Carta a James P. Cannon

Leon Trotsky

28 de Outubro de 1939

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Primeira Edição: James P. Cannon, The Struggle for a Proletqarian Party.
Fonte: "Em Defesa do Marxismo", publicação da Editora "Proposta Editorial"
Direitos de Reprodução: © Editora Proposta Editorial. Agradeçemos a Valfrido Lima pela autorização concedida.


Querido Jim:

Em sua carta de 24 de outubro, duas coisas ficam claras para mim:

(1) que é inevitável e politicamente necessária uma luta ideológica muito séria;

(2) que seria extremamente prejudicial, senão fatal, ligar esta luta ideológica com a perspectiva de uma ruptura, de uma purga, ou de expulsões e tudo o mais.

Por exemplo, ouça o que o camarada Gould proclamou em uma reunião de militantes: "vocês querem nos expulsar". Porém, não sei qual a reação de uma e da outra parte. De minha parte, protestarei imediatamente contra tais suspeitas, com a maior insistência. Proporia a criação de uma comissão de controle especial para investigar tais afirmações e rumores. Se acontecer de alguém da maioria lançar tais suspeitas, eu votaria por uma censura ou uma repreensão grave.

Vocês possuem muitos militantes novos e jovens não educados. Necessitam de uma discussão educativa e séria, à luz dos grandes acontecimentos. Se, de início, seu pensamento está obsessionado pela perspectiva da degradação pessoal, ou seja, chamadas de atenção perda de prestígio, desqualificações, eliminações do Comitê Nacional etc., e tudo o mais, toda a discussão se verá envenenada e a autoridade da direção ficará comprometida.

Se, ao contrário, a direção abre uma forte luta contra as concepções idealistas pequeno-burguesas e preconceitos organizativos, mas assegura, ao mesmo tempo, todas as garantias necessárias para a discussão e para a minoria, o resultado seria não só uma vitória ideológica, mas um crescimento importante na autoridade da direção.

"Uma conciliação e um compromisso nas alturas", sobre as questões que são objeto de divergência, logicamente seria um crime. Porém, de minha parte, proporia à minoria, em sua direção, um acordo, se vocês desejarem, um compromisso sobre os métodos de discussão e paralelamente sobre a colaboração política. Por exemplo:

(a) ambas as partes eliminam da discussão qualquer ameaça, insulto pessoal, e tudo o mais;

(b) ambas as partes se obrigam a colaborar lealmente durante a discussão e

(c) qualquer falso movimento (ameaças, rumores de ameaça ou rumores de pretendidas ameaças, demissões e tudo o mais) deve ser investigado, pelo Comitê Nacional ou por uma comissão especial, como fato particular, e não introduzido na discussão.

Se a minoria aceita tal acordo, vocês terão a possibilidade de controlar a discussão, e também a vantagem de terem tomado uma boa iniciativa. Se a proposta for recusada, vocês podem, em cada reunião do partido, apresentar sua posição por escrito à minoria como a melhor refutação a suas lamentações e como um bom exemplo de "nosso regime".

Me parece, que o último Congresso se consumou em um mal momento (a situação não estava madura) e se converteu em uma espécie de aborto. A autêntica discussão chegou algum tempo depois do Congresso. Isto significa que vocês não podem evitar um novo Congresso, lá pelo Natal mais ou menos. A idéia de um referendum é absurda. Pode somente facilitar uma cisão sobre linhas locais. Porém acredito que a maioria, no acordo "acima mencionado, possa propor à minoria um novo Congresso baseado em duas plataformas, com todas as garantias organizativas à minoria.

O Congresso é oneroso, porém não vemos outros meios para concluir a presente discussão e a crise do Partido que ela produz.

J. HANSEN (Leon Trotsky)(1)

P.S.: Toda discussão séria e aguda pode levar, logicamente, a algumas deserções, partidas e inclusive expulsões, porém todo o Partido deve estar convencido, pela lógica dos fatos, de que são resultados inevitáveis que se dão apesar do melhor desejo da direção, e não um objetivo ou intenção da direção, nem tampouco o ponto de partida de toda a discussão. Segundo minha opinião este é o ponto decisivo de todo o assunto.

J.H. (Leon Trotsky)


Notas:

(1) Neste caso Trotski assina com o nome de seu secretário, Joseph Hansen. (retornar ao texto)

Inclusão 03/05/2009