O Que é o Marxismo?

Chris Harman


Marxismo e Feminismo


Exitem duas diferentes de abordar a questão da liberação das mulheres: o feminismo e o socialismo revolucionário. O feminismo é a influência dominante nos movimentos de mulheres que emergiram nos países capitalistas avançados durante os anos 1960 e 1970. Parte da visão de que os homens sempre oprimiram as mulheres; que é a constituição biológica e psíquica dos homens que os fazem tratar as mulheres como inferiores. Isto leva à ideia de que a libertação das mulheres só será possível separando-as dos homens; é a separação total daquelas feministas que falam de um «estilo de vida liberado», ou da separação parcial das mulheres em comissões de mulheres ou em reuniões que não sejam mistas.

Muitas daquelas que apóiam esta separação parcial consideram a si mesmas como feministas socialistas. Mas, depois, as ideias feministas radicais da total separação fizeram a sua aparição nos movimentos das mulheres. Estas ideias, com o tempo, tiveram menos eco, para finalmente serem defendidas por uma pequena minoria. Estas falhas levaram muitas feministas para outra direção: para o Partido Socialista. Elas acreditavam que colocando mulheres em cargos como deputados, permanentes sindicais ou vereadores, iriam de alguma forma ajudar as mulheres a alcançar a igualdade.

A tradição do socialismo revolucionário parte de uma perspectiva diferente. Marx e Engels, em escritos que datam de 1848, mostraram que a opressão sobre as mulheres não surgiu da cabeça dos homens, mas do desenvolvimento da propriedade privada e, com ele, da emergência de uma sociedade de classes. Para eles, a luita pola emancipação das mulheres é inseparável da luita polo fim da sociedade de classes, isto é, da luita polo socialismo.

Marx e Engels também fizeram notar que o desenvolvimento do capitalismo, baseado nas fábricas, trouxe profundas mudanças na vida das pessoas e, especialmente, na vida das mulheres. Foram reintroduzidas na produção, de onde tinham sido progressivamente excluídas com o desenvolvimento da sociedade de classes.

Isto deu às mulheres um potencial de luita que nunca antes tiveram. Organizadas coletivamente, as mulheres como trabalhadoras tinham maior capacidade e independência de luitar polos seus direitos. Isto significava um enorme contraste em relação às suas vidas anteriores, quando o seu principal papel na produção, cuidando da família, as tornava completamente dependentes de seus maridos ou pais.

Disto, Marx e Engels concluíram que as bases materiais para a existência da família e, portanto da opressão das mulheres, já não existia. O que impedia as mulheres de se beneficiarem desta situação era que a propriedade permanecia nas mãos de uns poucos. O que mantém as mulheres sob opressão hoje é como o capitalismo está organizado, em particular, o modo como o capitalismo usa a família para garantir que os trabalhadores procriem uma nova geração de trabalhadores. Do ponto de vista da classe dominante é muito vantajoso pagar os homens (e cada vez mais mulheres) polo seu trabalho, enquanto as mulheres permaneçam, gratuitamente, trabalhando para que os homens fiquem em condições de irem ao seu trabalho e que e que os seus filhos sejam criados por elas para fazer o mesmo.

A sociedade socialista, polo contrário, tomará conta de muitas das funções que pesam sobre as mulheres.

Isto não significa que Marx, Engels e os seus sucessores vieram a desejar “a abolição da família”. Os defensores da família têm sido capazes de mobilizar uma parte significativa das mulheres mais oprimidas que podem entender como “abolição da família” dar licença aos maridos para abandoná-las com as responsabilidades com as crianças. Os socialistas revolucionários têm tentado sempre mostrar que, ao contrário, numa sociedade socialista, as mulheres não seriam obrigadas à vida miserável que lhes dá a família moderna.

As feministas sempre rejeitaram esse tipo de análise. Longe de se aproximar às mulheres quando têm o poder de mudar a sociedade e acabar com a sua opressão - ali onde elas são coletivamente fortes, no trabalho — elas as entendem como vítimas. No início dos anos 80, por exemplo, foram feitas campanhas que abordavam questões como a prostituição, as violações ou a ameaça das armas nucleares sobre as mulheres e as famílias. Tudo isso parte da ideia de que as mulheres são fracas.

O feminismo pressupõe que a opressão está acima da divisão da sociedade em classes. Isto leva à conclusões que deixam o sistema intacto, enquanto melhoram a situação de algumas mulheres, uma minoria. Os movimentos de libertação das mulheres foram frequentemente dominados por mulheres da “nova classe média”, jornalistas, escritoras, professoras e executivas, enquanto secretárias e obreiras são deixadas de lado.

É apenas durante períodos de mudança radical e explosões revolucionárias que a questão da libertação das mulheres torna-se realidade, não apenas para uma minoria, mas também para todas as trabalhadoras. A Revolução Bolchevique de 1917 produziu uma igualdade como nunca antes se vira. O divórcio, o aborto e a contracepção estavam livremente disponíveis. A educação das crianças tornaram-se responsabilidade da sociedade. Iniciou-se a utilização de restaurantes, lavanderias e infantários comunitários, que davam às mulheres maior possibilidade de escolher e controlar as suas vidas. Claro que o destino destes avanços não poderia ser separado do da própria revolução. A fame, a guerra civil, a dizimação da classe obreira e o fracasso da revolução internacional significaram o fim do socialismo na Rússia. Os avanços foram revertidos.

Mas os primeiros anos da República Soviética mostraram o que a revolução socialista pode conquistar, até mesmo nas piores condições. Hoje em dia, as perspectivas para a libertação feminina são ainda melhores. Na França e igual nos outros países desenvolvidos, mais que dous trabalhadores em cinco são mulheres. A emancipação das mulheres só poderá ocorrer através do poder coletivo da classe operária. Isto significa rejeitar a ideia feminista de criar organizações separadas de mulheres. Só os trabalhadores, homens e mulheres, atuando em conjunto num movimento revolucionário poderão destruir a sociedade de classes e com ela a opressão sobre as mulheres.


Inclusão 18/10/2010