Reforma ou Revolução?

Rosa Luxemburgo


Escrito: em duas partes. A primeira parte entre 1898 e 1899. A segunda, 1908.

Primeira edição: em conjunto, em 1908.

Tradução: ...

Transcrição: Fernando Araújo.

HTML: José Braz.


Prefácio

Primeira Parte

1. O Método Oportunista

2. A Adaptação do Capitalismo

3. A Realização do Socialismo pelas Reformas Sociais

4. A Política Alfandegária e o Militarismo

5. Consequências Práticas e Carácter Geral do Revisionismo

Segunda Parte

1. O Desenvolvimento Econômico e o Socialismo

2. Os Sindicatos, as Cooperativas e a Democracia Política

3. A Conquista do Poder Político

4. A Derrocada

5. O Oportunismo na Teoria e na Prática

Índice de Nomes


Prefácio

À primeira vista, o título deste trabalho pode causar surpresa. Reforma social ou revolução? Pode a social-democracia opor-se às reformas sociais? Podemos contrapor a revolução social, a transformação da ordem dominante, nosso objetivo final, à reforma social? Certamente que não. Para a social-democracia, a luta cotidiana pelas reformas sociais, pela melhoria da situação dos trabalhadores no âmbito da ordem social dominante e por instituições democráticas é o único meio de promover a luta da classe proletária e de avançar rumo ao seu objetivo final: a conquista do poder político e a abolição do sistema salarial. Para a social-democracia, entre a reforma social e a revolução há um vínculo indissolúvel: a luta pelas reformas sociais é o meio; a revolução social, o fim.

Esses dois elementos fulcrais do movimento operário encontramo-los opostos, pela primeira vez, nas teses de Edouard Bernstein, tal como foram expostos nos seus artigos sobre os problemas do socialismo, publicados no Neue Zeit em 1897-1898 ou ainda no seu livro intitulado: Die Voraussetzungen des Sozialismus und die Aufgaben der Sozialdemokratie. Toda a sua teoria visa uma única coisa: conduzir-nos ao abandono do objectivo último da social-democracia, a revolução social e, inversamente, fazer da reforma social, simples meio da luta de classes, o seu fim último. O próprio Bernstein exprimiu essas opiniões da maneira mais transparente e mais característica ao escrever: "O objectivo final, qualquer que seja, não é nada; o movimento é tudo".

Ora, o objectivo final do socialismo é o único elemento decisivo na distinção do movimento socialista da democracia burguesa e do radicalismo burguês, o único elemento que, mais do que dar ao movimento operário a tarefa inútil de substituir o regime capitalista para o salvar, trava uma luta de classe contra esse regime, para o destruir; posto isto, a alternativa formulada por Bernstein; "reforma social ou revolução", corresponde para a social-democracia à questão: ser ou não ser .

Na controvérsia entre Bernstein e os seus partidários, o que está em jogo – e no partido cada um deve ter consciência disso – não é este ou aquele método de luta, nem o emprego desta ou aquela táctica mas a própria existência do movimento socialista.

É duplamente importante que os trabalhadores tenham consciência desse facto porque é precisamente deles que se trata, da sua influência no movimento e porque é a sua pele que aqui querem vender.

A corrente oportunista no interior do partido encontrou, graças a Bernstein, a sua formulação teórica, que é unicamente uma tentativa inconsciente de assegurar a predominância dos elementos pequeno-burgueses, aderentes ao partido, e inflectir a prática transformando, no seu espírito, os objectivos do partido.

A alternativa: reforma social ou revolução, objectivo final ou movimento é, sob outra capa, a alternativa entre o carácter do pequeno-burguês ou proletário do movimento operário.