Carta a Theodor Cuno
(em Milão)

Friedrich Engels

24 de Janeiro de 1872

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Primeira Edição: Publicado pela primeira vez de forma abreviada no livro: F. Engels, Politisches Vermächtnis. Aus unveröffentlichten Briefen, Berlim, 1920; de forma completa na revista Die Gesellschaft, n.° 11, Berlim, 1925. Publicado segundo o manuscrito. Traduzido do alemão.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Editorial "Avante!" - Edição dirigida por um colectivo composto por: José BARATA-MOURA, Eduardo CHITAS, Francisco MELO e Álvaro PINA, tomo II, pág: 462-467.
Tradução: José BARATA-MOURA e João Pedro GOMES.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Editorial "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1982.


capa

Londres, 24 de Jan[eiro] de 1872

... Bakúnine, que até 1868 tinha intrigado contra a Internacional, aderiu então, depois do fiasco sofrido no Congresso da Paz em Berna[N221] à Internacional e começou imediatamente a conspirar dentro dela contra o Conselho Geral. B[akúnine] tem uma teoria à parte, uma mixórdia de proudhonismo e de comunismo, em que, primeiramente, o principal é que não considera como mal principal a eliminar o capital, i. e., a oposição de classe entre capitalistas e operários assalariados surgida através do desenvolvimento histórico, mas o Estado. Enquanto a grande massa dos operários sociais-democratas partilha connosco a opinião de que o poder de Estado nada mais é do que a organização que as classes dominantes — proprietários fundiários e capitalistas — adoptaram para proteger os seus privilégios sociais, Bakúnine afirma que foi o Estado que criou o capital, que o capitalista apenas tem o seu capital graças ao Estado. Assim, como o Estado é o mal principal, seria necessário abolir, antes de mais, o Estado e então o capital iria por si próprio para o diabo; ao passo que nós, inversamente, dizemos: aboli o capital, a apropriação do conjunto dos meios de produção nas mãos de uns poucos, e o Estado cairá por si próprio. A diferença é essencial: a abolição do Estado sem um revolucionamento social prévio é um contra-senso — a abolição do capital é precisamente o revolucionamento social e implica uma alteração do conjunto do modo de produção. Como, porém, o Estado é para Bak[únine] o mal fundamental, não é permitido fazer nada que possa manter o Estado em vida, i. e., de qualquer Estado, república, monarquia ou qualquer outro. Daí, portanto, abstenção completa de toda a política. Praticar um acto político, mas especialmente participar numa eleição, seria uma traição ao princípio. Deve fazer-se propaganda, desacreditar o Estado, organizar-se, e, quando se tiver do seu lado todos os operários, portanto a maioria, destituem-se todas as autoridades, abole-se o Estado e coloca-se em seu lugar a organização da Internacional. Este grande acto, com que se inicia o Império Milenário, chama-se liquidação social.

Tudo isto soa como extremamente radical e é tão simples que se pode aprender de cor em cinco minutos, e por isso esta teoria bakuninista também encontrou rapidamente eco em Itália e na Espanha entre jovens advogados, doutores e outros doutrinários. A massa dos operários, porém, nunca se deixará convencer de que os assuntos públicos do seu país não são simultaneamente os seus próprios assuntos; eles são por natureza políticos e acabam por abandonar quem lhes quiser fazer crer que devem deixar a política de lado. Pregar aos operários a abstenção da política em todas as circunstâncias significa empurrá-los para os braços dos padres ou dos republicanos burgueses.

Ora, uma vez que, segundo Bak[únine], a Internacional não foi criada para a luta política mas para poder imediatamente tomar o lugar da velha organização do Estado durante a liquidação social, ela terá de aproximar-se tanto quanto possível do ideal de Bakúnine da sociedade futura. Nesta sociedade não existe, antes de mais, nenhuma autoridade, pois autoridade=Estado=mal em absoluto. (A verdade é que nada nos dizem acerca de como pôr uma fábrica a funcionar, conduzir um comboio ou um navio sem haver uma vontade que decida em última instância, sem uma direcção una.) Acaba também a autoridade da maioria sobre a minoria. Cada indivíduo, cada comunidade são autónomos, mas Bakúnine volta a nada dizer acerca de como é possível uma sociedade mesmo que apenas com duas pessoas sem que cada uma delas ceda uma parte da sua autonomia.

Portanto, a Internacional tem também de se orientar segundo este modelo. Cada secção é autónoma e, em cada secção, cada indivíduo. Para o diabo com as Resoluções de Basileia[N311] que conferem ao Conselho Geral uma autoridade perniciosa e desmoralizadora para ele mesmo! Mesmo que seja conferida voluntariamente, esta autoridade tem de acabar precisamente porque é autoridade!

Aqui tem, em resumo, os pontos principais do embuste. Mas quem são então os originadores das Resoluções de Basileia? Ora, o próprio senhor Bakúnine e consortes!

Quando estes senhores, no Congresso de Basileia, viram que não conseguiriam fazer passar o seu plano de transferir o Conselho Geral para Genebra, i. e., de o apanhar nas mãos, recomeçaram de outra maneira. Fundaram a Alliance de la Démocratie Sociale, uma sociedade internacional dentro da grande Internacional com o pretexto que V. encontra agora de novo na imprensa bakuninista italiana, p. ex., no Proletário, no Gazz[ettino] Rosa[N312], de que para as fogosas raças latinas de sangue quente seria necessário um programa mais pronunciado do que para os nórdicos, frios e lentos. Este planozinho falhou pela resistência do Conselho Geral, que naturalmente não podia tolerar nenhuma organização internacional separada dentro da Internacional. Desde então, esse plano voltou a aparecer sob as formas mais diversas, em ligação com os esforços de Bak[únine] e da sua gente no sentido de substituírem o programa da Internacional pelo programa bakuninista, ao mesmo tempo que, por outro lado, a reacção, desde Jules Favre e Bismarck até Mazzini, sempre que era preciso atacar a Internacional, se valia precisamente da oca frase fanfarrona bakuninista. Daí a necessidade da minha declaração de 5 de Dezembro contra Mazzini e Bak[únine], que foi também publicada no Gaz[zetino] Rosa.

O núcleo da bakuninistada consiste num par de dúzias de pessoas no Jura que, no total, mal têm atrás de si 200 operários; a vanguarda são os jovens advogados, doutores e jornalistas em Itália que agora se mostram por toda a parte como porta-vozes dos operários italianos, alguns igualmente em Barcelona e Madrid e, aqui e ali, um indivíduo isolado — quase nunca operários — em Lyon e Bruxelas. Por aqui(1) há um único exemplar — Robin. A Conferência convocada por pressão das necessidades em vez do congresso, que se tornara impossível, deu-lhes o pretexto, e, como na Suíça a maioria dos refugiados franceses se passaram para o seu lado, em virtude de estes (proudhonianos) aí terem encontrado tons aparentados e por motivos pessoais, eles iniciaram a campanha. Naturalmente que existem por toda a parte na Internacional minorias descontentes e génios não reconhecidos, com os quais eles contavam — e não sem razão. Presentemente, as suas forças de combate são as seguintes:

  1. O próprio Bakúnine — o Napoleão desta campanha.
  2. Os 200 jurassianos e 40-50 da secção francesa (refugiados em Genebra).
  3. Em Bruxelas, Hins, redactor do Liberte[N313], que, no entanto, não é abertamente por eles.
  4. Aqui, os restos da Section française de 1871[N314], nunca reconhecida por nós, que já se cindiu em três partes que se combatem entre si, e ainda cerca de 20 lassallianos do tipo do senhor von Schweitzer expulsos da secção alemã (em virtude de terem requerido a saída em massa da Internacional), que, como defensores da extrema centralização e de uma organização rígida, ficam magnificamente na liga dos anarquistas e autonomistas.
  5. Em Espanha, alguns amigos pessoais e adeptos de Bakúnine que influenciaram fortemente os operários, especialmente em Barcelona, pelo menos do ponto de vista teórico. Mas, em contrapartida, os espanhóis dão muita importância à organização e a falta desta nos outros chama-lhes a atenção. Só no congresso espanhol em Abril se saberá até que ponto Bakúnine pode aí contar com êxito e, como lá os operários predominarão, não estou com medo.
  6. Finalmente, em Itália, as secções de Turim, Bolonha e Girgenti pronunciaram-se, pelo que sei, pela convocação do congresso antes do tempo.

A imprensa bakuninista afirma que 20 secções italianas teriam aderido a eles: eu não as conheço. De qualquer modo, a direcção está quase por toda a parte nas mãos de amigos e adeptos de Bakúnine que falam grosso mas, se a questão for analisada com mais precisão, verificar-se-á que não têm muita gente atrás de si, pois no fim de contas a grande massa dos operários italianos continua até hoje e continuará a ser mazzinista enquanto a Internacional lá se identificar com a abstenção política.

Mas, de qualquer modo, o que acontece em Itália é que, por enquanto, quem fala de alto na Internacional é a bakuninistada. O Conselho Geral não tem intenção de se queixar disso; os italianos têm o direito de fazer tantos disparates quantos quiserem, e o Conselho Geral apenas se oporá a isso pela vida do debate pacífico. As pessoas têm também o direito de se declararem a favor do congresso, no sentido dos jurassianos, embora, de todas as formas, seja muito estranho que secções que acabaram de aderir e que não podem saber nada de nada tomem, sem mais, partido numa causa destas, especialmente antes de terem ouvido ambas as partes! A este respeito expus francamente aos turinenses a minha opinião e fá-lo-ei igualmente às outras secções que se pronunciaram da mesma forma. É que cada uma dessas declarações de adesão é indirectamente uma aprovação das falsas acusações e mentiras contidas na circular[N315] contra o Conselho Geral, que, de resto também emitirá em breve a sua circular(2) sobre a questão. Se V. puder impedir uma declaração semelhante dos milaneses até ao aparecer desta, satisfará todos os nossos desejos.

O mais cómico é que estes mesmos turinenses que se declaram a favor dos jurassianos e que, portanto, nos criticam aqui por autoritarismo exigem agora, subitamente, do Conselho Geral que intervenha autoritariamente contra os seus rivais da Federazione Operaia(3) de Turim de uma maneira como nunca o fez até agora, que expulse Beghèlli, do Ficcanaso[N3I6], que nem sequer pertence à Internacional, etc. E tudo isto mesmo antes de nós pelo menos termos ouvido o que ela tem a dizer sobre isso!

Na passada segunda-feira(4) enviei-lhe a Rév[olution] Sociale[N235] com a circular do Jura, um número do Egalité[N116] de Genebra (do qual já não tenho infelizmente mais nenhum com a resposta do Comité Federal[N317] de Genebra, que representa vinte vezes mais operários do que os jurassianos) e um Volksstaat[N55], que lhe mostra aquilo que na Alemanha as pessoas pensam acerca desta história. A Assembleia Regional saxónica — 120 delegados de 60 localidades — pronunciou-se unanimemente a favor do Conselho Geral[N318]. O Congresso belga (25-26 de Dez[embro]) exige revisão dos Estatutos mas no congresso regular (em Setembro)[N319]. De França chegam-nos diariamente declarações de aprovação. Aqui em Inglaterra, evidentemente que nenhuma dessa intrigas encontra terreno favorável. E o Conselho Geral seguramente que não convoca nenhum Congresso extraordinário para agradar a um par de intriguistas e presunçosos. Enquanto estes senhores se mantiverem num terreno legal, o Conselho Geral deixa-os actuar à vontade, pois esta coalizão dos elementos mais heterogéneos em breve se irá desfazer; porém, logo que façam algo contra os Estatutos ou as resoluções do Congresso, o Conselho Geral cumprirá a sua obrigação.

Se considerarmos em que momento — precisamente quando por toda a parte todos os cães se lançam sobre a Internacional — esta gente empreende a sua conspiração, não podemos renunciar à ideia de que os senhores da polícia internacional têm as mãozinhas metidas na jogada. E assim é. Em Béziers, os bakuninistas de Genebra têm como correspondente o commissaire central de policel(5). Dois dos principais bakuninistas, Albert Richard, de Lyon, e Blanc, estiveram aqui e afirmaram a um operário de Lyon, Scholl, a quem se dirigiram, que o único meio de derrubar Thiers era levar de novo Bonaparte ao trono e, precisamente por esse motivo, eles andavam a viajar com dinheiro bonapartista para fazerem entre os refugiados propaganda a favor da restauração bonapartista! A isto chamam esses senhores abstenção da política! Em Berlim, o Neuer Social-Demokrat[N246], pago por Bismarck, toca exactamente a mesma música. Por enquanto deixo em suspenso a questão de até que ponto a polícia russa tem a mão metida nisso, mas Bakúnine esteve enterrado até às orelhas na história de Nétchaev[N224] (é certo que ele o nega, mas temos aqui os relatórios originais russos, e, como Marx e eu entendemos russo, ele não poderá enganar-nos em nada), e Nétchaev ou é um agent provocateur(6) russo ou agiu como se o fosse e, além disso, Bak[únine] tem entre os seus amigos russos toda a espécie de gente suspeita.

Lamento que V. tenha perdido o seu lugar. Eu tinha-lhe escrito expressamente que evitasse tudo o que pudesse conduzir a isso, pois a sua presença em Milão era para a Internacional muito mais importante do que o pequeno efeito que se pode causar aparecendo em público; que pela calada também se poderia fazer muita coisa, etc. Se puder ajudá-lo em traduções, etc, fá-lo-ei com muito prazer. Diga-me apenas de que línguas e para que línguas V. pode traduzir e como eu lhe posso ser útil.

Então esses porcos da polícia apreenderam também a minha fotografia. Junto aqui outra e peço-lhe dois exemplares das suas, um dos quais deverá servir para convencer a menina Marx a ceder-me uma do seu pai para si (só ela tem ainda um par de boas fotografias dele).

Peço-lhe ainda para ter algum cuidado com todas as pessoas que estão em ligação com Bakúnine. E uma propriedade de todas as seitas manterem-se firmemente unidas e intrigarem: pode estar certo de que tudo o que V. lhes comunicar segue imediatamente para Bak[únine]. Um dos seus princípios fundamentais é que cumprir promessas e outras coisas do género são preconceitos puramente burgueses que o verdadeiro revolucionário tem de tratar sempre com desprezo no interesse da causa. Na Rússia, ele diz isto abertamente, na Europa ocidental é uma doutrina secreta.

Escreva-me quanto antes; seria muito bom se conseguíssemos que a secção de Milão não afinasse pelo coro das restantes secções italianas...


Notas de rodapé:

(1) Em Londres. (retornar ao texto)

(2) Ver no presente tomo, pp. 269-310. - As Pretensas Cisões na Internacional (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(3) Em italiano no texto: Federação Operária. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)

(4) 22 de Janeiro. (retornar ao texto)

(5) Em francês no texto: comissário central da polícia. No caso, Bousquet. (retornar ao texto)

(6) Gaspard Blanc (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

[N55] Der Volksstaat (O Estado Popular): órgão central do Partido Operário Social-Democrata alemão (eisenachianos), publicado em Leipzig de 2 de Outubro de 1869 a 29 de Setembro de 1876. A direcção geral do jornal era assegurada por W. Liebknecht; August Bebel administrava a editora. Marx e Engels colaboraram no jornal, auxiliando constantemente a sua redacção. Até 1869 o jornal publicou-se com o nome de Demokratisches Wochenblatt (Semanário Democrático). (Ver nota 95.)
A referência é ao artigo de Joseph Dietzgen «Das Kapital. Kritik der politischen Oekonomie von Karl Marx», Hamburg 1867 («O Capital. Crítica da Economia Política, de Karl Marx», Hamburgo, 1867), publicado no Demokratisches Wochenblatt, números 31, 34, 35 e 36 de 1868. (retornar ao texto)

[N95] Demokratisches Wochenblatt (Semanário Democrático): jornal operário alemão, editado de Janeiro de 1868 a Setembro de 1869 em Leipzig sob a direcção de W. Liebknecht. O jornal desempenhou um importante papel na criação do Partido Operário Social-Democrata alemão. No congresso de Eisenach, em 1869, foi declarado órgão central do Partido Operário Social-Democrata e mudou de nome para Volksstaat. Marx e Engels colaboraram no jornal. (retornar ao texto)

[N108]Trata-se do Congresso de Basileia da Internacional, realizado em 6-11 de Setembro de 1869, no qual, a 10 de Setembro, foi aprovada a seguinte proposta dos partidários de Marx sobre a propriedade fundiária:
«1) A sociedade tem o direito de abolir a propriedade privada da terra e de a transformar em propriedade social.
«2) É indispensável abolir a propriedade privada da terra e transformá-la em Propriedade social.»
No Congresso foram também adoptadas resoluções sobre a unificação dos sindicatos à escala nacional e internacional e uma série de resoluções com vista ao reforço orgânico da Internacional e ao alargamento dos poderes do Conselho Geral. (retornar ao texto)

[N116] L’Egalité (A Igualdade): semanário suíço, órgão da Federação Romanda da Internacional. Publicou-se em Genebra, em francês, de Dezembro de 1868 a Dezembro de 1872. O jornal esteve durante um certo tempo sob a influência de Bakúnine. Em Janeiro de 1870, o Conselho Federal Romando conseguiu que os bakuninistas saíssem da redacção, após o que o jornal passou a apoiar a linha do Conselho Geral. (retornar ao texto)

[N219] Liga da Paz e da Liberdade: organização pacifista burguesa criada em 1867 na Suíça por vários republicanos burgueses e pequeno-burgueses e liberais. (retornar ao texto)

[N221] Trata-se da tentativa de Bakúnine para fazer adoptar no Congresso de Berna da Liga da Paz e da Liberdade (ver nota 219), em Setembro de 1868, o confuso programa socialista de que era autor («igualização social e económica das classes» supressão do Estado e do direito de herança, etc). Tendo o seu projecto sido rejeitado pela maioria dos votos, Bakúnine abandonou a Liga da Paz e da Liberdade e fundou a Aliança Internacional da Democracia Socialista. (retornar ao texto)

[N224] Processo Netcháev: processo contra estudantes acusados de actividade revolucionária secreta, julgado em Sampetersburgo em Julho-Agosto de 1871. Netcháev estabeleceu, já em 1869, relações com Bakúnine e desenvolveu actividade para criar em diversas cidades da Rússia a organização conspirativa Naródnaia Rasprava (Represália do Povo), que defendia as ideias anarquistas da «destruição total». Jovens estudantes de tendências revolucionárias e representantes dos raznotchínets (intelectuais não pertencentes à nobreza), aderiam a esta organização atraídos pela sua crítica aguda do regime tsarista e pelos apelos à luta decidida contra ele. Utilizando o mandato de representante da União Revolucionária Europeia que recebera de Bakúnine, Netcháev procurava fazer-se passar por representante da Internacional, induzindo assim em erro os membros da organização por si criada. Em 1871 a organização foi desmantelada, e no processo intentado contra ela revelaram-se os métodos aventureiristas empregados por Netcháev para atingir os seus objectivos.
A Conferência de Londres encarregou Útine de elaborar um relatório sucinto sobre o processo. Em vez do relatório, Útine enviou a Marx, em fins de Agosto de 1872, para o Congresso da Haia, um longo relatório confidencial sobre a actividade hostil à Associação Internacional dos Trabalhadores de Bakúnine e de Netcháev. (retornar ao texto)

[N235] La Révolution Sociale (A Revolução Social): diário publicado em Genebra, em francês, de Outubro de 1871 a Janeiro de 1872; desde Novembro de 1871, órgão oficial da Federação do Jura, anarquista. (retornar ao texto)

[N244] A Federação Operária foi fundada em Turim no Outono de 1871 e encontrava-se sob a influência dos mazzinistas. Em Janeiro de 1872 os elementos proletários saíram da Federação e fundaram a sociedade Emancipação do Proletário, reconhecida mais tarde como secção da Internacional. Até Fevereiro de 1872 a sociedade foi dirigida pelo agente secreto da polícia Terzaghi.
Il Proletário (O Proletário): jornal italiano publicado em Turim de 1872 a 1874; defendeu os bakuninistas contra o Conselho Geral e as decisões da Conferência de Londres. (retornar ao texto)

[N246] Neuer Social-Demokrat (Novo Social-Democrata): jornal alemão publicado em Berlim de 1871 a 1876; órgão da Associação Geral de Operários Alemães, criada por Lassalle. O jornal lutou contra a direcção marxista da Internacional e do Partido Operário Social-Democrata alemão; apoiou os bakuninistas e os representantes de outras correntes antiproletárias. (retornar ao texto)

[N251] O Congresso da Haia da Associação Internacional dos Trabalhadores realizou-se de 2 a 7 de Setembro de 1872. Nele participaram 65 delegados de 15 organizações nacionais. O trabalho do Congresso foi pessoalmente dirigido por Marx e Engels. O Congresso coroou o combate de muitos anos de Marx e Engels e dos seus companheiros de luta contra todos os tipos de sectarismo pequeno-burguês no movimento operário. Foi condenada a actividade cisionista dos anarquistas e os seus dirigentes (Bakúnine, Guillaume e outros) foram expulsos da Internacional. As decisões do Congresso da Haia lançaram as bases para a criação no futuro de partidos políticos da classe operária independentes nos diferentes países. (retornar ao texto)

[N311] Referências às resoluções do Congresso de Basileia (ver nota 108) sobre questões organizativas, que alargavam os poderes do Conselho Geral. (retornar ao texto)

[N312] Il Proletário: ver nota 244.
Gazzettino Rosa (Jornal Cor-de-Rosa): diário italiano, órgão dos mazzinistas de esquerda, publicado em Milão de 1867 a 1873; em 1871 interveio em defesa da Comuna de Paris e publicou materiais da Internacional; a partir de 1872 encontrou-se sob a influência dos bakuninistas. (retornar ao texto)

[N313] La Liberte (A Liberdade): jornal democrático belga, publicado em Bruxelas de 1865 a 1873; a partir de 1867 um dos órgãos da Internacional na Bélgica. (retornar ao texto)

[N314] ASecção Francesa de 1871 foi formada em Londres em Setembro de 1871 por uma parte dos refugiados franceses. A direcção da secção estabeleceu uma estreita ligação com os bakuninistas na Suíça e actuou em contacto com eles, aderindo aos seus ataques contra os princípios organizativos da Internacional. A secção não foi aceite na Internacional devido ao facto de alguns pontos dos seus estatutos contradizerem os Estatutos Gerais. Mais tarde a secção cindiu-se em vários grupos. (retornar ao texto)

[N315] Referência à Circular a Todas as Federações da Associação Internacional dos Trabalhadores, adoptada pelo congresso da Federação do Jura, bakuninista, realizado em 12 de Novembro de 1871 em Sonvillier. Rejeitando as decisões da Conferência de Londres e os poderes do Conselho Geral, a circular propunha a todas as federações que exigissem a imediata convocação de um congresso para rever os Estatutos Gerais da Internacional e condenar o Conselho Geral. (retornar ao texto)

[N316] Ficcanaso (Metediço): diário satírico republicano italiano, órgão dos mazzinistas de esquerda; publicou-se em Turim de 1868 a 1872. (retornar ao texto)

[N317] Engels tem em vista a «Resposta do Comité da Federação Romanda à Circular dos 16 Participantes no Congresso de Sonvillier». (retornar ao texto)

[N318] A Assembleia Regional saxónica dos sociais-democratas realizou-se em Chemnitz em 6 e 7 de Janeiro de 1872. Além de outras questões (o direito eleitoral, a organização dos sindicatos), a Assembleia examinou a questão da atitude em relação à circular de Sonvillier (ver nota 315) e à luta contra os anarquistas dentro da Internacional. A Assembleia apoiou unanimemente o Conselho Geral e aprovou as resoluções da Conferência de Londres de 1871. (retornar ao texto)

[N319] O Congresso da Federação Belga da Internacional, realizado em 24 e 25 de Dezembro de 1871 em Bruxelas, ao discutir a circular de Sonvillier não apoiou a exigência dos anarquistas suíços de convocação imediata de um congresso geral, mas ao mesmo tempo encarregou o Conselho Federal Belga de elaborar um projecto de novos estatutos da Internacional, a ser discutido no Congresso da Haia (ver nota 251) (retornar ao texto)

Inclusão 01/02/2011