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Primeira Edição: The Labour Woman, Dezembro 1913, p.111.
Fonte: https://www.marxists.org/archive/zetkin/1913/12/sisters.htm
Tradução: Talita Guglak
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Caras irmãs!
As mulheres da classe trabalhadora na Alemanha - à medida que acreditam no socialismo - têm a forte sensação de que neste momento devem enviar a vocês uma mensagem de paz, fraternidade e liberdade.
Nossas mentes ainda estão assombradas com as imagens infernais de massacre e destruição que as guerras recentes nos Balcãs deram ao século que se gaba de civilização e humanidade. Temos diante de nossos olhos as correntes de sangue espumando, o sangue dos homens derramado pelos homens, e as chamas de cidades e vilas assoladas, em nossos ouvidos soam os suspiros angustiantes e o choro insano vindo das ondas de homens mutilados e morrendo, largados lado a lado com cadáveres e membros dilacerados; ouvimos o soluço de esposas e irmãs, de mães e filhos, enlutados por seus entes queridos e ganhadores de pão.
Lembramos que nos últimos meses o povo nos Grandes Estados Europeus esteve mais do que uma vez nas fronteiras do terrível abismo de uma enorme guerra, nunca vista antes pelo mundo. Lembramos e trememos de horror. Pelo terrível evento que ainda não aconteceu mas pode acontecer um dia. Olhe para as mãos e ouça da minoria dominante e governante de todos os países civilizados! Com o quê essas mãos estão ocupadas?
Eles desperdiçam dinheiro que tiram do bolso dos trabalhadores na construção de quartéis e couraçados, na compra de artilharia campal, armas navais e os mais perfeitos instrumentos e meios de assassinato em massa e devastação em massa na terra, no mar, e até no ar; na mutilação de centenas e centenas de jovens trabalhadores para ser um dia os Caim de seus irmãos no exterior. Eles preparam a guerra por uma ânsia de armamentos militares e navais, gastos estes que esmagam as nações.
Para manter as pessoas dispostas a pagarem com bens e com sangue os sacrifícios de armamentos e guerra, eles falam sempre para que haja hostilidade e ódio entre as nações. Eles gritam que os interesses vitais de cada país exigem grandes exércitos e navios de guerra, prontos para levar a morte e a ruína para outros países.
Caras irmãs na Inglaterra! As mulheres da classe trabalhadora socialista na Alemanha estão profundamente tristes por tanto se falar de rumores sobre antagonismo e ódio. Mas garantimos que não acreditamos em que certos jornais e políticos alemães nos dizem sobre a inveja e a feroz aversão dos britânicos contra o nosso povo.
Não, não acreditamos neles apesar de todos os novos encouraçados, apesar de todos os ataques de xenofobia relatados com frequência. E suplicamos, honestamente, para que vocês não tomem como verdade o que certos jornais e políticos ingleses dizem-lhe sobre os sentimentos do povo da Alemanha. Reiteramos, eles não são verdade, apesar das terríveis armas e milhares e milhares de jovens, forçados a usarem o uniforme do império, afirmem isso; é uma história falsa com a qual meia dúzia de xenófobos fanáticos alemães abusa de nossos jornais e de nossa paciência.
Quem é o povo? Na Alemanha, assim como na Grã-Bretanha o povo não é os "Dez Mais”, não são os príncipes, os generais e outros oficiais banhados a ouro, os poderosos senhorios, os diretores influentes e os acionistas de arsenais militares e navais, os "reis" da produção de armas, armaduras, pólvora sem fumaça e aviões. O povo não é o pequeno número de privilegiados, que embolsam lucros homéricos, graças a impressionantes gastos em armamentos militares e navais, que pescam guinéus nas corrente de sangue dos campos de batalha, e arrancam seus louros das terras fertilizadas pelo apodrecimento dos cadáveres.
O povo alemão são milhões e milhões de homens e mulheres que trabalham duro, que vivem longe da riqueza, do esplendor, da beleza de nossos dias, mesmo que sem as mãos e os cérebros destes nem riquezas abundantes nem cultura existiriam. E entre eles está se espalhando a consciência de que não devem procurar seu inimigo além das fronteiras ou através do Mar do Norte; não, o seu inimigo implacável está enredado nas instituições de sua própria pátria. É o Capitalismo, é o poder das classes dominantes que exploram e governam os trabalhadores. Eles sabem que esse poder horrendo é o inimigo comum dos assalariados, dos trabalhadores de todos os países.
Carregamos as mesmas correntes que vocês, seus fardos são os nossos próprios males, compartilhamos de seu destino. Por essa razão que sofremos com vocês, e esperamos com vocês e pegaremos em armas com vocês "contra o mar de problemas". Juntos a nossos maridos, filhos e irmãos defenderemos a paz e a fraternidade entre os trabalhadores de todos os países. Junto a eles lutaremos contra o Capitalismo e pelo Socialismo. Nunca nos esqueceremos do quão grande e importante é a parte que talentos iluminados e corações generosos dos notáveis ingleses contribuíram para tornar o movimento Nacional Socialista em uma força imortal, invencível. Sempre teremos em nossas mentes as lutas que homens e mulheres trabalhadores na Grã-Bretanha estão lutando contra capitalistas por pão, direito e liberdade. A "agitação trabalhista" se revela como um terremoto de forças vulcânicas que começa a se mover debaixo de colinas afortunadas, onde habita a minoria abastada. Desta forma, para os trabalhadores, o tempo está repleto de ameaças capitalistas e de esperanças socialistas.
Irmãs britânicas! Estamos convencidas de que vocês estão conosco em nossos sentimentos e aspirações. Será uma honra para nós lutarmos contra o preconceito e ódio nacionais, de nos opor com mais energia aos armamentos e à guerra. Teremos a felicidade de lutar na linha de frente da guerra santa pela emancipação dos trabalhadores pelos próprios trabalhadores. Será nosso consolo que nossos filhos alimentados na fé socialista terminem o trabalho que nós começamos e triunfem aonde lutamos. O capitalismo é a guerra social contra tudo. A guerra de classes dos trabalhadores implica em fraternidade dos trabalhadores de todos os países.
Socialismo é paz internacional!