Por uma leitura atenta de Marx

Daniel de Leon

29 de Junho de 1907


Primeira Edição:The Daily People (O Diário do Povo) em 29 de Junho de 1907.

Fonte: Seção inglesa do M.I.A (With Marx For Text).

Tradução: anônimo em 22 de Janeiro de 2010.

HTML: Fernando A. S. Araújo

Direitos de Reprodução: O SLP (Socialist Labor Party of America) gentilmente cedeu os arquivos para a divulgação no M.I.A e formação da biblioteca online de DeLeon. Para maiores informações ou reprodução desse texto contate o SLP..


“Somente a organização econômica é capaz de estabelecer pela base um autêntico partido político do Trabalho, e, de tal forma, erguer um bastião contra o poder do Capital.”
MARX

Acontece com Marx o mesmo ocorrido com Shakespeare – suas frases estão abarrotadas de significado. Assim como não chega a ser satisfatório “ler” Shakespeare, não é, de tal forma, bastante “ler” Marx. Seus pronunciamentos devem ser ESTUDADOS. Dificilmente se encontram frases-pronunciamentos de Marx que não contenham, compressos, meia dúzia de pensamentos avulsos que, combinados, resultam numa sentença bastante simples, numa vista rápida, pesada, entretanto, de significados.

A sentença usada acima como epígrafe para este artigo é tipicamente Marxiana. Comprime inteiramente seis temáticas distintas, que são dispostas entre linhas paralelas. Condensa a essência integral de seis tópicos sociológicos, que tecidos conjuntamente, constituem um pensamento poderoso.

A sentença é uma luz sobre a natureza e missão da organização econômica, sobre a natureza e missão da ação política, sobre a relação existente entre as duas, e, por inferência, sobre as teorias da “Neutralidade em relação aos Sindicatos”, da “Transitoriedade do Sindicato”, e da “Força Física”.

A primeira oração do texto Marxiano declara: “Somente a organização econômica é capaz de estabelecer pela base um autêntico partido político do Trabalho” – em outras palavras:

Primeiro. Um partido político do Trabalho é uma necessidade. Não poderia ser um “autêntico partido político do Trabalho” se não fosse útil e necessário. Incidentalmente, disto decorre, como o inverso do pensamento, que um partido fictício do Trabalho deve, em algum sentido, ser produto ou reflexo de alguma falsa organização econômica.

Segundo. Um partido político do Trabalho não pode ignorar o reboque a partir do qual é rebento. “Neutralidade” do disparar em relação a seu reboque é inconcebível.” Incidentalmente seguem-se a partir disto, como opostos do pensamento, primeiramente, que um autêntico partido político do Trabalho está compelido a conduzir para a arena política os sons dos princípios da organização econômica revolucionária da qual é reflexo, e sentir-se audaz para tornar conhecido o fato; secundariamente, que um partido fictício do Trabalho é outrossim estimulado a encaminhar para a arena política os falsos princípios da organização econômica de araque, e estar induzido pelo sentimento covarde do esforço para negar sua paternidade. Há uma terceira conclusão, de não menor importância para o entendimento prático do conteúdo. Somente o reflexo político da falsa organização do Trabalho pode fixar a teoria da “Neutralidade no Sindicalismo”, uma teoria conhecida pelo dito reflexo político estar em discordância para com a lei de sua própria existência e os fatos que a dominam.

A última, ou segunda sentença do texto Marxiano, “e, de tal forma, erguer um bastião contra o poder do Capital,” define a missão do “autêntico partido político do Trabalho.” Esta missão de “erguer um bastião contra o poder do Capital,” consiste, em outras palavras:

Primeiro. Não cabe à “ação política”, “conquistar e ocupar” os poderes produtivos da nação; consequentemente, que o ATO revolucionário de “conquista e ocupação” é independente da ação política.

Segundo. A parte da “ação política” sendo a transitória, não obstante necessária, função de “erguer um bastião” contra o Capital, segue-se como apêndice do pensamento, primeiro, que o ato revolucionário de conseguir a derrubada do capitalismo e estabelecimento o Socialismo é função reservada à organização da economia; em segundo lugar, que a exigência de “Força Física” pelo ato revolucionário, está inerente à organização da economia; em terceiro lugar, tal qual um corolário da segunda conclusão, que o elemento da “Força” consiste, não militarmente ou outra organização que implique em violência, mas na ESTRUTURA da organização da economia, uma estrutura de tal natureza que desvie a violência contra si própria, despedaçe-a, e, assim faça do exercício da violência em troca desnecessário, senão secundário, ou somente incidental; finalmente, que a organização econômica não é “transitória,” mas é o presente embrião do futuro Governo da República do Trabalho.

As sentenças Marxianas são como densos racemes de uvas. Que produzem uvas atrás de uvas. Digeridas, elas fazem o digestor ver algo que um mapa das linhas fronteiriças dos territórios contíguos da Federação Americana do Trabalho, do Partido Socialista, e do Sindicalismo Industrial e do Partido Socialista do Trabalho. Permitem uma observação (um insight) nas teorias que abordam “Neutralidade,” a “Transitoriedade dos Sindicatos,” e “Força Física” no sentido de violência organizada. Elas explicam o aparecimento, na arena política, na forma de resoluções sobre “raças inferiores,” então sobre “raças retrógradas,” em seguida, na forma de uma sequência de palavras destinadas a conceder o mesmo pensamento” do princípio do Sindicato de Ofícios (Craft Union) de Anti-imigração, Raça e conflitos de Ofícios.

Marx pronunciou inúmeras frases férteis. Nenhuma maior que o texto que encabeça este artigo.


Inclusão 29/01/2011
Alteração 28/02/2018