período foram publicados alguns livros e folhetos, a maioria por iniciativa de grupos libertários que se cotizavam para angariar recursos com os quais custeavam edições. As obras clássicas foram lançadas por editoras comerciais. Somado o esforço dos libertários às iniciativas dos livreiros, o número de títulos de livros publicados em terras brasileiras pouco excede as duas dezenas até 1960.

Em 1964 chegou a ditadura militar e com ela um frutífero período de grande efervescência editorial de obras libertárias. Paralelamente à repressão, escritores e editoras afrontaram a ditadura na década de maior repressão (1970-1980), prosseguiu durante a varrida do entulho autoritário, entrando na "nova-velha república" pesquisando e publicando livros ácratas.

O anarco-sindicalismo e o anarquismo caminharam no Brasil muito entrelaçados enquanto movimento. Sua distinção era notada na imprensa.

Mais preocupados com a ideologia, os anarquistas desenvolviam um trabalho educativo. Viam no elemento humano a "peça" mais importante a preparar, tanto no terreno profissional quanto no cultural, a fim de que cada militante fosse capaz de se autogerir sem muletas religiosas, patronais ou policiais. Colocava sempre os cérebros acima dos estômagos.

Com estes objetivos os anarquistas fundaram escolas livres, universidades populares, grupos de teatro social, desenvolveram intensa propaganda educativa, sociológica, de cultura geral, libertária.

Nas duas primeiras décadas do século 20 promoveram manifestações estrondosas na defesa do fundador da Escola Moderna, Francisco Ferrer y Guardia, e de companheiros presos, torturados e expulsos do Brasil. Apoiaram e ajudaram os trabalhadores russos quando da revolta de 1905, os mexicanos em 1910, os russos em 1917, reverenciavam os Mártires de Chicago, no dia 1° de maio, e não esqueciam as vítimas do capitalismo selvagem no Brasil e no mundo.

Durante a guerra de 1914-1918, os libertários brasileiros atuavam em diversas frentes, em nível de Brasil: contra o desemprego, o aumento do custo de vida, a escassez de alimentos de primeira necessidade, combatiam a burguesia açambarcadora, o clero corruptor das mentes, o Estado "pai de todos", que garantia inclusive a carnificina humana nos campos de batalha.

Para minimizar a fome, o governo, pressionado pelo proletariado libertário que fazia comícios nas portas das fábricas, autorizou a venda de gêneros diretamente do produtor ao consumidor (processo hoje conhecido como feiras livres, um pouco mudado) sem taxação de impostos.

Em nível internacional realizaram o Congresso Pró Paz, no Rio de Janeiro, e enviaram três delegados ao Congresso realizado no Ateneu Sindicalista do Ferrol, em 1915, dissolvido aos tiros pelo governo espanhol.

O que aconteceu com os representantes do movimento anarquista brasileiro aparece no seguinte texto:

Realizou-se na quarta-feira à tarde, no largo de S. Francisco, um comício convocado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra formado de representantes de várias agremiações operárias daquela cidade.

Abriu o meeting às 5 horas e pouco João Gonçalves da Silva, que explicou os fins do mesmo, que era protestar principalmente contra a proibição feita pelo governo espanhol à reunião do Congresso Internacional Pró Paz de Ferrol.

Seguiram-se com a palavra José Elias da Silva e Dr. Orlando Corrêa Lopes, atacando os governos da Europa e mostrando que o proletariado é o único a sofrer com a conflagração, devendo ele, portanto, rebelar-se contra e esforçar-se por lhe pôr um paradeiro.

Falou depois a operária Juana Buela, companheira de João Castanheira, o operário vítima da sanha da polícia de Espanha. Profundamente emocionada Juana Buela, que leu o seu discurso, proclamou bem alto e bem firme os seus ideais revolucionários, que não esmoreceram com a morte daquele que foi o seu companheiro de vida, antes mais se arraigam e mais se acentuam.

Por fim, Leal Júnior, usou da palavra encerrando o comício com a seguinte moção de protesto:

Considerando que o direito de reunião e livre manifestação do pensamento é um direito primordial conquistado, adquirido e reconhecido em todo o mundo civilizado e;

Considerando que o Congresso Internacional Pró Paz convocado pelos elementos proletários e revolucionários de Ferrol, Espanha, e tendo por fim combinar uma ação conjunta dos proletários da Europa e da América no sentido de uma afirmação positiva e concreta contrária à guerra e favorável ao estabelecimento de uma paz real baseada na solidariedade efetiva desse proletariado, colimava um escopo altamente humanitário e de verdadeira defesa da civilização;

A massa popular reunida em comício organizado pela Comissão Popular de Agitação Contra a Guerra e realizado no Largo de S. Francisco de Paula, às 5 horas da tarde de hoje, deixa firmadas nesta moção as expressões de seu indignado protesto contra o ato do governo espanhol, proibindo aquele Congresso, perseguindo e deportando os delegados ao mesmo idos de outros países e assassinando, pelo instrumento da sua política, um dos delegados enviados por associações proletárias e libertárias do Brasil, o operário João Castanheira, como consta dos telegramas publicados pela imprensa desta cidade.
Rio de Janeiro, 12 de maio de 1915

O comício do Rio de Janeiro terminou com grande passeata na frente da Federação Operária, no antigo Largo do Capim. Sucederam-lhe manifestações dos libertários do Paraná, Rio Grande do Sul e de diversas cidades do Estado de São Paulo. Os jornais operários e anarquistas também atacaram de rijo os beligerantes, inclusive distribuindo postais com alegorias de repulsa à guerra, produzindo grande impacto ao longo dos quatro anos em todo o Brasil.

São Paulo foi palco de greves insurrecionais em 1906 e 1907 pela conquista da jornada de oito horas diárias; em Santos as greves para conseguir as oito horas só terminaram em 1921.

O proletariado de tendência libertária procurava abrir caminho na selva capitalista deflagrando greves que vieram a desembocar na insurrecional de 1917, nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná, por solidariedade.

Em 1918, movimento insurrecional explodiu no Rio de Janeiro com um saldo de três operários assassinados pela polícia carioca e cerca de meia centena de presos e deportados. Em 1919, Epitácio Pessoa aproveitou para expulsar do país três dezenas de anarquistas. Contrariando as expectativas do governo, que acreditava que com as expulsões e deportações reduzia a pujança do movimento libertário, ainda em 1919, formou-se o Partido Comunista do Brasil, de que logo se arrependeriam seus organizadores ao saber que o governo soviético prendia, torturava, matava e expulsava anarquistas que haviam ajudado a derrubar a dinastia dos Romanov.

A burguesia vivia apavorada, exigia respostas imediatas aos "desordeiros..."

Uma onda nacionalista começava a formar-se no Brasil em oposição às "esquerdas". Em 1920 são expulsos do Rio de Janeiro mais de dois mil portugueses, pescadores de Matosinhos e da Póvoa de Varzim, vítimas desse patriotismo brasileiro. Muitos haviam chegado ao Brasil adolescentes, casados e já tinham filhos nascidos no Rio de Janeiro. O único pecado desses trabalhadores do mar era não quererem naturalizar-se brasileiros.

Uma lei vesga proibia-os de exercer suas profissões, acabando por servir ao integralista capitão Frederico Vilar, para mandar de volta gente honrada, com o aval do presidente Epitácio Pessoa.

Neste mesmo ano foram expulsos também anarquistas e anarcossindicalistas italianos, portugueses, espanhóis, precipitando protestos de operários e intelectuais em todo o país e na Europa.

No sul, alemães e russos anarquistas marcavam suas presenças em oposição aos seus patrícios que pretendiam ficar ricos e aos brasileiros xenófobos exploradores.

Greve na indústria têxtil de Santa Catarina é o pretexto para expulsar dois anarquistas nascidos na Alemanha.

Em Porto Alegre o anarquista alemão Frederico Kniestedt abre espaço com os jornais Der Freie Arbeiter, Aktion, Alarm e o Sindicalista, os três primeiros publicados em seu idioma e o último em português.

Ainda no Sul, mais exatamente em Erebango, (Getúlio Vargas), fixaram residência e formaram uma comunidade várias famílias de russos da Ucrânia. Sua atuação anarquista é-nos contada por um dos seus componentes, Elias Iltchenco que visitamos já muito doente.

No ano de 1920 os emigrantes de Getúlio Vargas - ex- Erechim - já tinham condições emocionais e de locomoção e começaram a formar grupos coesos, a reunir-se uma vez por mês.

Nosso grupo tinha mais de 40 membros espalhados numa área de 40 a 50 km, englobando grupos de Floresta, Erechim, Erebango e outros lugares.

São dessa época:

Um dos mais ativos militantes russos no Rio Grande do Sul, distribuidor do jornal Golos Truda, publicado na América do Norte de 1911 a 1963, e de toda a propaganda escrita que chegava da Argentina, chamava-se Demétrio Cirotenco. Durante mais de duas dezenas de anos foi o mais importante elemento de ligação, o aglutinador das Uniões de Trabalhadores em Erechim e Erebango principalmente. Depois sofreu um acidente e morreu, deixando um vazio entre os camponeses russos, que só em 1925 perderam a esperança de ver implantada em seu país uma sociedade de fundo e forma libertária.

O mais eminente elemento anarquista russo no Brasil, escritor, jornalista, teatrólogo, professor e conferencista carregava uma barba semelhante a de Kropotkine e chamava-se Ossef Stepanovetchi. Era natural da Ucrânia e marcou a sua presença no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Curitiba-Paraná, onde faleceu.

Os jornais mais lidos entre os emigrantes chegavam da Argentina, Canadá e dos Estados Unidos (Golos Truda) de 1918-1930; Golos Trujnica, de Detroit, de Nevada, Chicago e Nova Iorque, Dielo Trouda Probuzdenia.

Na segunda e na terceira décadas do século 20 o movimento anarco-sindicalista e anarquista chegou ao seu ponto mais alto. Além, dos jornais libertários, alguns militantes dispunham de espaços diários na imprensa comercial. Um deles nascido em Portugal, José Marques da Costa, tinha uma coluna diária no jornal A Pátria, do Rio de Janeiro, e publicou a seguinte nota:

Camilo Berneri na reunião do grupo Os Emancipados. Sexta-feira próxima, na sua sede à rua Buenos Aires, 265, às 20 horas em ponto, os anarquistas, simpatizantes e trabalhadores em geral terão oportunidade de ouvir uma brilhante Conferência de Camilo Berneri, sobre Giordano Bruno na Philosofia e na Renascença-Vida e Pensamento do grande filósofo da liberdade.
Entrada franca, tribuna livre
Os Emancipados

Da Rússia e da Itália chegavam também ao Brasil e fizeram grandes estragos no movimento libertário duas correntes políticas na época batizadas de Bolchevista e de Integralista.

A primeira orientada pela Terceira Internacional e a Internacional Sindical Vermelha, com sede em Moscou, agia em nome da Ditadura do Proletariado, no seio do Partido Comunista Brasileiro, criado em março de 1922 por 11 egressos do movimento ácrata e um socialista. Começaram disputando a direção dos sindicatos e acabaram por ajudar os governos de Artur Bernardes, Washington Luiz e Getúlio Vargas a reduzir sensivelmente o movimento libertário e os sindicatos livres. Em 1927 assassinaram os anarquistas Antonino Dominguez e Damião da Silva e feriram mais de 10 militantes no Sindicato dos Gráficos, à rua Frei Caneca, 4, sobrado, Rio de Janeiro. Assaltaram e roubaram o acervo do Sindicato dos Trabalhadores em Calçados, à rua José Maurício, 41. Ajudaram assim a encher o Campo de Concentração do Oiapoque e a implantar a ditadura nazi-fascista no Brasil com seus sindicatos verticais, controlados pelo Ministério do Trabalho.

A segunda corrente política veio dos porões do Vaticano com o nome de fascismo. No Brasil, por muitos anos, apelidado de Integralismo. O projeto foi elaborado por D. Annunzio, Bertolotti, Papini e outros e tinha como "filosofia": "Poder tudo, absolutamente tudo! O único amor é o poder; o único fim é o poder; extremo sonho o poder!"

No Brasil, o chefe, Plínio Salgado, e seu alto comando reuniam a fina-flor dos desordeiros dispostos a tudo fazer para derrubar o governo e chegar ao poder: era o candidato a ditador Plínio lutando contra o ditador Getúlio.

Para Plínio, os decretos n° 19.433 de 26 de novembro de 1930; 19.770 de 19 de março de 1931 e 22.969 de 11 de abril de 1933 obrigando os trabalhadores a aderirem às fileiras "sindicais do Ministério do Trabalho, tornando-os eleitores com representantes profissionais na Assembléia Nacional Constituinte, num total de 40 membros, sendo 18 representantes dos empregados, 17 dos empregadores, dois funcionários públicos e três profissionais liberais". Queriam copiar Mussolini totalmente.

Vargas contava, para convencer os recalcitrantes, com a polícia política de Batista Luzardo, Felinto Müller, Emílio Romano, Serafim Braga e outros profissionais do argumento do cassetete.

No Rio de Janeiro, o jornal O Primeiro de Maio, de 1933, denunciava:

“Em um só xadrez da polícia acham-se presos 50 proletários, sem nota de culpa. Muitos deles sofreram castigos corporais por terem protestado com a greve de fome contra a alimentação que nem para os cães prestava.”

Em Porto Alegre, sob a orientação do anarquista Frederico Kniestedt, Aktion, de 1° de maio, fala das pretensões nazistas sobre o Brasil em idioma alemão. E no dia 19 de maio de 1933 um grupo armado invade a Federação Operária de São Paulo, arromba as portas das secretarias do Sindicato dos M. de Pão, Liga Operária da Construção Civil, Trabalhadores em Moinhos e Armazéns, União dos Canteiros e União dos Empregados em Cafés, destrói seus acervos e leva os detidos para a Central de Polícia, onde permanecem 24 horas. Quando chegaram o chefe de polícia e o delegado da “ordem política e social” determinaram que fossem em liberdade, que a ordem de prisão não partiu daquele departamento policial.

Em 1933, os jornais A Lanterna, A Plebe e O Trabalhador, a Federação Operária, o Centro de Cultura Social e as Ligas Anticlericais viviam de prontidão para não serem surpreendidos pelas marchas integralistas.

Em alguns bairros de São Paulo, os mensageiros do "Duce" trabalhavam desesperadamente no recrutamento dos "squadristi", que deviam envergar a camisa verde oliva e iniciar a matança, o incêndio e a destruição, fazendo reviver, em pleno século 20, a invasão dos bárbaros inimigos da ciência e da civilização. O alerta vinha do Comitê Antifascista Libertário e tinha a data de agosto de 1933.

Os comandantes do Integralismo Brasileiro formavam pela seguinte ordem nos anos de 1933-1934: "Plínio Salgado (comandante nacional); Gustavo Barroso (vice- comandante e presidente da Academia Brasileira de Letras); Ribeiro Couto; 130 jornalistas do Distrito Federal que "assinaram o manifesto fascista dirigido aos intelectuais do Brasil". Ei-los: D. João Becker; Oswaldo Aranha (um dos comandantes da revolução getulista de 1930); Oliveira Viana (escritor); Madureira de Freitas, Osvaldo Chateaubriand (diretor do Diário da Noite); Tristão de Atayde (escritor e jornalista); Cláudio Ganns; Lourival Fontes; Hélio Viana; Américo Lacombe; Câmara Cascudo (escritor); os sacerdotes inscritos na Ação Integralista Don Nicolau de Flue Gut, os cônegos Matias Freire, Valfredo Gurgel, Helder Câmara, etc.; os professores da Faculdade de Direito Miguel Reale, Alpinolo Lopes Casali, Damião Neto, Domingos Cantola, Ângelo Simões de Arruda, Loureiro Júnior, Rolando Corbusier, Manuel Ferraz de Campos Salles Neto, Walter Moreira Sales, Homero de Sousa e Silva, Paulo Azevedo Barroso, Manuel Tavares da Silva, Guilherme Luis Riberio, Osvaldo de Sousa Shreiner, Antonio Arruda, Sebastião Martins de Macedo, Ziegler de Paula Bueno, Alcebíades Blanco, Ruiz de Arruda Camargo, Alfredo Buzaid, Ernani Silva Bruno, Epaminondas Albuquerque, Vicente Laporta, Sinval Gonçalves de Oliveira, Antonio Dourado, Alberto Zirondi Neto, Nicolino Amato, José de Barros Bernardes, Carlos Schmidt de Barros Júnior, Milton de Sousa Meireles, Agostinho Lúcio Correa, Arual Antonio dos Santos, Waldemiro Dalboni, Augusto de Oliveira Filho, Ítalo Záccaro, Vitório Nascimento, Cândido de Oliveira Barbosa, Francisco Luis de Almeida Sales, Francisco Gottardi, João José Pimenta de Castro, João Edson de Melo, José de Camargo Rocha, Rio Branco Paranhos, Júnio de Carvalho, José Cândido Silveira Lienert, Antenor Santini, Alceu Cordeiro Fernandes, Antonio Barbosa de Lima, José Vila do Conde e Ranulfo Oliveira Lima.

Com objetivos bem definidos e sem tutores políticos, formava-se no Rio de Janeiro a Aliança Estudantil Pró-Liberdade de Pensamento, cujo manifesto de fundação, A Lanterna, semanário anticlerical e libertário, São Paulo, 9 de novembro de 1933, resume:

Companheiros. O clero romano que sempre tem vivido aliado aos governantes, embora o artigo 72 da Constituição de 1891, e seus parágrafos estabeleçam em nosso território a liberdade de pensamento, neste instante prepara novos golpes contra o direito de pensar, agir e de orar.

O A Plebe, quase ao findar do ano de 1933, alertava os antifascistas:

O Integralismo pretende, como o fascismo, escravizar e acorrentar o povo. Para não termos que chorar depois como energúmenos, defendamos agora a nossa liberdade como homens.

Já soou o clarim da redenção humana! Unamo-nos contra todas as guerras, contra todas as tiranias, contra todos os paliativos que nos apresentam. A nossa felicidade, a fraternidade, a liberdade, residem em nós mesmos, na força coesa que há-de triunfar.

Em homenagem aos arruaceiros integralistas, o escritor Menotti del Picchia, candidato a "Duce", lança as bases do Fáscio Paulista com os Camisas Brancas.

Em Niterói (A Plebe, de 2 de dezembro de 1933), o presidente da Academia Brasileira de Letras, Gustavo Barroso, chefe integralista, atacou às bengaladas e quebrou um braço à jovem operária Nair Coelho, 16 anos, quando esta discursava contra os desordeiros fascistas, em cima de um banco de jardim e em Belo Horizonte; quem precisou fugir do Teatro Municipal foi o professor de línguas Casale. O povo, que assistia ao discurso do arruaceiro integralista, resolveu interrompê-lo, expulsar o vendilhão do palco.

Em São Paulo, depois da derrota que tiveram no Salão Celso Garcia, o "bando de Plínio Salgado marcou para o dia 24 de dezembro uma demonstração de força destinada a depredar os sindicatos e assassinar os sindicalistas mais ativos" (Nossa Voz, de 1° de dezembro de 1933):

"Marchariam no centro de São Paulo 18 Centúrias (companhias) dispostas a exterminar canibalescamente os anarquistas e outros esquerdistas que se opusessem à sua passagem."

O trabalhador anarco-sindicalista resistia às exigências do Ministério do Trabalho. Contra ele tinha os bolchevistas aderentes desde a primeira hora, os patrões, a polícia, os integralistas invasores de sindicatos operários, que segundo substancioso manifesto do Sindicato dos O[perários] em Fábricas de Vidros de São Paulo, fevereiro de 1934, "naquele momento pleiteavam na Assembléia Constituinte a pena de morte para o Brasil!"

Em março de 1934 a Federação Operária de São Paulo, com sede na rua Quintino Bocaiúva, 80, lançava três manifestos de grande significado. Um contra a Lei Monstro, outro contra a guerra e o terceiro em formato de encarte, enfocando as "organizações operárias, a legislação trabalhista, a lei de sindicalização, a caderneta profissional, a nova lei de férias, a nova Constituição e comunica as conferências de Edgard Leuenroth, Germinal Soler e Hermínio Marcos".

Do Rio de Janeiro, sob o comando do acadêmico Gustavo Barroso, chegavam à Praça da Sé "500 guardas verdes de segurança", tropas de choque, treinados para imobilizar opositores. A polícia também montou metralhadoras em pontos estratégicos para coibir possíveis ataques aos integralistas, ainda "bem-vistos" pelo governo. Além do grande contigente policial, o coronel Arlindo de Oliveira tinha 400 homens do 1°, 2° e 6° Batalhões de Infantaria, do Corpo de Bombeiros e Regimento de Cavalaria no local.

A parada de integralistas contava com a presença de 10 mil soldados do Sigma dentro de suas camisas verdes novinhas em folha empunhando grandes estandartes com o símbolo do integralismo.

Nas imediações da Sé haviam começado a formar-se grandes agrupamentos de curiosos de todas as ideologias. E mal a coluna alcançou a escadaria da Catedral ouviram-se gritos de "morte ao fascismo", "Abaixo os Camisas Verdes" e em seguida tiros. Diz-se que foi uma metralhadora da Guarda Civil Montada, em frente à rua Senador, que ao ser movimentada disparou acidentalmente. Outros garantiam que os tiros foram disparados por comunistas que estariam no meio da multidão aguardando o desfile. O certo é que começou o tiroteio antes da hora marcada pelos libertários para atacar os integralistas, desencadeando-se uma correria infernal. Gente fugindo e gritando, outros caindo feridos mortalmente e a parada e o juramento de fidelidade ao comandante integralista, Dr. Plínio Salgado, Fuhrer brasileiro, não aconteceu.

Correndo nas "estradas" abertas pelos integralistas com a colaboração dos "comunistas" do PCB e dos dirigentes do Partido Católico Brasileiro do Cardeal Sebastião Leme, assessorados por "50 juristas", Getúlio Vargas não teve maiores dificuldades em implantar o Estado Novo, que durou até 1945.

Em síntese, os anarco-sindicalistas e anarquistas do Brasil realizaram:

A trajetória do anarquismo no Brasil teve a participação de uma confederação, várias federações, mais de 100 grupos especificamente libertários, seis editoras, três livrarias, mais de uma dezena de escolas racionalistas, duas universidades populares, uma intensa propaganda através do teatro ácrata, possui uma propriedade comprada pelos anarquistas, desde 1939, com moradias modestas e arquivo em prédio próprio. Foi uma sementeira que germinou, e hoje alimenta pesquisas, teses de doutoramento e sensibiliza várias editoras comerciais para publicá-las.

No Rio de Janeiro, com o falecimento de José Oiticica em 1957, três militantes libertários tiveram a idéia de formar o Centro de Estudos Professor José Oiticica, na sala onde o mestre dava aulas, à Av. Almirante Barroso, 6-sala 1.101. Nos dias seguintes os três realizaram uma reunião na Avenida 13 de Maio, 23, sala 922, e resolveram procurar companheiros afastados do movimento por razões diversas e convidá-los para fazer parte do centro e subscrever sua ata de legalização em 22 de julho de 1960. (O centro começou suas atividades em 1958)

Em 1969, um "punhado" de militares da aeronáutica rebentaram a porta aos coices, carregaram parte do acervo cultural, máquina de escrever, mimiógrafo e outros objetos "subversivos", depois foram nas moradias dos diretores do centro, "confiscaram livros, etc.", prenderam-nos e formaram um processo contra 16, impronunciando um. Torturaram alguns detidos e finalmente levaram-nos a um julgamento que durou até 1972.

O Centro de Estudos do Professor José Oiticica, durante sua existência (12 anos), fundou a Editora Mundo Livre por cotas, editou cinco livros, promoveu curso sobre Anarquismo no Teatro Carioca, recebeu anarquistas da América e da Europa, conduziu várias campanhas de protesto e apoio, realizou mais de uma centena de cursos e conferências, e parte de suas atividades foram anunciadas pela imprensa. Acabou por força da ditadura militar.

Não se pode ignorar também os diários: A Plebe, São Paulo, 1919; A Hora Social, Recife, 1919; Voz do Povo, Rio de Janeiro, 1920; Vanguarda, São Paulo, 1921-1923; A Lanterna, São Paulo, 1901-1934. Os semanários: O Amigo do Povo, São Paulo, 1903; A Terra Livre, São Paulo-Rio de Janeiro, 1907-1910; La Bataglia, São Paulo, 1904-1913; Remodelações, Rio de Janeiro, 1945-1947; Ação Direta, Rio de Janeiro, 1946-1959. As revistas: Remodelações, Rio de Janeiro, 1921-1922; Renascença, São Paulo, 1923; A Vida, Rio de Janeiro, 1914-1915; Revista Liberal, Porto Alegre, 1921-1924; e umas centenas de periódicos.

Um grupo de professores estudiosos do anarquismo promoveu curso na ABI (Associação Brasileira de Imprensa). O Grupo Anarquista José Oiticica, formado por novos militantes libertários, realizaram, no Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos dias 9, 16, 23 e 30 de julho de 1987, um curso de anarquismo envolvendo Problemas Atuais do Socialismo; Anarquismo Hoje e Movimentos Alternativos; Movimento Sindical e Anarco-Sindicalismo; e O Estado Hoje. Teve o apoio do Centro de Cultura Social de São Paulo, a Sub-Reitoria 5, a Comissão de Organização Estudantil, Comissão Cultural do IFCS, e mesmo sendo pago, a freqüência foi boa, o salão ficou literalmente cheio.

No Rio Grande do Sul, grupos de libertários e simpatizantes comemoram o Centenário dos Mártires de Chicago e meio século da Revolução Espanhola, os 67 anos do fuzilamento de Francisco Ferrer e outros eventos.

Na capital do Brasil os anarquistas realizaram um Simpósio Libertário e fundaram a Editora Novos Tempos, que já produziu várias obras de real valor literário e cultura anarquista. Em São Paulo as Universidades de Campinas, São Carlos e da Capital formaram valiosas bibliotecas de História Social, predominando publicações anarquistas e anarco-sindicalistas, e periodicamente promovem cursos sobre anarquismo, sempre com a participação de membros do Centro de Cultura Social que têm uma longa experiência militante e mantêm permanentemente em sua sede, na rua Rubino de Oliveira, 85-2°, no Brás, círculos de conferências libertárias. E apoiado pelos núcleos Pró COB (Confederação Operária Brasileira) e pela AIT (Associação Internacional dos Trabalhadores), com sede na Espanha, o Centro de Cultura Social de São Paulo continua promovendo sessões comemorativas em defesa da natureza, contra a Bomba Atômica (no aniversário da explosão de Hiroshima), pela passagem dos 70 anos da Greve Insurrecional Libertária de 1917, na cidade de São Paulo, e debatendo a autogestão na luta social e as estratégias da luta sindical.

Em seus ciclos de palestras, temas como "Feminismo e a Reapropriação do Corpo", "Feminismo, Reinventando o Feminino e o Masculino"; "Feminismo, Questões que se Levantam"; "Recuperando a Memória" e "Cavernas do Estado de São Paulo". E nos cursos de Extensão Universitária tratam "O que é o Anarquismo"; "As Origens: Da Revolução Francesa a Proudhon"; "A Primeira Internacional: Marx, Bakunin e a Comuna de Paris"; "Anarco-Sindicalismo, Kropotkine e Malatesta"; "Anarquismo no Brasil"; e "Anarquismo Hoje, Liberdade e Autogestão". Estas iniciativas contaram com o apoio da Escola de Sociologia e Política de São Paulo. Em sua produtiva trajetória, o Centro de Cultura Social de São Paulo realizou recentemente um Ciclo de Educação Libertária enfeixando os seguintes temas: "O Movimento Anarquista e o Ensino Racionalista em São Paulo, 1912-1919"; "Escola e Trabalho no Brasil Hoje"; "Educação Popular: da Educação Libertária à Educação Libertadora"; "Organização e Poder: Estado, Escola, Empresa"; "A Educação pelo Trabalho, pela Pedagogia Freinet"; "Lutas Autônomas e Autogestão Pedagógica"; e "Uma Terapia Anarquista".

Este movimento ideológico vem sendo divulgado pela revista Autogestão, pelo próprio Boletim do Centro de Estudos Sociais, prospectos avulsos, cartazes e pela imprensa comercial que noticia alguns cursos.

Hoje, o anarquismo não assusta mais ninguém no Brasil. Palavra temida, ridicularizada, esta filosofia de vida resiste ao tempo e virou tema de teses de doutoramento, peças de teatro, novelas exibidas na televisão e filmes de curta e longa metragem.

Os anarquistas do Brasil — salvo os que se dizem e não se encontraram ideologicamente — continuam com Kropotkine:

"Quem acha que uma instituição de formação histórica pode servir para devolver privilégios que ela mesmo desenvolveu mostra com isso a incapacidade de compreender o que significa a vida de uma sociedade, uma formação histórica. Deixa de aprender a lei básica de todo o desenvolvimento orgânico, isto é, que novas funções requerem novos órgãos e que estes se devem criar por si mesmos."

Colaboraram para tornar possível a trajetória anarquista no Brasil: Fábio Luz, João Gonçalves da Silva, Avelino Foscolo, Ricardo Gonçalves, Benjamim Mota, José Martins Fontes, Ricardo Cipola, Rozendo dos Santos, Reinaldo Frederico Greyer, Pedro Augusto Mota, Moacir Caminha, José Ramón, Domingos Passos, João Perdigão Gutierrez, Florentino de Carvalho, Domingos Ribeiro Filho, Lima Barreto, Orlando Corrêa Lopes, Manuel Marques Bastos, José Puicegur, Diamantino Augusto, José Oiticica, José Romero, Edgard Leuenroth, Felipe Gil Sousa Passos, Pedro Catalo, João Penteado, Neno Vasco, Adelino Pinho, Giovani Rossi, Gigi Damiani, Artur Campagnoli, José Marques da Costa, Rodolfo Felipe, Isabel Cerrutti, João Perez, Antonino Dominguez, Manuel Perez, Romualdo de Figueiredo, Juan Puig Elias, Maria Lacerda de Moura, Rafael Fernandes, Angelina Soares, Paula Soares, Elias Iltchenco, Frederico Kniestedt, Jesus Ribas, Cecílio Vilar, Oresti Ristori, Maria Lopes, Manuel Moscoso, Polidoro Santos, Amilcar dos Santos, Pedro Carneiro, Atílio Peçagna, Rudosindo Colmenero, Maria Silva, Maria Rodrigues, Pietro Ferrua, Pedro Ferreira da Silva, Câmara Pires, Ramiro de Nóbrega, Maria Valverde, José Simões, Manuel Lopes, Vitorino Trigo, Mariano Ferrer, Luisi Magrassi, Sofia Garrido, Joaquim Leal Junior, Lírio de Resende, Jaime Cubero e tantos outros intelectuais e operários a quem se homenageia, mesmo ausentes...


Inclusão 29/09/2018