Os Reacionários Devem Ser Castigados

Mao Tsetung

1 de Agosto de 1939


Primeira Edição: Discurso proferido pelo camarada Mao Tsetung num comício organizado pela população de Ien-an, em memória dos Mártires do Incidente Sangrento de Pinquiam.
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 417-424.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

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Hoje, 1 de Agosto, estamos aqui reunidos para um comício em celebração de finados. Por quê tal comício? Porque os reacionários assassinaram camaradas revolucionários, combatentes que resistiam ao Japão. Quem é necessário matar atualmente? Os traidores e os imperialistas japoneses. Já lá vão dois anos que a China se bate contra os imperialistas japoneses, mas ainda não está determinado o vencedor e o vencido. Os traidores permanecem muito ativos; muito poucos dentre eles foram executados. Em contrapartida, os camaradas revolucionários, os combatentes da resistência contra o Japão são os que são massacrados. E por quem? Pelo exército. Por que é o exército mata combatentes da resistência contra o Japão? Porque executa ordens, porque lhe deram a ordem de matar. Quem lhe deu essa ordem? Os reacionários(1). Camaradas! Quem está, logicamente, interessado na morte dos combatentes da resistência contra o Japão? Primeiro, os imperialistas japoneses e depois os traidores e os vende-pátrias, como Uarn Tsim-vei. Mas agora o local do assassinato não foi qualquer dos pontos ocupados pelos japoneses e traidores, Xangai, Pepim, Tientsim, Nanquim, mas sim Pinquiam, na retaguarda anti-japonesa, e entre as vítimas figuravam Tou Djem-cuen e Luo Tse-mim camaradas responsáveis pelo Birô de Ligação do Novo IV Exército em Pinquiam. Está evidente que esse crime foi o gesto duma quadrilha de reacionários chineses que agiu por ordem dos imperialistas japoneses e de Uam Tsim-vei. Os reacionários preparam-se para capitular, sendo por isso que obedecem servilmente as ordens dos japoneses e de Uam Tsim-vei, e fizeram dos combatentes mais resolutos da resistência anti-japonesa as suas primeiras vítimas. Trata-se duma questão que não é insignificante, é um fato que temos de denunciar e contra o qual devemos elevar o nosso protesto.

Atualmente, o país inteiro resiste a agressão japonesa e a causa da resistência forjou uma grande união entre a totalidade do povo. Contudo, no seio dessa grande união encontram-se também reacionários, capitulacionistas. E o que fazem estes? Matam os combatentes da resistência anti-japonesa, impedem o menor progresso, agem em colusão com os agressores japoneses e os traidores, e preparam-se para capitular.

Houve já alguém que tivesse tomado em mãos essa grave questão que é o assassinato de que foram vítimas camaradas nossos da resistência anti-japonesa? Eles foram mortos as três da tarde do dia 12 de junho e hoje já estamos a 1 de Agosto. Durante todo este tempo, acaso vimos alguém ocupar-se da questão? Não. Quem deveria ter-se ocupado? A lei chinesa, os juízes. Se fato semelhante se tivesse produzido na região fronteiriça Xensi-Cansu-Ninsia, há muito que o nosso tribunal supremo teria intervindo. Mas já cerca de dois meses se escoaram após esse Incidente Sangrento de Pinquiam e a lei, os juízes, ainda não estão em ação. Qual será então a causa desse estado de coisas? É o fato de a China não estar unificada.(2)

A China precisa de ser unificada pois doutro modo não poderá vencer. E que significa unificação? Significa que todos devem resistir ao Japão, que todos devem unir-se e concorrer para o progresso, havendo que recompensar e punir equitativamente. Quem se torna necessário recompensar? Os que resistem ao Japão, os que são pela união e pelo progresso. Quem se torna necessário punir? Os traidores e os reacionários, que sabotam a resistência, a união e o progresso. O nosso país está unificado neste momento? Não. O Incidente Sangrento de Pinquiam é uma prova disso. Ele mostra que a unificação ainda não está realizada ali onde devia estar. Há já muito que estamos reclamando a unificação do país. Primeiramente, uma unificação baseada na resistência. No entanto, nesta altura, longe de terem sido recompensados, Tou Djem-cuen, Luo Tse-mim e outros camaradas da resistência anti-japonesa foram selvaticamente massacrados, ao passo que continuam sem punição os miseráveis que fazem campanha contra tal resistência, que se preparam para capitular e recorrem ao assassinato. Isso não é unificação. Há que lutar contra esses miseráveis, contra esses capitulacionistas e deter esses assassinos. Segundo, urna unificação baseada na união. Os partidários da união deveriam ser recompensados e os sabotadores punidos. Contudo, são Tou Djem-cuen, Luo Tse-mim e mais camaradas partidários da união, os que foram punidos, assassinados selvaticamente, e os miseráveis que sabotam a união escapam a todo o castigo. Não é isso unificação. Terceiro, uma unificação baseada no progresso. O país todo tem de progredir, os retardatários devem procurar acertar o passo pelos mais avançados e estes não devem ser puxados para trás em alinhamento com os retardatários. Os carrascos de Pinquiam mataram progressistas. Desde que começou a Guerra de Resistência, os comunistas e demais patriotas assassinados contam-se já por centenas, não sendo o Incidente Sangrento de Pinquiam mais do que o último em data. Se se continuar assim, a China correrá para o desastre: todos os que resistem ao Japão arriscam-se a ser massacrados. Que significam esses assassinatos? Significam que os reacionários chineses, executando ordens dos imperialistas japoneses e de Uam Tsim-vei, preparam-se para capitular. Assim, há primeiro que matar os militares que se batem contra o Japão, matar os comunistas, matar os patriotas. Se não se põe fim a isto, a China perecerá às mãos da reação. Trata-se, por consequência, duma questão que respeita a todo o país, uma questão de alta importância. Nós devemos exigir que o Governo Nacional castigue esses reacionários com o máximo rigor.

Os camaradas devem dar-se igualmente conta de que, recentemente, as provocações do imperialismo japonês intensificaram-se, assim como se intensificou a ajuda que o imperialismo internacional dispensa ao Japão.(3) Simultaneamente, os traidores no interior da China, os Uam Tsim-vei declarados e camuflados, empenham-se mais ativamente do que nunca na sabotagem da resistência anti-japonesa, na sabotagem da união, em fazer-nos marchar para trás. Procuram conduzir a maioria da China a capitulação, provocam divisões internas, a guerra civil. Sob a designação de “medidas para limitação da atividade dos partidos heréticos”(4), circulam atualmente umas instruções secretas que são medidas de todo reacionárias que ajudam o imperialismo japonês e prejudicam a resistência, a união e o progresso. Mas quem são os “heréticos”? São os imperialistas japoneses, é Uam Tsim-vei, são os traidores. Acaso poderão qualificar-se de “heréticos” o Partido Comunista e os demais partidos e grupos políticos anti-japoneses que se unem no combate ao agressor japonês? No entanto, há capitulacionistas, reacionários e obstinados que não hesitam em provocar fricções e divisão entre as fileiras anti-japonesas. Serão tais atividades justificáveis? De modo nenhum! (Aplausos em toda a sala.) A quem pois se torna necessário impor essa “limitação”? Aos imperialistas japoneses, a Uam Tsim-vei, aos reacionários e aos capitulacionistas. (Aplausos em toda a sala.) Por que motivo se limitará então o Partido Comunista, que resiste ao Japão com um máximo de firmeza e é o mais revolucionário e o mais progressista de todos os partidos? Por pura aberração. Nós, população de Ien-an, opomo-nos resolutamente e levantamos um protesto enérgico contra isso. (Aplausos em toda a sala.) Devemos opor-nos as “medidas para limitação da atividade dos partidos heréticos”, fonte de toda a espécie de comportamentos criminosos destruidores da união. O comício de hoje, realizamo-lo para vincar a nossa vontade de prosseguir na resistência, na união e no progresso. Para isso, as “medidas para limitação da atividade dos partidos heréticos” devem ser suprimidas, os capitulacionistas e os reacionários devem ser castigados, a proteção assegurada a todos os camaradas empenhados na revolução, aos camaradas e ao povo que se batem na resistência a agressão japonesa. (Aplausos retumbantes, palavras de ordem ressoam pela sala.)


Notas de rodapé:

(1) No dia 12 de Junho de 1939, sob ordens secretas de Tchiang Kai-chek, tropas do XXVII Grupo de Exércitos do Kuomintang cercaram o Birô de Ligação instalado pelo Novo IV Exército em Pinquiam, província de Hunan, e assassinaram a sangue frio os camaradas Tou Djem-cuen, oficial do Estado Maior do Novo IV Exército, Luo Tse-mim, ajudante-major do VIII Exército, e mais quatro outros. Esse incidente sangrento provocou a indignação das populações das bases democráticas anti-japonesas bem como a de todos os indivíduos honestos das regiões controladas pelo Kuomintang. O incidente sangrento foi provocado por ordem de Tchiang Kai-chek e seus acólitos. Os reacionários que o camarada Mao Tsetung condenou no discurso eram precisamente Tchiang Kai-chek e seus cúmplices. (retornar ao texto)

(2) Ao explicar aqui o significado da palavra “unificação”, o camarada Mao Tsetung tinha em vista os desejos escondidos dos reacionários do Kuomintang que, sob pretexto de “unificação”, tentavam eliminar as forças armadas e as bases de apoio anti-japonesas dirigidas pelo Partido Comunista, depois do restabelecimento da cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista para a luta comum contra o invasor japonês, o Kuomintang utilizou a palavra de ordem de “unificação” como arma principal para atacar o Partido Comunista, acusando-o de pretensão de originalidade, obstrução da unificação e ação contrária aos interesses da resistência ao Japão. Os reacionários fizeram ecoar mais fortemente os seus clamores depois que a Quinta Sessão Plenária do Comité Executivo Central eleito pelo V Congresso Nacional do Kuomintang adotou, em Janeiro de 1939, as “medidas para limitação da atividade dos partidos heréticos”, propostas por Tchiang Kai-chek. No seu discurso, o camarada Mao Tsetung arrancou essa palavra de ordem, “unificação”, aos reacionários do Kuomintang e converteu-a numa palavra de ordem revolucionária para combater as ações divisionistas do Kuomintang contra o povo e contra a nação. (retornar ao texto)

(3) Ver Mao Tsetung, “Contra as atividades Capitulacionistas”. Após a queda de Vuhan, em Outubro de 1938, os agressores japoneses procuraram sobretudo seduzir o Kuomintang através de meios políticos, para levá-lo a capitular; o imperialismo internacional, em particular os imperialistas ingleses e norte-americanos, não cessava aliás de propor a Tchiang Kai-chek o entabulamento de negociações de paz, e o inglês Chamberlain deu a entender que o seu país participaria na “reconstrução do Extremo Oriente”. Em 1939, os agressores japoneses e o imperialismo internacional multiplicaram as intrigas. No mês de Abril do mesmo ano, o embaixador da Inglaterra na China, Clark-Kerr, passou a um vaivém entre Tchiang Kai-chek e os japoneses, esforçando-se por levá-los a negociar a paz. Em Julho concluiu-se um acordo anglo-nipónico, no qual o governo inglês se comprometia a reconhecer plenamente “a situação de fato” criada na China pelo ocupante japonês. (retornar ao texto)

(4) Postas secretamente em vigor pelo Comité Executivo Central do Kuomintang, em 1939, essas medidas impunham ao Partido Comunista e a todos os progressistas uma severa limitação da sua liberdade de pensamento, expressão e ação no intuito de sabotarem as organizações populares anti-japonesas. Elas estipulavam que nas regiões onde, segundo o Kuomintang, a “atividade do Partido Comunista é mais intensa” aplicar-se-ia um “sistema de caução solidária”, ao mesmo tempo que se criava por toda a parte, na organização dos pao e dos tsia, uma “rede de informações”, isto é, um organismo dos serviços secretos contra-revolucionários, para vigiar e restringir as atividades do povo em todos os momentos. (retornar ao texto)

Inclusão 17/02/2013