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A guerra não modificou sensivelmente os agrupamentos da social-democracia russa. Enquanto que, desde o princípio, os bolcheviques adotaram uma posição resolutamente hostil à guerra («transformação da guerra imperialista em guerra civil»), os mencheviques, na sua maior parte, enfileiraram do lado da burguesia e tornaram-se sociais-patriotas.
Trotsky ocupou uma posição de «conciliação», («nem vitória nem derrota»), quando toda a conciliação entre estas duas atitudes radicalmente opostas era não só impossível, mas ter-se-ia mesmo revelado funesta à causa do proletariado revolucionário. No fundo, Trotsky (como Kautsky na Alemanha, Longuet na França) apenas entravava a obra de clarificação ideológica dos bolcheviques e prestava assim o seu apoio aos sociais-chauvinistas mais desesperados.
Nos textos que seguem, que não necessitam de quaisquer outros comentários, Lenine precisa com uma clareza admirável a posição de Trotsky e as consequências que esta acarreta.
... Este erro fundamental que é o kautskismo toma formas diversas conforme os países... Na Rússia, Trotsky, embora refutando esta ideia, preconiza a unidade com o grupo oportunista e chauvinista da Nacha Zaria. Na Roménia, Rakovskí declara a guerra ao oportunismo, ao qual imputa a falência da Internacional, mas ao mesmo tampo está pronto a reconhecer a ideia da defesa da pátria. Tudo isto é a manifestação do mal a que os marxistas holandeses (Horter, Pannekoek) chamaram o «radicalismo passivo» e que conduz, em teoria, a substituir o ecletismo ao marxismo revolucionário e, na prática, a rojar-se diante do oportunismo.
Agosto de 1915.
V. I. Lenine: «O socialismo e a guerra»,
Obras completas, tomo XVIII, p. 203, ed. r.
Numa guerra reaccionária, a classe revolucionária apenas pode desejar a derrota do seu governo.
Isto é um axioma. Apenas é contestado pelos partidários conscientes(1) ou pelos servidores impotentes dos sociais-chauvinistas. Entre os primeiros, pode citar-se Semkovsky, do CO; entre os segundos, Trotsky e Boukvoïed, e na Alemanha, Kautsky. Desejar a derrota da Rússia, escreve Trotsky, é
uma concessão injustificada à metodologia política do social-patriotismo, que substitui por uma orientação arbitrária, no sentido do mal menor, a luta revolucionária contra a guerra e as causas que a engendraram (número 115 do Naché Slovo).
Eis uma amostra das frases enredadas por meio das quais Trotsky não cessa de justificar o oportunismo. A expressão «luta revolucionária contra a guerra» é absolutamente vazia de sentido se não se entenda por ela a ação revolucionária contra o governo do seu pais durante a guerra...
Esperando sair-se bem com algumas frases, Trotsky enreda-se ainda mais. Parece que desejar a derrota da Rússia, é desejar a vitória da Alemanha (Boukvoïed e Semkovsky exprimem francamente esta «ideia», que partilham com Trotsky). E é nisto que Trotsky vê a «metodologia do social-patriotismo». A fim de vir em socorro das pessoas que não sabem pensar, a resolução de Berna explica (número 40 do Sotsial-Demokrat) que, em todos os países imperialistas, o proletariado deve desejar agora a derrota do seu governo. Boukvoïed e Trotsky preferiram calar-se sobre esta verdade...
A renúncia ao derrotismo faz do «revolucionarismo» uma palavra vazia ou uma hipocrisia...
«O nosso voto de 4 de Agosto significa que não somos pela guerra, mas que somos contra a derrota», escreve o líder dos oportunistas, E. David, no seu livro. Os membros do C. O., com Boukvoïed e Trotsky, adoptam inteiramente a plataforma de David assumindo a defesa da palavra de ordem: «Nem vitória, nem derrota.»
Quem reconhece esta palavra de ordem não passa de um hipócrita quando declara que é pela luta de classe e pela ruptura da «união sagrada». De fato, renuncia a uma política proletária independente e subordina o proletariado dos países beligerantes a um objetivo puramente burguês: evitar que o seu governo imperialista seja derrotado. Para o proletariado, a única política de luta de classe e de ruptura da união sagrada é a que consiste em explorar as dificuldades do seu governo e da sua burguesia para os derrubar, e não é possível aspirar nem atingir este objetivo sem desejar a derrota do seu governo, sem colaborar nesta derrota...
Quem defenda a palavra de ordem: «Nem vitória, nem derrota» é um chauvinista consciente ou inconsciente, quanto muito um pequeno-burguês conciliador, mas, em qualquer dos casos, um inimigo da política proletária, um partidário dos governos e das classes dirigentes actuais.
25 de Julho de 1915.
V. I. Lenine: «Sobre o derrotismo durante a guerra imperialista».
Obras completas, p. 169-173, ed. r.
A cisão do movimento operário e do socialismo no mundo inteiro é um fato patente. Na questão de guerra, estão em presença duas tácticas a duas políticas opostas da classe operária. Seria ridículo fechar os olhos a este respeito. Tentar conciliar o inconciliável equivale a condenar-se à impotência...
No mundo inteiro, o quadro é o mesmo. Os diplomatas impotentes, os homens do «pântano», como Kautsky na Alemanha, Longuet na França, Martov e Trotsky na Rússia, causam o maior prejuízo ao movimento operário defendendo a ficção da unidade e impedindo assim a união indispensável da oposição de todos os países, a criação da III Internacional.
8 de Fevereiro de 1916.
V. I. Lenine: «Sobre as tarefas da oposição em França»,
Obras completas, tomo XIX, pp. 21-22, ed. r.
Notas de rodapé:
(1) Da Intervenção da guerra. (retornar ao texto)
Inclusão | 23/04/2014 |