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Livro Primeiro: O processo de produção do capital
Sétima Seção: O processo de acumulação do capital
Vigésimo terceiro capítulo: A lei geral da acumulação capitalista
5. Ilustração da lei geral da acumulação capitalista
Não há nenhum período da sociedade moderna que seja tão favorável para o estudo da acumulação capitalista como o período dos últimos vinte anos decorridos. É como se ela tivesse encontrado o saco de Fortunato. Porém, de todos os países a Inglaterra volta a fornecer o exemplo clássico, porque ocupa o primeiro lugar no mercado mundial, porque só nela o modo de produção capitalista está completamente desenvolvido, e, finalmente, porque a introdução do império milenar do livre-câmbio, desde 1846, tirou à economia vulgar o último refúgio. O progresso titânico da produção — de tal modo que a última metade do período de vinte anos excede de novo em muito a primeira — foi já suficientemente indicado na quarta secção.
Apesar do crescimento absoluto da população inglesa no último meio século ter sido muito grande, o crescimento relativo ou a taxa de acréscimo cai continuamente, como mostra a tabela seguinte retirada do censo oficial:
Acréscimo percentual anual da população de Inglaterra e de Gales em números decimais |
|
1811—1821 | 1,533% |
1821—1831 | 1,446% |
1831—1841 | 1,326% |
1841—1851 | 1,216% |
1851—1861 | 1,141% |
Consideremos agora, por outro lado, o crescimento da riqueza. Aqui o movimento dos lucros, rendas fundiárias, etc., sujeitos a imposto sobre os rendimentos fornece o ponto de referência mais seguro- O acréscimo dos lucros sujeitos a imposto (não incluindo rendeiros e algumas outras rubricas) ascendeu para a Grã-Bretanha, de 1853 a 1864, a 50,47% (ou a 4,58% em média anual)(1*); o da população, durante o mesmo período, a aproximadamente 12%. O aumento das rendas da terra tributáveis (incluindo casas, caminhos-de-ferro, minas, pescarias, etc.) ascendeu, de 1853 a 1864, a 38% ou a 3 5/12% ao ano, em que as seguintes rubricas tiveram a quota-parte mais forte:
Excesso do rendimento anual de 1864 sobre 1853 |
Acréscimo por ano |
|
De casas | 38,60% | 3,50% |
De pedreiras | 84,76% | 7,70% |
De minas | 68,85% | 6,26% |
De fundições | 39,92% | 3,63% |
De pescarias | 57,37% | 5,21% |
De fábricas de gás | 126,02% | 11,45% |
De caminhos-de-ferro | 83,29% | 7,57%(2*) |
Se se comparar cada quatro anos do período de 1853 a 1864, o grau de acréscimo dos rendimentos cresce continuamente. Ele é, p. ex., para os que provêm de lucro, de 1853 a 1857, anualmente de 1,73%; de 1857 a 1861, anualmente de 2,74%; e de 9,30% anualmente de 1861 a 1864. A soma total dos rendimentos do Reino Unido sujeitos a imposto de rendimentos ascendeu: em 1856, a 307 068 898 lib. esterl.; em 1859, a 328 127 416 lib. esterl; em 1862, a 351 745 241 lib. esterl.; em 1863, a 359 142 897 lib. esterl.; em 1864, a 362 462 279 lib. esterl.; em 1865, a 385 530 020 lib. esterl.(3*)
A acumulação do capital foi acompanhada simultaneamente pela sua concentração e centralização. Embora não existisse qualquer estatística oficial da agricultura para a Inglaterra (mas sim para a Irlanda), ela foi fomecida de livre vontade por 10 condados. Deu o resultado de que, de 1851 a 1861, os arrendamentos abaixo de 100 acres diminuíram de 31 583 para 26 567, portanto, 5061 foram reunidos a arrendamentos maiores(5*). De 1815 a 1825 nenhuma fortuna mobiliária acima de 1 milhão de lib. esterl. caiu sob o imposto sucessório; de 1825 a 1855, pelo contrário, caíram 8; de 1855 a Junho de 1859, i. é, em 4 1/2 anos, 4(6*). Ver-se-á, contudo, melhor a centralização a partir de uma curta análise do imposto sobre os rendimentos na rubrica D (lucros, com excepção dos rendeiros, etc.) nos anos de 1864 e 1865. Faço notar de antemão que os rendimentos desta fonte até ao montante de 60 lib. esterl. pagam income tax(7*). Estes rendimentos tributáveis ascenderam em Inglaterra, Gales e Escócia: em, 1864, a 95 844 222 lib. esterl.; e em 1865, a 105 435 787 lib. esterl.(8*) O número dos tributados [ascendeu]: em 1864, a 308 416 pessoas numa população total de 23 891 009; em 1865, a 332 431 pessoas numa população total de 24 127 003. Sobre a repartição destes rendimentos em ambos os anos, [veja-se] a seguinte tabela:
Ano terminado a 5 de Abril de 1864 | Ano terminado a 5 de Abril de 1865 | |||
Rendimentos de Lucros ( lib. esterl) |
Pessoas | Rendimentos de Lucros ( lib. esterl) |
Pessoas | |
Rendimentos totais: | 95 844 222 | 308 416 | 105 435 787 | 332 431 |
dos quais: | 57 028 290 | 22 334 | 64 554 297 | 24 075 |
dos quais: | 36 415 225 | 3 619 | 42 535 576 | 4 021 |
dos quais: | 22 809 781 | 822 | 27 555 313 | 973 |
dos quais: | 8 744 762 | 91 | 11 077 238 | 107 |
Em 1855 foram produzidas no Reino Unido 61 453 079 toneladas de carvão no valor de 16 113 267 lib. esterl.; em 1864: 92 787 873 toneladas no valor de 23 197 968 lib. esterl. Em 1855: 3 218 154 toneladas de ferro em bruto no valor de 8 045 385 lib. esterl.; em 1864: 3 767 951 toneladas no valor de 11 919 877 lib. esterl. Em 1854 o comprimento do caminho-de-ferro que se encontrava em exploração no Reino Unido ascendia a 8054 milhas, com um capital investido de 286 068 794 lib. esterl; em 1864 o comprimento em milhas era de 12 789 com um capital investido de 425 719 613 lib. esterl. Em 1854 a exportação e importação totais do Reino Unido ascendia a 268 210 145 lib. esterl.; em 1865, a 489 923 285. A tabela seguinte mostra o movimento da exportação:
Ano | lib. esterl. |
1847 | 58 842 377 |
1849 | 63 596 052 |
1856 | 115 826 948 |
1860 | 135 842 817 |
1865 | 165 862 402 |
1866 | (9*)188 917 563 |
Por estes poucos dados compreende-se o grito de triunfo do director do Registo Civil[N181] do povo brit[ânico]:
«Por mais rapidamente que a população tenha aumentado, ela não acompanhou o progresso da indústria e da riqueza.»(10*)
Voltêmo-nos agora para os agentes imediatos desta indústria ou para os produtores desta riqueza, para a classe operária.
«Um dos traços mais melancólicos do estado social deste país», diz Gladstone, «é que enquanto houve um decréscimo dos poderes de consumo do povo, e enquanto houve um aumento das privações e sofrimento da classe laboriosa e dos operários, houve ao mesmo tempo uma acumulação constante de riqueza nas classes superiores e um aumento constante de capital.»(11*)
Falava assim este untuoso ministro na Câmara dos Comuns em 13 de Fevereiro de 1843. A 16 de Abril de 1863, vinte anos mais tarde, no discurso em que apresenta o seu orçamento:
«De 1842 a 1852 o rendimento tributável do país aumentou 6 por cento... Nos oito anos de 1853 a 1861, tomando como base o valor de 1853, tinha aumentado 20 por cento! O facto é tão espantoso que chega a ser quase incrível... este inebriante aumento de riqueza e poder... inteiramente confinado a classes possidentes... tem de ser um benefício indirecto para a população laboriosa porque embaratece as mercadorias de consumo geral. Enquanto os ricos têm estado a ficar mais ricos, os pobres têm estado a ficar menos pobres! Em qualquer caso, se os extremos de pobreza são menores,(13*) eu não ouso dizê-lo.»(14*)
Que anticlímax mais cocho! Se a classe operária permaneceu «pobre», só que «menos pobre» na proporção em que produziu um «inebriante aumento de riqueza e poder» para a classe da propriedade, ela relativamente permaneceu igualmente pobre. Se os extremos da pobreza não diminuíram, aumentaram, porque os extremos da riqueza [aumentaram]. No que respeita ao embaratecimento dos meios de vida, a estatística oficial mostra, p. ex. os dados do London Orphan Asylum(15*) — um encarecimento de 20% para a média dos três anos de 1860 a 1862, comparados com os de 1851 a 1853. Nos três anos seguintes, de 1863 a 1865, encarecimento progressivo da carne, manteiga, leite, açúcar, sal, carvão e de uma massa de outros meios de vida necessários(16*). O discurso seguinte de Gladstone sobre o orçamento, de 7 de Abril de 1864, é um ditirambo pindárico sobre o progresso da negociata [Plusmacherei] e sobre a felicidade do povo moderada pela «pobreza». Ele fala de massas «à beira do pauperismo», dos ramos do negócio «onde o salário não subiu» e resume por fim a felicidade da classe operária nestas palavras:
«A vida humana, em nove de cada dez casos, não é senão uma luta pela existência.»(17*)
O professor Fawcett, não vinculado como Gladstone a reservas oficiais, declara redondamente:
«Eu não nego é claro que os salários em dinheiro tenham sido aumentados por este aumento de capital» (nos últimos dez anos), «mas esta vantagem aparente perde-se em grande medida porque muitos dos meios de subsistência estão a ficar mais caros» (ele crê que por causa da queda de valor dos metais preciosos) «... os ricos ficam rapidamente mais ricos (the rich grow rapidly richer), enquanto que não há uni avanço perceptível no conforto desfrutado pelas classes industriais... Eles [os operários] tomaram-se quase escravos do logista [tradesman(21*)], a quem devem dinheiro.»(22*)
Nas secções sobre o dia de trabalho e a maquinaria revelaram-se as circunstâncias em que a classe operária britânica criou «um inebriante aumento de riqueza e poder» para as classes possidentes. No entanto, preocupava-nos então preponderantemente o operário na sua função social. Para uma plena elucidação das leis da acumulação há também de ter em vista a sua situação fora da oficina, a sua situação quanto a alimentação e habitação. Os limites deste livro exigem-nos que atendamos aqui antes de mais à parte mais mal paga do proletariado industrial e dos operários agrícolas, i. é, a maioria da classe operária
Antes, ainda uma palavra sobre o pauperismo oficial ou a parte da classe operária que perdeu a sua condição de existência — a venda da força de trabalho — e que vegeta de esmolas públicas. O pauperismo oficial contava em Inglaterra(23*): em 1855, 851 369 pessoas; em 1856, 877 767; em 1865, 971 433. Em consequência da falta de algodão, nos anos de 1863 e 1864 ela dilatou-se para 1 079 382 e 1 014 978. A crise de 1866, que atingiu Londres do modo mais grave, criou nesta sede do mercado mundial, mais populosa que o Reino da Escócia, em 1866 um acréscimo de indigentes de 19,5% comparado com 1865, e de 24,4% comparado com 1864, e um acréscimo ainda maior para os primeiros meses de 1867 comparado com 1866. Na análise da estatística dos indigentes há dois pontos a destacar. Por um lado, o movimento para baixo e para cima da massa de indigentes reflecte as alternações periódicas do ciclo industrial. Por outro lado, a estatística oficial ilude cada vez mais sobre o volume real do pauperismo no grau em que, com a acumulação do capital, a luta de classes, e portanto a auto-estima [Selbstgefühl] dos operários, se desenvolvem. P. ex., a barbárie no tratamento dos indigentes, acerca da qual a imprensa inglesa (Times, Pall Mall Gazette, etc.) durante os últimos dois anos tão alto gritou, é de velha data. F. Engels constata em 1844 todo o mesmo horror e todo o mesmo berreiro passageiro e santarrão próprio da «literatura sensacionalista»[N183]. Porém, o terrível acréscimo da morte à fome («deaths by starvation») em Londres, durante o último decénio, demonstra incondicionalmente a crescente aversão dos operários pela escravatura da workhouse(24*), esta penitenciária da miséria.
Voltemo-nos agora para as camadas mal pagas da classe operária industrial. Durante a escassez do algodão, em 1862, o Dr. Smith foi incumbido pelo Privy Council[N185] de uma investigação sobre a situação alimentar dos depauperados operários do algodão em Lancashire e Cheshire. Uma anterior observação de longos anos tinha-o conduzido ao resultado de que «para evitar as doenças por fome (starvation diseases)», a alimentação diária de uma mulher média tinha de conter pelo menos 3900 grãos de carbono com 180 grãos de azoto, a alimentação diária de um homem médio, pelo menos 4300 grãos de carbono com 200 grãos de azoto; para a mulher aproximadamente tanto alimento como o contido em duas libras de pão de trigo bom, para homens 1/9 mais; para a média semanal de adultos femininos e masculinos pelo menos 28 600 grãos de carbono e 1330 grãos de azoto. O seu cálculo foi confirmado na prática, de modo surpreendente, pela sua coincidência com a depauperada quantidade de alimentação a que a calamidade tinha reduzido o consumo dos operários do algodão. Eles receberam em Dezembro de 1862, semanalmente, 29 211 grãos de carbono e 1295 grãos de azoto.
No ano de 1863 o Privy Council encomendou uma investigação acerca do estado de calamidade da parte pior alimentada da classe operária inglesa. O Dr. Simon, funcionário médico do Privy Council, escolheu para este trabalho o Dr. Smith acima referido. A sua investigação estende-se, por um lado, aos operários agrícolas, por outro, aos tecelões de seda, costureiras, luveiros, tecedores de meias, tecelões de luvas e sapateiros. As últimas categorias são, à excepção dos tecedores de meias, exclusivamente citadinas. Estabeleceu-se como regra da investigação que se escolhessem as famílias mais saudáveis e relativamente melhor situadas em cada categoria.
Como resultado geral verificou-se que
«apenas em uma das classes examinadas de operários [trabalhando] em recinto coberto [in-door(25*)] o fornecimento médio de nitrogénio mal excedeu, enquanto que noutra quase alcançou, o padrão estimado de mera suficiência» abaixo do qual aparecem doenças por fome, «e que em duas classes havia falta — numa, uma falta muito grande — tanto de nitrogénio como de carbono. Além disso, no que respeita às famílias da população agrícola examinadas, constatou-se que mais de um quinto estavam com menos do que a suficiência estimada de comida carbonada, que mais de um terço estava com menos do que com a suficiência estimada de comida nitrogenada, e que em três condados (Berkshire, Oxfordshire e Somersetshire) insuficiência de comida nitrogenada era a dieta local média.»(26*)
Entre os operários agrícolas os mais mal alimentados eram os de Inglaterra, a parte mais rica do Reino Unido(27*). A subalimentação recaía entre os operários do campo em geral, principalmente nas mulheres e nas crianças, pois o «homem tem de comer para fazer o seu trabalho». Entre as categorias dos operários citadinos investigadas reinava uma carência ainda maior. «Estão tão mal alimentados que tem seguramente de haver entre eles muitos casos de forte e perniciosa privação» («renúncia» do capitalista [é] tudo isto!, a saber, renúncia ao pagamento dos meios de vida indispensáveis à mera vegetação dos seus braços!)(28*).
A tabela seguinte mostra a relação da situação alimentar das acima referidas categorias de operários puramente citadinas com a medida mínima admitida pelo Dr. Smith e com a medida alimentar dos operários do algodão durante o período da sua maior miséria:
Ambos os sexos | Média semanal de carbono |
Média semanal de azoto |
Grãos | Grãos | |
Cinco ramos industriais citadinos | 28 876 | 1192 |
Operários fabris desempregados do Lancashire | 29 211 | 1295 |
Quantum mínimo proposto para os operários do Lancashire com o mesmo número de homens e mulheres |
28 600 | 1330(29*) |
Cerca de metade, 60/125, das categorias de operários industriais investigadas não tomava absolutamente cerveja nenhuma, 28% leite nenhum. A média semanal dos meios de alimentação líquida nas famílias oscilou de 7 onças entre as costureiras a 24 3/4 onças entre os tecedores de meias. A maioria dos que não tomavam leite nenhum consistia em costureiras de Londres. A quantidade do pão consumido semanalmente variava de 7 3/4 libras entre as costureiras e 11 1/4 libras entre os sapateiros, e dava uma média total de 9,9 libras, semanalmente, para os adultos. Açúcar (melaço, etc.) variava, semanalmente, de 4 onças para os luveiros e as 11 onças para os tecedores de meias; a média total por semana para todas as categorias, por adulto, era de 8 onças. A média semanal total de manteiga (gordura, etc.) era de 5 onças por adulto. A média semanal de carne (toucinho, etc.) oscilava por adulto de 7 1/4 onças entre os tecelões de seda a 18 1/4 onças entre os luveiros; média total para as diversas categorias: 13,6 onças. O custo semanal da alimentação por adulto dava os seguintes valores médios gerais: tecelão de seda, 2 sh. e 2 1/2 d.; costureiras, 2 sh. e 7 d.; luveiros, 2 sh. e 9 1/2 d.; sapateiros, 2 sh. e 7 3/4 d.; tecedores de meias, 2 sh. e 6 1/4 d. Para os tecelões de seda de Macclesfield a média semanal ascendia apenas a 1 sh. e 8 1/2 d. As categorias mais mal alimentadas eram as costureiras, os tecelões de seda e os luveiros "(30*).
O Dr. Simon diz no seu relatório geral de saúde acerca deste estado alimentar:
«Que são inúmeros os casos em que uma dieta deficiente é a causa ou o factor de agravamento da doença, pode ser afirmado por qualquer um que esteja familiarizado com o exercício da medicina no âmbito da lei dos pobres, ou com as enfermarias e salas de consulta externa dos hospitais... Contudo, deste ponto de vista há que acrescentar, na minha opinião, um contexto sanitário muito importante. Tem <je ser lembrado que a privação de comida só se suporta com muita relutância e que em regra uma grande pobreza de dieta só surgirá quando outras privações a tiverem precedido. Muito antes da insuficiência da dieta, está a questão de preocupação higiénica; muito antes de o fisiologista pensar em contar os grãos de nitrogénio e de carbono que medeiam entre a vida e a morte à fome já o agregado familiar terá ficado de todo desprovido de conforto material; vestuário e combustível terão sido ainda mais escassos do que a comida — contra as inclemências do tempo não terá havido uma protecção adequada —, o espaço habitável terá sido restringido a ponto de a superlotação produzir ou aumentar a doença; mal terá havido utensílios e mobiliário domésticos — até a limpeza terá sido achada cara ou difícil e, se, por uma questão de respeito pessoal, ainda se fizerem esforços para a manter, cada um desses esforços representará tormentos adicionais de fome. O lar, também, será onde ficar mais barato comprar abrigo; em bairros onde commumente há menos frutos da supervisão sanitária, menos drenagem, menos limpeza de ruas, menos supressão de imundícies públicas, menos ou pior abastecimento de água e, se na cidade, menos luz e ar. Estes são os perigos sanitários aos quais a pobreza está quase certamente exposta, quando é uma pobreza suficiente para implicar escassez de comida. E se a soma deles é já de terrível magnitude contra a vida, a mera escassez de comida é, em si própria, muito séria... Estas são reflexões dolorosas, especialmente se nos lembrarmos de que a pobreza a que se referem não é a merecida pobreza da ociosidade. Em todos os casos, é a pobreza das populações operárias. Sem dúvida que, no que toca aos operários [trabalhando] em recinto coberto, o trabalho que proporciona a mísera pitança de comida é, para a maior parte, excessivamente prolongado. Todavia, evidentemente, só num sentido qualificado é que o trabalho pode ser considerado um meio de auto-sustento [self-supporting]. E, numa escala muito grande, o auto-sustento nominal só pode ser um circuito, mais longo ou mais curto, para o pauperismo.»(31*)
A conexão intema entre padecimento de fome pelas camadas operárias mais diligentes e consumo esbanjador, grosseiro ou refinado, fundado em acumulação capitalista, dos ricos só se desvenda com o conhecimento das leis económicas. Algo de diferente se passa com a situação habitacional. Qualquer observador imparcial vê que quanto mais maciça é a centralização dos meios de produção tanto maior é o correspondente amontoamento de operários no mesmo espaço; que, por lsso, quanto mais rápida é a acumulação capitalista tanto mais miserável é a situação habitacional dos operários. O «melhoramento» (improvements(32*)) das cidades — através da demolição de quarteirões mal construídos, edificação de palácios para bancos, armazéns, etc. pavimentação de ruas para trânsito comercial e carruagens de luxo, introdução de vias para cavalos, etc. —, que acompanha o progresso da riqueza, expulsa obviamente os pobres para recantos piores e mais densamente cheios. Por outro lado, qualquer pessoa sabe que a carestia das casas está na proporção inversa da sua boa qualidade e que as minas da miséria são exploradas pelos especuladores imobiliários com mais lucro e custos menores do que alguma vez o foram as minas de Potosi. O carácter antagónico da acumulação capitalista, e portanto, das relações capitalistas de propriedade em geral(33*), é aqui tão palpável que mesmo os relatórios oficiais ingleses sobre este assunto fervilham de tiradas heterodoxas contra a «propriedade e os seus direitos». O mal acompanhou de tal modo, a par e passo, o desenvolvimento da indústria, a acumulação do capital, o crescimento e o «embelezamento» das cidades que o mero medo de doenças contagiosas, que nem sequer poupam a «gente respeitável», provocou, de 1847 a 1864, não menos que 10 decretos parlamentares de política sanitária, e que, em algumas cidades, como Liverpool, Glasgow, etc., os burgueses [Bürgerschaft] aterrorizados intervieram por intermédio das suas municipalidades. Não obstante, no seu relatório de 1865, o Dr. Simon proclama:
«Geralmente falando, pode dizer-se que os males em Inglaterra estão incontrolados.»
Por ordem do Privy Council teve lugar, em 1864, uma investigação sobre as condições habitacionais dos operários rurais; em 1865 sobre as das classes mais pobres nas cidades. Os trabalhos magistrais do Dr. Julian Hunter encontram-se no sétimo e oitavo relatórios sobre «Public Health»(34*). Aos operários rurais voltarei mais tarde. Quanto à situação habitacional citadina remeto para uma observação geral do Dr. Simon:
«Embora o meu ponto de vista oficial», diz ele, «seja exclusivamente médico, a simples humanidade requer que o outro aspecto deste mal não seja ignorado [...] Nos seus graus mais elevados, ela» [isto é, a superlotação] «envolve quase necessariamente uma tal negação de toda e qualquer delicadeza, uma tal confusão falha de asseio de corpos e de funções corporais, uma tal exposição de nudez [...] sexual, que é mais bestial do que humana. Estar sujeito a estas influências é uma degradação que tem de se tomar cada vez mais profunda para aqueles sobre os quais ela continua a operar. Para as crianças nascidas sob a sua maldição, ela tem [...] de ser um [...] baptismo para a infâmia (baptism into infamy). E, para além de qualquer medida, desesperado é o desejo de que pessoas nessas circunstâncias possam [...], noutros aspectos, aspirar àquela atmosfera de civilização que tem como essência o asseio físico e moral.»(35*)
Londres ocupa o primeiro lugar em habitações superlotadas ou absolutamente impossíveis para alojamento humano.
«Dois pontos», diz o Dr. Hunter, são «claros; primeiro, que há cerca de 20 grandes colónias em Londres, de cerca de 10 000 pessoas cada, cuja condição miserável excede quase tudo o que ele viu em qualquer outro lugar de Inglaterra, e é quase inteiramente o resultado da sua má acomodação domiciliária; e, em segundo lugar, que a condição de superlotação e de dilapidação das casas destas colónias é muito pior do que há 20 anos.»(36*) «Não é demasiado dizer que a vida em certas partes de Londres e de Newcastle é infernal.»(37*)
Mesmo a parte melhor situada da classe operária, a par dos pequenos merceeiros e de outros elementos da pequena classe média, cai em Londres cada vez mais sob a maldição destas condições indignas de alojamento à medida que os «melhoramentos» e com eles a demolição de ruas e casas antigas progridem, que as fábricas e o fluxo de pessoas para a metrópole cresce e que, por fim, as rendas de casa aumentam a par das rendas fundiárias citadinas.
«As rendas [de casa] tomaram-se tão pesadas que poucos trabalhadores podem permitir-se mais do que um quarto.»(38*)
Quase não há qualquer propriedade imobiliária londrina que não esteja sobrecarregada com um sem-número de «middlemen»(39*). O preço do solo em Londres é sempre muito elevado em comparação com os seus rendimentos anuais, especulando cada comprador com que mais tarde ou mais cedo se verá de novo livre dele por um jury price (taxa fixada por jurados aquando das expropriações) ou com que obterá por intrujice uma extraordinária elevação de valor em virtude da proximidade de qualquer grande empreendimento. Consequência disto é um comércio regular de compra de contratos de arrendamento que se aproximam do seu termo.
«Dos senhores neste negócio bem se pode esperar que façam o que fazem — obter tudo o que podem dos inquilinos enquanto os tiverem, e deixar tão pouco quanto puderem aos seus sucessores.»(40*)
As rendas são semanais e os senhores não correm qualquer risco. Em consequência da construção do caminho-de-ferro no interior da cidade
«foi recentemente observado, no leste de Londres, o espectáculo de um certo número de famílias vagueando um sábado à noite com os seus escassos bens mundanos às costas, sem qualquer outro lugar de repouso que não fosse a workhouse.»(41*)
As workhouses já estão superlotadas e os «melhoramentos» já votados pelo Parlamento estão apenas no começo da sua execução. Se os operários são expulsos pela destruição das suas velhas casas, eles não abandonam a sua paróquia, ou, quanto muito, estabelecem-se na sua fronteira, o mais perto possível.
«Eles tentam, é claro, ficar tão perto quanto possível das suas oficinas. Os habitantes não vão para além da mesma paróquia ou da seguinte, dividindo os seus apartamentos de dois quartos em quartos individuais, e superlotando mesmo estes [...] Mesmo por uma renda mais alta, as pessoas que são desalojadas dificilmente conseguirão um alojamento tão bom como o já de si miserável que deixaram [...] Metade dos operários de Strand [...] ia duas milhas a pé para o trabalho.»
Este Strand, cuja rua principal, no estrangeiro, provoca uma imponente sensação de riqueza de Londres, pode servir de exemplo do empacotamento de pessoas em Londres. Numa das suas paróquias o funcionário da saúde contou 581 pessoas por acre, apesar de ter sido incluído metade do Tamisa. É óbvio que qualquer medida de política sanitária que expulse os operários de um quarteirão pela demolição de casas impróprias, como até agora aconteceu em Londres, só serve para tanto mais os comprimir num outro quarteirão.
«Todo este procedimento», diz o Dr. Hunter, «ou acabará necessariamente por parar num absurdo ou há-de suscitar-se de modo efectivo a compaixão (!) pública para com a obrigação, que pode agora, sem exagero, chamar-se nacional, de fornecer abrigo àqueles que pela razão de não terem qualquer capital não podem por si prover a ele, embora possam, através de pagamentos periódicos, recompensar os que lho proverem.»(42*)
Admire-se a justiça capitalista! Quando são expropriados devido a «improvements», como o caminho-de-ferro, nova construção de estradas, etc., o proprietário fundiário, o senhorio, o homem de negócios, não se limitam a receber uma indemnização completa. Pela sua «renúncia» compulsiva ele tem ainda, por deus e por direito, de ser além disso consolado com um lucro considerável. O operário é posto na rua com mulher, filhos e haveres e quando se apinha demasiado maciçamente em bairros da cidade, onde a municipalidade pugna pela decência, é perseguido por medidas policiais de sanidade!
No começo do século XIX não havia em Inglaterra uma única cidade que contasse 100 000 habitantes além de Londres. Apenas cinco contavam mais de 50 000. Agora existem 28 cidades com mais de 50 000 habitantes.
«O resultado desta mudança é não apenas que se aumentou enormemente a classe do povo da cidade, mas também que as antigas pequenas cidades de casas muito juntas são agora centros com construções a toda a volta, sem qualquer abertura ao ar e que, já não sendo agradáveis para os ricos, são agora por eles abandonadas em troca dos arredores mais agradáveis. Os sucessores destes ricos estão a ocupar as casas maiores à taxa de uma família por cada quarto» (frequentemente ainda com sublocatários) «e criou-se uma população para a qual as casas não estavam destinadas e eram totalmente inadequadas, cujo ambiente é verdadeiramente degradante para os adultos e ruinoso para as crianças.»(43*)
Quanto mais rapidamente o capital é acumulado numa cidade industrial ou comercial, tanto mais rápido é o afluxo do material humano explorável, tanto mais miseráveis são as improvisadas habitações dos operários. Newcastle-upon-Tyne, como centro de um distrito carbonífero e mineiro cada vez mais rendoso, ocupa, portanto, atrás de Londres, o segundo lugar no inferno da habitação [Wohnungsinferno]. Não são menos de 34 000 pessoas as que aí habitam em quartos individuais. Em consequência da sua absoluta nocividade para a comunidade foram recentemente destruídas pela polícia casas em Newcastle e Gateshead em número significativo. A construção das casas novas avança muito lentamente, o negócio, muito rapidamente. Por conseguinte, em 1865, a cidade estava mais superlotada do que antes. Mal havia um único quarto para alugar. O Dr. Embleton do hospital de febres de Newcastle diz:
«Poucas dúvidas pode haver de que a grande causa da continuação e alastramento do tifo tem sido a superlotação de seres humanos e a falta de asseio dos seus alojamentos. Os quartos, em que em muitos casos os operários vivem, estão situados em áreas e pátios fechados e doentios, e quanto a espaço, luz, ar e limpeza, eles são modelos de insuficiência e insalubridade e uma desgraça para qualquer comunidade civilizada; neles se deitam à noite homens, mulheres e crianças, todos juntos: e no que respeita aos homens, o turno da noite sucede-se ao turno do dia, e o turno do dia ao turno da noite, numa série ininterrupta, durante algum tempo juntos, mal tendo as camas tempo para arrefecer; toda a casa [está] mal abastecida de água e ainda pior de latrinas; suja, não ventilada e pestilenta.»(45*)
O preço semanal destes buracos sobe de 8 d. para 3 sh.
«[...] Newcastle-upon-Tyne», diz o Dr. Hunter, «contém uma amostra da mais fina estirpe dos nossos compatriotas, frequentemente afundados numa degradação quase selvagem por circunstâncias externas de casa e de rua.»(46*)
Em consequência do fluxo e refluxo de capital e trabalho, a situação habitacional de uma cidade industrial pode ser hoje suportável, amanhã será detestável. Ou a edilidade citadina pode, finalmente, ter conseguido eliminar os piores inconvenientes. Amanhã inundaria a cidade um enxame-de-gafanhotos de irlandeses esfarrapados ou de operários rurais ingleses arruinados. Pode-se encafuá-los na cave e no sótão ou transformar a casa operária, anteriormente respeitável, num alojamento em que o pessoal muda tão rapidamente como o aquartelamento durante a Guerra dos Trinta Anos. Exemplo: Bradford. Aí o filisteu municipal estava precisamente ocupado com a reforma da cidade. Além disso, aí mesmo, em 1861, havia ainda 1751 casas não habitadas. Mas vem agora o bom negócio, sobre o qual o brandamente liberal senhor Forster, o amigo dos negros, recentemente tão delicadamente cacarejou. Com o bom negócio, naturalmente, inundação pelas ondas do sempre agitado «exército de reserva» ou «sobrepopulação relativa». As medonhas moradas em caves e quartos registadas na lista (nota 47(47*)) que o Dr. Hunter recebeu de um agente de uma sociedade de seguros eram habitadas na sua maioria por operários bem pagos. Estes explicaram que pagariam de bom grado habitações melhores se as houvesse. Entretanto degradam-se e adoecem todos juntos, enquanto o brandamente liberal Forster, M. P.(49*), derrama lágrimas sobre as bênçãos do livre-câmbio e os lucros que as eminentes cabeças de Bradford fazem em worsted(50*). No relatório de 5 de Setembro de 1865 o Dr. Bell, um dos médicos dos pobres de Bradford, explica a terrível mortalidade dos doentes com febre do seu distrito pelas suas condições de habitação:
«Numa pequena cave medindo 1500 pés cúbicos [...] há dez pessoas... A Vincent Street, a Green Aire Place e the Leys incluem 223 casas tendo 1450 habitantes, 435 camas e 36 latrinas... As camas — e neste termo eu incluo qualquer rolo de trapos velhos e sujos, ou um braçado de aparas — têm uma média de 3,3 pessoas cada, muitas têm 5 e 6 pessoas por cada e disseram-me que há pessoas absolutamente sem cama; dormem com a roupa de todos os dias, em cima das tábuas nuas — rapazes e mulheres, casados e não casados, todos juntos. É quase desnecessário acrescentar que muitos destes alojamentos são buracos escuros, húmidos, sujos e mal cheirosos, completamente impróprios para habitação humana; são os centros a partir dos quais doença e morte se distribuem entre os que se encontram em melhores circunstâncias (of good circumstances(51*)), que lhes permitiram assim que supurassem entre nós.»(52*)
Bristol ocupa o terceiro lugar em miséria habitacional depois de Londres.
«Bristol, onde a pobreza mais absoluta e a miséria doméstica abundam dentro da cidade mais rica da Europa.»(53*)(54*)
Voltamo-nos agora para uma camada popular cuja origem é rural e cuja ocupação é em grande parte industrial. Ela forma a infantaria ligeira do capital o qual, conforme as suas necessidades, ora a atira para este ponto ora para aquele. Quando não está em marcha, ela «acampa». O trabalho nómada é utilizado para diversas operações de construção e drenagem, fabrico de tijolo, queima de cal, construção de caminhos-de-ferro, etc. Coluna errante de pestilência, ela importa para os locais em cuja vizinhança arma o seu acampamento: bexigas, tifo, cólera, escarlatina, etc.(56*) Em empreendimentos de significativo investimento de capital, como construção de caminhos-de-ferro, etc., é o próprio empresário que na maioria dos casos fornece ao seu exército barracas de madeira ou coisa parecida, aldeias improvisadas sem quaisquer dispositivos sanitários, fora do controlo das autoridades locais, muito lucrativas para o senhor contratador que explora os operários duplamente, como soldados industriais e como inquilinos. Consoante a barraca de madeira contém 1, 2 ou 3 buracos, os seus moradores — cavadores, etc. — têm de pagar 2, 3, 4 sh. por semana(57*). Um exemplo basta. Em Setembro de 1864, relata o Dr. Simon, chegou ao ministro do Interior, sir George Grey, a seguinte denúncia da parte do presidente do Nuisance Removal Committee(58*) da paróquia de Sevenoaks:
«Até acerca de doze meses atrás raramente se ouvia falar de casos de bexigas nesta paróquia. Pouco antes dessa altura, foram aqui iniciadas obras para um caminho-de-ferro de Lewisham a Tunbridge e, para além das obras principais serem na vizinhança imediata desta cidade, também foi aí estabelecido o depósito para a totalidade das obras, de modo que foi necessário empregar aí um grande número de pessoas. Como não foi possível acomodação em cottages para todos eles, foram construídas choupanas em diversos sítios ao longo da linha das obras pelo contratador, Sr. Jay, para serem ocupadas especialmente por eles. Estas choupanas não possuíam nem ventilação nem drenagem e, além disso, ficavam necessariamente superlotadas, pois que cada ocupante tinha de acomodar outros sublocatários, fosse qual fosse o número de pessoas da sua própria família, e apesar de só haver dois quartos para cada inquilino. As consequências, de acordo com o relatório médico que recebemos, foram que esta pobre gente, à noite, era compelida a suportar todo o horror da sufocação para evitar os cheiros pestíferos que vinham da água suja estagnada e das latrinas mesmo por baixo das suas janelas. Finalmente, foram apresentadas queixas ao Nuisance Removal Committee por um cavalheiro médico que teve a ocasião de visitar estas choupanas e ele falou das suas condições como alojamento nos termos mais severos, e expressou os seus receios de que consequências muito sérias poderiam seguir-se, a menos que fossem adoptadas algumas medidas sanitárias. Há cerca de um ano, o Sr.(59*) Jay prometeu preparar uma choupana para a qual pudessem logo ser removidas pessoas que, trabalhando para ele, sofressem de doenças contagiosas. Repetiu essa promessa no passado dia 23 de Julho, mas embora desde a data da sua última promessa tenha havido vários casos de bexigas nas suas choupanas, e duas mortes pela mesma doença, ele não deu quaisquer passos no sentido de cumprir a sua promessa. A 9 de Setembro do corrente, o Sr. Kelson, cirurgião, relatou-me mais casos de bexigas nas mesmas choupanas e descreveu as suas condições como as mais vergonhosas. Devo acrescentar para vossa» (do ministro) «informação, que uma casa isolada, chamada Casa da Peste, que está reservada para paroquianos que possam sofrer de doenças infecciosas, há muitos meses que tem sido continuamente ocupada por tais doentes e está ainda agora ocupada; que numa família morreram cinco crianças de bexigas e febre; que de 1 de Abril a 1 de Setembro deste ano, um período de cinco meses, houve nada menos que dez mortes por bexigas na paróquia, quatro das quais nas choupanas já referidas; que é impossível estabelecer o número exacto de pessoas que sofrem dessa doença, ainda que se saiba que são muitas, pelo facto de as famílias o manterem tanto quanto possível em segredo.»(60*)
Os operários das minas de carvão e outras pertencem às categorias mais bem pagas do proletariado britânico. Por que preço compram o seu salário foi mostrado já num passo anterior(61*). Deito aqui uma rápida vista de olhos às suas condições de habitabilidade. Em regra, o explorador da mina, seja ele proprietário ou arrendatário dela, edifica um certo número de cottages para os seus braços. Eles recebem estas cottages e carvão para a calefacção «de graça», i. é, estes formam uma parte do salário fornecida in natura. Os que não são acantonáveis deste modo recebem em substituição 4 lib. esterl. por ano. Os distritos mineiros atraem rapidamente uma grande população composta pela própria população das minas e pelos artesãos, merceeiros, etc., que se agrupam em seu redor. Como em todo o lado onde a população se adensa, a renda do solo é aqui alta. O empresário da mina procura, portanto, apinhar à boca da mina, no espaço de construção o mais estreito possível, precisamente tantas cottages quantas as precisas para empacotar os seus braços e as suas famílias. Se são abertas novas minas nas proximidades ou se voltam a retomar antigas, o aperto cresce. Na construção das cottages impera apenas um ponto de vista: a «renúncia» do capitalista a todo o dispêndio não absolutamente inevitável de [dinheiro] sonante.
«O alojamento obtido pelo mineiro e por outros trabalhadores ligados às minas de carvão de Northumberland e Durham», diz o Dr. Julian Hunter, «é talvez, no seu conjunto, o pior e o mais caro dos muitos especímenes que se podem encontrar em Inglaterra, exceptuando as paróquias semelhantes de Monmouthshire. [...] A extrema má qualidade reside no elevado número de homens que se encontram num quarto, na exiguidade do pedaço de terreno onde se comprime um grande número de casas, na falta de água, na ausência de latrinas, e na frequente colocação de uma casa em cima da outra, ou na sua distribuição por flats(64*)» (de tal modo que as diversas cottages formam verticalmente pisos uns em cima dos outros)... O empresário «actua como se toda a colónia estivesse acampada, e não fosse residente.»(65*) «No seguimento das minhas instruções», diz o Dr. Stevens, «visitei a maioria das grandes aldeias mineiras da Durham Union... Com muito poucas excepções, a afirmação geral de que não se tomam medidas para preservar a saúde dos habitantes seria verdadeira para todas elas... Todos os mineiros do carvão estão vinculados» («bound»(66*), expressão que, tal como «bondage»(67*) provém do tempo da servidão) «ao arrendatário (lessee) ou ao dono da mina de carvão por doze meses [...] Se os mineiros do carvão expressarem descontentamento, ou de qualquer forma aborrecerem o “vigilante” (viewer), torna-se nota dos seus nomes e, na altura da “vinculação” [“binding"] anual, esses homens são postos fora... Parece-me que nenhum papel do “truck system"(68*) podia ser pior do que aquele que lhe cabe nesses distritos densamente povoados. O mineiro do carvão está vinculado a tomar como parte do seu aluguer uma casa rodeada de influências pestíferas; ele não se pode ajudar a si próprio e parece duvidoso que mais alguém o possa ajudar, excepto o seu proprietário — ele é, para todos os efeitos, um servo (he is to all intents and purposes a serf); e o seu proprietário consulta primeiro a sua folha de balanço e o resultado é quase certo. O mineiro do carvão também é frequentemente abastecido de água pelo proprietário pela qual, quer seja boa ou má, ele tem de pagar, ou melhor, pela qual ele sofre uma dedução no seu salário.»(69*)
Em conflito com a «opinião pública» ou com a polícia sanitária, o capital de modo algum se envergonha de «justificar» as condições em parte perigosas e em parte indignas a que ele condena a função e a domesticidade do operário com o serem precisas para que explore mais lucrativamente. Tal como acontece quando renuncia a providências de protecção contra maquinaria perigosa na fábrica, a meios de ventilação e de segurança nas minas, etc., também aqui acontece com o alojamento dos operários das minas.
«Como desculpa», diz o Dr. Simon, funcionário médico do Privy Council no seu relatório oficial, «para as calamitosas acomodações domésticas [...] é alegado que geralmente minas são comummente exploradas por aluguer [lease]; que a duração do contrato de arrendamento [lessee’s interest] (que nas minas de carvão é geralmente de 21 anos) não é suficientemente longa para que ele [o arrendatário] pudesse julgar vantajoso para si próprio criar boas condições de acomodação para os seus trabalhadores e para a gente de comércio e outros que a obra atrai; que mesmo que se estivesse disposto a actuar liberalmente nesta matéria, esta disposição seria comummente derrotada pela tendência do senhor da terra em fixar-lhe, como renda do solo, uma carga adicional exorbitante pelo privilégio de ter na superfície do terreno a aldeia decente e confortável que os trabalhadores da propriedade subterrânea deviam habitar, e que aquele preço proibitivo (quando não proibição de facto) exclui igualmente outras pessoas que possam desejar construir. Seria estranho ao propósito deste relatório entrar em qualquer discussão sobre os méritos da referida desculpa. Nem sequer é preciso considerar aqui, caso se providenciasse acomodação decente, onde é que o seu custo [...] eventualmente recairia — se sobre o senhor da terra, ou o arrendatário, ou o trabalhador, ou o público. Mas em presença de factos tão vergonhosos como os testemunhados nos relatórios anexos» (do Dr. Hunter, Stevens, etc.), «bem se pode reclamar um remédio... Títulos de senhor da terra estão a ser assim usados para provocar grande mal público. O senhor da terra, na sua qualidade de dono da mina, convida uma colónia industrial a trabalhar na sua propriedade e depois, na sua qualidade de dono da superfície, toma impossível que os operários que ele reúne encontrem alojamento apropriado lá onde estes têm que viver. O arrendatário» (o explorador capitalista) «, entretanto, não tem qualquer motivo pecuniário para resistir a essa divisão do negócio, sabendo bem que se estas últimas condições forem exorbitantes as consequências não caem sobre ele, que os seus trabalhadores, sobre quem elas caem, não têm suficiente educação para conhecer o valor dos seus direitos sanitários, que nem o mais obsceno alojamento nem a mais porca água para beber serão apreciáveis incentivos para uma “strike".»(70*)
Antes de passar aos operários agrícolas propriamente ditos, há ainda que mostrar com um exemplo como as próprias crises operam sobre a parte mais bem paga da classe operária, sobre a sua aristocracia. Recordemos que o ano de 1857 trouxe uma das grandes crises com que de cada vez o ciclo industrial acaba. O prazo seguinte terminou em 1866. Antecipada já nos distritos fabris propriamente ditos pela falta de algodão — que expulsou muito capital da esfera habitual de investimento para as grandes sedes centrais do mercado monetário —, a crise tomou desta vez um carácter predominantemente financeiro. A sua deflagração em Maio de 1866 foi assinalada pela queda de um gigantesco banco londrino a que se seguiu o desmoronamento de inúmeras sociedades financeiras de burla. Um dos maiores ramos londrinos de negócio que a catástrofe apanhou foi a construção naval em ferro. Os magnatas deste negócio tinham durante o tempo de burla não só sobreproduzido sem medida como, além disso, aceitado contratos de fornecimento enormes baseando-se na especulação de que as fontes de crédito continuariam a fluir de um modo igualmente abundante. Agora deu-se uma reacção terrível que também noutras indústrias londrinas(71*) permanece até hoje, fins de Maio de 1867. Para uma caracterização da situação dos operários, o seguinte passo de um relato pormenorizado de um correspondente do Morning Star que visitou no começo de 1867 as principais sedes do sofrimento.
«Nos distritos do East End de Poplar, Millwall, Greenwich, Deptford, Limehouse e Canning Town, pelo menos 15 000 operários e suas famílias estavam num estado de extrema privação, e 3000 mecânicos especializados» [...] Os seus fundos de reserva tinham-se esgotado em consequência de um desemprego de seis ou oito meses... «Tive grandes dificuldades em chegar à porta da workhouse» (de Poplar), «porque uma multidão faminta a cercava [...] Estavam à espera das suas senhas [para o pão], mas ainda não tinha chegado a altura da distribuição. O pátio era um grande quadrado com um telheiro aberto a toda a volta e, no meio, vários montões de neve cobriam as pedras do pavimento. Também no meio havia pequenos espaços com cercas de vime como currais de ovelhas, onde os homens trabalhavam quando fazia bom tempo; mas no dia da minha visita, os currrais estavam tão cheios de neve que ninguém se podia sentar lá dentro. Contudo, os homens estavam ocupados debaixo do telheiro a partir pedras de pavimento para macadame. Cada homem tinha uma grande pedra de pavimento para se sentar e lascava o granito coberto de gelo com um grande martelo até ter partido [...] cinco bushels, e só então dava por terminado o seu dia de trabalho e recebia a sua paga diária — três pence» (2 Silbergroshen e 6 Pfennige) «e uma ração de comida. Noutra parte do pátio havia uma raquítica casota de madeira, e quando abrimos a porta encontrámo-la cheia de homens que estavam amontoados juntos, ombro com ombro por causa do calor dos corpos e da respiração de cada um. Estavam a desfiar estopa e a discutir sobre quem podia trabalhar mais tempo com uma dada quantidade de comida — pois a resistência era o ponto de honra. Só nesta workhouse [...] recebiam auxílio [...] sete mil [...], muitas centenas dos quais [...] parece que há seis ou oito meses ganhavam os salários mais altos pagos a artesãos [...] O seu número ultrapassaria o dobro se se contasse aqueles que, tendo esgotado todas as suas poupanças, ainda continuam a recusar dirigir-se à paróquia porque ainda têm alguma coisa para penhorar. Ao sair da workhouse dei um passeio pelas ruas, a maior parte delas com pequenas casas de um piso, que abundam na zona de Poplar. O meu guia era um membro do Comité dos Desempregados [...] A minha primeira visita foi a um operário siderúrgico que tinha estado sem emprego vinte e sete semanas. Encontrei o homem sentado com a sua família num quartinho das traseiras. O quarto não estava nu de mobília e tinha um fogo aceso. Isto era necessário para evitar que os pés descalços das criancinhas ficassem enregelados, pois estava um dia extremamente frio. Num tabuleiro em frente do fogo estava uma quantidade de estopa que a mulher e os filhos desfiavam em troca do subsídio da paróquia. O homem trabalhava no pátio de pedra da workhouse por uma certa ração de comida e três pence por dia. Tinha agora regressado a casa para jantar, cheio de fome, como nos disse com um sorriso melancólico, e o seu jantar consistia em duas fatias de pão com pingue e uma chávena de chá sem leite... A porta seguinte a que batemos foi aberta por uma mulher de meia idade que, sem dizer palavra, nos levou para uma salita recuada em que se sentava toda a família, em silêncio, olhando fixamente para um fogo que rapidamente morria. Era tal a desolação e o desespero em tomo desta gente e do seu quartinho que eu nunca mais desejaria presenciar coisa assim. “Há vinte e seis semanas que eles não fazem nada, senhor”, disse a mulher apontando para os seus rapazes; “e todo o nosso dinheiro se foi — todas as vinte libras que eu e o pai poupámos quando os tempos eram melhores, pensando que seriam úteis para nos mantermos quando deixássemos de trabalhar. Veja”, disse quase furiosamente, mostrando uma caderneta do banco com todos os registos de dinheiro depositado e de dinheiro levantado em ordem, de modo a que pudéssemos ver como a pequena fortuna tinha começado com o primeiro depósito de cinco xelins e tinha aumentado pouco a pouco até chegar a vinte libras, e como é que se tinha derretido outra vez até a soma disponível passar de libras a xelins e o último registo tomar a caderneta tão inútil como uma folha em branco. Esta família recebia ajuda da workhouse, que apenas lhes fornecia uma escassa refeição por dia... A nossa próxima visita foi à mulher de um trabalhador do ferro, cujo marido tinha trabalhado nos estaleiros. Fomos encontrá-la doente por falta de comida, deitada vestida em cima de um colchão e coberta apenas com uma tira de tapete, pois que toda a roupa de cama tinha sido empenhada. Duas desgraçadas crianças tomavam conta dela, elas próprias a necessitarem tanto de cuidados como a sua mãe. Dezanove semanas de inactividade forçada tinham-nos levado àquele impasse, e enquanto a mãe contava a história daquele passado amargo, chorava baixinho como se estivessem mortas todas as suas esperanças num futuro que o pudesse resgatar... Ao sairmos, um indivíduo jovem veio a correr atrás de nós e pediu-nos que entrássemos em sua casa e vissemos se era possível fazer alguma coisa por ele. Uma mulher jovem, duas lindas crianças, um molho de recibos de penhora e um quarto nu era tudo o que tinha para mostrar.»(73*)
Sobre os ulteriores padecimentos da crise de 1866, [veja-se] o seguinte excerto de um jornal tory. Há que não esquecer que a parte leste de Londres, de que aqui se trata, é não apenas a sede da construção naval em ferro, mencionada no texto do capítulo, como também de um chamado «trabalho domiciliário» pago sempre abaixo do mínimo.
«Um espectáculo aterrador pôde ontem ser visto numa parte da metrópole. Ainda que os milhares de desempregados do East-End não tivessem desfilado en masse(74*) com as suas bandeiras negras, a torrente humana era assaz imponente. Relembremos o que esta gente sofre. Está a morrer à fome. Este é o simples e terrível facto. São 40 000... Na nossa presença, num bairro desta maravilhosa metrópole, estão amontoadas cara com cara — ao pé da mais enorme acumulação de riqueza que o mundo alguma vez viu — 40 000 pessoas desamparadas, famintas. Estes milhares estão agora a irromper pelos outros bairros; sempre meio-mortos de fome gritam a sua miséria aos nossos ouvidos, bradam aos céus, dizem-nos dos seus alojamentos miseráveis, que lhes é impossível encontrar trabalho e inútil mendigar. Os próprios contribuintes locais são conduzidos à beira do pauperismo pelas taxas paroquiais.» (Standard, 5 de Abril de 1867.)
Como é moda entre os capitalistas ingleses descrever a Bélgica como sendo o paraíso do operário, porque aí «a liberdade de trabalho» ou, o que é o mesmo, «a liberdade do capital» não é atrofiada nem pelo despotismo das trades’ unions nem pelas leis fabris, deixemos aqui algumas palavras sobre a «felicidade» do operário belga. Seguramente ninguém estava mais profundamente iniciado nos mistérios desta felicidade do que o falecido senhor Ducpétiaux, inspector-geral das prisões e das instituições de beneficência belgas e membro da comissão central para a estatística belga. Tomemos a sua obra: Budgets économiques des classes ouvrières en Belgique, Bruxelles, 1855. Aqui encontramos, entre outras coisas, uma família operária normal belga, cujas despesas e receitas anuais, calculadas segundo dados muito precisos, e cujas condições de alimentação são comparadas depois com as dos soldados, com as dos marinheiros da armada e dos presos. A família «compõe-se de pai, mãe e quatro filhos». Destas seis pessoas, «quatro podem ser ocupadas utilmente durante o ano todo»; é pressuposto «que não haja aí nem doentes nem enfermos», nem «despesas de ordem religiosa, moral e intelectual, salvo uma soma muito mínima para o culto (cadeiras na igreja)», «nem participação nas caixas de poupança, na caixa de reforma», nem «despesas de luxo ou provindo da imprevidência». Apesar disso, o pai e o filho mais velho podem fumar tabaco e ao domingo ir à taberna, para o que lhes são deixados 86 cêntimos por semana.
«Resulta do estado geral dos salários abonados aos operários das diversas profissões... que a média mais elevada do salário diário é de 1 fr. 56 c. para os homens, 89 cêntimos para as mulheres, 56 cêntimos para os rapazes e 55 cêntimos para as raparigas. Calculados a esta taxa, os recursos da família elevar-se-iam, no máximo, a 1068 francos anualmente... Na família tomada como tipo, reunimos todos os recursos possíveis.
«Mas atribuindo à mãe de família um salário, retiramos a esta família, a sua direcção: como será cuidado o interior? quem velará pelas crianças? quem preparará as refeições, fará as lavagens, os remendos? Tal é o dilema incessantemente colocado aos operários.»
De acordo com isto o orçamento da família é:
o pai | 300 dias de trabalho a frs. 1,56 | frs. 468 |
a mãe | 300 dias de trabalho a frs. 0,89 | frs. 267 |
o rapaz | 300 dias de trabalho a frs. 0,56 | frs. 168 |
a rapariga | 300 dias de trabalho a frs. 0,55 | frs. 165 |
Total | frs. 1068 |
Se o operário tivesse comida, a despesa anual da família e o seu défice constituiriam:
do marinheiro da armada | frs. 1828 | Défice frs. 760 | |
do soldado | frs. 1473 | Défice frs. 405 | |
do preso | frs. 1112 | Défice frs. 44 |
«Vê-se que poucas famílias operárias podem atingir, não diremos o comum do marinheiro ou do soldado, mas mesmo o do preso. A média geral (do custo de cada detido nas diversas prisões durante o período de 1847 a 1849) para todas as prisões foi de 63 cêntimos. Este número, comparado ao da manutenção diária do trabalhador, apresenta uma diferença de 13 cêntimos. E, além disso, de notar que se, nas prisões, é preciso levar em linha de conta as despesas de administração e de vigilância, em contrapartida os presos não têm de pagar o aluguer... Como é que, contudo, um grande número, poderíamos dizer a grande maioria dos trabalhadores, vivem em condições mais económicas? E [...] recorrendo a expedientes de que só o operário tem o segredo; reduzindo a sua ração diária; substituindo o pão de trigo pelo de centeio; comendo menos carne ou mesmo suprimindo-a completamente, do mesmo modo que a manteiga, os condimentos; contentando-se com um ou dois quartos onde a família é amontoada, onde os rapazes e as raparigas se deitam ao lado uns dos outros, muitas vezes sobre o mesmo catre; economizando na indumentária, na lavagem da roupa, nos cuidados de limpeza; renunciando às distracções de domingo; resignando-se enfim às privações mais penosas. Uma vez chegados a este limite extremo, a menor elevação no preço dos géneros, um desemprego, uma doença, aumentam a aflição do trabalhador e determinam a sua ruína completa; as dívidas acumulam-se, o crédito esgota-se, o vestuário, os móveis mais indispensáveis são empenhados no Montepio e, finalmente, a família solicita a sua inscrição na lista dos indigentes.»(75*)
De facto, neste «paraíso dos capitalistas» a mínima alteração no preço dos meios de vida mais necessários leva a uma alteração no número de casos mortais e de crimes! (Ver Manifest der Maatschappij: De Vlamingen Vooruit!, Bruxelas, 1860, p. 12.) A Bélgica toda conta 930 000 famílias, das quais, segundo as estatísticas oficiais: 90 000 ricos (eleitores) = 450 000 pessoas; 390 000 famílias da pequena classe média, na cidade e na aldeia, das quais a maioria caindo constantemente no proletariado = 1 950 000 pessoas. Por fim, 450 000 famílias operárias = 2 250 000 pessoas, das quais as famílias-modelo que gozam da felicidade descrita por Ducpétiaux. Entre as 450 000 famílias operárias mais de 200 000 estão na lista de pobres!
O carácter antagónico da produção e da acumulação capitalistas não se prova em lado algum de modo mais brutal do que no progresso da lavoura inglesa (incluindo a criação de gado) e no retrocesso do operário do campo inglês. Antes de passar à sua situação presente, uma rápida retrospectiva. A agricultura moderna data em Inglaterra de meados do século XVIII, apesar de o revolucionamento das relações de propriedade fundiária — base de que parte a alteração do modo de produção — ser de data muito anterior.
Se considerarmos os dados de Arthur Young — um observador exacto ainda que pensador superficial — acerca do operário do campo de 1771, este desempenha um papel muito miserável comparado com os seus antecessores do fim do século XIV, «quando o trabalhador [...] podia viver na abundância e acumular riqueza»(77*), para já não falar do século XV, «a idade de ouro do trabalhador inglês na cidade e no campo». Contudo, não precisamos de retroceder tanto. Num escrito muito rico de conteúdo de 1777 lê-se:
«O grande rendeiro [farmer] quase que ascendeu ao nível dele» [do gentleman] «enquanto o trabalhador pobre decaiu quase ao nível do chão. A sua situação desafortunada aparece com toda a clareza se observarmos comparativamente o que era há apenas quarenta anos e o presente... Senhor da terra e rendeiro [tenant] [...] deram as mãos para oprimir o trabalhador.»(80*)
Depois é demonstrado em pormenor que o salário real no campo caiu, de 1737 a 1777, aproximadamente 1/4, ou seja, 25%.
«A política moderna», diz pela mesma altura o Dr. Richard Price, «é, na verdade, mais favorável às pessoas das classes mais altas; e as consequências poderão provar, com o tempo, que todo o reino há-de ficar reduzido a fidalgos e pedintes ou a grandes e escravos.»(81*)
Ainda assim a situação do operário do campo inglês de 1770 a 1780, tanto no que respeita às suas condições de alimentação e de alojamento como à sua auto-estima, divertimentos, etc., é um ideal que mais tarde nunca voltou a ser alcançado. Expresso em pints de trigo, o seu salário médio, de 1770 a 1771, ascendia a 90 pints, no tempo de Eden (1797) já só a 65, em 1808 porém, a 60(82*).
A situação dos operários do campo, no final da guerra antijacobina(83*) — durante a qual aristocratas fundiários, rendeiros, fabricantes, comerciantes, banqueiros, cavalheiros da bolsa, fornecedores do exército, etc., enriqueceram tão extraordinariamente — foi já anteriormente indicada. O salário nominal aumentou na sequência, em parte, da depreciação das notas de banco, em parte, por um aumento, dela independente, no preço dos meios de vida de primeira necessidade. O movimento real dos salários é, porém, constatável do modo mais simples, sem recurso a pormenores aqui inadmissíveis. A lei dos pobres e a sua administração foram as mesmas em 1795 e 1814. Recorde-se como esta lei se aplicava no campo: a paróquia completava, sob a figura de esmolas, o salário nominal até à soma nominal requerida para a mera vegetação do operário. A relação entre o salário pago pelo rendeiro e o défice de salário coberto pela paróquia mostra-nos duas coisas: em primeiro lugar, a baixa do salário abaixo do seu mínimo; em segundo lugar, o grau em que o operário do campo era um composto de assalariado e indigente, ou o grau em que se o tinha transformado em servo da sua paróquia. Escolhamos um condado que representa a proporção média de todos os outros condados. Em 1795, o salário semanal médio ascendia no Northamptonshire a 7 sh. e 6 d.; o dispêndio total anual de uma família de 6 pessoas a 36 lib. esterl., 12 sh. e 5 d., o seu rendimento total a 29 lib. esterl. e 18 sh. e o défice coberto pela paróquia a 6 lib. esterl., 14 sh. e 5 d. No mesmo condado, em 1814, o salário semanal ascendia a 12 sh. e 2 d., o dispêndio total anual de uma família de 5 pessoas a 54 lib. esterl., 18 sh. e 4 d., o seu rendimento total a 36 lib. esterl. e 2 sh. e o défice coberto pela paróquia a 18 lib. esterl., 6 sh. e 4 d.(84*); em 1795, o défice ascendia a menos de 1/4 do salário; em 1814, a mais de metade. E evidente que nestas circunstâncias o mínimo conforto que Eden ainda encontrava na cottage do operário do campo tivesse, em 1814, desaparecido(86*). De todos os animais que o rendeiro tem, o operário — o instrumentum vocale(87*) — permaneceu daí em diante o mais estafado, o pior alimentado e o mais brutalmente tratado.
O mesmo estado de coisas prolongou-se tranquilamente até que
«os motins de Swing(88*), em 1830, nos revelaram» (i. é, às classes dominantes) «à luz das medas de trigo em chamas, que a miséria e o negro descontentamento amotinado ardiam quase tão furiosamente sob a superfície da Inglaterra agrícola como da Inglaterra manufactureira.»(89*)
Na Câmara Baixa, Sadler baptizou os operários do campo de «escravos brancos» («white slaves»); um bispo fez ecoar o epíteto na
Câmara Alta. O economista político mais significativo daquele período, Edward Gibbon Wakefield, diz:
«O camponês do Sul de Inglaterra [...] não é um homem livre, nem é um escravo: é um indigente.»(90*)
O tempo imediatamente anterior à supressão da lei dos cereais lançou nova luz sobre a situação dos operários do campo. Por um lado, era do interesse dos agitadores burgueses demonstrar quão pouco essas leis de protecção protegiam os reais produtores do cereal. Por outro lado, a burguesia industrial espumava de raiva face à denúncia das situações na fábrica por parte dos aristocratas fundiários, face à simpatia afectada destes ociosos arquicorrompidos, refinados e sem coração pelos padecimentos do operário fabril, e face ao seu «zelo diplomático» pela legislação fabril. Um velho ditado inglês diz que quando dois ladrões se agarram pelos cabelos, ocorre sempre algo de útil(91*). E, de facto, a estrepitosa e apaixonada querela entre as duas fracções da classe dominante acerca da questão de qual das duas explorava mais desavergonhadamente o operário foi à esquerda e à direita a parteira da verdade. O conde de Shaftesbury, alias lorde Ashley, era o paladino da campanha filantrópica antifabril aristocrática. Constituiu, portanto, de 1844 até 1845, um tema predilecto das revelações do Morning Chronicle acerca da situação dos operários da agricultura. Este jornal, então o órgão liberal mais significativo, enviou para os distritos rurais comissários próprios que de modo nenhum se contentavam com descrições e estatísticas gerais, mas publicavam os nomes tanto das famílias operárias investigadas como dos seus senhores fundiários. A lista que se segue dá os salários pagos em três aldeias nos arredores de Blanford, Wimboume e Poole. As aldeias são propriedade do sr. G. Bankes e do conde de Shaftesbury. Notar-se-á que este papa da «low church»[N186], este chefe dos pietistas ingleses, tal como o p. p. Bankes, volta a meter ao bolso, sob o pretexto de renda de casa, uma parte significativa dos salários de cão dos operários.
Crianças | Número de membros da família |
Salário semanal dos homens |
Salário semanal das crianças |
Rendimento semanal de toda a família |
Aluguer semanal | Salário semanal total após dedução do aluguer |
Salário semanal por cabeça |
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a | b | c | d | e | f | g | h | |||||
Primeira aldeia | ||||||||||||
sh. | sh. | d. | sh. | d. | sh. | d. | sh. | d. | sh. | d. | ||
2 | 4 | 8 | — | — | 8 | — | 2 | — | 6 | — | 1 | 6 |
3 | 5 | 8 | — | — | 8 | — | 1 | 6 | 6 | 6 | 1 | 3 1/2 |
2 | 4 | 8 | — | — | 8 | — | 1 | — | 7 | — | 1 | 9 |
2 | 4 | 8 | — | — | 8 | — | 1 | — | 7 | — | 1 | 9 |
6 | 8 | 7 | 1 | 6 | 10 | 6 | 2 | — | 8 | 6 | 1 | 3/4 |
3 | 5 | 7 | 2 | — | 7 | — | 1 | 4 | 5 | 8 | 1 | 11/2 |
Segunda aldeia | ||||||||||||
sh. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
||
6 | 8 | 7 | 1 | 6 | 10 | — | 1 | 6 | 8 | 6 | 1 | 3/4 |
6 | 8 | 7 | 1 | 6 | 7 | — | 1 | 3 1/2 |
5 | 8 1/2 | — | 8 1/2 |
8 | 10 | 7 | — | — | 7 | — | 1 | 3 1/2 |
5 | 8 1/2 | — | 7 |
4 | 6 | 7 | — | — | 7 | — | 1 | 6 1/2 |
5 | 5 1/2 | — | 11 |
3 | 5 | 7 | — | — | 7 | — | 1 | 6 1/2 |
5 | 5 1/2 | 1 | 1 |
Terceira aldeia | ||||||||||||
sh. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
sh. |
d. |
||
4 | 6 | 7 | — | — | 7 | — | 1 | — | 6 | — | 1 | — |
3 | 5 | 7 | 2 | — | 11 | 6 | — | 10 | 10 | 8 | 2 | 1 1/2 |
0 | 2 | 5 | 2 | 6 | 5 | — | 1 | — | 4 | — | 2 | —(92*) |
A abolição das leis dos cereais deu à lavoura inglesa um enorme impulso. Drenagem na maior escala(93*), um novo sistema para alimentação em estábulo e para o cultivo de plantas forrageiras artificiais, introdução de aparelhos mecânicos de estrumar, novo tratamento das terras argilosas, maior uso de adubos minerais, aplicação da máquina a vapor e de toda a espécie de novas máquinas de trabalho, etc., cultivo mais intensivo em geral, caracterizam esta época. O presidente da Real Sociedade para a Agricultura, o senhor Pusey, afirma que através da maquinaria recém-introduzida, os custos (relativos) de exploração se tinham reduzido quase metade. Por outro lado, o rendimento positivo do solo aumentou rapidamente. Um maior investimento de capital por acre, portanto, também uma concentração acelerada dos arrendamentos, era a condição fundamental do novo método(95*). De 1846 a 1856, simultaneamente, a área cultivada estendeu-se 464 119 acres, para não falar das grandes extensões dos condados orientais que como por encantamento deixaram de ser coutos para coelhos e míseras pastagens para se transformarem em exuberantes campos cerealíferos. Sabemos já que ao mesmo tempo diminuiu o número total das pessoas ocupadas na agricultura. No que respeita aos agricultores propriamente ditos, de um ou de outro sexo e de todos os níveis de idade, o seu número caiu de 1 241 269 no ano de 1851 para 1 163 217 no ano de 1861(96*). Se o director do Registo Civil[N187] inglês nota, portanto, com razão que «o aumento de rendeiros e operários do campo, a partir de 1801, não mantém qualquer proporção [...] com o aumento do produto agrícola»(97*), esta desproporção vale ainda muito mais para o último período, em que uma redução positiva da população operária rural vai a par de extensão da área cultivada, cultura mais intensiva, acumulação inaudita do capital incorporado no solo e dedicado ao seu cultivo, aumento do produto do solo sem paralelo na história da agronomia inglesa, regorgitantes registos de rendas dos proprietários fundiários e intumescente riqueza dos rendeiros capitalistas. Se juntarmos isto ao alargamento rápido e ininterrupto do mercado de venda citadino e da dominação do livre-câmbio, o operário do campo estava assim por fim, post tot discrimina rerum(98*), posto em condições que secundum artem(99*) teriam de o ter tomado louco de felicidade.
O professor Rogers, pelo contrário, chega ao resultado de que o operário do campo inglês hoje em dia — para não falar do seu antecessor da segunda metade do século XIV e do século XV —, mas apenas comparado com o seu antecessor do período de 1770 a 1780, piorou extraordinariamente a sua situação, que «se tornou de novo um servo», e mesmo um servo mais mal alimentado e alojado(100*). No seu relatório que fez época acerca do alojamento dos operários do campo, o Dr. Julian Hunter diz:
«O custo do hind» (nome que pertence aos tempos da servidão para o operário do campo) «é fixado no montante mais baixo possível com o qual ele possa viver... as provisões em salário e abrigo não são calculadas sobre o lucro que se obtém a partir dele. Ele é um zero nos cálculos da exploração agrícola [farming](103*) ... Sendo os meios [de subsistência] sempre supostos ser uma quantia fixa.»(104*) «Quanto a qualquer redução ulterior do seu rendimento, ele pode dizer nihil habeo, nihil curo(105*). Ele não tem receios pelo futuro porque agora ele só tem a magra provisão necessária para o manter. Alcançou o zero a partir do qual se originam os cálculos do rendeiro. Venha o que vier, não tem qualquer parte nem na prosperidade nem na adversidade.»(106*)
No ano de 1863 teve lugar uma investigação oficial acerca das situações de alimentação e ocupação dos criminosos condenados a deportação e trabalhos públicos forçados. Os resultados estão consignados em dois volumosos livros azuis.
«Da elaborada comparação», diz-se aí entre outras coisas, «entre a dieta dos condenados das penitenciárias de Inglaterra e a dos indigentes nas workhouses e a dos trabalhadores livres no mesmo país [...] transparece certamente que os primeiros são muito melhor alimentados do que qualquer das duas outras classes»(107*), enquanto «o montante de trabalho exigido a um condenado comum sujeito a servidão penal é cerca de metade do que seria feito por um jornaleiro comum.»(108*)
Alguns poucos testemunhos característicos: John Smith, director da prisão de Edinburgh, depõe.
N.° 5056: «A dieta das prisões inglesas [é] superior à dos trabalhadores comuns de Inglaterra.» N.° 5057(109*) «É um facto que [...] os trabalhadores agrícolas comuns da Escócia só muito raramente conseguem arranjar carne.» N.° 3047: «Há alguma coisa de que esteja ciente que justifique a necessidade de os alimentar muito melhor (much better) do que aos trabalhadores comuns? — Certamente que não.» N.° 3048: «Pensa que se deviam fazer mais experimentos tendo em ordem averiguar se não se podia encontrar uma dieta para presos empregados em obras públicas que quase se aproximasse da dieta dos trabalhadores livres? [...] »(110*) «Ele [o operário do campo] podia dizer: “Eu trabalho duramente e não tenho o suficiente para comer, e quando estava na prisão não trabalhava mais e tinha muito que comer, e portanto é melhor para mim estar de novo na prisão do que aqui.”»(111*)
Das tabelas anexas ao primeiro tomo do relatório compôs-se a seguinte resenha comparativa.
Montante de alimentação semanal(112*) | ||||
Componentes contendo azoto |
Componentes livres de azoto |
Componentes minerais |
Soma total | |
Onças | ||||
Criminoso na prisão de Portland | 28,95 | 150,06 | 4,68 | 183,69 |
Marinheiro da Marinha Real | 29,63 | 152,91 | 4,52 | 187,06 |
Soldado | 25,55 | 114,49 | 3,94 | 143,98 |
Construtor de carruagens (operário) | 24,53 | 162,06 | 4,23 | 190,82 |
Compositor [tipográfico] | 21,24 | 100,83 | 3,12 | 125,19 |
Operário do campo | 17,73 | 118,06 | 3,29 | 139,08 |
O resultado geral da comissão médica de investigação de 1863 acerca da situação alimentar das classes populares pior alimentadas é já conhecido do leitor. Recordará que a dieta de uma grande parte das famílias de operários do campo está abaixo da medida mínima necessária «para impedir doenças da fome». Tal é o caso, nomeadamente, em todos os distritos puramente agrícolas de Comwall, Devon, Somerset, Wilts, Stafford, Oxford, Berks e Herts.
«O alimento obtido pelo próprio trabalhador», diz o Dr. Smith, «é maior do que o que a quantidade média indica, uma vez que ele come uma porção maior de comida [...] necessária para capacitá-lo a desempenhar o seu trabalho [...] do que os outros membros da família, incluindo nos distritos mais pobres quase toda a carne e toucinho [...] A quantidade de comida obtida pela mulher e também pelos filhos em período de rápido crescimento é, em muitos casos, em quase todos os condados, deficiente, e particularmente em nitrogénio.»(113*)
Os criados e criadas que vivem na própria casa do rendeiro são suficientemente alimentados. O seu número caiu de 288 277 no ano de 1851 para 204 962 no ano de 1861.
«O trabalho das mulheres nos campos», diz o Dr. Smith, «sejam quais forem as suas desvantagens [...] é, nas presentes circunstâncias, de grande vantagem para a família, visto que acrescenta o montante de rendimentos que [...] fornece sapatos e roupa e paga a renda, e assim permite que a família seja melhor alimentada.»(114*)
Um dos resultados mais notáveis desta investigação foi que o operário do campo em Inglaterra está muito pior alimentado que nas outras partes do Reino Unido («is considerably the worst fed»(115*)), como a tabela mostra.
Consumo semanal de carbono e azoto pelo operário rural médio | ||
Carbono | Azoto | |
Grãos | ||
Inglaterra | 40 673 | 1594 |
Gales | 48 354 | 2031 |
Escócia | 48 980 | 2348 |
Irlanda | 43 366 | 2434(116*) |
«Da quantidade insuficiente e da qualidade miserável das acomodações», diz o Dr. Simon no seu Relatório oficial de Saúde, «que os nossos trabalhadores agrícolas geralmente tinham, quase todas as páginas do relatório do Dr. Hunter dão testemunho. E, gradualmente, de há muitos anos a esta parte, o estado do trabalhador tem-se vindo a deteriorar nestes aspectos. Hoje é para ele muito mais difícil encontrar casa e, quando a encontra, ela é muito menos adequada às suas necessidades do que talvez fosse o caso há séculos atrás. Especialmente nos últimos vinte ou trinta anos, o mal tem vindo a aumentar rapidamente e as circunstâncias domésticas do trabalhador são hoje deploráveis ao mais alto grau. Nesta matéria (e excepto na medida em que aqueles a quem o seu trabalho enriquece acham bem tratá-lo com uma espécie de indulgência piedosa) ele está muito peculiarmente desamparado. Se irá, ou não, encontrar casa na terra que ele contribui para cultivar, se a casa que ele vier a conseguir é adequada a seres humanos ou a suinos, se ele irá ou não ter o pequeno espaço para horta que tanto diminui a pressão da sua pobreza — tudo isto não depende da sua vontade e capacidade para pagar uma renda razoável pela acomodação decente de que necessita, mas depende do uso que outros possam entender conveniente fazer do “seu direito de fazerem o que quiserem com o que é seu”. Por maior que seja uma quinta, não há qualquer lei que determine que ela deva ter uma certa proporção de alojamentos de trabalhadores (e mesmo só alojamentos decentes); também não há nenhuma lei que reserve para o trabalhador o mais pequeno direito àquele solo para o qual a sua indústria é tão necessária como o sol e a chuva... Um elemento estranho faz pesar a balança pesadamente contra ele... a influência da Lei dos Pobres nas suas disposições acerca da fixação e tributação(117*). Sob esta influência cada paróquia tem interesse pecuniário em reduzir ao mínimo o número dos seus trabalhadores residentes: — porque, infelizmente, o trabalho agrícola, em vez de implicar uma independência segura e permanente para o operário que tanto trabalha e para a sua família, apenas implica para a sua maioria um circuito mais longo ou mais curto para um efectivo pauperismo — um pauperismo que, durante todo o circuito, está tão próximo que qualquer doença ou falta temporária de ocupação obriga a imediato recurso à assistência paroquial — e assim toda a residência de população agrícola numa paróquia é muito claramente uma adição às suas contribuições para os pobres... Aos grandes proprietários(118*) [...] basta-lhes resolver que não haverá alojamentos de trabalhadores nas suas propriedades, e as suas propriedades estarão, de aí em diante, virtualmente livres de metade das suas responsabilidades para com os pobres. Até que ponto, na constituição e lei inglesas, se pretendeu que fosse possível adquirir esta espécie de propriedade incondicional sobre a terra, e até que ponto se pretendeu que um landlord, ao “fazer o que quer com o que é seu”, pudesse tratar os cultivadores do solo como estrangeiros, podendo bani-los do seu território — é uma questão que não pretendo discutir... Porque esse» (poder) «de evicção [...] não existe apenas em teoria. Numa muito grande escala prevalece na prática — prevalece... como uma condição principal que governa as circunstâncias domésticas do trabalho agrícola... Quanto à extensão deste mal, bastará referir as provas, que o Dr. Hunter compilou do último censo, de que a destruição de casas, não obstante um aumento da sua procura local, tem sido progressiva durante os últimos dez anos em 821 diferentes paróquias ou municipalidades de Inglaterra. De tal modo que, sem ter em conta as pessoas que tinham sido forçadas a tomar-se não-residentes» (a saber, na paróquia em que trabalham), «estas paróquias e municipalidades estavam a receber em 1861, comparado com 1851, uma população 5 1/3 por cento maior para menos 4 1/2 por cento de casas... Quando o processo de despovoamento se completou, o resultado, diz o Dr. Hunter, é uma aldeia de fachada (show-village) onde as cottages ficaram reduzidas a umas poucas e onde a ninguém é permitido viver a não ser às pessoas que são necessárias como pastores, jardineiros ou couteiros — criados permanentes que recebem o bom tratamento habitualmente dado à sua classe(119*). Mas a terra requer cultivo, e observar-se-á que os trabalhadores nela empregues não são os rendeiros do dono, mas que eles vêm de uma aldeia aberta vizinha, talvez a três milhas, onde um grande número de pequenos proprietários os recebeu quando as suas cotttages foram destruídas nas aldeias fechadas à volta. Onde as coisas tendem para o referido resultado, frequentemente as cottages que ficaram de pé testemunham, pela sua condição degradada e falta de reparações, a extinção a que estão condenadas. Vêem-se nos seus diversos estádios de decadência natural. Enquanto o abrigo estiver de pé é permitido ao trabalhador alugá-lo, o que ele fará frequentemente com muita satisfação, mesmo que ao preço de alojamento decente. Mas não receberá qualquer reparação, qualquer melhoramento, excepto o que os seus ocupantes sem um tostão puderem fornecer. E quando, por fim, se tomar inabitável [...] não passará de mais uma cottage destruída, e futuras contribuições para pobres ficarão ligeiramente aliviadas. Enquanto os grandes donos estão a escapar assim às contribuições para os pobres através do despovoamento das terras sobre as quais têm controlo, a cidade ou a aldeia aberta mais próximas recebem os trabalhadores evictos: mais próximas, digo eu, mas este “mais próximas” pode significar três ou quatro milhas de distância da quinta onde o trabalhador tem a sua labuta diária. A essa labuta diária terá então que se acrescentar, como se nada fosse, a necessidade diária de caminhar seis ou oito milhas para poder ganhar o pão. E qualquer trabalho de quinta que seja feito pela mulher e pelos filhos é feito com a mesma desvantagem. E esta nem sequer é toda a labuta que a distância lhe ocasiona. Na aldeia aberta, especuladores de cottages compram pedaços de terreno que atravancam o mais densamente que podem com as choças mais baratas possíveis. E é para estas habitações miseráveis (que mesmo se confinarem com o campo aberto têm alguns dos piores traços das piores residências de cidade) que se vão apinhar os trabalhadores agrícolas de Inglaterra(121*) Também não se suponha, por outro lado, que mesmo quando o trabalhador tem a sua casa nas terras que ele cultiva, as suas circunstâncias domésticas são em geral aquelas que a sua vida de indústria produtiva pareceria merecer. Mesmo em propriedades de príncipes [...] a sua cottage [...] pode ser do tipo mais sórdido. Há landlords que consideram qualquer pocilga suficientemente boa para o seu trabalhador e família, e que mesmo assim não desdenham empreender com ele a negociação mais dura possível acerca da renda(124*). Pode não passar de uma arruinada choupana com uma só divisão, sem lugar para o fogo, sem latrina, sem janelas de abrir, sem abastecimento de água a não ser a vala, sem quintal — mas o trabalhador está desamparado face ao mal [...] e as Leis da Recolha do Lixo (the Nuisance Removal Acts) são [...] mera letra morta [...] dependendo, nos seus efeitos, em grande parte de donos de cottages como aquele a quem ele (o trabalhador) aluga a sua choça... E necessário desviar o olhar de cenas brilhantes, mas excepcionais, e chamar de novo a atenção para a preponderância esmagadora de factos que são um opróbio para a civilização da Inglaterra. E na verdade lamentável que, a despeito de tudo o que é evidente no que toca à qualidade das presentes acomodações, seja conclusão comum de observadores competentes que a mesma ruindade geral dos alojamentos seja um mal infinitamente menos urgente que a sua mera insuficiência numérica. Há anos que a superlotação dos alojamentos de operários rurais vem sendo um assunto de profunda preocupação, não só para as pessoas que se interessam pelo bem-estar sanitário, mas também para as pessoas que se interessam por uma vida decente e moral. Pois é facto que, repetidamente e em frases tão uniformes que parecem esteriotipadas, relatores da propagação de doenças epidémicas em distritos rurais têm insistido na extrema importância dessa superlotação como uma influência que toma tarefa desesperada tentar limitar qualquer infecção que se tenha introduzido. E, repetidamente, tem sido apontado que, apesar das muitas influências salubres que há na vida do campo, a aglomeração que favorece a extensão da doença contagiosa favorece também a originação da doença que não é contagiosa. E aqueles que têm denunciado o estado de superlotação da nossa população rural, não se têm mantido em silêncio quanto a um outro mal. Mesmo quando a sua preocupação primeira vai apenas para os prejuízos à saúde, eles referem-se quase forçosamente, com frequência, a outras questões relacionadas com o assunto. Ao mostrar como é frequente acontecer que adultos de ambos os sexos, casados e não casados, se amontoam (huddled) num quartinho de dormir, os seus relatórios têm demonstrado a convicção de que, nas circunstâncias que eles descrevem, a decência tem sempre de ser ultrajada e que a moralidade quase por necessidade tenha de sofrer(125*). Assim, por exemplo, no apêndice do meu último relatório anual, o Dr. Ord, relatando um surto de febre em Wing, Buckinghamshire, menciona como um jovem, que tinha vindo de Wingrave para ali com febre, “tinha dormido, nos primeiros dias da sua enfermidade, com outras nove pessoas num quarto. Em quinze dias, várias destas pessoas foram atacadas, e, no decurso de algumas semanas, cinco das nove tinham febre e uma tinha morrido [...]”. Do Dr. Harvey, do Hospital de St. George, que por motivos profissionais privados visitou Wing na altura da epidemia, recebi informações que vão exactamente no sentido do referido relatório [...]. “Uma jovem com febre estava deitada à noite num quarto ocupado pelo pai e pela mãe, pelo filho bastardo, por dois jovens (irmãos dela), e pelas duas irmãs, cada uma com um filho bastardo — 10 pessoas ao todo. Há algumas semanas antes dormiam ali 13 pessoas.”»(127*)
O Dr. Hunter investigou 5375 cottages de operários do campo, não só em distritos puramente agrícolas, mas em todos os condados de Inglaterra. Dessas 5375, 2195 só tinham um quarto de dormir (que frequentemente era também o quarto de estar); 2930 só 2, e 250 mais de 2. Dou, para uma dúzia de condados, um breve florilégio.
Wrestlingworth: quarto de dormir de aproximadamente 12 pés de comprido e 10 de largo; muitos, contudo, são mais pequenos. Frequentemente a pequena choupana de um piso divide-se com tábuas em dois quartos de dormir, frequentemente com uma cama numa cozinha de 5 pés e 6 polegadas de altura. Aluguer: 3 lib. esterl. Os inquilinos têm que construir a sua própria latrina; o proprietário da casa fornece apenas um buraco. Logo que um constrói uma latrina, toda a vizinhança a utiliza. Uma casa com o nome de Richardson era de uma beleza inigualável. As suas paredes de argamassa arqueavam como um vestido de senhora aquando de uma vénia. Um extremo da fachada era convexo, o outro côncavo, e sobre este último levantava-se de modo infeliz a chaminé, tubo torcido de argila e madeira semelhante à tromba de um elefante. Um pau comprido servia de escora para impedir a queda da chaminé. Porta e janela rombóides. Das 17 casas visitadas só 4 tinham mais de um quarto de dormir, e estas 4 superlotadas. As cots(129*) para uma pessoa só albergavam 3 adultos com 3 crianças, um casal com 6 filhos, etc.
Dunton: alugueres altos, de 4 a 5 lib. esterl.; salário semanal dos homens: 10 sh. Esperam conseguir o dinheiro para o aluguer com o trançar de palha pela família. Quanto mais elevado o aluguer, tanto maior o número dos que têm de se juntar para o pagar. Seis adultos, que partilhavam um quarto de dormir com 4 crianças, pagam por ele 3 lib. esterl. e 10 sh. A casa mais barata de Dunton — com medidas exteriores de 15 pés de comprido, 10 de largo — alugada por 3 lib. esterl. Só uma das 14 casas investigadas tinha dois quartos de dormir. Um pouco antes da aldeia uma casa contra cujas paredes exteriores os inquilinos defecavam. Por um simples processo de putre- facção, umas 9 polegadas da parte inferior da porta desapareceram; alguns tijolos postos engenhosamente por dentro à noite ao fechar e cobertos com um bocado de esteira; meia janela — o vidro com o caixilho — tinham seguido o caminho de toda a carne(130*). Aqui, sem móveis, amontoam-se 3 adultos e 5 crianças. Dunton não é pior que o resto da Biggleswade Union.
Beenham: em Junho de 1864 um homem, mulher e 4 filhos viviam numa cot (uma cottage de um andar). Uma filha voltou de servir para casa com febre escarlatinosa. Morreu. Uma criança adoeceu e morreu. A mãe e uma das crianças estavam doentes com tifo quando o Dr. Hunter foi chamado. O pai e um dos filhos dormiam fora de casa, mas a dificuldade de assegurar isolamento revela-se aqui, porquanto a roupa da casa atingida pela febre se amontoava na apinhada praça do mercado da miserável aldeia, à espera de ser lavada. — A renda da casa de H. era de 1 sh. por semana; um quarto de dormir para um casal e 6 crianças. Uma casa alugada por 8 d. (por semana), 14 pés e 6 polegadas de comprimento, 7 pés de largura, cozinha com 6 pés de altura; o quarto de dormir sem janela, lareira, porta, nem abertura a não ser a que dá para o corredor; nenhum quintal. Há pouco tempo, vivia aqui um homem com duas filhas adultas e um filho adolescente; pai e filho dormiam na cama, as filhas no corredor. Cada uma delas teve um filho durante o período em que a família ali vivia, mas uma foi para a workhouse para fazer o seu parto e depois voltou para casa.
30 cottages — em 1000 acres de terra — contêm aqui mais ou menos 130-140 pessoas. A paróquia de Bradenham abrange 1000 acres; tinha, em 1851, 36 casas e uma população de 84 homens e 54 mulheres. Esta desigualdade entre sexos tinha sido travada em 1861, altura em que contava com 98 do sexo masculino e 87 do sexo feminino; em 10 anos, crescimento de 14 homens e 33 mulheres. Entretanto, o número de casas tinha diminuído em 1 unidade.
Winslow: grande parte é nova construção em bom estilo. A procura de casas parece ser significativa, porque cots muito pobres são alugadas a 1 sh. e 1 sh. e 3 d. por semana.
Water Eaton: aqui os proprietários, vendo aumentar a população, destruíram aproximadamente 20 % das casas existentes. Um pobre operário que tinha de percorrer aproximadamente 4 milhas até ao seu trabalho respondeu [do seguinte modo] à pergunta se não poderia encontrar uma cot mais próxima: «Não; eles sabem demasiado para hospedar um homem com uma família grande como a minha.»
Tinker’s End, perto de Winslow: um quarto de dormir, onde [ficavam] 4 adultos e 5 crianças, 11 pés de comprimento, 9 pés de largura, e no ponto mais alto 6 pés e 5 polegadas; um outro, 11 pés e 7 polegadas de comprimento, 9 pés de largura, 5 pés e 10 polegadas de altura, abrigava 6 pessoas. Cada uma dessas famílias tinha menos espaço do que o preciso para um condenado às galés. Nenhuma casa tinha mais do que um quarto de dormir; nenhuma [dispunha] de porta traseira. A água era muito escassa. Rendas semanais de 1 sh. e 4 d. a 2 sh. Em 16 casas investigadas apenas um único homem auferia 10 sh. por semana. A reserva de ar correspondente a cada pessoa, no caso mencionado, correspondia à que teria ao seu dispor se passasse a noite encerrada numa caixa cúbica de 4 pés [de aresta]. De qualquer modo, as velhas choupanas oferecem uma grande quantidade de ventilação natural.
Gamblingay pertence a vários proprietários. Contém as cots mais andrajosas que se podem encontrar seja onde for. Muito entrançado de palha. Uma lassidão de morte, uma resignação sem esperança à sujidade impera em Gamblingay. A falta de asseio no centro da localidade torna-se uma tortura nas extremidades, norte e sul, onde as casas se desmoronam aos bocados. Os landlords absentistas sangram vigorosamente a pobre aldeola. As rendas são muito elevadas; 8 a 9 pessoas empacotadas num quarto de dormir destinado a uma pessoa; em dois casos, 6 adultos cada um com 1 e 2 filhos num pequeno quarto de dormir.
Neste condado, em muitas paróquias, a diminuição de pessoas e de cottages vai de mãos dadas. Em não menos de 22 paróquias, no entanto, a destruição de casas não conteve o crescimento populacional ou não provocou a expulsão que por todo o lado ocorre sob a designação de «êxodo para as cidades». Em Fingringhoe, uma paróquia de 3443 acres, estavam de pé, em 1851, 145 casas, e em 1861 apenas restavam 110, mas o povo não quis ir-se embora e, apesar de submetido a este tratamento, conseguiu aumentar. Em Ramsden Crays, em 1851, 252 pessoas habitavam em 61 casas, mas, em 1861, 262 pessoas estavam entaladas em 49 casas. Em Basildon viviam em 1851, em 1827 acres, 157 pessoas em 35 casas; no final do decénio, 180 pessoas em 27 casas. Nas paróquias de Fingringhoe, South Fam- bridge, Widford, Basildon e Ramsden Crays viviam, em 1851, em 8449 acres, 1392 pessoas em 316 casas; em 1861, na mesma área, 1473 pessoas em 249 casas.
Este pequeno condado sofreu mais de «espírito de evicção» do que qualquer outro em Inglaterra. Em Madley as superlotadas cottages, na sua maioria com 2 quartos de dormir, pertencem em grande parte aos rendeiros. Eles próprios arrendam-nas com facilidade a 3 ou a 4 lib. esterl. por ano e pagam um salário semanal de 9 sh.!
Hartford tinha, em 1851, 87 casas, mas pouco tempo depois 19 cottages foram destruídas nesta pequena paróquia de 1720 acres; habitantes em 1831: 452 pessoas; em 1851: 382; e em 1861: 341. Foram investigadas catorze cots com um quarto de dormir. Numa delas, com 1 casal, 3 filhos adultos do sexo masculino, uma rapariga adulta, 4 crianças; no total: 10 pessoas; em outra, 3 adultos e 6 crianças. Um desses quartos, em que dormiam 8 pessoas, tinha 12 pés e 10 polegadas de comprimento, 12 pés e 2 polegadas de largura, 6 pés e 9 polegadas de altura; a dimensão média, sem descontar as saliências, atingia mais ou menos 130 pés cúbicos por cabeça. Nos 14 quartos de dormir, 34 adultos e 33 crianças. Raramente estas cottages dispõem de quintais, mas muitos dos inquilinos podiam arrendar uma pequena parcela de terra a 10 ou 12 sh. por rood (1/4 de acre). Estas allotments(131*) estão afastadas das casas sem latrinas. A família ou tem que ir à sua parcela para despejar os excrementos, ou então, como acontece aqui e com o devido respeito se informa, encher a gaveta de um armário com eles. Logo que esteja cheia, é retirada e despejada onde o seu conteúdo é necessário. No Japão, o ciclo das necessidades vitais efectua-se com mais asseio.
Langtoft: um homem vive aqui na casa de Wright, com a mulher, com a mãe dela e 5 crianças; a casa tem cozinha da parte da frente, casa de lavagens, quarto de dormir por cima da cozinha da parte da frente; cozinha da parte da frente e quarto de dormir, 12 pés e 2 polegadas de comprimento, 9 pés e 5 polegadas de largura; o rés-do-chão todo, 21 pés e 3 polegadas de comprimento, 9 pés e 5 polegadas de largura. O quarto de dormir é um quarto esconso. As paredes convergem no tecto como um pão-de-açúcar(132*), e uma janela de correr abre-se na fachada. Porque vivia ele aqui? Quintal? Extraordinariamente minúsculo. Renda? Elevada, 1 sh. e 3 d. por semana. Perto do seu local de trabalho? Não, 6 milhas de distância, de tal modo que ele tinha de caminhar 12 milhas diariamente de ida e volta. Vivia ali porque se tratava de uma cot alugável e porque ele queria ter uma cot só para si, em qualquer lugar, a qualquer preço, no estado em que estivesse. Segue-se a estatística em 12 casas em Langtoft com 12 quartos de dormir, 38 adultos e 36 crianças:
12 Casas em Langtift | ||||
Casas | Quartos de dormir |
Adultos | Crianças | Número de pessoas |
1 | 1 | 3 | 5 | 8 |
1 | 1 | 4 | 3 | 7 |
1 | 1 | 4 | 4 | 8 |
1 | 1 | 5 | 4 | 9 |
1 | 1 | 2 | 2 | 4 |
1 | 1 | 5 | 3 | 8 |
1 | 1 | 3 | 3 | 6 |
1 | 1 | 3 | 3 | 5 |
1 | 1 | 2 | 2 | 2 |
1 | 1 | 2 | 2 | 5 |
1 | 1 | 3 | 3 | 6 |
1 | 1 | 2 | 4 | 6 |
Kennington, superlotada de um modo extremamente triste em 1859 quando a difteria apareceu e o médico da paróquia efectuou um inquérito oficial sobre a situação das classes populares mais pobres. Ele constatou que nesta localidade, onde é preciso muito trabalho, várias cots tinham sido destruídas e nenhuma nova edificada. Num distrito erguiam-se 4 casas, denominadas birdcages (gaiolas); cada uma tinha 4 quartos com as seguintes dimensões em pés e polegadas:
Cozinha | 9,5 x 8,11 x 6,6 |
Casa de lavagens | 8,6 x 4,6 x 6,6 |
Quarto de dormir | 8,5 x 5,10 x 6,3 |
Quarto de dormir | 8,3 x 8,4 x 6,3 |
Brixworth, Pitsford(133*) e Floore: nestas aldeias, no decorrer do inverno e em consequência da falta de trabalho, 20 a 30 homens arrastam-se pelas ruas. Os rendeiros nem sempre cultivam suficientemente as terras de cereal e de nabos, e o landlord achou conveniente fundir em 2 ou 3 todas as suas quintas arrendadas. Daí falta de ocupação. Enquanto de um lado da vala o campo grita por trabalho, do outro lado os operários defraudados lançam-lhe olhares nostálgicos. Febrilmente sobrecarregados de trabalho no verão e meio mortos de fome durante o invemo, não é de estranhar que eles digam no seu próprio dialecto que «the parson and gentlefolks seem frit to death at them»(134*).
Em Floore, exemplos de casais com 4, 5, 6 filhos, num quarto de dormir do tamanho mais pequeno; ditto, 3 adultos com 5 crianças; ditto um casal, com avô e 6 crianças com escarlatina, etc.; em 2 casas com 2 quartos de dormir, 2 famílias respectivamente com 8 e 9 adultos.
Stratton: 31 casas visitadas; 8 com apenas um quarto de dormir; Penhill(135*), na mesma paróquia: uma cot alugada por 1 sh. e 3 d. por semana, em que viviam 4 adultos e 4 crianças nada tinha de bom, a não ser boas paredes, desde o chão feito de pedras toscas até ao telhado de palha apodrecida.
A destruição de casas não foi aqui tão terrível; porém, de 1851 a 1861 o número do pessoal por casa aumentou de 4,2 para 4,6 indivíduos.
Badsey: muitas cots e hortazinhas aqui. Alguns rendeiros declaram que as cots são «a great nuisance here, because they bring the «poor» (As cots são grande inconveniente, porque trazem consigo os pobres.) Nas palavras de um gentleman(136*):
«Com elas os pobres não melhoram; se se construírem 500 alugam-se rapidamente; de facto, quanto mais se constrói, mais eles querem» —
segundo ele, as casas produzem os habitantes que por uma lei natural pressionam «os meios de alojamento» —, observa o Dr. Hunter:
«Ora, estes pobres têm de vir de algum lado, e como não há em Badsey nada de particular que os atraia, como por exemplo donativos de caridade, tem de ser a repulsão de algum lugar inadequado que os manda para cá. Se cada um pudesse encontrar uma parcela perto do seu trabalho, não preferiria Badsey, onde paga pelo seu pedaço de terra duas vezes mais do que o rendeiro paga pelo seu.»
A constante emigração para as cidades, a constante criação de «supra-numerários» no campo, por concentração de arrendamentos, transformação de terra arável em pastagens, maquinaria, etc., e a constante evicção da população do campo por destruição das cottages vão de mãos dadas. Quanto mais esvaziado de pessoas estiver um distrito tanto maior é a sua «sobrepopulação relativa», tanto maior a sua pressão sobre os meios de ocupação, tanto maior o excedente absoluto de população do campo sobre os seus meios de alojamento, tanto maior, portanto, nas aldeias, a sobrepopulação local e o mais pestilencial empacotamento de pessoas. A compressão do conglomerado humano em pequenas aldeias e povoados dispersos corresponde ao violento esvaziamento humano da superfície do campo. A ininterrupta criação de «supranumerários» entre os operários do campo, não obstante a redução do seu número e a crescente massa do seu produto, é o berço do seu pauperismo. O seu eventual pauperismo é um motivo para a sua evicção e a principal fonte da sua miséria habitacional, a qual quebra a última capacidade de resistência e deles faz puros escravos do senhor da terra(137*) e dos rendeiros, de tal modo que o mínimo de salário se consolida para eles como lei natural. Por outro lado, não obstante a sua constante «sobrepopulação relativa», o campo está igualmente subpovoado. Isto mostra-se não só localmente em pontos onde o escoamento humano para as cidades, minas, construções de caminho-de-ferro, etc., tão rapidamente se processa; mostra-se por todo o lado, tanto durante o tempo das colheitas como na primavera e no verão, durante os numerosos momentos em que a muito esmerada e intensiva agricultura inglesa precisa de braços extra. Os operários do campo são sempre demasiados para as necessidades médias do cultivo do campo e demasiado poucos para as necessidades excepcionais ou temporárias do mesmo(139*). Por isso se encontram registadas nos documentos oficiais as queixas mais contraditórias, provenientes dos mesmos lugares, simultaneamente acerca de falta de trabalho e de so- breabundância de trabalho. A falta de trabalho temporária ou local não opera nenhuma elevação do salário, mas empurração de mulheres e crianças para a lavoura, e baixa para idades cada vez menores [do início do trabalho]. Logo que a exploração de mulheres e crianças ganha mais espaço torna-se, por sua vez, um novo meio para transformar em supranumerário o operário do campo e manter baixo o seu salário. No leste de Inglaterra floresce um belo fruto deste cercle vicieux(142*) — o chamado gang-system (sistema de gangs ou de bandos), a que aqui em breve voltaremos(143*).
O sistema de gangs está domiciliado quase exclusivamente no Lincolnshire, Huntingdonshire, Cambridgeshire, Norfolk, Suffolk e Nottinghamshire; esporadicamente nos condados vizinhos de Northampton, Bedford e Rutland. Serve-nos aqui de exemplo Lincolnshire. Uma grande parte deste condado é nova, área anteriormente ocupada por pântanos ou também, como em outros dos citados condados orientais, terra recém-conquistada ao mar. A máquina a vapor fez milagres no que diz respeito à dessecação. O que antes era lamaçal e solo arenoso dá agora um exuberante mar de trigo e as mais elevadas rendas fundiárias. O mesmo vale para a terra aluvial artificialmente ganha, como [aconteceu] na ilha de Axholme e nas outras paróquias das margens do Trent. À medida que as novas quintas arrendadas surgiam, não só não se construíam novas cottages como se demoliam as antigas; a oferta de trabalho, porém, vinha das aldeias abertas, afastadas várias milhas, ao longo de caminhos que serpenteiam as encostas das colinas. Só aí tinha a população encontrado anteriormente refúgio perante as persistentes inundações do inverno. Nas quintas arrendadas de 400 a 1000 acres, os operários residentes (são aqui chamados «confined labourers»(144*)) servem exclusivamente para o permanente trabalho do campo pesado e efectuado com cavalos. Por cada 100 acres (1 acre = 40,49 ares ou 1,584 Morgen prussianas) mal há, em média, uma cottage. Um rendeiro de fenland, p. ex., declara perante a comissão de inquérito:
«Eu cultivo 320 acres, tudo terra arável. Não tenho nenhuma cottage na minha quinta. Agora tenho só um trabalhador na minha quinta. Tenho quatro homens para o trabalho com os cavalos, que vivem por aí. O trabalho leve é feito por bandos.»(145*)
O solo requer muito trabalho de campo mais leve, como seja o arrancar de ervas daninhas, sachar, certas operações de adubo, remover de pedras, etc. São executados pelos gangs ou bandos organizados, cujo local de habitação é nas localidades abertas.
O gang consiste de 10 até 40 ou 50 pessoas, a saber: mulheres, jovens de ambos os sexos (dos 13 aos 18 anos), muito embora os rapazes sejam na sua maioria excluídos quando chegam aos 13 anos, e por fim crianças de ambos os sexos (dos 6 aos 13 anos). À cabeça figura o gang-master (chefe do gang), sempre um operário do campo comum, na maioria dos casos um dos chamados mau tipo, estróina, instável, bêbado, mas com um certo espírito de iniciativa e de savoir-faire(146*). Ele recruta o gang, que trabalha sob as suas ordens e não sob as ordens do rendeiro. Ele faz com este último um acordo, na maioria dos casos à tarefa, e o seu rendimento — que em média não sobe muito acima do de um operário do campo comum(147*), depende quase totalmente da habilidade com que ele sabe fazer fluir do seu bando no mais curto tempo possível a maior quantidade de trabalho. Os rendeiros descobriram que as mulheres só trabalham ordenadamente sob a ditadura masculina, descobriram que, porém, mulheres e crianças, uma vez em movimento, despendem a sua força vital com verdadeira impetuosidade, como já Fourier sabia, enquanto o operário masculino adulto é tão manhoso para a poupar tanto quanto puder. O chefe do gang muda de uma propriedade para outra e assim ocupa o seu bando 6 ou 8 meses por ano. Serem freguesas dele é por isso muito mais proveitoso e seguro para as famílias operárias do que do rendeiro singular, o qual só ocasionalmente ocupa crianças. Esta circunstância consolida de tal modo a sua influência nas localidades abertas que, na maioria dos casos, só por sua mediação é possível alugar crianças. O aluguer individual destas últimas, separadas do gang, constitui um negócio adicional.
O «lado oculto» do sistema são o trabalho a mais das crianças e jovens, as enormes marchas que eles diariamente têm de efectuar para ir e vir de propriedades que ficam afastadas 5, 6 e muitas vezes 7 milhas, por fim, a desmoralização do «gang». Se bem que o chefe do gang, que em algumas regiões se chama «the driver» (o condutor), esteja munido de uma vara comprida, ele no entanto raramente a utiliza, e queixas sobre tratamento brutal são excepção. Ele é um imperador democrático ou uma espécie de caçador de ratos de Hameln. Ele precisa, portanto, de ter popularidade entre os seus súbditos e mantém-nos agrilhoados a si através da florescente boémia que reina sob os seus auspícios. Descomedimento grosseiro, alegre animação e descaramento mais obsceno dão asas ao gang. A maior parte das vezes o chefe do gang paga [os salários] na taberna e regressa a casa aos tombos, apoiado à direita e à esquerda por uma mulheraça, à cabeça de um comboio de crianças e jovens que atrás deles entoam canções de escárnio e obscenas. No caminho de regresso está na ordem do dia aquilo a que Fourier chama a «fanerogamia»[N189]. E frequente que raparigas com treze e catorze anos de idade fiquem grávidas de companheiros com a mesma idade. As aldeias abertas que fomecem o contingente dos gangs tomam-se Sodomas e Gomorras(148*), e registam duas vezes mais nascimentos ilegítimos do que o resto do reino. O que as raparigas criadas nessa escola, quando mulheres casadas, dão à moralidade já foi antes indicado. Os seus filhos, se o ópio não lhes dá o golpe de misericórdia, são recrutas natos para os gangs.
O gang, na sua forma clássica agora descrita, chama-se bando público, comum ou ambulante (public, common or tramping gang). Também há, de facto, bandos privados (private gangs). São compostos como o bando público, mas contam com menos cabeças e em vez de trabalharem sob o comando do chefe do gang fazem-no debaixo das ordens de um velho criado de lavoura a quem o rendeiro não sabe oferecer nada de melhor. O espírito boémio desaparece aqui, mas de acordo com todos os depoimentos de testemunhas a remuneração e o tratamento das crianças piora.
O sistema de gangs, que nos últimos anos se tem constantemente estendido(149*), não existe, manifestamente, para agradar ao chefe do gang. Existe para enriquecimento dos grandes rendeiros(150*) resp. senhores da terra(151*). Para o rendeiro não há método mais engenhoso para manter o seu pessoal operário muito abaixo do nível normal e mesmo assim ter sempre prontos, para toda a obra extra, os braços extra, e com a menor quantidade possível de dinheiro conseguir extrair(153*) a maior quantidade possível de trabalho e converter em «supranumerários» os operários adultos do sexo masculino. Pela anterior exposição, entende-se que, por um lado, se admita a maior ou menor falta de ocupação do homem do campo e que por outro lado simultaneamente se declare «necessário» o sistema de gangs em consequência da falta de trabalho masculino e do seu êxodo para as cidades(154*). O campo livre de erva daninha e a erva daninha humana de Lincolnshire, etc., são pólo e contrapólo da produção capitalista.(155*)
Para concluir esta secção temos ainda por um momento de nos deslocarmos à Irlanda. Primeiramente os factos que nos motivam a fazê-lo.
A população da Irlanda aumentara, em 1841, para 8 222 664 pessoas; em 1851, reduzira-se para 6 623 985; em 1861, para 5 850 309; e, em 1866, para 5 1/2 milhões, mais ou menos o nível de 1801. A diminuição começou com o ano de fome de 1846, de modo que em menos de 20 anos a Irlanda perdeu mais de 5/16 do seu conjunto populacional(158*). A sua emigração total desde Maio de 1851 até Julho de 1861 contou 1 591 487 pessoas; a emigração durante os últimos 5 anos, 1861-1865, foi superior a meio milhão. O número de casas habitadas reduziu-se, de 1851 a 1861, em 52 990. De 1851 a 1861 cresceu em 61 000 o número de quintas arrendadas com 15 a 30 acres, o das acima de 30 acres em 109 000, enquanto que o número total de todas as quintas decresceu em 120 000, um decréscimo de que é culpado, portanto, exclusivamente o aniquilamento de quintas abaixo de 15 acres, alias, a sua centralização.
O decréscimo do conjunto populacional foi naturalmente acompanhado, grosso modo, por um decréscimo da massa de produtos. Para o nosso objectivo basta considerar os 5 anos de 1861 a 1865, durante os quais mais de meio milhão emigrou e o número populacional absoluto caiu mais de 1/3 de milhão. (V. tab. A.)
Tabela A | |||||||||||
Existências de gado | |||||||||||
Ano | Cavalos | Gado bovino | Ovelhas | Porcos | |||||||
Número total | Decréscimo | Número total | Decréscimo | Acréscimo | Número total | Decréscimo | Acréscimo | Número total | Decréscimo | Acréscimo | |
1860 | 619 811 | 3 606 374 | 3 542 080 | 1 271 072 | |||||||
1861 | 614 232 | 5 579 | 3 471 688 | 134 686 | 3 556 050 | 13 970 | 1 102 042 | 169 030 | |||
1862 | 602 894 | 11 338 | 3 254 890 | 216 798 | 3 456 132 | 99 918 | 1 154 324 | 52 282 | |||
1863 | 579 978 | 22 916 | 3 144 231 | 110 659 | 3 308 204 | 147 928 | 1 067 458 | 86 866 | |||
1864 | 562 158 | 17 820 | 3 262 294 | 118 063 | 3 366 941 | 58 737 | 1 058 480 | 8 978 | |||
1865 | 547 867 | 14 291 | 3 493 414 | 231 120 | 3 688 742 | 321 801 | 1 299 893 | 241 413 |
Da tabela anterior resulta:
Cavalos Decréscimo absoluto |
Gado bovino Decréscimo absoluto |
Ovelhas Acréscimo absoluto |
Porcos Acréscimo absoluto |
71 944 | 112 960 | 146 662 | 28 821 182(159*) |
Voltemo-nos agora para a agricultura, que fornece os meios de vida para o gado e para os homens. Na tabela seguinte figura o decréscimo ou o acréscimo registado em cada ano relativamente ao ano imediatamente anterior. Os cereais englobam trigo, aveia, cevada, centeio, feijões e ervilhas; as verduras englobam batatas, turnips(160*), acelga e beterraba, couves, cenouras, parsnips(161*), ervilhaca, etc.
Tabela B Acréscimo ou decréscimo da área de solo utilizada para o cultivo e como prados (resp. pastagem), em acres |
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Ano | Cereais | Verduras | Pastagem e trevo | Linho | Total de terra que serve para a agricultura e criação de gado |
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Decréscimo | Decréscimo | Acréscimo | Decréscimo | Acréscimo | Decréscimo | Acréscimo | Decréscimo | Acréscimo | |
1861 | 15 701 | 36 974 | 47 969 | 19 271 | 81 373 | ||||
1862 | 72 734 | 74 785 | 6 623 | 2 055 | 138 841 | ||||
1863 | 144719 | 19 358 | 7 724 | 63 922 | 92 431 | ||||
1864 | 122 437 | 2 317 | 47 486 | 87 761 | 10 493 | ||||
1865 | 72 450 | 25 421 | 68 970 | 50 159 | 28 218 | ||||
1861-65 | 428 041 | 108 013 | 82 834 | 122 850 | 330 370 |
No ano de 1865 reúnem-se na rubrica «pastagens» 127 470 acres, principalmente porque a área na rubrica «terra não utilizada e bog (turfeira)» decresceu em 101 543 acres. Compare-se 1865 com 1864 e temos um decréscimo em cereais de 246 667 qrs., dos quais 48 999 de trigo, 166 605 de aveia, 29 892 de cevada, etc.; decréscimo em batatas, se bem que a área para o seu cultivo tenha aumentado em 1865, foi de 446 398 toneladas, etc. (V. tab. C.)
Tabela C Acréscimo ou decréscimo da área de solo cultivado, do produto por acre e do produto total. 1865 comparado com 1864(162*) |
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Produto | Acres de terra cultivável | Acréscimo ou decréscimo em 1865 |
Produto por acre | Acréscimo ou decréscimo em 1865 |
Produto total | |||||||
1864 | 1865 | + | - | 1864 | 1865 | + | - | 1864 | 1865 | Acréscimo ou decréscimo em 1865 |
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+ | - | |||||||||||
Quintais | Quintais | Quintais | Quintais | Qrs. | Qrs. | Qrs. | Qrs. | |||||
Trigo | 276 483 | 266 989 | — | 9 494 | 13,3 | 13,0 | — | 0,3 | 875 782 | 826 783 | — | 48 999 |
Aveia | 1 814 886 | 1 745 228 | — | 69 658 | 12,1 | 12,3 | 0,2 | — | 7 826 332 | 7 659 727 | — | 166 605 |
Cevada | 172 700 | 177 102 | 4 402 | — | 15,9 | 14,9 | — | 1,0 | 761 909 | 732 017 | — | 29 892 |
Bere(163*) | 8 894 | 10 091 | 1197 | — | 16,4 | 14,8 | — | 1,6 | 15 160 | 13 989 | — | 1 171 |
Centeio | 8,5 | 10,4 | 1,9 | — | 12 680 | 18 364 | 5 684 | — | ||||
Toneladas | Toneladas | Toneladas | Toneladas | Toneladas | Toneladas | Toneladas | Toneladas | |||||
Batatas | 1 039 724 | 1 066 260 | 26 536 | — | 4,1 | 3,6 | — | 0,5 | 4 312 388 | 3 865 990 | — | 446 398 |
Nabos | 337 355 | 334 212 | — | 3 143 | 10,3 | 9,9 | 2,8 | 0,4 | 3 467 659 | 3 301 683 | — | 165 976 |
Acelga | 14 073 | 14 389 | 316 | — | 10,5 | 13,3 | 1,1 | — | 147 284 | 191 937 | 44 653 | — |
Couves | 31 821 | 33 622 | 1 801 | — | 9,3 | 10,4 | — | — | 297 375 | 350 252 | 52 877 | — |
Linho | 301 693 | 251 433 | — | 50 260 | 34,2* | 25,2* | 0,2 | 9,0* | 64 506 | 39 561 | — | 24 945 |
Feno | 1 609 569 | 1 678 493 | 68 924 | — | 1,6 | 1,8 | — | — | 2 607 153 | 3 068 707 | — | |
(*) Stones de 14 lib. |
Do movimento da população e da produção do solo da Irlanda passamos agora ao movimento na bolsa dos seus landlords, grandes rendeiros e capitalistas industriais. Ele reflecte-se nas baixas e altas do imposto de rendimentos. Para o entendimento da tabela D seguinte observe-se que a rubrica D (lucro, com excepção do lucro do rendeiro) também inclui os chamados lucros «profissionais», i. é, os rendimentos de advogados, médicos, etc.; e que as rubricas C e E, não particularmente discriminadas, incluem os réditos de funcionários, oficiais, sinecuristas do Estado, detentores de títulos do Estado, etc.
Tabela D Rendimentos sujeitos ao imposto de rendimentos em lib. esterl.(164*) |
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1860 | 1861 | 1862 | 1863 | 1864 | 1865 | |
Rubrica A | ||||||
Renda fundiária | 12 893 829 | 13 003 554 | 13 398 938 | 13 494 091 | 13 470 700 | 13 801 616 |
Rubrica B | ||||||
Lucros dos rendeiros | 2 765 387 | 2 773 644 | 2 937 899 | 2 938 823 | 2 930 874 | 2 946 072 |
Rubrica D | ||||||
Lucros dos industriais, etc. | 4 891 652 | 4 836 203 | 4 858 800 | 4 846 497 | 4 546 147 | 4 850 199 |
As rubricas juntas de A a E | 22 962 885 | 22 998 394 | 23 597 574 | 23 658 631 | 23 236 298 | 23 930 340 |
Na rubrica D, o acréscimo do rendimento anual médio de 1853 a 1864 ascendeu apenas a 0,93, enquanto, no mesmo período, ascendeu na Grã-Bretanha a 4,58. A tabela seguinte mostra a distribuição dos lucros (com exclusão dos lucros dos rendeiros) para os anos de 1864 e 1865:
Tabela E Rubrica D. Rendimentos de lucros (acima de 60 lib. esterl.) na Irlanda(165*) |
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1864 | 1865 | |||
Lib. esterl. | Repartido por pessoas |
Lib. esterl. | Repartido por pessoas |
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Rédito total anual | 4 368 610 | 17 467 | 4 669 979 | 18 081 |
Rendimento anual acima de 60 lib. esterl. e abaixo de 100 lib. esterl. |
238 726 | 5 015 | 222 575 | 4 703 |
Do rédito total anual | 1 979 066 | 11 321 | 2 028 571 | 12 184 |
Resto do rédito total anual de | 2 150 818 | 1 131 | 2 418 833 | 1 194 |
Destes: | 1 073 906 | 1 010 | 1 097 927 | 1 044 |
1 076 912 | 121 | 1 320 906 | 150 | |
430 535 | 95 | 584 458 | 122 | |
646 377 | 26 | 736 448 | 28 | |
262 819 | 3 | 274 528 | 3 |
Inglaterra, um país de produção capitalista desenvolvida e preponderantemente industrial, teria ficado exangue se tivesse sofrido uma sangria populacional igual à irlandesa. Mas a Irlanda é presentemente apenas um distrito agrícola da Inglaterra separado por um largo fosso, à qual fornece cereais, lã, gado e recrutas industriais e militares.
O despovoamento pôs muita terra fora de cultivo, diminuiu muito o produto do solo(166*) e, não obstante o alargamento da área de criação de gado, gerou em alguns dos seus ramos um decréscimo absoluto, e em outros um progresso mal digno de nota, interrompido por constantes retrocessos. Mesmo assim, com a queda da massa populacional, as rendas do solo e os lucros das quintas arrendadas subiram constantemente, se bem que os últimos não tão constantemente como as primeiras. A razão é fácil de entender. Por um lado, com a reunião dos arrendamentos e a transformação de terras de cultivo em pastagem para gado, uma parte maior do produto total transformou-se em sobreproduto. O sobreproduto cresceu, apesar de o produto total, de que ele forma uma fracção, ter diminuído. Por outro lado, o valor-dinheiro deste sobreproduto subiu ainda mais depressa do que a sua massa, em consequência da subida dos preços de mercado ingleses, da came, lã, etc., desde os últimos 20 anos, e muito particularmente desde os últimos 10 anos.
Os meios de produção dispersos, que servem ao próprio produtor como meios de ocupação e de subsistência, sem se valorizarem por intermédio da incorporação de trabalho alheio, são tão pouco capital como o produto consumido pelo seu próprio produtor é mercadoria. Se com a massa populacional também a massa dos meios de produção aplicados na agricultura diminui, cresce, porém, a massa de capital nela aplicado, porque uma parte dos meios de produção antes dispersos se converteu em capital.
O capital global da Irlanda investido fora da agricultura, na indústria e no comércio, acumulou-se lentamente no decorrer dos últimos dois decénios e esteve sujeito a grandes flutuações constantes. Em contrapartida, a concentração das suas partes componentes individuais desenvolveu-se tanto mais rapidamente. Finalmente, por pequeno que tenha sido o seu crescimento absoluto, relativamente, em relação ao minguar do número da população, ele avolumou-se.
Assim, desenrola-se aqui, diante dos nossos olhos, em grande escala, um processo que a economia ortodoxa não podia desejar que fosse mais belo para a demonstração do seu dogma, segundo o qual a miséria resulta do sobrepovoamento absoluto e o equilíbrio se restabelece por despovoamento. E este um outro experimento importante totalmente diferente da peste de meados do século XIV[N190], tão glorificada pelos malthusianos. Note-se de passagem: se era em si mesmo uma ingenuidade de mestre-escola aplicar às relações de produção e às correspondentes relações de população do século XIX o padrão do século XIV, esta ingenuidade não reparava que se a peste e a dizimação que a acompanha foram sucedidas, deste lado do Canal, em Inglaterra, pela libertação e o enriquecimento da população rural, do outro lado, em França, foram sucedidas por uma maior subjugação e por uma elevação da miséria(167*).
A fome chacinou em 1846, na Irlanda, para cima de um milhão de seres humanos, mas só pobres diabos. A riqueza do país não causou o menor dano. O êxodo que se lhe seguiu durante vinte anos e continua a avolumar-se, não dizimou — como aconteceu com a Guerra dos Trinta Anos —, juntamente com os homens, os seus meios de produção. O génio irlandês inventou um método totalmente novo para enxutar como que por bruxaria um pobre povo para milhares de milhas de distância do teatro da sua miséria. Os emigrantes radicados nos Estados Unidos enviam anualmente somas de dinheiro para casa, meios de viagem para os que ficaram. Cada tropel que emigra este ano atrai no próximo ano outro tropel. Em vez de custar alguma coisa à Irlanda a emigração forma um dos ramos mais rendosos do seu negócio de exportação. E por fim um processo sistemático que não se limita porventura a abrir um buraco transitório na massa populacional, mas que bombeia dela, anualmente, mais pessoas do que as substituídas pelos nascimentos, de tal modo que o nível absoluto de população diminui de ano para ano(168*).
Quais foram as consequências para os operários da Irlanda que ficaram, libertos da sobrepopulação? Que a sobrepopulação relativa é hoje tão grande como antes de 1846; que o salário permanece no mesmo nível baixo e que o extenuamento por trabalho aumentou; que a miséria no campo impele para uma nova crise. As causas são simples. A revolução na agricultura segue a par da emigração. A produção de sobrepopulação relativa vai mais do que a par com o despovoamento absoluto. Uma olhadela à tabela B mostra como a transformação de terra cultivada em pastagem para gado tem de operar na Irlanda ainda mais agudamente do que na Inglaterra. Aqui, com a criação de gado cresce o cultivo de verduras, lá diminui. Enquanto grandes massas de terras antes cultivadas são deixadas incultas ou transformadas em pastagem permanente, uma grande parte de terra inculta antes não utilizada e das turfeiras serve para a extensão da criação de gado. Os pequenos e médios rendeiros — conto entre eles todos os que não cultivam mais de 100 acres — continuam ainda a constituir aproximadamente 8/10 do número total(169*). Eles são progressivamente, num grau muito diferente do que antes, oprimidos pela concorrência da agricultura capitalisticamente explorada e fornecem por isso constantemente novos recrutas à classe dos operários assalariados. A única grande indústria da Irlanda, o fabrico de linho, precisa relativamente de poucos homens adultos e no geral ocupa, apesar da sua expansão desde o encarecimento do algodão, em 1861-1866, apenas uma parte proporcionalmente insignificante da população. De forma igual a qualquer outra grande indústria, ela produz constantemente através de contínuas oscilações na sua própria esfera uma sobrepopulação relativa, mesmo no caso de crescimento absoluto da massa humana por ela absorvida. A miséria do povo rural forma o pedestal de gigantescas fábricas de camisas, etc., cujo exército de operários, na sua maior parte, está disperso pelo campo. Encontramos aqui de novo o sistema do trabalho domiciliário antes descrito, que tem no subpagamento e no sobretrabalho os seus meios metódicos de «fazer supranumerários». Finalmente, se bem que o despovoamento não tenha consequências tão destruidoras como num país de produção capitalista desenvolvida, ele não se completa sem constantes repercussões no mercado intemo. As fendas que a emigração aqui criou, não só restringem a procura local de trabalho, como também os rendimentos dos pequenos merceeiros, dos artesãos, das gentes das pequenas empresas, etc. Daí o retrocesso dos rendimentos entre 60 e 100 lib. esterl. na tabela E.
Uma exposição transparente da situação dos jornaleiros rurais na Irlanda encontra-se nos relatórios dos inspectores da administração dos pobres irlandesa (1870)(170*). Funcionários de um governo que só se aguenta pelas baionetas e pelo estado de sítio, às vezes declarado e às vezes encapotado, esses inspectores vêem-se obrigados a observar todos os subterfúgios da linguagem que os seus colegas em Inglaterra desprezam; mas mesmo assim não permitem ao seu governo que se embale em ilusões. Segundo eles, a sempre muito baixa taxa salarial no campo elevou-se contudo nos últimos 20 anos 50 a 60% e está agora, em média, em 6 a 9 sh. por semana. Mas por detrás desta aparente elevação esconde-se uma queda real do salário, pois ela nem sequer iguala o aumento dos preços dos meios de vida necessários entretanto ocorrido; prova disso dá-nos o seguinte extracto de contas oficiais de uma workhouse irlandesa:
Média semanal dos custos de manutenção por cabeça | |||
Ano | Alimentação | Vestuário | Total |
29. Set. 1848 a 29. Set. 1849 | 1 sh. 31/4 d. | 0 sh. 3 d. | 1 sh. 61/4 d. |
29. Set. 1868 a 29. Set. 1869 | 2 sh. 71/4 d. | 0 sh. 6 d. | 3 sh. 11/4 d. |
Portanto, o preço dos meios de vida necessários quase que duplicou e os do vestuário são precisamente o dobro do que eram há vinte anos atrás.
Mesmo abstraindo desta desproporção, a mera comparação das taxas salariais expressas em dinheiro não permitirá chegar a nenhum resultado correcto. Antes da fome, a grande massa dos salários rurais era in natura, em dinheiro só a parte mais pequena; hoje a regra é o pagamento em dinheiro. Já daqui se segue que qualquer que seja o movimento do salário real, a sua taxa em dinheiro tinha de subir.
«Antes da fome, o trabalhador tinha» um bocadito de terra em que «plantava batatas [...]. Podia criar o seu porco e as suas aves de capoeira [...] Mas agora eles têm que comprar o seu pâo [...] já não têm o benefício da venda de um porco, aves de capoeira ou ovos.»(171*)
De facto, antes os operários agrícolas confundiam-se com os pequenos rendeiros e formavam, na sua maior parte, a retaguarda dos arrendamentos, médios e grandes, onde encontravam ocupação. Só desde a catástrofe de 1846 começaram a formar uma fracção da classe dos puros operários assalariados, um estado [Stand] particular vinculado apenas por relações de dinheiro aos seus senhores do salário.
Sabe-se já qual era a sua situação habitacional em 1846. Desde aí ela ainda piorou. Uma parte dos jornaleiros rurais, que se reduz de dia para dia, vive ainda nas terras dos rendeiros em choupanas superlotadas cujos horrores são de longe o pior que os distritos rurais ingleses nos apresentam neste género. E isto vale de um modo geral com excepção de algumas comarcas do Ulster; no Sul, nos condados de Cork, Limerick, Kilkenny, etc.; no Leste, em Wicklow, Wexford, etc.; no Centro, no King’s e Queen’s County, Dublin, etc.; no Norte, em Down, Antrim, Tyrone, etc.; no Oeste, em Sligo, Roscommon, Mayo, Galway, etc.
«São [as choupanas do trabalhador agrícola]», exclama um dos inspectores, «uma vergonha para a Cristandade(172*) e a civilização deste país.»(173*)
Para tomar mais suportável aos jornaleiros a habitabilidade dos seus buracos, desde tempos imemoriais se lhes confisca sistematicamente os pedacitos de terra que lhes correspondem.
«A mera percepção de que vivem sujeitos a esta espécie de banimento por parte dos senhores da terra e seus agentes, [...] deu origem, no espírito dos trabalhadores, aos correspondentes sentimentos de antagonismo e de insatisfação para com aqueles por quem são assim levados a considerarem-se a si próprios como sendo tratados como [...] uma raça proscrita.»(174*)
O primeiro acto da revolução agrária, em maior escala e como que respeitando uma palavra de ordem dada de cima, foi o de varrer as choupanas que existiam nos campos de trabalho. Muitos operários foram assim coagidos a procurar abrigo em aldeias e cidades.
Aí eram despejados como refugo nos sótãos, vazadouros, caves e nos recantos dos piores bairros. Milhares de famílias irlandesas que, segundo o testemunho de ingleses imbuídos de preconceitos nacionais, se distinguiam eles mesmos pelo seu raro apego ao pátrio lar, pela sua jovialidade despreocupada e pela pureza dos seus costumes domésticos, encontravam-se subitamente transplantados para as estufas do vício. Os homens têm agora de procurar trabalho junto dos rendeiros vizinhos e são alugados apenas ao dia, por conseguinte a forma mais precária de salário; ao mesmo tempo
«às vezes têm de percorrer grandes distâncias para ir e vir do trabalho, molham-se à chuva com frequência e sofrem muito dura provação, que não raro acaba em enfermidade, doença e penúria(175*)»
«As cidades tinham tido de receber de ano para ano o que se considerava o trabalho excedentário [surplus-labour(176*)]» dos distritos rurais(177*), e depois as pessoas ainda se admiram que «ainda haja um excedente de trabalho nas cidades e nas aldeias, e escassez ou ameaça de escassez em alguns» dos distritos rurais(178*)! A verdade é que esta carência só se toma perceptível «na altura das colheitas, ou durante a primavera, ou nas alturas em que os trabalhos agrícolas se realizam em força; noutros períodos do ano, muitos braços estão ociosos»(180*); que «da apanha da primeira safra de batatas em Outubro até à seguinte no princípio da primavera [...] não há emprego para eles»(181*) e que, também, durante o tempo em que estão ocupados «estão sujeitos a dias sem trabalhar e a toda a espécie de interrupções»(183*).
Estas consequências da revolução agrícola — i. é, da transformação de terra arável em pastagem para gado, da aplicação de maquinaria, de uma mais rigorosa economia de trabalho, etc. — vêem-se ainda mais agudizadas pelos senhores da terra-modelo, os quais, em vez de dissiparem as suas rendas no estrangeiro, são tão misericordiosos que vivem nos seus domínios na Irlanda. Para que a lei da oferta e da procura permaneça totalmente não ferida estes senhores tiram o seu
«abastecimento de trabalho [...] principalmente dos seus pequenos rendeiros que são obrigados a comparecer quando se lhes exige que façam o trabalho do senhor da terra por taxas salariais em muitos casos consideravelmente abaixo das taxas correntes pagas aos trabalhadores comuns e sem ter em atenção os inconvenientes ou perdas para o rendeiro, de ser obrigado a negligenciar os seus próprios negócios nos períodos críticos das sementeiras e das colheitas»(184*).
A insegurança e irregularidade da ocupação, o frequente retomo e longa duração das paralisações de trabalho, todos estes sintomas de uma sobrepopulação relativa figuram, portanto, nos relatórios dos inspectores da administração dos pobres como outras tantas reclamações do proletariado agrícola irlandês. Recorde-se que ao considerarmos a situação do proletariado do campo inglês deparámos com fenómenos semelhantes. Mas a diferença é que em Inglaterra, um país industrial, a reserva industrial é recrutada no campo, enquanto que na Irlanda, um país agrícola, a reserva da agricultura se recruta nas cidades, os lugares de refúgio dos operários do campo expulsos. Ali os supranumerários da agricultura transformam-se em operários fabris; aqui os que foram escorraçados para as cidades, enquanto simultaneamente pressionam o salário citadino, permanecem operários do campo e são constantemente reenviados para o campo à procura de trabalho.
Os relatores oficiais resumem a situação material dos jornaleiros agrícolas do seguinte modo:
«Embora vivendo na mais estrita frugalidade, o seu próprio salário mal dá para alimentar uma família normal e para pagar a renda, e ele depende de outras fontes para se poder vestir a si próprio, à mulher e aos filhos... A atmosfera destas choupanas, combinada com as outras privações a que estão sujeitos, tomou esta classe particularmente susceptível a tifo [low fever] e à tuberculose pulmonar.»(185*)
Por conseguinte não é nenhum milagre que, de acordo com o testemunho unânime dos relatores, um sombrio descontentamento penetre as fileiras desta classe, que deseje regressar ao passado, abomine o presente e desespere do futuro, que se entregue «à má influência de agitadores» e só tenha uma ideia fixa: emigrar para a América. É este o país de delícias em que a grande panaceia malthusiana, o despovoamento, transformou a verde Erin![N191]
Quanto à boa vida que os operários manufactureiros irlandeses levam baste um exemplo:
«Na minha recente visita ao norte da Irlanda», diz o inspector fabril inglês, Robert Baker, «deparei com a seguinte prova do esforço feito por um operário especializado irlandês para proporcionar educação aos seus filhos; e dou o seu testemunho verbatim(186*), tal como ouvi da sua boca. Que ele era um trabalhador fabril especializado, pode-se perceber quando digo que trabalhava em artigos para o mercado de Manchester. “Johnson. — Sou um gramador [beetler] e trabalho das 6 da manhã até às 11 da noite, de segunda a sexta. Ao sábado saímos às 6 da tarde, e temos 3 horas” (para refeições e descanso). “Tenho cinco filhos ao todo. Por este trabalho recebo 10 sh. e 6 d. por semana; a minha mulher também trabalha aqui e recebe 5 sh. por semana. A rapariga mais velha, que tem 12 anos, cuida da casa. Também é cozinheira e a única ajuda que temos. É ela que despacha os mais novos para a escola. Uma rapariga que passa lá por casa acorda-me às cinco e meia da manhã. A minha mulher levanta-se e segue comigo. Nós não comemos nada antes de virmos para o trabalho. A filha de 12 anos toma conta das criancinhas durante todo o dia e nós não comemos nada até ao pequeno almoço, às oito. Às oito vamos a casa. Bebemos chá uma vez por semana; das outras vezes temos papas (stirabout), umas vezes de aveia, outras vezes de farinha de milho, conforme o que conseguimos. No inverno pomos um pouco de açúcar e água na farinha de milho. No verão temos algumas batatas, cultivadas por nós mesmos num pedaço de terra, e quando acabam voltamos às papas. [...] Assim vamos vivendo, dia após dia, domingos e dias de semana, sempre a mesma coisa, todo o ano. Estou sempre muito cansado à noite, quando acabo. As vezes conseguimos ver um bocadinho de came, mas muito raramente. Três dos nossos filhos vão à escola, e pagamos 1 d. por semana por cabeça. A nossa renda é de 9 d. por semana. A turfa para a lareira custa no mínimo 1 sh. e 6 d. de quinze em quinze dias."»(187*)
Isto são os salários irlandeses, isto é a vida irlandesa!
De facto, a miséria da Irlanda é de novo o tema do dia em Inglaterra. No final de 1866 e no começo de 1867 Lord Dufferin, um dos magnatas do campo na Irlanda, ocupou-se no Times da solução do problema.
«Que humano da parte de tão grande senhor!»[N192]
Da tabela E depreende-se que enquanto em 1864 das 4 368 610 lib. esterl. de lucro total 3 realizadores de mais-valia [Plusmacher] metiam ao bolso apenas 262 819; os mesmos 3 virtuosos da «renúncia» de um lucro total de 4 669 979 lib. esterl. meteram ao bolso, em 1865, em contrapartida, 274 528 lib. esterl.; em 1864: 26 realizadores de mais-valia 646 377 lib. esterl.; em 1865: 28 realizadores de mais-valia 736 448 lib. esterl.; em 1864: 121 realizadores de mais-valia 1 076 912 lib. esterl.; em 1865: 150 realizadores de mais-valia 1 320 906 lib. esterl.; em 1864: 1131 realizadores de mais-valia 2 150 818 lib. esterl., perto de metade do lucro anual total; em 1865: 1194 realizadores de mais-valia 2 418 833 lib. esterl., mais de metade do lucro anual total. Mas a parte de leão do rendimento nacional anual, que é devorada por um número insignificantemente pequeno de magnatas do campo na Inglaterra, Escócia e Irlanda, é tão monstruosa que a sabedoria estatal inglesa considerou oportuno não oferecer relativamente à repartição da renda fundiária o mesmo material estatístico que para a repartição do lucro. Lord Dufferin é um destes magnatas do campo. Defender que os registos das rendas e dos lucros podem ser «supranumerários» ou que a sua plétora está, de algum modo, em conexão com a plétora da miséria popular, é, naturalmente, uma representação tão «não respeitável» como «pouco saudável» (unsound). Ele atém-se aos factos. O facto é que assim como o número da população irlandesa decresce os registos irlandeses das rendas crescem; que o despovoamento «faz bem» ao proprietário da terra, portanto também ao solo, portanto também ao povo, o qual nada mais é do que um acessório do solo. Ele esclarece então que a Irlanda está ainda e sempre sobrepovoada e que a corrente da emigração continua ainda a fluir demasiado indolentemente. Para ser completamente feliz, a Irlanda tem que perder pelo menos ainda mais '/3 de milhão de homens de trabalho. Não se imagine que este lorde, que ainda por cima tem veia poética, é um médico da escola de Sangrado, que logo que não achava melhor o seu doente receitava uma sangria e mais outra nova sangria até que o paciente perdia, junto com o seu sangue, a sua doença. Lord Dufferin exige uma nova sangria de apenas '/3 de milhão, em vez de uma de aproximadamente 2 milhões, sem cujo escoamento de facto não poderá ser estabelecido o millennium(188*) na Erin. A prova é fácil de fornecer.
Número e volume das quintas arrendadas na Irlanda em 1864 | ||||||||||||||
1 | 2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 | |||||||
Quintas arrendadas não acima de 1 acre |
Quintas arrendadas acima de 1 acre mas não acima de 5 acres |
Quintas arrendadas acima de 5 acres mas não acima de 15 acres |
Quintas arrendadas acima de 15 acres mas não acima de 30 acres |
Quintas arrendadas acima de 30 acres mas não acima de 50 acres |
Quintas arrendadas acima de 50 acres mas não acima de 100 acres |
Quintas arrendadas acima de 100 acres |
Área total | |||||||
Número | Acres | Número | Acres | Número | Acres | Número | Acres | Número | Acres | Número | Acres | Número | Acres | Acres |
48 653 | 25 394 | 82 037 | 288 916 | 176 368 | 1 836 310 | 136 578 | 3051 343 | 71 961 | 2 906 274 | 54 247 | 3 983 880 | 31 927 | 8 227 807 | 20 319 924(189*) |
De 1851 a 1861 a centralização aniquilou principalmente quintas arrendadas das três primeiras categorias, as abaixo de 1 acre e não acima de 15 acres. Elas têm de desaparecer antes de todas. Isto dá o resultado de 307 058 rendeiros «supranumerários» e, calculando a família segundo a média baixa de 4 cabeças, 1 228 232 pessoas. De acordo com o extravagante pressuposto de que, uma vez concluída a revolução agrícola, V4 parte daquelas seria de novo absorvível, ficavam 921 174 para emigrar. As categorias 4, 5, 6, acima de 15 acres e não acima de 100, são, como desde há muito se sabe em Inglaterra, demasiado pequenas para o cultivo capitalista de cereais, e para a criação de ovelhas podem considerar-se dimensões quase inexistentes. De acordo com os mesmos pressupostos temos assim 788 358 pessoas para emigrar. Soma: 1 709 532. E comme l’appétit vient en mangeant(190*), os olhos do registo de rendas logo descobrirão que a Irlanda com 3 1/2 milhões de habitantes continua ainda e sempre a ser miserável, e miserável porque sobrepovoada, e que portanto o seu despovoamento ainda tem que ir muito mais além, de modo a que cumpra a sua verdadeira missão: a de ser uma pradaria inglesa para ovelhas e vacas(191*).
Este proveitoso método tem, como tudo o que há de bom neste mundo, os seus inconvenientes. Com a acumulação da renda fundiária na Irlanda verifica-se, do mesmo passo, a acumulação de irlandeses na América. O irlandês posto de lado por vacas e ovelhas ressurge do outro lado do oceano como feniano[N193]. E frente à velha rainha dos mares ergue-se ameaçadora, e cada vez mais ameaçadora, a jovem república gigante.
Acerba fata Romanos agunt
Scelusque fraternae necis.[N194]
Notas de rodapé:
(1*) Tenth Report of the Commissioners of 11. H. M's Inland Revenue, Lond., 1866, P. 38. (retornar ao texto)
(2*) Ibidem. (retornar ao texto)
(3*) Estes números são suficientes para a comparação, mas, considerados absolutamente, são falsos, uma vez que talvez 100 milhões de lib. esterl. de rendimentos são anualmente «silenciados». As queixas dos Commissioners of Inland Revenue(4*) acerca de fraude sistemática, nomeadamente da parte comercial e industrial, repetem-se em cada um dos seus relatórios. Assim, p. ex., diz-se: «Uma sociedade por acções declara £ 6000 de lucros tributáveis, o inspector faz subir o montante para £ 88 000, e sobre essa soma é que , por fim, o imposto é pago. Outra sociedade que declara £ 190 000 é finalmente compelida a admitir que a verdadeira declaração deveria ser £ 250 000» (Ibid., p. 42.) (retornar ao texto)
(4*) Em inglês no texto: Comissários do Rendimento Interno. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(5*) Census, etc., 1. c., p. 29. A afirmação de John Bright de que 150 senhores fundiários possuem metade do solo inglês, e 12 metade do escocês, não foi refutada. (retornar ao texto)
(6*) Fourth Report etc. of Inland Revenue, Lond. 1860, p. 17. (retornar ao texto)
(7*) Em inglês no texto: imposto sobre os rendimentos. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(8*) Estes são os rendimentos líquidos, portanto após certos abatimentos legalmente válidos. (retornar ao texto)
(9*) Neste momento, Março de 1867, o mercado indochinês está já de novo completamente abarrotado pelas consignações dos fabricantes britânicos de algodão. Em 1866, começou um abaixamento de salário à volta de 5% entre os operários do algodão; em 1867, na sequência de operação semelhante, strike de 20 000 homens em Preston. {Este foi o prelúdio da crise que rebentou logo a seguir. — F. E.} (retornar ao texto)
(10*) Census, etc., 1. c., p 11. (retornar ao texto)
(11*) Gladstone na Câmara dos Comuns, em 13 de Fev. de 1843, Times, 14 de Fev. de 1843. «It is one of the most melancholy features in the social state of this country that we see, beyond the possibility of denial, that while there is at this moment a decrease in the consuming powers of the people, an increase of the pressure of privations and distress; there is al the same time a constanl accumulation of wealth in the upper classes, an increase in the luxuriousness of their habits, and of their means of enjoyment.»(12*) Hansard, 13 de Fev.) (retornar ao texto)
(12*) Em inglês no texto: «Um dos traços mais melancólicos do estado social deste país é nós vermos, sem que seja possível negá-lo, que enquanto há neste momento um decréscimo dos poderes de consumo do povo, um aumento da pressão de privações e sofrimento, há ao mesmo tempo uma acumulação constante de riqueza nas classes superiores, um aumento da luxuosidade dos seus hábitos e dos seus meios de fruição.» (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(13*)(retornar ao texto)
(14*) «From 1842 to 1852 the taxable income of the country increased by 6 per cent... In the 8 years from 1853 to 1861, it had increased from the basis taken in 1853, 20 per cent! The fact is so astonishing as to be almost incredible... this intoxicating augmentation of wealth and power... entirely confined to classes of property... must be of indirect benefit to the labouring population, because it cheapens the commodities of general consumption — while the rich have been growing richer, the poor have been growing less poor! al any rate, whether the extremes of poverty are less, I do not presume to say.» (Gladstone em H. o. C., 16 de Abril de 1863. Morning Star, 17 de Abril.) (retornar ao texto)
(15*) Em inglês no texto: Orfanato de Londres. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(16*) Vejam-se os dados oficiais no livro azul: Miscellaneous Statistics of the Un. Kingdom. Part VI, Lond., 1866, pp. 260-273 passim. Em vez da estatística dos asilos de órfãos, etc., as declamações de jornais ministeriais em apoio da dotação das crianças da Casa Real podiam servir de prova. O encarecimento dos meios de vida nunca aí foi esquecido. (retornar ao texto)
(17*) «Think of those who are on the border of that region» (pauperisme), «wages... in others not increased... human life is but, in nine cases out of ten, a struggle for exislence.»(18*) (Gladstone, H. o. C.,1 de Abril de 1864.) A versão do Hansard diz: «Again; and yet more at large, what is human life but, in the majority of cases, a struggle for existence.»(19*) — Um escritor inglês caracteriza as gritantes e sucessivas contradições nos discursos do orçamento de Gladstone, de 1863 e de 1864, através da seguinte citação de Boileau (20*):
«Com efeito, eis o homem. Ele vai do branco ao preto,
Condena de manhã os seus sentimentos da noite.
Importuno para qualquer outro, incómodo para si mesmo,
Muda a cada momento de espírito como de moda.»[N182]
([Citado por H. Roy,] The Theory of Exchanges, etc., Lond., 1864, p. 135.) (retornar ao texto)
(18*) Em inglês no texto: «Pensem naqueles que estão à beira dessa região» (pauperismo), «salários... em outros não aumentaram... a vida humana não é senão, em nove de cada dez casos, uma luta pela existência.» (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(19*) «Mais uma vez e de um modo ainda mais amplo: o que é a vida humana senão, na maioria dos casos, uma luta pela existência.» (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(20*) Da 1.ª à 4.ª edição: Molière. (Nota da edição alemã.) (retornar ao texto)
(21*) Marx traduz por Krämer, merceeiro. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(22*) H. Fawcett, 1. c., pp. 67, 82. No que diz respeito à dependência crescente dos operários do merceeiro, ela é consequência das crescentes oscilações e interrupções da sua ocupação. (retornar ao texto)
(23*) Na Inglaterra está sempre incluído Gales; na Grã-Bretanha: Inglaterra, Gales e Escócia; no Reio Unido, aqueles tres países e a Irlanda. (retornar ao texto)
(24*) Lança uma luz peculiar sobre o progresso feito desde A. Smith o facto de para ele a palavra workhouse ser ainda ocasionalmente equivalente a manufactory. P. ex., na abertura do seu capítulo sobre a divisão do trabalho: «Aqueles que [estão] empregados em cada diferente ramo do trabalho podem frequentemente ser reunidos na mesma casa de trabalho (workhouse).»[N184] (retornar ao texto)
(25*) Marx traduz por städtische, citadinos. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(26*) Public Health. Sixth Report, etc. for 1863, Lond., 1864, p. 13. (retornar ao texto)
(27*) L. c., p. 17. (retornar ao texto)
(28*) L. c., p. 13. (retornar ao texto)
(29*) L. c., Appendix, p. 232. (retornar ao texto)
(30*) L. c., pp. 232, 233. (retornar ao texto)
(31*) L. c., pp. 14, 15. (retornar ao texto)
(32*) Em inglês no texto: melhoramentos. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(33*) «Em nenhum outro caso foram os direitos das pessoas tão confessada e vergonhosamente sacrificados aos direitos da propriedade como no que respeita ao alojamento da classe trabalhadora. Qualquer grande cidade pode ser considerada como um lugar de sacrifício humano, um altar onde todos os anos morrem milhares pelo fogo, como oferendas ao Moloch da avareza.» (S. Laing, 1. c., p. 150.) (retornar ao texto)
(34*) Em inglês no texto: «Saúde Pública». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(35*) Public Health. Eigth Report, Lond., 1866, p. 14, nota. (retornar ao texto)
(36*) L. c., p. 89. O Dr. Hunter na referência às crianças nestas colónias, diz: «As Pessoas já não estão vivas para nos contarem como é que as crianças foram criadas antes desta era de densas aglomerações de pobres ter começado, e seria um profeta apressado quem nos contasse qual o futuro comportamento que é de esperar da presente geração de crianças que, em circunstâncias que antes provavelmente nunca tiveram paralelo neste país, estão a completar agora a sua educação para uma prática futura como “classes perigosas”, ficando a pé metade da noite com pessoas de todas as idades, [...], embriagadas, obscenas e zaragateiras.» (L. c., p. 56.) (retornar ao texto)
(37*) L. c., p. 62. (retornar ao texto)
(38*) Report of the Officer of Health of St. Martin's in the Fields, 1865. (retornar ao texto)
(39*) Em inglês no texto: «intermediários». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(40*) Public Health. Eighth Report, Lond., 1866, p. 91. (retornar ao texto)
(41*) L. c., p. 88. (retornar ao texto)
(42*) L. c., p. 89. (retornar ao texto)
(43*) L. c., p. 56.(44*) (retornar ao texto)
(44*) Na edição inglesa: pp. 55 e 56. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(45*) L. c., p. 149. (retornar ao texto)
(46*) L. c., p. 50. (retornar ao texto)
(47*) | ||
Lista do agente de uma companhia de seguros de operários, em Bradford | ||
Vulcan Street. N.° 122 | 1 quarto | 16 pessoas |
Lumley Street. N.° 13 | 1 quarto | 11 pessoas |
Bower Street. N.° 41 | 1 quarto | 11 pessoas |
Portland Street. N.° 112 | 1 quarto | 10 pessoas |
Hardy Street. N.° 17 | 1 quarto | 10 pessoas |
North Street. N.° 18 | 1 quarto | 16 pessoas |
ditto(48*) N.° 17 | 1 quarto | 13 pessoas |
Wymer Street. N.° 19 | 1 quarto | 8 adultos |
Jowett Street. N.° 56 | 1 quarto | 12 pessoas |
George Street. N.° 150 | 1 quarto | 3 famílias |
Rifle Court, Marygate. N.° 11 | 1 quarto | 11 pessoas |
Marshall Street. N.° 28 | 1 quarto | 10 pessoas |
ditto N.° 49 | 3 quartos | 3 famílias |
George Street. N.° 128 | 1 quarto | 18 pessoas |
ditto N.° 130 | 1 quarto | 16 pessoas |
Edward Street. N.° 4 | 1 quarto | 17 pessoas |
George Street. N.° 49 | 1 quarto | 2 famílias |
York Street. N.° 34 | 1 quarto | 2 famílias |
Salt Pie Street 2 | 2 quartos | 26 pessoas |
Caves | ||
Regent Square | 1 cave | 8 pessoas |
Acre Street | 1 cave | 7 pessoas |
Robert’s Court. N.° 33 | 1 cave | 7 pessoas |
Back Pratt Street, usada como oficina de caldeireiro | 1 cave | 7 pessoas |
Ebenezer Street. N.° 27 | 1 cave | 6 pessoas |
(L. c., p. 111.) |
(48*) Expressão de origem italiana que significa: o mesmo, idem. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(49*) Abreviatura de Membro do Parlamento. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(50*) Em inglês no texto: estambre. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(51*) Na edição inglesa: in better circumstances. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(52*) L. c., p. 114. (retornar ao texto)
(53*) L. c., p. 50. (retornar ao texto)
(54*) Na edição alemã: «Aqui, numa das cidades mais ricas da Europa, a maior sobreabundância de pobreza mais absoluta (blank(55*)poverty) e de miséria doméstica.» (retornar ao texto)
(55*) Na edição inglesa: blankest. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(56*) Public Health. Seventh Report, Lond., 1865, p. 18. (retornar ao texto)
(57*) L. c., p. 165. (retornar ao texto)
(58*) Em inglês no texto, literalmente: Comité para a Remoção de Pragas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(59*) Na edição alemã: p. p., abreviatura de praemissis praemittendis: antepondo o que haja que antepor. Fórmula utilizada para justificar a omissão dos títulos da pessoa em causa. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(60*) L. c., p. 18, nota. O assistente social da Chapel-en-le-Frith Union relata ao Registrar-General[N151]: «Em Doveholes fez-se uma série de pequenas escavações numa vasta colina de cinzas de cal (o refugo dos fomos de cal), as quais são usadas como alojamentos e ocupadas por trabalhadores e outros empregados na construção de um caminho-de-ferro agora em curso de construção naquela zona. As escavações são pequenas e húmidas, sem drenagem nem latrinas à sua volta, e não têm os mais pequenos meios de ventilação a não ser um buraco feito através da parte de cima e usado como chaminé. Em consequência desta deficiência, há algum tempo que as bexigas têm estado a grassar, e algumas mortes» (entre os trogloditas) «foram causadas por ela.» (L. c., nota 2.) (retornar ao texto)
(61*) Os pormenores dados a pp. 460 e segs.(62*) referem-se nomeadamente a operários de minas de carvão. Acerca da situação ainda pior nas minas de metais, cf. o consciencioso relatório da Royal Commission(63*) de 1864. (retornar ao texto)
(62*) Na presente edição, tomo II, pp. 564-572. (Nota da edição portuguesa.)(retornar ao texto)
(63*) Em inglês no texto: Real Comissão. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(64*) Em inglês no texto: andares. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(65*) L. c., pp. 180, 182. (retornar ao texto)
(66*) Em inglês no texto: «vínculo». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(67*) Em inglês no texto: «servidão». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(68*) Ver a presente edição, tomo 1, p. 203, nota. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(69*) L. c. pp. 515, 517. (retornar ao texto)
(70*) L. c. p. 16. (retornar ao texto)
(71*) «Os Pobres de Londres morrem à fome por atacado!» (Wholesale starvation of lhe London Poor!)... Nos últimos dias têm sido afixados nas paredes de Londres grandes cartazes com este espantoso anúncio: — “Bois gordos! Homens a morrer à fome! Os bois gordos partiram do seu palácio de cristal e foram dar de comer aos ricos na sua residência luxuosa, enquanto os homens que morrem à fome são deixados a apodrecer e a morrer nos seus antros miseráveis”. Os cartazes que ostentam estas ominosas palavras são afixados com certos intervalos. Logo que um conjunto foi borrado ou tapado, logo um novo conjunto é afixado no mesmo ou noutro lugar igualmente público... Isto [...] faz lembrar os» omina(72*) «que prepararam o povo francês para os acontecimentos de 1789... Neste momento, enquanto operários ingleses com as mulheres e os filhos estão a morrer de frio e de fome, há milhões de ouro inglês — o produto do trabalho inglês — a serem investidos em empresas russas, espanholas, italianas e outras empresas estrangeiras.» (Reynolds’ Newspaper, 20 de Janeiro de 1867.) (retornar ao texto)
(72*) Em latim no texto: presságio. No texto inglês: as associações revolucionárias secretas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(73*) Como noutros passos sucede, também nesta citação subsistem pequenas variações entre a versão alemã de Marx, que por vezes resume o sentido do texto original ou altera a ordem das frases, etc, e a edição inglesa. De acordo com o critério geral da nossa tradução, as passagens entre aspas correspondem ao texto inglês. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(74*) Em francês no texto: em massa. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(75*) Ducpétiaux, 1. c., pp. 151, 154, 155, 156(76*). (retornar ao texto)
(76*) Nas edições francesa e inglesa: pp. 151, 154, 155. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(77*) James E. Th. Rogers (Prof of Polit. Econ. in the University of Oxford(78*)). A History of Agriculture and Prices in England, Oxford, 1866, v. I, p. 690. Esta obra, diligentemente elaborada, abrange nos dois primeiros volumes até aqui aparecidos ainda apenas o período de 1259-1400. O segundo volume contém meramente material estatístico. É a primeira autêntica History of Prices(79*) que possuímos para aquele tempo. (retornar ao texto)
(78*) Em inglês no texto: (Prof.[essor] de Econ.[omia] Polít.[ica] na Universidade de Oxford). (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(79*) Em inglês no texto: Históra dos Preços. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(80*) Reasons for the Late Increase of the Poor-Rates: or, A Comparative View of the Price of Labour and Provisions, Lond., 1777, pp. 5, 11. (retornar ao texto)
(81*) Dr. Richard Price, Observations on Reversionary Payments, 6.ª ed. By W. Morgan, Lond., 1803, v. II, pp. 158, 159. Price observa, p. 159: «O preço nominal do trabalho diário é no presente não mais do que cerca de quatro vezes ou, quando muito, cinco vezes mais alto do que era no ano de 1514. Mas o preço dos cereais é sete vezes mais alto e o da carne e do vestuário cerca de quinze vezes mais alto. Até agora, portanto, o preço do trabalho tem estado longe de aumentar em proporção com o acréscimo das despesas do viver, de tal modo que, em proporção àquelas despesas, parece não valer nem metade do que valia antes.» (retornar ao texto)
(82*) Barton, 1. c., p. 26. Para o fim do século XVIII, cf. Eden, 1. c. (retornar ao texto)
(83*) Na edição francesa, Marx acrescenta: (antijacobin war, tal é o nome dado por William Cobbet à guerra contra a Revolução francesa). (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(84*) Parry, 1. c., p. 80(85*). (retornar ao texto)
(85*) Nas edições inglesa e francesa: p. 86. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(86*) (retornar ao texto)
(87*) Em latim no texto: instrumento vocal. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(88*) Tratou-se de um movimento dos operários rurais ingleses entre 1930 e 1833 contra a utilização de debulhadoras e por jornas mais altas. Recorreram a cartas intimidatórias dirigidas a rendeiros e proprietários fundiários assinadas por um fictício Captain Swing, bem como ao incêndio de medas e à distribuição de maquinaria. (retornar ao texto)
(89*) S. Laing, 1. c., p. 62. (retornar ao texto)
(90*) England and America, Lond., 1833, v. I, p. 47. (retornar ao texto)
(91*) Provável alusão ao provérbio inglês «when thieves fali out, honest men come by their own», literalmente: «quando os ladrões se desavêm, os homens honestos ficam a ganhar». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(92*) London Economist, 29 de Março de 1845, p. 290. (retornar ao texto)
(93*) A aristocracia fundiária adiantou a si mesma fundos para esse efeito, naturalmente per(94*) Parlamento, da caixa do Estado, a um juro muito baixo, que os rendeiros têm de lhes restituir a dobrar. (retornar ao texto)
(94*) Em latim no texto: por via de. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(95*) A diminuição dos rendeiros médios nota-se nomeadamente a partir das seguintes rubricas do censo: «filho, neto, irmão, sobrinho, filha, neta, irmã, sobrinha do rendeiro», numa palavra, dos membros da sua própria família ocupados pelo rendeiro. Estas rubricas contavam: em 1851, 216 851 pessoas; em 1861, apenas 176 151. De 1851 a 1871, em Inglaterra, as quintas arrendadas de menos de 20 acres diminuem mais de 900; as entre 50 e 75 acres caíram de 8253 para 6370; analogamente para todas as outras quintas arrendadas de menos de 100 acres. Pelo contrário, durante estes mesmos vinte anos, aumentou o número das grandes quintas arrendadas: as de 300 a 500 acres subiram de 7771 para 8410; as de mais de 500 acres, de 2755 para 3914; as de mais de 1000 acres, de 492 para 582. (retornar ao texto)
(96*) O número de pastores de ovelhas cresceu de 12 517 para 25 559. (retornar ao texto)
(97*) Census, etc., 1. c., p. 36. (retornar ao texto)
(98*) Em latim no texto: depois de tantas voltas e reviravoltas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(99*) Em latim no texto: segundo as regras da arte, da profissão. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(100*) Rogers, 1. c., p. 693. «The peasant has agairt become a serf»(101*) L. c., p. 10. O senhor Rogers pertence à escola liberal, é amigo pessoal de Cobden e Bright, portanto nenhum laudator temporis acti(102*) [N188]. (retornar ao texto)
(101*) Em inglês no texto: «O camponês tornou-se de novo um servo» (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(102*) Em inglês no texto: louvador do tempo passado. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(103*) Public Health. Seventh Report, Lond., 1865, p. 242. «The cost of the hind is fixed at the lowesl possible amount on which he can live... lhe supplies of wages or shelter are not calculated on the profit to be derived from him. He is a zero in farming calculations.» Não é, portanto, inabitual que ou o senhorio eleve o aluguer de um operário logo que ouve que este ganha um pouco mais, ou que o rendeiro reduza o salário do operário «porque a mulher arranjou uma ocupação». (L. c.) (retornar ao texto)
(104*) L. c., p. 135. (retornar ao texto)
(105*) Em latim no texto: Nada tenho, nada me preocupa. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(106*) L. c., p. 134. (retornar ao texto)
(107*) Report of lhe Commissioners... relating to Transportation and Penal Servitude, Lond., 1863, p. 42, n.°50. (retornar ao texto)
(108*) L. c., p. 77. «Memorandum by the Lord Chief Justice». (retornar ao texto)
(109*) Na edição inglesa: N.° 50. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(110*) L. c., v. II, Evidence. (retornar ao texto)
(111*) L. c., v. I, Appendix, p. 280. (retornar ao texto)
(112*) L. c., pp. 274, 275. (retornar ao texto)
(113*) Public Health. Sixth Report, 1863, pp. 238, 249, 261, 262. (retornar ao texto)
(114*) L. c. p. 262. (retornar ao texto)
(115*) Em inglês no texto: «é consideravelmente o pior alimentado». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(116*) L. c., p. 17. O operário do campo inglês recebe só 1/4 do leite e 1/2 do pão que recebe o irlandês. No começo deste século, A. Young já tinha notado, no seu Tour Through Ireland, o melhor estado alimentar deste último. A razão é simplesmente que o rendeiro pobre irlandês é incomparavelmente mais humano do que o rendeiro rico inglês. No que respeita a Gales, os dados do texto não valem para o sudoeste. Todos os médicos de lá concordam em que o aumento da taxa de mortalidade por tuberculose, escrófula, etc., cresce em intensidade com a deterioração do estado físico da população, e todos atribuem esta deterioração à pobreza. «O seu» (do trabalhador do campo) «sustento é estimado em cerca de cinco pence por dia, mas em muitos distritos dizia-se que era de muito menor custo para o rendeiro» (ele próprio miserável) [...] «Um pedaço de toucinho ou carne salgada, [...] salgada e seca até atingir a textura do mogno, e mal merecendo o processo difícil da assimilação, [...] é usado para dar gosto a uma grande quantidade de caldo ou papas, de farinha e alho porro, e dia após dia é este o almoço do trabalhador.» O progresso da indústria teve para ele a consequência neste clima duro e húmido «do abandono da roupa forte tecida em casa a favor dos baratos e chamados artigos de algodão» e de bebidas mais fortes por chá nominal... «O trabalhador agrícola [agriculturist], após várias horas de exposição ao vento e à chuva, volta à cottage para se sentar a um fogo de turfa ou de bolas de argila amassada com carvão, de onde efluem volumes de ácidos carbónico e sulfuroso. As paredes são de lama e pedras, o chão é a terra nua que já lá estava antes da choupana ser construída, o tecto uma massa de palha solta e ensopada. Todas as gretas estão tapadas para manter o calor e, numa atmosfera de cheiro diabólico, com um chão de lama, com as suas únicas roupas a secar no corpo, ele, frequentemente, come e dorme com a mulher e os filhos. Parteiras que passaram partes da noite em tais tugúrios descreveram como os seus pés se afundavam na lama do chão, e como se viam forçadas (tarefa fácil) a abrir um buraco na parede para conseguir um pouco de respiração privada. Foi atestado por numerosas testemunhas de várias posições na vida que o camponês subalimentado (underfed) estava exposto de noite a estas, e a muitas mais, influências insalubres, e do resultado — um povo debilitado e escrofuloso — não havia falta de provas...» As afirmações dos assistentes sociais de Carmarthenshire e de Cardiganshire mostram, de forma impressionante, o mesmo estado de coisas... Há, além disso, «uma praga ainda mais horrível, o grande número de idiotas». Agora uma palavra acerca das condições climáticas. «Um forte vento do sudoeste sopra sobre todo o país durante 8 ou 9 meses por ano, trazendo consigo torrentes de chuva que se abatem principalmente sobre as vertentes ocidentais das colinas. As árvores são raras, excepto em lugares abrigados, e quando não protegidas são completamente deformadas pelo vento. As cottages escondem-se geralmente por baixo de algum declive, ou por vezes numa ravina ou pedreira e só as ovelhas mais pequenas e o gado nativo podem viver nos pastos... Os jovens emigram para os distritos mineiros orientais de Glamorgan e Monmouth... Carmarthenshire é a fonte da população mineira e o seu hospital... Assim, a população dificilmente pode manter os seus números.» Assim, no Cardiganshire:
1851 | 1861 | |
Sexo masculino | 45 155 | 44 446 |
Sexo feminino | 52 459 | 52 955 |
97 614 | 97 401 |
(Dr. Hunter’s Report in Public Health. Seventh Report, 1864, Lond., 1865, pp. 498 bis 502, passim.) (retornar ao texto)
(117*) Em 1865 essa lei foi algo melhorada. Em breve a experiência ensinará que estas sarrafaçaduras em nada ajudam. (retornar ao texto)
(118*) Para compreender o que se segue: chamam-se close villages (aldeias fechadas) aquelas em que os proprietários fundiários são um ou um par de grandes landlords; open villages (aldeias abertas), aquelas cujo solo pertence a muitos proprietários mais pequenos. É nestas últimas localidades que os especuladores da construção podem edificar cottages e casas para alugar. (retornar ao texto)
(119*) Estas aldeias de fachada têm um aspecto muito bonito, mas são tão irreais como as aldeias que Catarina II viu na sua viagem à Crimeia(120*). Nos últimos tempos é frequente que também se desaloje das show-villages os pastores de ovelhas. P. ex., perto de Market Harborough, há uma exploração de ovelhas de aproximadamente 500 acres que apenas requer o trabalho de um homem. Para abreviar as longas caminhadas por essas vastas planícies — as formosas pradarias de Leicester e Northampton —, o pastor costumava ter uma cottage na granja. Agora dá-se-lhe um treze avos de sh. para alojamento, que o pastor tem de procurar muito longe, na aldeia aberta. (retornar ao texto)
(120*) Alusão às fachadas de aldeia que o príncipe Potiomkine mandou edificar na Crimeia a fim de causar uma boa impressão a Catarina II aquando de uma sua visita. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(121*) «As casas dos trabalhadores» (nas localidades abertas, que naturalmente estão sempre superlotadas) «estão usualmente dispostas em filas, construídas com as traseiras encostadas à extremidade do pedaço de terreno a que o construtor podia chamar seu, e por esta razão não podem receber nem luz nem ar, a não ser pela frente.» (Dr. Hunter’s Report, 1. c., p. 135.) Muito frequentemente, o taberneiro ou o merceeiro da aldeia é simultaneamente senhorio. Neste caso, o operário do campo encontra nele um segundo senhor ao lado do rendeiro. Tem simultaneamente de ser seu freguês. «[...] Com os seus 10 sh. por semana, menos uma renda de £ 4 por ano [...] é obrigado a comprar, nas condições impostas pelo vendedor, o seu modicum(122*) de chá, açúcar, farinha, sabão, velas e cerveja.» (L. c., p. 132.) Estes aldeamentos abertos formam, de facto, as «colónias penais» do proletariado agrícola inglês. Muitas das cottages são simples pensões pelas quais desfila toda a corja de vagabundos das redondezas. O camponês e a sua família, que muitas vezes, apesar de viverem nas mais sórdidas condições, tinham conservado de maneira verdadeiramente prodigiosa a sua integridade e pureza de carácter, agora deixam-se totalmente perder. Está naturalmente de moda entre os Shylock distintos encolher farisaicamente os ombros face aos especuladores da construção, aos pequenos proprietários e às aldeias abertas. Eles sabem muito bem que as suas «aldeias fechadas e aldeias de fachada» são locais de nascimento dos «lugares abertos» e que sem estes não podiam existir. «Os trabalhadores [...] não fosse pelos pequenos donos, teriam, na sua grande maioria, de dormir debaixo das árvores das quintas em que trabalham.» (L. c., p. 135.) O sistema das aldeias «abertas» e «fechadas» domina em todos os Midlands(123*) e em toda a parte oriental de Inglaterra. (retornar ao texto)
(122*) Em latim no texto: módica porção. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(123*) Em inglês no texto: terras do centro de Inglaterra. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(124*) O senhorio (rendeiro ou landlord) «[...] está [...] directa ou indirectamente a obter para si próprio o lucro de empregar um homem a 10. sh por semana e a receber deste pobre hind £ 4 ou £ 5 de renda anual por casas que não valem £ 20 num mercado realmente livre, mas que se mantêm no seu valor artificial pelo poder que o dono tem de dizer: “Usa a minha casa ou vai procurar um emprego noutro sítio qualquer, sem levares referências minhas...” Se um homem desejar melhorar e quiser ir para os caminhos-de-ferro como assentador de carris, ou começar a trabalhar nas pedreiras, logo o mesmo poder lhe contrapõe: “Trabalha para mim por este baixo nível salarial, ou vai-te embora no prazo de uma semana; leva contigo o teu porco e tira o que puderes das batatas do teu quintal”. Mas se lhe parecer que assim servirá melhor os seus interesses, então o dono» (resp. o rendeiro) «prefere por vezes, nestes casos, uma renda mais alta como penalização pelo abandono do seu serviço.» (Dr. Hunter, 1. c., p. 132.) (retornar ao texto)
(125*) «Casais recém-casados não são estudo edificante para irmãs e irmãos crescidos: e embora não tenham de se registar exemplos, há lembrança de dados suficientes para garantir a observação de que grande depressão e por vezes morte são a sorte do participante feminino no crime de incesto.» (Dr. Hunter, 1. c., p. 137.) Um funcionário rural da polícia que durante muitos anos tinha funcionado como detective nos piores bairros de Londres, diz acerca das raparigas da sua aldeia: «A sua impudência e ousadia nunca as vi igualadas durante vários anos de vida de polícia e trabalho de detective nas piores partes de Londres... Vivem como porcos rapazes e raparigas já grandes, mães e pais, todos a dormirem no mesmo quarto em muitos casos.» (Child. Empl. Comm., Sixth Report, Lond., 1867, Appendix, p. 77(126*), n. 155.) (retornar ao texto)
(126*) Na edição inglesa: pp. 77 sg. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(127*) Public Health. Seventh Report, 1864(128*), pp. 9-14 passim. (retornar ao texto)
(128*) Na edição inglesa: 1865. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(129*) Em inglês no texto: casotas, pequenas choupanas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(130*) Cf.: «Toda a carne seguia, na terra, a senda da corrupção.» (Génesis, 6,12.) (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(131*) Em inglês no texto: parcelas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(132*) Literalmente: como um chapéu de açúcar. Na Alemanha, aliás como em outros países do Norte da Europa, é tradicional oferecer às crianças um cone com guloseimas denominado «chapéu de açúcar» ou também «saco de açúcar». Marx serve-se aqui da imagem desse cone para descrever a forma esconsa do quarto de dormir. Pense-se nos telhados de extrema inclinação típicos da arquitectura nórdica. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(133*) Na edição inglesa: Brinworth, Pickford. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(134*) «O cura e os fidalgos parecem ter-se juntado para os matar.» (retornar ao texto)
(135*) Na edição inglesa: Pentill. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(136*) Em inglês no texto: cavalheiro. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(137*) «O celestial emprego do trabalhador agrícola [hind] confere dignidade mesmo à sua posição. Ele não é um escravo, mas um soldado da paz, e merece o seu lugar nas casas dos homens casados a ser fornecido pelo landlord, que se reclama de um direito a trabalho forçado, semelhante ao que o país exige do soldado. Tal como acontece com o soldado, ele não recebe preço de mercado pelo seu trabalho. Tal como o soldado, ele é apanhado jovem, ignorante, conhecendo apenas a sua profissão e a sua própria localidade. O casamento precoce e a operação de várias leis de fixação afectam um, tal como o recrutamento e a Lei da Amotinação afectam o outro.» (Dr. Hunter, 1. c., p. 132.) Por vezes, um qualquer landlord excepcionalmente sensível comove-se com a solidão por ele criada. «E uma coisa melancólica estar-se sozinho na nossa terra», disse o conde de Leicester quando o felicitaram por ter concluído a construção de Holkham(138*): «Olho à minha volta e nem uma casa se vê a não ser a minha. Sou o gigante do Castelo Gigante, e devorei todos os meus vizinhos.» (retornar ao texto)
(138*) Na edição inglesa: Hookham. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(139*) Movimento semelhante desde os últimos decénios em França, à medida em que aí a produção capitalista se apodera da agricultura e empurra a população do campo «supranumerária» para as cidades. Também aqui deterioração das condições de habitação e outras na origem dos «supranumerários». Sobre o peculiar «prolétariat foncier»(140*) que o sistema de parcelas incubou, vejam-se, entre outros, o escrito de Colins anteriormente citado e Karl Marx, Der achtzehnte Brumaire des Louis Bonaparte, 2.a ed., Hamburg, 1869, pp. 88 sqq.(141*)Em 1846 a população urbana ascendia em França aos 24,42%, a rural a 75,58%; em 1861, a urbana a 28,86%, a rural a 71,14%. Nos últimos 5 anos a diminuição percentual da população rural é ainda maior. Já em 1846 cantava Pierre Dupont no seu Ouvriers:
«Mal vestidos, alojados em buracos,
Em águas-furtadas, sob os escombros Vivemos com os mochos E os ladrões, amigos das sombras.»
(140*) Em francês no texto: «proletariado rural». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(141*) Cf. K. Marx-F. Engels, Obras Escolhidas em três tomos, Edições «Avante!» - Edições Progresso, Lisboa-Moscovo, tomo I, 1982, pp. 502-508. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(142*) Em francês no texto: círculo vicioso. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(143*) O sexto e último Report da Child. Empl. Comm., publicado em fins de Março de 1867, trata apenas do gang-system agrícola. (retornar ao texto)
(144*) Em inglês no texto: literalmente «trabalhadores confinados». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(145*) Child. Empl. Comm., VI Report, Evidence, p. 37, n. 173. — Fenland = terra pantanosa. (retornar ao texto)
(146*) Em francês no texto: literalmente, saber fazer, isto é, que sabe desenvencilhar-se. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(147*) Alguns chefes de gang isolados conseguiram, contudo, alcandorar-se a rendeiros de 500 acres ou a possuidores de fiadas inteiras de casas. (retornar ao texto)
(148*) «Metade das raparigas de Ludford arruinaram-se por sairem em bandos.» (L. c., Appendix, p. 6, n. 32.) (retornar ao texto)
(149*) «Eles» (os bandos) «aumentaram muito nos últimos anos. Em alguns lugares diz-se que foram introduzidos em alturas comparativamente recentes; noutros, onde os bandos [...] se conhecem há muitos anos [...] há cada vez mais crianças e mais novas empregues neles.» (L. c., p. 79, n. 174.) (retornar ao texto)
(150*) «Os pequenos rendeiros nunca empregam bandos». «Não é nas terras pobres, mas nas terras que permitem uma renda de 40 a 50 xelins que as mulheres e as crianças são empregues em maior número.» (L. c., pp. 17 e 14.) (retornar ao texto)
(151*) A um destes senhores as rendas sabem-lhe tão bem que ele perante a comissão de inquérito declara indignado que a culpa de toda a algazarra é apenas o nome do sistema. Se em vez de «gang» fosse, pelo contrário, baptizado de «associação de auto-sustento agrícola juvenil industrial» tudo estaria all right.(152*) (retornar ao texto)
(152*) Em inglês no texto: bem. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(153*) «O trabalho dos bandos é mais barato que o outro trabalho; é por isso que eles são empregues», diz um antigo chefe de bando. (L. c., p. 17, n. 14) «O sistema de bandos é decididamente o mais barato para o rendeiro, e decididamente o pior para as crianças», diz um rendeiro. (L. c., p. 16, n. 3.) (retornar ao texto)
(154*) «Sem dúvida que muito do trabalho que é hoje feito por crianças em bandos costumava ser feito por homens e mulheres. Mais homens do que antes estão agora sem trabalho (more men are out of work) onde se empregam mulheres e crianças.» (L. c., p. 43, n. 202.) Pelo contrário, entre outras: «A questão do trabalho (labour question) em alguns distritos agrícolas, particularmente nos aráveis, está a tomar-se tão séria em consequência da emigração e da facilidade, proporcionada pelos caminhos-de-ferro, de se chegar às grandes cidades, que eu» (o «eu» é o feitor de um grande senhor) «penso que os serviços das crianças são absolutamente indispensáveis.» (L. c., p. 80, n. 180.) The labour question (a questão do trabalho), a saber, nos distritos agrícolas ingleses, e diferentemente do restante mundo civilizado, significa the landlords' and farmers’ question (a questão dos senhores da terra e dos rendeiros): como perpetuar, apesar da retirada sempre maior da gente do campo, uma suficiente «sobrepopulação relativa» no campo, e, assim, o «mínimo de salário» para o operário rural? (retornar ao texto)
(155*) O Public Health Report anteriormente por mim citado, onde a propósito da mortalidade infantil se tratou de passagem do sistema de gangs, permaneceu desconhecido da imprensa e portanto do público inglês. Em contrapartida o último relatório da Child. Empl. Comm. forneceu a um bem-vindo pasto jornalístico «sensational.»(156*) Enquanto a imprensa liberal perguntava como podiam finos gentlemen, ladies(157*) e os prebendados da igreja do Estado, que enxameiam o Lincolnshire — personagens que enviavam para os antípodas «missões para o melhoramento dos costumes dos selvagens dos Mares do Sul» —, permitir que um tal sistema sob os seus olhos prosperasse nas suas propriedades, a imprensa mais fina tecia exclusivamente considerações acerca da grosseira corrupção das gentes do campo, que são capazes de vender os seus filhos para semelhante escravatura! Nas execráveis circunstâncias a que «os mais delicados» condenam o homem do campo, seria explicável que este devorasse os seus próprios filhos. O realmente espantoso é a integridade de carácter que ele, em grande parte, conservou. Os relatores oficiais demonstram que os pais, mesmo nos distritos de gangs, abominam o sistema de gangs. «Há nas provas muitas coisas que mostram que os pais das crianças ficariam satisfeitos, em muitos casos, se fossem ajudados, pelas exigências de uma obrigação legal, a resistir à pressão e às tentações a que estão muitas vezes sujeitos. É frequente eles serem pressionados, às vezes pelos funcionários da paróquia, outras vezes pelos empregadores, sob a ameaça de serem eles próprios despedidos, a levar [os filhos] para o trabalho numa idade em que [...] a frequência da escola... lhes seria manifestamente mais vantajosa [...]. Todo aquele tempo e energia desperdiçados; todo o sofrimento causado ao trabalhador e aos seus filhos pela fadiga extra e sem proveito; todos os casos em que os pais devem ter atribuído a ruína moral dos seus filhos à subversão de toda a delicadeza causada por aquela superlotação das cottages, ou às influências contaminantes do bando público — têm de ter constituído outros tantos incentivos a certos sentimentos no espírito dos trabalhadores pobres, que bem se podem compreender e que seria desnecessário particularizar. Eles têm de estar conscientes de que muita dor física e mental lhes foi assim infligida por causas pelas quais de modo algum são responsáveis; nas quais se tivessem poder para isso não teriam de modo algum consentido, e contra as quais eles eram impotentes para lutar.» (L. c., p. XX, n. 82 e XXIII, n. 96.) (retornar ao texto)
(156*) Em inglês no texto: «sensacional». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(157*) Em inglês no texto: cavalheiros, senhoras. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(158*) População da Irlanda: 1801: 5 319 867 pessoas; 1811: 6 084 996; 1821: 6 869 544; 1831: 7 828 347; 1841: 8 222 664. (retornar ao texto)
(159*) O resultado seria ainda mais desfavorável se recuássemos mais. Assim, ovelhas em 1865: 3 688 742, mas em 1856: 3 694 294; porcos, em 1865: 1 299 893, mas em 1858: 1 409 883. (retornar ao texto)
(160*) Em inglês no texto: nabos. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(161*) Em inglês no texto: pastinacas. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(162*) Os dados do texto foram compostos a partir do material das Agricultural Statistics, Ireland. General Abstracts, Dublin, para o ano de 1860 sqq. e Agricultural Statistics, Ireland. Tables Showing lhe Estimated Average Produce, etc,, Dublin, 1867. É sabido que esta estimativa é oficial e apresentada anualmente no Parlamento.
Aditamento à 2.ª ed. A estatística oficial mostra para o ano de 1872 um decréscimo na área do solo cultivado — comparada com 1871 — de 134915 acres. Verifica-se «acréscimo» no cultivo de verduras — lurnips, acelga, etc.; «decréscimo» na área do solo cultivada: de 16 000 acres para trigo; de 14000 acres para aveia; de 4000 acres para cevada e centeio; de 66 632 acres para batatas; de 34 667 acres para linho e de menos 30 000 acres de prados, trevo, ervilhaca e colza. O solo onde se encontra a cultura do trigo apresenta nos últimos 5 anos a seguinte escala decrescente: em 1868, 285 000 acres; em 1869, 280000 acres; em 1870, 259000 acres; em 1871, 244000 acres; em 1872, 228 000 acres. Para 1872, encontramos em números redondos um acréscimo de 2600 cavalos, 80 000 gado bovino, 68 600 ovelhas, e um decréscimo de 236 000 porcos. (retornar ao texto)
(163*) Em inglês no texto: variedade de cevada. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(164*) Tenth Report of the Commissioners of Inland Revenue, Lond., 1866. (retornar ao texto)
(165*) O rendimento total anual na rubrica D difere aqui do indicado na tabela anterior por motivo de certas deduções legalmente permitidas. (retornar ao texto)
(166*) Se o produto também diminui proporcionalmente por acre, não se esqueça que desde há século e meio a Inglaterra exportou indirectamente o solo da Irlanda sem dar aos seus cultivadores nem mesmo os meios para substituir os componentes do solo. (retornar ao texto)
(167*) Dado que a Irlanda é olhada como a terra prometida do «princípio da população», Th. Sadler fez sair, antes da publicação da sua obra sobre a população, o seu célebre livro Ireland, its Evils and their Remedies, 2nd ed., London, 1829, em que através da comparação da estatística de cada província, e de cada província dos vários condados, demonstra que aí a miséria não impera, como quer Malthus, em proporção ao número da população, mas na proporção inversa deste. (retornar ao texto)
(168*) Para o tempo de 1851 a 1874, o número total dos emigrantes importa em 2 325 922. (retornar ao texto)
(169*) Nota à 2.a ed. Segundo uma tabela da Ireland, Industrial, Political, and Social, 1870, de Murphy, 94,6% de todas as quintas arrendadas têm menos de 100 acres e 5,4% mais de 100 acres. (retornar ao texto)
(170*) Reports from the Poor Law Inspectors on the Wages of Agricultural Labourers in Ireland, Dublin, 1870. — Ver também Agricultural Labourers (Ireland) Return, etc., 8 de Março de 1861. (retornar ao texto)
(171*) L. c., p. 29, 1. (retornar ao texto)
(172*) Marx traduz por: religião. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(173*) L. c., p. 12. (retornar ao texto)
(174*) L. c., p. 12. (retornar ao texto)
(175*) L. c., p. 25. (retornar ao texto)
(176*) Marx traduz: o excedente de operários. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(177*) L. c., p. 27. (retornar ao texto)
(178*) L. c„ p. 26.(179*) (retornar ao texto)
(179*) Na edição inglesa: p. 25. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(180*) L. c., p. 1. (retornar ao texto)
(181*) L. c., p. 32(182*) (retornar ao texto)
(182*) Na edição inglesa: pp. 31, 32. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(183*) L. c., p. 25. (retornar ao texto)
(184*) L. c., p. 30. (retornar ao texto)
(185*) L. c., pp. 21, 13. (retornar ao texto)
(186*) Em latim no texto: literalmente. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(187*) Reports of Insp. of Fact. for 31st Oct. 1866, p. 96. (retornar ao texto)
(188*) Em latim no texto: milénio. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(189*) A área total inclui também «turfeiras e terra baldia». (retornar ao texto)
(190*) Em francês no texto: como o apetite vem à medida que se come. Cf. Rabelais, Gargantua, V. (Nota da edição potuguesa.) (retornar ao texto)
(191*) Como a fome, e as circunstâncias por ela trazidas, foram planificadamente exploradas, tanto pelos proprietários fundiários singulares como também pela legislação inglesa, para efectuar violentamente a revolução na agricultura e para emagrecer a população da Irlanda na medida que satisfaz o landlord, demonstrá-lo-ei pormenorizadamente no livro III deste escrito na secção sobre a propriedade fundiária. Volto lá também às condições dos pequenos rendeiros e operários do campo. Aqui, apenas uma citação. Nassau W. Senior diz entre outras coisas no seu escrito póstumo Journals, Conversations and Essays Relating to Ireland, 2 vols., London, 1868, v. II, p. 282: «Bem», diz o Dr. G., «tivemos a nossa Lei dos Pobres e ela é um grande instrumento para dar a vitória aos landlords. Outro instrumento [...] é a emigração [...]. Nenhum amigo da Irlanda pode desejar que a guerra se prolongue» (entre os landlords e os pequenos rendeiros celtas) — «ainda menos que ela termine com a vitória dos rendeiros. Quanto mais cedo acabar — quanto mais cedo a Irlanda se tomar um país de pastagens (grazing country), com a população comparativamente magra que um país de pastagens requere, tanto melhor para todas as classes.» As leis inglesas dos cereais de 1815 asseguraram à Irlanda o monopólio da livre exportação de cereais para a Grã-Bretanha. Elas favoreciam portanto artificialmente o cultivo dos cereais. Em 1846, com a abolição das leis dos cereais, este monopólio foi repentinamente eliminado. Abstraindo de todas as outras circunstâncias, este acontecimento basta para dar um poderoso impulso à transformação da terra arável irlandesa em pastagem para gado, à concentração das quintas e à expulsão dos pequenos camponeses. Depois de entre 1815 e 1846 se ter celebrado a fertilidade do solo irlandês, e sonoramente declarado que ele estava destinado pela própria Natureza ao cultivo do trigo, os agrónomos, economistas e políticos ingleses descobriram então repentinamente daí para cá que ele não serve senão para produzir forragem! O senhor Léonce de Lavergne apressou-se a repetir isto do outro lado do Canal(192*). E preciso ser-se um homem «sério» à la(193*) Lavergne para se deixar apanhar por estas criancices. (retornar ao texto)
(192*) Cf. Léonce de Lavergne, The Rural Economy of England. Scotland and Ireland.... Edinburgh, London, 1855, pp. 48, 50. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(193*) Em francês no texto: à maneira de. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
Notas de fim de tomo:
[N151] Registrar-General — assim se chamava em Inglaterra ao funcionário que chefiava o Serviço Central de Registo Civil. Além das suas funções habituais o serviço efectuava de dez em dez anos um censo da população.(retornar ao texto)
[N181] Ver a nota 151 [acima]. (retornar ao texto)
[N182] Nicolas Boileau, Sátira VIII. (retornar ao texto)
[N183] Trata-se da obra de Friedrich Engels Die Lage der arbeitenden Klasse in England. Leipzig, 1845. (Ver MEW, Bd. 2.) (retornar ao texto)
[N184] Adam Smith, An Inquiry into the Nature and Causes of the Wealth of Nations. Vol. I, Edinburgh, 1814, p. 6. (retornar ao texto)
[N185] Órgão especial junto do rei de Inglaterra, composto por ministros e outras personalidades oficiais, bem como pelos representantes superiores do clero. Formado pela primeira vez no século XIII. Durante muito tempo deteve o poder legislativo em nome do rei e à margem do Parlamento. Nos século XVIII e XIX o papel do Privy Council é fortemente reduzido. Na Inglaterra contemporânea o Privy Council praticamente não participa na direção do País.(retornar ao texto)
[N186] «Low Church» («Igreja Baixa») — corrente da igreja anglicana difundida principalmente entre a burguesia e o baixo clero. Os seus partidários pregavam uma moral burguesa-cristã e dedicavam-se a uma actividade filantrópica, que tinha sempre um carácter hipócrita. O conde de Shaftesbury (aliás lorde Ashley), graças a esse género de actividades, gozava de grande influência nos círculos da «Igreja Baixa», por isso Marx lhe chama ironicamente «papa» dessa igreja. (retornar ao texto)
[N187] Ver a nota 151 (retornar ao texto)
[N188] Laudator temporis acti — Horácio, Arte Poética, verso 173. (retornar ao texto)
[N189] Esta expressão é usada na obra de Fourier Le nouveau monde industriei et
sociétaire, ou invention du procede d'industrie attrayante et naturelle distribuée en
séries passionées. Paris, 1829, pp. 399 e 503. (retornar ao texto)
[N190] Grande peste — terrível epidemia de peste que grassou na Europa Ocidental de 1347 a 1350. Segundo os dados disponíveis, morreram então de peste cerca de 25 milhões pessoas — aproximadamente um quarto de toda a população europeia ocidental. (retornar ao texto)
[N191] Erin — antigo nome da Irlanda. (retornar ao texto)
[N192] Paráfrase das palavras de Mefistófeles na tragédia de Goethe Fausto («Prólogo no Céu»). (retornar ao texto)
[N193] Fenianos — revolucionários pequeno-burgueses irlandeses. As primeiras organizações fenianas surgiram em 1857 na Irlanda e nos EUA, onde uniam os emigrantes de origem irlandesa. O programa e a actividade dos fenianos reflectiam o protesto das massas populares da Irlanda contra o jugo colonial inglês. Os fenianos exigiam a independência nacional para o seu país, a instituição de uma república democrática, a transformação dos camponeses rendeiros em proprietários da terra que trabalhavam, etc. Eles contavam concretizar o seu programa político através de uma insurreição armada. Mas a sua actividade conspirativa não teve êxito. Em fins dos anos 60 os fenianos sofreram uma repressão maciça. Nos anos 70 o movimento entrou em declínio. (retornar ao texto)
[N194] «Acerba fata Romanos agunt / Scelusque fraternae necis» («Acerbos fados atormentam os Romanos / E o crime do fratricídio). — Horácio, Epodos 7. (retornar ao texto)
Inclusão | 01/01/2016 |