Carta a Joseph Hansen

Leon Trotsky

5 de Janeiro de 1940

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Primeira Edição: Leon Trotsky, In Defense of Marxism, New York 1942.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.


Querido Joe:

Muito obrigado por sua interessante informação. Caso seja necessário ou aconselhável, Jim(1) pode publicar nossa correspondência e a que mantive com Wright sobre a questão da cisão. Esta correspondência mostra nossa firme intenção, de preservar a unidade do Partido, apesar da aguda luta fracional. Em minha carta a Wright, mencionei que inclusive como minoria, a ala bolchevique do partido deveria, em minha opinião, continuar sendo disciplinada e Jim respondeu que sobre este ponto, estava de acordo comigo, completamente e de todo coração. Estas duas citações são decisivas para o assunto.

Com relação às minhas observações sobre a Finlândia, no artigo sobre a oposição pequeno-burguesa, direi aqui somente umas poucas palavras. Existe uma diferença de princípios entre a Finlândia e a Polônia? — Sim ou não? A intervenção do Exército Vermelho na Polônia foi acompanhada de guerra civil? — Sim ou não? A imprensa dos mencheviques, que está muito bem informada graças à sua amizade com o Bund e os imigrantes do PPS(2), diz abertamente que o avanço do Exército Vermelho foi acompanhado de um ascenso revolucionário. E não só na Polônia, mas também na Romênia.

O Kremlin criou o governo Kuusinen, com o objetivo evidente de substituir a guerra pela guerra civil. Informou-se sobre o início da criação de um Exército Vermelho finlandês, sobre o "entusiasmo" dos camponeses pobres da Finlândia nas regiões ocupadas, onde as grandes propriedades de terra foram confiscadas, e tudo o mais. O que é isso se não o início da guerra civil?

O desenvolvimento ulterior da guerra civil depende completamente do avanço do Exército Vermelho. O "entusiasmo" do povo não foi, evidentemente, ardente o suficiente para produzir insurreições independentes pelos camponeses e operários que se encontram sob a espada do verdugo Mannerheim. A retirada do Exército Vermelho deteve, necessariamente, as características de guerra civil, em seu próprio início.

Se os imperialistas ajudam eficientemente a burguesia finlandesa na defesa do regime capitalista, a guerra civil seria impossível no próximo período. Porém, se como parece mais provável, os destacamentos reforçados do Exército Vermelho penetram com mais êxito no interior do país, inevitavelmente veremos o processo de guerra civil paralelamente à invasão.

Não podemos predizer todos os acontecimentos militares, as oscilações de interesse puramente tático; mas não mudam a linha "estratégica" geral dos acontecimentos. Neste caso, como em todos os outros, a oposição tem uma política puramente conjuntural e impressionista, ao invés de uma política de princípios.

(Não é preciso repetir que a guerra civil na Finlândia, assim como na Polônia, terá um caráter limitado, semi-afogado, e que pode se converter, na próxima etapa, em uma guerra civil entre as massas finlandesas e a burocracia de Moscou. Sabemos disso, pelo menos de forma tão clara que a oposição e nós prevenimos abertamente as massas. Porém, analisamos o processo como ele é, e não identificamos o primeiro estágio com o segundo.)

Saudações fraternas para todos os amigos,
Leon Trotsky
Coyoacán (México)


Notas:

(1) James P. Cannon. (retornar ao texto)

(2) Partido Socialista Polonês. (retornar ao texto)

Inclusão 03/07/2009