Carta a Engels
(em Brighton)

Karl Marx

7 Março 1877


Fonte: Materialismo e Empiro-Criticismo, Editorial Calvino Ltda., Rio, 1946, pág. 496-497. A presente edição foi traduzida do original russo "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da URSS, 1954.
Tradução: Abguar Bastos
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Londres,
Dear Fred

Para não me esquecer mais tarde disso, acrescento à minha última carta sete apêndices:

1) O ponto mais importante na concepção de Hume a respeito da influência de um aumento de dinheiro na estimulação da industria, ponto que demonstra com toda a clareza (se coubesse alguma duvida ainda) que esse aumento só se dá nele com a depreciação dos metais preciosos e sobre o que Hume volve, mais uma vez, como se depreende já do extrato enviado por mim, é que the price of labour só sobe em ultima instancia, depois de todas as outras mercadorias. Disso Mr. Dühring não diz uma palavra, que tratou Hume com a mesma ligeireza e a mesma superficialidade que o resto. Alem disso, se, por acaso, houvesse percebido a coisa, o que é mais que duvidoso, teria feito melhor se não celebrasse essa teoria na cara dos operários; melhor, portanto, em to burke the whole.

2) Não quis naturalmente lançar-me contra esse homem com a minha peculiar mania de tratar os fisiocratas, vendo neles os primeiros interpretes metódicos (não só ocasionais, como Petty, etc.) d'O Capital e do regime capitalista de produção. Isso, dito in plain Words, poderia fazer com que o meu ponto de vista fosse aproveitado e divulgado pelos encapuçados antes de eu ter tido a ocasião de expô-lo. Por isso, não toquei nesse ponto na exposição que te enviei. Mas, a proposito de Dühring, seria talvez conveniente assinalar as duas passagens seguintes d'O Capital. Cito-as da edição francesa, porque aqui está a ideia um pouco mais acentuada que no original alemão. Com referencia ao “Tableau Economique”: “La reproduction annuelle est un procès très facile à saisir tant que l’on ne considère que le fonds de la produetion annuelle, mais tous les éléments de celleci doivent passer par le marché. Là, les mouvements des capitaux et des revenus se croisent, s’entremêlent et se perdent dans un mouvement general de déplacement la circulation de la richesse sociale — qui trouble la vue de l'observateur et offre a l'analyse des problèmes très compliques. C’est le grand merite des physiocrates d’avoir les premiers essayé de donner, dans leur tableau économique, une image de la reproduetion annuelle telle qu’elle sort de la circulation. Leur exposition est, à beaucoup d'égards, plus près de la verité que celle de leurs successeurs”. (25 8-259): Com referencia à determinação, do “travail produetif": “Aussi, l’économie politique classique a-t-elle toujours, tantôt instinctivement, tantôt consciemment, soutenu que ce qui caractérisait le travail productif c’était de rendre une plus-value. Ses definitions du travail productif changent à mesnre qu'elle pousse plus avant son analyse de la plus-value. Les physiocrates, par exemple, déclarent que le , travail agricole seul est productif. Et pourquoi? Parce que seul il donne une plus-value qui, pour eux, n’existe que sous la forme de la rente fencière”. (pg. 219): “Ainda que os fisiocratas não penetrassem bem no segredo da mais-valia, viam perfeitamente claro que era “une richesse independente et disponible qu'il (o possuidor) n’a point achetée et qu'il vend” (Turgot) (pág. 554, O Capital, alemão, 2.ª edição) e que não podia sair da circulação (1. c. O Capital, pgs. 141-145).

Outras cartas sobre as origens do Anti-Dühring
Carta a Marx (em Londres) - 24 de Maio de 1876
Carta a Engels (em Ramsgate) - 25 Maio 1876
Carta a Marx (em Londres) - 28 Maio de 1876
Carta a Marx (em Londres) - 25 Julho 1876
Carta a Marx (em Karlsbad) - 25 Agosto 1876
Carta a Engels (em Brighton) - 5 Março 1877
7ª Carta a Engels (em Brighton) - 7 Março 1877

 


Inclusão 24/03/2014