MIA > Biblioteca > Thorez > Imprensa Proletária > Revista Problemas nº 7 > Novidades
Depois da última sessão do nosso Comité Central, produziram-se dois acontecimentos cujas repercussões sobre a vida da Nação e sobre a evolução da situação internacional ainda não acabaram de se manifestar. Trata-se das eleições municipais e da Conferência dos Nove Partidos que se realizou na Polônia, em fins de setembro.
Os resultados das eleições municipais permitem duas constatações essenciais:
Uma 3ª constatação, decorrente das duas primeiras, é o novo enfraquecimento do Partido Socialista e o desmoronamento do M.R.P. abandonado pelos três-quartos dos seus eleitores em proveito do RPF(1)
Nosso Partido tem toda razão de sentir-se orgulhoso, e pode olhar o futuro com confiança, quando a terça parte dos franceses e das francesas lhe confirmam sua dedicação inquebrantável, a despeito duma violenta campanha anti-comunista, cujo compasso foi marcado por De Gaulle, e que serviu de programa a todos os outros partidos, desde os socialistas até os piores reacionários; apesar também de uma lei eleitoral arbitrária dirigida contra nós e que permitiu esses conúbios monstruosos entre socialistas e gaulistas para os postos das municipalidades.
Depois de tentar, como sempre, dar um quadro deformado das eleições, naturalmente em favor da reação, a estatística oficial teve que confessar definitivamente que éramos sempre o primeiro Partido.
Nas cidades de mais de 9.000 habitantes, a distribuição dos vereadores é a seguinte:
Comunistas | 3 .993 | 30,64% |
Socialistas | 2.107 | 21,12% |
Radicais | 531 | |
M. R. P. | 1.682 | 12,91% |
P. R. L. | 257 | |
R. P. F. | 3.762 | 28,86% |
Nas cidades em questão, a proporção de nossos votos alcançou 30%. Ela não foi inferior nos municípios de importância média, onde marcamos mesmo progressos, de maneira bastante geral.
Nossa progressão é constante desde a libertação: 26% em outubro de 1945; 26,2% em junho de 1946; 28,6% em outubro de 1946, 29,2% em novembro de 1946.
A estatística oficial nos colocara também à frente quanto ao número de vereadores eleitos desde o primeiro turno nos municípios de mais de 4.000 habitantes, com 5.172 vereadores, ou sejam 22%. E o segundo turno, cujos resultados completos não conhecemos ainda com precisão, aumentou o número de nossos vereadores, melhorou nossa porcentagem.
O general De Gaulle se tinha vangloriado de dar um golpe sensível em nosso Partido, considerado com razão pelo aprendiz de ditador como o obstáculo principal à instauração do poder pessoal. Os resultados das eleições mostram que os esforços de todos os nossos adversários não puderam alterar as posições sólidas do nosso Partido Comunista, que mergulhou suas raízes profundas no próprio coração da Nação. Houve recuos locais, procuraremos as suas causas. Mas ganhamos em muitos pontos e no conjunto fizemos mais do que guardar nossas posições.
Uma vez mais, a classe operária e uma importante massa de camponeses e de gente pobre manifestaram sua confiança no Partido que foi e que continua a ser o defensor atento dos seus interesses cotidianos, de seus direitos, de sua liberdade; o Partido que esteve, antes e durante a guerra, à frente do combate anti-fascista; o Partido que organizou e dirigiu a resistência efetiva, a luta armada contra os invasores e contra os traidores de Vichy; o Partido do renascimento francês do trabalho e da união. A classe operária, o povo, reconheceram em nosso Partido Comunista o baluarte seguro da República, o campeão resoluto da independência e da soberania nacionais.
No entanto, o gen. De Gaulle pôde tirar partido da política catastrófica do governo Ramadier, uma política que desperta o descontentamento geral, desanima os trabalhadores e atira à confusão os republicanos. O general De Gaulle explorou, para as necessidades da sua causa aventureira, as dificuldades de toda ordem que ele mesmo, durante um longo reinado, tinha demonstrado ser incapaz de resolver, quando não as agravou ainda mais. Ele conseguiu assim reunir consigo todas as forças da reação social e política. Os ricos privilegiados, que temem por seus lucros, e que, até à batalha de Stalingrado, até à virada decisiva na guerra contra a Alemanha continuaram por trás de Pétain e de Hitler, contam há muito tempo com De Gaulle e com seus apoios americanos.
Encontram-se no RPF os homens de Munich e de Vichy, colaboradores notórios, traficantes confessos, homens dispostos a tudo, como esse bandido que feriu gravemente ao nosso jovem amigo Vergnolle. É a coalizão de todos os egoísmos e de todos os apetites, sob a máscara, naturalmente, de virtude e de dedicação ao bem público. É o fascismo.
Um grande jornal inglês, o "Observer", disse, com muita justeza:
"Há na atitude do general De Gaulle muitos sintomas dos regimes que se convencionou chamar de fascistas: é a concentração de todo o movimento em torno de um só homem, com uma exaltação mística de sua pessoa e as injunções imperiosas de confiar-lhe o poder; é a impaciência manifesta ante a técnica parlamentar; é o nacionalismo chauvinista e o anti-comunlsmo militante; a promessa da unidade nacional e da estabilidade política através da carta-branca dada ao salvador do país".
O fato de que, em Paris e nas grandes cidades, o RPF, o Partido dos banqueiros e dos Vichystas, tenha conseguido arrastar consigo importantes frações da pequena-burguesia descontente e instável, sublinha a gravidade do perigo que ameaça a República e a classe operária. Seria um erro subestimar essa perigo.
O Partido Socialista sai ainda diminuído desta última batalha eleitoral. Os dirigentes socialistas, valendo-se de alguns "sucessos" contra nós, esforçam-se por criar a ilusão de que seu partido teria ganho. Está aí uma indicação do estado de espírito reacionário dos dirigentes socialistas, que não vêem outros inimigos para combater mais que ao Partido Comunista. Na realidade, os "ganhos" socialistas são ganhos da reação que, na maioria das municipalidades, ocupadas anteriormente pelos nossos, no Pas-de-Calais e noutros distritos sustentou as listas socialistas ou as listas que iam dos socialistas aos facciosos do RPF. Do mesmo modo que as novas municipalidades "socialistas" dos subúrbios de Paris, onde o Partido Socialista recebe em média 10% dos votos contra os 45% do nosso Partido, foram eleitos, sem exceção, pelos gaulistas.
Mas os dirigentes socialistas não dão um pio sobre a queda nas mãos do RPF de suas maiores municipalidades: Lille, que há meio-século vinha sendo administrada por socialistas; Mulhouse, Bordéus, Nice, Chortres; Nancy, onde a lista do prefeito socialista que saiu não conseguiu nem os 5% exigidos pela lei Depreux. Em Lyon, as listas socialistas não deram um único vereador. Está aí a verdade que se tenta fazer esquecer aos trabalhadores socialistas através duma propaganda desavergonhada sobra as poucas municipalidades "retomadas" aos comunistas, com o apoio da reação.
O MRP foi a vítima principal do general De Gaulle. Muitas vezes, tínhamos feito ressaltar que o MRP não passará dum biombo atrás do qual "se reagruparam as forças sociais que tinham sido a base do Vichysmo e do Petainismo". É o que explicava "o apoio dado ao MRP pela Igreja Católica, principal força da reação no plano ideológico e político" (informe ao C.C. de Saint-Denis, em junho de 1946).
Parece que, desta vez, o apoio da hierarquia católica faltou ao MRP. Os cardeais e os bispos, ontem ardorosamente petainistas, mandaram votar no general De Gaulle, seu novo homem providencial. O que corresponde perfeitamente à orientação do Vaticano, cujas relações com o governo americano são conhecidas. O papa tinha dito, a 8 de setembro: "O tempo da reflexão já passou. É preciso passar à ação". E a 9 de outubro, recebendo os membros da Comissão parlamentar americana dos assuntos militares, o Papa declarava: "A força deve ser empregada para a defesa da lei e da ordem". Da lei e da ordem capitalista, bem entendido.
Conta-se que o fundador da Igreja católica teria dito um dia: "Quem com ferro fere, com ferro será ferido". O Papa prefere conceder sua benção aos massacradores de democratas e de patriotas, na Grécia, na Espanha e em outros lugares. Ele prefere justificar adiantadamente os meigos apóstolos da bomba atômica.
Em resumo, os resultados das eleições municipais são o reflexo das contradições nas quais o país se debate. Eles traduzem o aprofundamento e a agudeza da luta de classes na França e no mundo. Pois a nova disposição das forças de classe na França não está desligada da evolução da situação internacional.
O mérito inestimável da Conferência dos Nove Partidos Comunistas consiste em ter esclarecido os trabalhadores, os democratas os amigos da Paz, através do mundo, quanto às modificações essenciais que tiveram lugar na situação internacional tal como ela resultou da segunda guerra mundial. E de ter tirado, no final dos seus trabalhos, as conclusões que se impunham para a orientação política e a atividade prática dos Partidos Comunistas, na qualidade de guias e organizadores da classe operária e das amplas massas populares de seus países respectivos.
Cada militante, cada trabalhador, deve estudar e meditar o informe substancial e duma rara profundidade, do camarada Zhdanov. E todos se felicitarão pelo fato de que o glorioso Partido Bolchevique, o Partido de Lenin e de Stálin, tenha trazido, uma vez mais, uma contribuição decisiva ao exame e à solução dos problemas que se apresentam diante dos trabalhadores de todos os países.
A 2ª Guerra Mundial, recorda o camarada Zhdanov, terminou com a derrota militar da Alemanha e do Japão que eram os dois países mais agressivos do capitalismo, apesar do estímulo e do apoio aberto que os fascistas hitlerianos e japoneses recebiam desde muito tempo dos elementos reacionários e imperialistas do mundo inteiro, apesar da política de traição praticada pelos homens da não-intervenção e da capitulação de Munich.
A União Soviética desempenhou um papel decisivo na batalha e na vitória dos povos livres sobre os agressores fascistas.
Disso resultou uma potência, uma autoridade, um prestígio muito maiores da União Soviética e um reforçamento considerável da democracia e do movimento operário em todos os países. Contra todas as previsões dos muniquistas e dos reacionários de todo tipo, a vitória sabre a Alemanha hitlerista provou a superioridade do regime socialista sobre o regime do capitalismo decadente; provou a solidez do Estado soviético multinacional, provada a potência e a invencibilidade das forças armadas da União Soviética; provou que o homem novo, o homem que se forja no país do socialismo, o homem soviético, é superior, sob todos os pontos de vista, ao escravo dos paises fascistas, ao mercenário das potências imperialistas.
A derrota da Alemanha e do Japão desferiu um novo golpe no sistema capitalista. Em conseqüência da primeira guerra mundial, abriu-se uma brecha decisiva no flanco do capitalismo: os operários e os camponeses do antigo império dos tzares apoderaram-se do poder, e empreenderam a edificação de uma sociedade socialista. A brecha se ampliou em conseqüência da 2ª Guerra Mundial. Numerosos países da Europa oriental e balcânica se afastaram por sua vez do sistema imperialista.
No curso de sua luta libertadora, os povos desses países desmascararam os traidores à sua Pátria, os grandes capitalistas absolutamente despidos do sentimento nacional, os políticos corrompidos, os altos funcionários, os generais a soldo de Hitler. Os povos puseram abaixo o poder dos latifundiários e dos grandes capitalistas que haviam colaborado com os invasores alemães. Instauraram regimes democráticos dum tipo novo que põem termo ao domínio econômico e político da reação e ao controle dos imperialistas estrangeiros. A confiscação dos bens dos traidores, a união das massas laboriosas sob a direção da classe operária, asseguram o desenvolvimento das democracias populares no sentido do progresso social e criam as condições para uma verdadeira independência nacional. Não é ainda o socialismo; mas já não é mais a dominação capitalista. É uma base de partida para a marcha do socialismo por novos caminhos.
Em face desse progresso da democracia e do socialismo, o mundo, capitalista ficou muito delimitado. Das seis grandes potências capitalistas de antes da guerra, três foram aniquiladas (a Alemanha, a Itália, e o Japão); uma quarta, o nosso país, só desempenha um papel secundário em conseqüência da traição dos homens de Munich e também porque o general De Gaulle, por ódio ao povo, impediu a formação dum poderoso exército democrático que poderia tomar uma parte mais ativa na batalha e na vitória (terminamos a guerra com apenas cinco divisões em linha, muito menos que a Polônia ou que a Iugoslávia ou mesmo que a Bulgária). Só duas grandes potências imperialistas subsistem — a Inglaterra e os Estados Unidos. Mas o primeiro desses países está fortemente abalado. Impotente contra a agressão alemã na Europa, a Inglaterra foi também incapaz de defender o seu próprio império colonial.
A guerra acelerou o processo de decomposição do império britânico. Os povos que estavam submetidos à exploração colonialista da Inglaterra estão lutando por sua independência nacional. Nesses países, tanto como no Vietnam e na Indonésia, o desenvolvimento poderoso do movimento da libertação nacional constitui um dos aspectos principais da crise geral do capitalismo. As aspirações dos povos que acreditaram na Carta do Atlântico, à promessa de liberdade e de independência nacional, os colonialistas respondem com as guerras injustas, guerras mortíferas, longas e custosas.
Uma só das grandes potências capitalistas saiu da guerra profundamente reforçada: os Estados Unidos. Falamos nisso, longamente, em nosso 11.° Congresso, fazendo ressaltar os perigos que o expansionismo americano fazia correr à paz do mundo e à independência dos povos.
A guerra tinha explodido em conseqüência do desenvolvimento desigual dos diferentes países capitalistas e da ruptura do equilíbrio entre eles. Ele resultou num novo aprofundamento da crise geral capitalista e numa desigualdade de desenvolvimento ainda maior entre os países capitalistas.
Mostramos, em Strasburgo, que os capitalistas americanos tinham realizado durante a guerra lucros: fabulosas, e tinham desenvolvido consideravelmente o seu aparelho de produção. Ora, a inflação, a alta dos preços, reduzem constantemente o poder de compra dos assalariados; o mercado interno se reduz e os capitalistas americanos se sentem na necessidade de escoar sobre os mercados externos cada vez maior quantidade de seus produtos.
A perspectiva de uma crise econômica cujos primeiros sinais estão aparecendo nos Estados Unidos impõe o problema dos mercados de maneira cada vez mais aguda. Os capitalistas americanos querem conquistar mercados novos para as suas mercadorias; eles estão procurando onde investir seus capitais. Eles se aproveitam das dificuldades econômicas dos demais países para impor-lhes condições que colocam esses países sob o seu controle.
O isolacionismo pertence ao passado. Os imperialistas ianques utilizam a fundo a sua potência econômica e militar para conservar e ampliar as posições que conquistaram durante a guerra em prejuízo não só do Japão, da Alemanha e da Itália, mas também da Inglaterra e da França. Os Estados Unidos querem instaurar sua hegemonia sobre o mundo.
No entanto, a realização desses planos imperialistas de domínio mundial choca-se contra um obstáculo sério: a União Soviética e os países de nova democracia, bem como os trabalhadores de todos os países, inclusive os operários americanos, que não querem uma nova guerra, em proveito dos seus exploradores. Eis porque a reação americana desencadeia uma nova cruzada contra a União Soviética e os países de nova democracia. Eis porque ela faz uma guerra encarniçada contra o movimento operário nos Estados Unidos e no mundo inteiro, e contra as forças antiimperialistas e de libertação nacional em todos os países.
Como Hitler o fazia antes, os pretendentes americanos ao domínio mundial mascararam sua política de expansão e de guerra sob a fachada do anti-comunismo. Por sua vez, eles se apresentam como os salvadores da "ordem" e da "civilização" capitalistas. Eles espalham e fazem espalhar por seus agentes pagos as piores calúnias contra a União Soviética. Eles a acusam de intenções agressivas para dissimular melhor os seus próprios atos evidentes de agressão na Grécia, na China e em outros lugares. Eles dão um apoio sem reserva aos ditadores fascistas, como Franco. Alimentam os destroços dos regimes de traição e de abjeção derrubados pelos povos, os bandos de Anders e de outros aventureiros. Encorajam por toda parte as forças reacionárias e impõem-se como missão desagregar e destruir o movimento operário. Intervêm na vida dos povos e impõem os governos de seu gosto, como se está vendo na França e na Itália.
Foi assim que tiveram lugar mudanças profundas na situação internacional.
"Essas mudanças — pode-se ler na Declaração dos Nove Partidos — estão caracterizadas por uma nova disposição das torças políticas fundamentais que atuam na arena internacional, pela modificação das relações entre os Estados vencedores na Segunda Guerra Mundial, por um novo reagrupamento desses Estados."
Dois campos se formam: de um lado, o campo imperialista e anti-democrático; do outro lado, o campo antiimperialista e democrático. Os Estados Unidos são a força principal, a força dirigente do campo imperialista que compreende ainda a Inglaterra, a França e outros Estados colonialistas, como a Holanda e a Bélgica, países de regime reacionário e anti-democrático, como a Turquia, a Grécia, a Espanha, e enfim os países inteiramente dependentes dos Estados Unidos, como a China de Chiang-Kai-Shek e os Estados da América Latina.
O campo imperialista luta furiosamente contra o socialismo, contra a democracia, contra o movimento operário. Ele prepara uma nova guerra imperialista. Para alcançar seus objetivos, os países do campo imperialista estão prontos a sustentar os inimigos de ontem contra os antigos aliados. Está aí a explicação da política alemã dos Estados Unidos, da Inglaterra e infelizmente, da França.
A União Soviética e os países da nova democracia constituem a base do campo antiimperialista e democrático. A esse campo pertencem o Vietnam e a Indonésia, e países como a índia, o Egito e Síria. O campo antiimperialista apóia-se, em todos os países, no movimento operário e democrático, guiado pelos Partidos Comunistas, no movimento nacional-libertador dos povos coloniais, em todas as torças democráticas e progressistas através do mundo.
O campo antiimperialista luta contra a ameaça de novas guerras, contra os planos de expansão e de opressão imperialista, pela ampliação e a consolidação da democracia, peia liquidação do fascismo.
Existiam diferenças serias entre os aliados quanto à determinação dos seus objetivos de guerra e as tarefas relativas à organização do mundo depois da vitória.
"Para a União Soviética e para os outros povos democráticos — recorda a Declaração dos Nove Partidos — os objetivos fundamentais da guerra comportavam o restabelecimento e o fortalecimento dos regimes democráticos na Europa, a liquidação do fascismo, as medidas próprias a evitar a possibilidade duma nova guerra de agressão da parte da Alemanha, o estabelecimento da cooperação, em todos os domínios e por um longo período, entra os povos da Europa."
Pelo contrário, os Estados Unidos e a Inglaterra não pensaram absolutamente em aniquilar o fascismo e em fazer triunfar os princípios democráticos. Esses dois países combateram
"pelo afastamento de seus concorrentes alemão e japonês pela instauração da sua própria hegemonia."
Essas diferenças entre os Aliados, quanto a seus respectivos fins de guerra, prejudicaram o desenvolvimento das operações militares e prolongaram a guerra. Disso resultaram grandes sofrimentos para os povos da Europa. Os imperialistas anglo-saxões queriam evitar uma derrota completa para os fascistas alemães. Eles esperavam que a União Soviética, suportando sozinha ou quase sozinha, todo o peso da máquina de guerra hitleriana, saísse aniquilada dessa prova. O filho do saudoso presidente Roosevelt contou no seu livro "Como meu pai os via", como Churchill sabotava a segunda-frente, recuando cada vez a data marcada e tentando reduzi-la a operação de segunda ordem na bacia do Mediterrâneo. Churchill queria desembarcar nos Bálcãs. Compreendem-se melhor as razões quando se vê o incêndio ateado na Grécia pelos imperialistas ingleses e americanos. Agora, está evidente que a segunda frente não foi criada para ajudar os exércitos soviéticos a esmagarem as hordas de Hitler, mas sim para ocupar na Europa ocidental posições que os imperialistas anglo-saxões consideram essenciais para a realização dos seus planos de hegemonia.
Desde o fim da guerra que a União Soviética e os países do campo antiimperialista lutam sem descanso pela organização de uma paz justa e duradoura, uma paz democrática que liquide os restos do fascismo, elimine qualquer possibilidade de novas agressões fascistas, consagre a igualdade de direitos das diferentes nações, tanto das pequenas como das grandes, e assegure o respeito à sua inteira soberania nacional. A União Soviética, de acordo com os princípios formulados na Carta do Atlântico, propôs a redução geral dos armamentos cujo peso esmagador recai sobre os povos. Ela propôs a proibição da arma atômica.
Os Estados Unidos, e atrás deles os governos de Londres e de Paris, renunciaram a todos os princípios formulados em comum durante a guerra. Eles seguem uma política que tem por fim romper a paz, uma política de apoio aos regimes fascistas e de hostilidade para com os países da nova democracia.
Assistiu-se, nos últimos tempos, ao apoio dado pelo delegado francês na ONU às propostas americanas que visam despudoradamente acusar a Iugoslávia, a Bulgária e a Albânia, por pretensos atos de agressão contra a Grécia, onde as forças armadas inglesas e americanas operam há três anos já.
Os Estados Unidos, apoiados pela Inglaterra e pela França, pretendem conservar o segredo da bomba atômica, que estão fabricando a um ritmo acelerado. Este ano devem gastar dezenove bilhões de dólares com seus armamentos.
À política de expansão e de agressão dos imperialistas opõe-se a política tradicional de paz da União Soviética. O camarada Zhdanov recorda em seu informe que
"A política externa da União Soviética baseia-se na coexistência, por um longo período, dos dois sistemas: o capitalismo e o socialismo Daí decorre a possibilidade de cooperação entre a URSS e os países capitalistas com a condição de respeito ao princípio de reciprocidade, e de execução dos compromissos assumidos."
Por seu lado, a União Soviética foi sempre fiel aos seus compromissos. Já não é o caso dos Estados Unidos e da Inglaterra, e também do governo francês, que "esquecem" os seus compromissos, exatamente como no tempo de Munich e que se orientam cada vez mais para uma política de hostilidade para com a União Soviética, e para com os países da nova democracia, uma política que rasga os direitos e os interesses dos outros povos, e ainda mais uma política que sacrifica os interesses vitais do nosso país.
É o caso, muito particularmente, da questão alemã. A França, como a União Soviética, como os outros aliados nossos do Leste, está interessada numa solução que garanta a sua segurança e as reparações. O camarada Stálin disse:
"Política da União Soviética no problema alemão se resume na desmilitarização e na democratização da Alemanha. . . Esta é uma das condições mais importantes para estabelecer uma paz sólida e duradoura."
A União Soviética, por ocasião das Conferências de Yalta e de Potsdam, fixou as reparações que lhe eram devidas em 10 bilhões de dólares, que seriam pagos com a produção corrente. Os Estados Unidos e a Inglaterra apossaram-se de valores mais consideráveis (investimento alemão nesses dois países, navios, ouro e patentes alemães, equipamentos e maquinaria) na Alemanha ocupada. Mas depois de se terem servido, os Estados Unidos e a Inglaterra liquidam com o plano de reparações. Eles fazem fracassar a desmilitarização e a democratização da Alemanha.
O curso cada vez mais agressivo da política americana encontrou sua expressão no que se chamou a "Doutrina Truman". O presidente dos Estados Unidos glorificou a "liberdade de iniciativa", a liberdade para os trustes americanos de explorarem o mundo inteiro. A missão dos Estados Unidos consistiria em proteger em todo o mundo, e se necessário por meio da guerra, a "liberdade" que os lobos reivindicam para poderem devorar os cordeiros.
Na realidade, a "Doutrina Truman" consiste em estabelecer bases americanas na bacia oriental do Mediterrâneo, em sustentar os regimes reacionários da Grécia e da Turquia, e em exercer uma pressão contínua sobre os países de democracia nova, em apoiar dentro desses países a todos os elementos reacionários, em frear, de todas as maneiras, o desenvolvimento econômico, a industrialização das democracias populares.
Como a "Doutrina Truman" tivesse sido acolhida com certa frieza, veio substituí-la o "Plano Marshall" que é a mesma "Doutrina Truman" em forma menos agressiva, ou melhor, mais camuflada.
O "Plano Marshall", seja qual for a maneira por que se estude a sua aplicação, tende a constituir sob a direção dos Estados Unidos um bloco de todos os Estados, aos quais se oferecem créditos com a condição de que renunciem à sua independência econômica, e em seguida à sua independência política.
O "Plano Marshall" é um atentado à soberania nacional dos países devedores.
O "Plano Marshall" liquida com as reparações e concede à Alemanha um direito de prioridade sobre os países vítimas da agressão hitlerista. O Sr. Dean Acheson, então sub-secretário de Estado americano, declarou que
"O restabelecimento da produção alemã era considerado pelo seu governo como a pedra angular do reerguimento da Europa no quadro da proposta Marshall."
Mais claramente: trata-se de reconstruir a grande indústria alemã do Ruhr, deixando-a nas mãos dos magnatas alemães, sob o controle dos monopólios americanos.
Como depois da outra guerra, não se trata de ajudar aos países aliados empobrecidos pela guerra, mas de voar em socorro dos capitalistas alemães. Os imperialistas americanos querem assegurar seu domínio sobre o carvão do Ruhr e sobre a fonte que se produzirá em nosso minério de Lorena. Eles pensam utilizar isso como meio de pressão econômica e política sobre os países europeus, e em primeiro lugar sobre a França.
O “Plano Marshall” visava também por de novo os países da nova democracia sob o controle dos imperialistas, obrigando esse países a interromper sua cooperação econômica e política com a União Soviética.
De um modo geral, o “Plano Marshall” é uma máquina de guerra dirigida contra os povos e mal dissimulada sob frases rituais contra o comunismo. Um jornal americano, "O Jornal do Comércio", declara sem rebuços que
"O Plano Marshall não tem somente por fim a ajuda à Europa. . . Ele é uma barreira contra o comunismo."
" O "Monde" usa da mesma franqueza:
"Dir-se-á que a ajuda americana se tomaria uma máquina de guerra anticomunista. Não há dúvida nenhuma que está
aí um de seus aspectos. Ninguém o ignora e não há razão nenhuma para ocultá-lo."
(O "Monde", 11 de outubro de 1947).
O socialista Spaak, primeiro Ministro da Bélgica, proclama igualmente que se trata de fazer uma frente contra o comunismo, quer dizer: contra as massas trabalhadoras.
Tendo levado em consideração as modificações que tiveram lugar na situação internacional, tendo estudado os graves problemas que chamam a atenção dos povos amantes da liberdade e da paz, a Conferência dos Nove Partidos Comunistas constatou que a ausência de contactos entre esses Partidos comportara séries inconvenientes.
Em vista da atividade cada vez mais agressiva do campo imperialista parece que era necessário, indispensável, aos Partidos Comunistas interessados, estabelecer entre eles uma ligação, trocar suas experiências, e, na base do livre-consentimento de cada um, porem-se de acordo sobre um plano de ação comum contra as forças imperialistas e anti-democráticas.
A reação e os dirigentes socialistas denunciaram aos gritos a reconstituição da Internacional Comunista. É uma mentira. A Internacional Comunista foi dissolvida depois de ter cumprido a sua missão histórica: ajudar a formar grandes partidos operários dum tipo novo que desempenharam um papel fundamental, cada um em seu país, na batalha contra o hitlerismo e pela liberdade dos povos. A Internacional Comunista ajudou a formar dirigentes operários capazes e enérgicos; ligados às massas e fieis até à morte, à sua classe, ao seu país e ao seu Partido, como o provaram tão magnificamente Pierre Semard e todos os nossos, mártires gloriosos. Voltar, hoje a uma direção centralizada de todo o movimento operário internacional, cujos caminhos são tão diferentes de um país para outro, seria querer fazer rodar para trás a roda da História. Mas disso não se conclui que os Partidos Comunistas devem ignorar-se, isolar-se, deixar que suas forças se dispersem, sobretudo numa época como a que atravessamos.
Mas, além disso, alguns que pretendem imputar-nos como um crime a Conferência dos Nove Partidos, embaraçam-se acaso para participarem em assembléias internacionais? Os socialistas, os democratas-cristãos, os militantes sindicais, os cooperadores, os jovens, as mulheres, e outros ainda realizam essas assembléias. Por que os Comunistas deveriam ser os únicos a renunciar a elas? Na realidade, o barulho que se fez contra os Comunistas a propósito da Conferência dos Nove Partidos prova simplesmente que estamos no bom caminho, que nossas decisões estão de acordo com os interesses dos trabalhadores e dos democratas de todos os países, e que elas constituem uma primeira e séria resposta aos fazedores duma nova guerra imperialista.
Um antigo embaixador americano em Paris, o Sr. Bullit, escreveu recentemente que convinha intensificar o que ele chama a "batalha pela França". Assim, os milionários americanos querem escravizar nosso país querem pôr um termo à nossa independência econômica e política, à nossa soberania nacional. Querem fazer do nosso país uma semi-colônia do tipo de Portugal ou do Chile. E contra quem, essa batalha? Contra o povo da França, contra os democratas, contra os trabalhadores, à frente dos quais se acha o nosso Partido Comunista. Porque esses franceses democratas e comunistas entendem preservar a independência econômica e política do seu país; porque se levantam contra a incorporação da Franca no campo imperialista, e anti-democrático, dirigido pela América; porque denunciam o abandono feito pelo governo Ramadier—Bidault de política francesa de segurança e reparação.
O projeto americano sobre o reerguimento prioritário da indústria alemã é diretamente contrário aos interesses da França. O relatório Brower pretende privar-nos inteiramente do carvão do Ruhr. É o coroamento da política de abandono praticada por Léon Blum, depois por Bidault, na política das reparações e do carvão.
Nosso Partido foi o único, no governo e no país que protestou contra os acordos de Londres e de Moscou que "não deram nenhuma grama de combustível a mais", segundo a confissão do semanário reacionário "Carrefom".
Está claro agora que, recusando-nos o carvão alemão, ao qual podíamos pretender a título de reparações, os governos inglês e americano, procuravam apenas colocar-nos sob a sua dependência. Eles dificultaram nossa reconstrução. Eles não queriam nem querem uma França forte, uma França próspera em condições de resistir à sua pressão. Não querem uma Franca fortemente industrializada, capaz de produzir metais e aço, o quê é a base imaterial e a garantia de nessa independência econômica e política.
É para a Alemanha, e mais precisamente para os Krupp e para os Thyssen que os americanos reservam a potência industrial, o "papel predominante na Europa", como declara o Sr. Connally.
Sabe-se também que, recusando-nos o carvão alemão, os governos inglês e americano agravaram conscientemente a nossa situação financeira, aumentaram o déficit de nossa balança comercial, e reduziram a nada as divisas de que podíamos dispor. Os americanos mataram dois coelhos com uma só cajadada:
Um fato importante vem esclarecer a opinião pública sobre o plano de colonização da França que está sendo realizado com a cumplicidade dos nossos governantes. O país está com falta de pão. A União Soviética, apesar das campanhas abomináveis feitas contra ela, a despeito da orientação insultuosamente pró-americana da política francesa, a União Soviética deu a conhecer que tinha quinze milhões de quintais de cereais à disposição da França. Como conhece as nossas dificuldades a União Soviética não exige o pagamento em dólares. A União Soviética quer em troca do trigo, que o nosso país lhe forneça produtos industriais, bens de equipamento, maquinaria. Assim, a União Soviética nos oferece ao mesmo tempo alimento e trabalho.
Logo, a imprensa inspirada pelos ianques proclamou que a França nada pode exportar a União Soviética, que além disso o trigo soviético viria desfalcar o trigo que nos teriam prometido os Estados Unidos; não havia pois razão alguma para aceitar as propostas formuladas pelo governo soviético, em resposta aos pedidos que lhe tinham, sido feitos em Paris.
O governo francês, num comunicado fornecido à imprensa, parece querer dar razão ao Partido americano. Os produtos susceptíveis da serem trocados com o trigo soviético só poderiam ser entregues entre 1948 e 1950, a pela maior parte em 1950. Se assim fosse, não estaria aí uma ata de acusação contra os que renunciaram ao carvão do Ruhr e que se submeteram à vontade bem conhecida dos americanos de impedir que a França atinja uma produção suficiente de metais e de aço e de impedir que nossas indústrias mecânicas possam satisfazer ao mesmo tempo as necessidades de nosso país e às exigências do nosso comércio exterior?
Temos aqui uma prova segura de que, para atrelar-nos a seu carro imperialista, os americanos agiram de maneira a tornar difíceis as trocas necessárias entre a França e a União Soviética e os outros aliados de Leste.
Há os que se obstinam em impor como condição prévia a toda relação comercial mais estreita entre a França e os países da nova democracia o pagamento de uma indenização injustificável aos capitalistas franceses que tinham vendido aos alemães usinas hoje nacionalizadas na Polônia a na Iugoslávia. Dessa forma, Schneider e o Banco de União Parisiense, com seu diretor Pierre de Gaulle, seriam pagos duas vezes pelas empresas mineiras e metalúrgicas que possuíam antigamente na Polônia.
Os americanos querem: ou bem liquidar com algumas das nossas atividades industriais, ou então conquistar para si o controle e os lucros desses atividades. É assim que Ford se instalou em Poissy, e que, com a General Motors, ele gostaria da pôr a mão sobre toda a nossa, produção de automóveis. O truste americano Thomson-Honston-Alsthon é o dono de nossa produção de material eletromecânico e telefônico em ligação com a "International Telephone and Telegraph", outro truste americano. O mesmo se passa nos territórios de além-mar onde os americanos dominam em diferentes sociedades, na Guiné e como no Togo, na Guiana como em Madagascar. A aviação francesa está sacrificada. Contrariamente às afirmações caluniosas e interessadas da reação, todas as sociedades nacionais de construção aeronáutica, salvo uma, tem um balanço lucrativo. É o governo que as põe em dificuldades, deixando de pagar os 9 bilhões que lhes deve.
Num folheto editado em Nova York, o Conselho Nacional de Comércio Exterior, poderosa associação de numerosos grupos industriais e financeiros americanos, lamenta-se com veemência da lentidão com que se faz a colonização americana na França. Ali se pede que se favoreçam as inversões dos capitais americanos nas empresas particulares, e se exija que sejam abolidas todas as medidas de proteção aduaneira ou outras que possam prejudicar às exportações americanas. Lembra-se mesmo, com arrogância, que a França ainda não cumpriu todos os compromissos assumidos por Léon Blum, em abril de 1946.
Os financistas americanos estendem naturalmente sua solicitude aos territórios franceses de além-mar. Exigem que possam ter acesso a essas fontes de matérias primas; querem abrir às suas exportações os mercados da África do Norte e da Indochina. O folheto em questão mostra um interesse particular pelo fosfato de Marrocos e da Tunísia e pelas outras riquezas minerais de Marrocos e de toda a África do Norte.
Conhecem-se também as cobiças que Madagascar e seu urânio despertam.
No X Congresso do nosso Partido tínhamos esboçado um plano de valorização de todos os nossos recursos energéticos, carvão e eletricidade. O plano Monnet previa as inversões necessárias para renovar e modernizar o equipamento e a maquinaria das minas de carvão nacionais, para continuar a construção de grandes barragens. Os americanos, que se oferecem para inverter em pouco tempo uma primeira soma de trinta bilhões de francos nas minas de carvão do Ruhr, acabaram com o plano Monnet. As minas de carvão, a sociedade nacional do gás e da eletricidade esperarão pelo capricho dos americanos para prosseguirem seus trabalhos. O mesmo se passa com a construção civil, enquanto tantos sinistrados vivem ainda à espera de alojamentos. As oficinas se fecham, o desemprego aumenta. Só em julho último, 27 empresas médias de construção foram à falência. E enquanto isso, as ruínas se estendem pela França inteira,, de Dunquerque à Marselha, de Brest a Strasburgo.
O Cinema francês está numa situação desesperada. É a morte para breve. Este grito foi lançado pelo acadêmico Marcel Pagnol. Tal é o triste resultado dos acordos Blum—Byrnes. "L'Humanité" publicou os dados que indicam a ruína da segunda das nossas indústrias nacionais e o triunfo de seus concorrentes americanos. Tinham obtido os vistos da censura no primeiro semestre de 1946: 38 filmes americanos e 35 filmes franceses; e no 1.° semestre de 1947: 338 filmes americanos e 55 filmes
franceses.
Mas a questão não está somente no lucro fabuloso realizado pelos americanos e na ruína, no desemprego e na miséria que se abatem sobre os artistas, os músicos e os trabalhadores dos estúdios franceses. Há também aí a preparação ideológica a que os americanos submetem os povos que pretendem escravizar. É um esforço de desagregação da Nação francesa, de desmoralização e de perversão de nossa juventude, com esses filmes embrutecedores em que o erotismo, faz concorrência à "bondienserie", em que o "gangster" é rei. Esses filmes que não visam preparar uma geração de franceses conscientes de seus deveres para com a França, para com a República, mas um rebanho de escravos esmagados pelo "Calcanhar de ferro".
Aliás, como produzir bons filmes quando, nos Estados Unidos, os maiores artistas são perseguidos sob pretextos de simpatia para com o ideal comunista? .
O Expansionismo americano em matéria econômica tem como complemento inevitável a criação de bases estratégicas e militares nos países submetidos ao imperialismo do dólar. O "Fígaro" de 27 de setembro de 1947 admitia sem protestar que
"... pela situação na extremidade da Europa Ocidental e em frente da Inglaterra, por seus prolongamentos africanos, a França está incluída na zona de segurança americana."
Da mesma forma que a Turquia e a Grécia, da mesma forma que o Iran, que o "Monde" constata ser ". . .um baluarte avançado no flanco da União Soviética," nosso país transforma-se numa base de operações Contra a União Soviética, uma "cabeça de ponte", para falarmos como os militares, americanos. Querem dar-nos a honra de escolher a França como teatro duma futura guerra atômica e bacteriológica.
A intervenção americana em nossa política interna é flagrante. Os governantes americanos, os senadores e outros parlamentares, todos os negocístas e caixeiros-viajantes de carne enlatada ou de "chicletes" não se dão sequ&r ao trabalho de dissimulá-lo. Eles formulam suas ordens com arrogância.
O jornal "Libération" tinha dito desde 9 de julho de 1947:
"É preciso conhecer todas as conversações que entretiveram ultimamente as personalidades francesas e os representantes diplomáticos de tal ou tal potência para compreender até que ponto os acontecimentos exteriores pesam terrivelmente sobre a nossa vida interna.
É preciso saber como, há três meses, data em que foram tomados os primeiros contactos a respeito do plano de ajuda americana a nosso país, cada virada política na França foi imposta pelas considerações internacionais."
Os imperialistas americanos sustentam tudo o que é reacionário entre nós. Um jornal americano, o "New York Post" disse que:
"O general De Gaulle com a nossa febre anti-comunista, esperando que ela porá a seu serviço a nossa influência, assim como ela a pôs a serviço dos reacionários chineses e gregos. Chegamos a um ponto em que os únicos que acolhem com alegria a nossa intervenção são justamente os que se acham mais afastados dos interesses do seu povo."
Os americanos sustentam com os seus dólares os esforços da reação clerical contra a escola leiga. O embaixador dos Estados Unidos assista, no Calvados, a inauguração das chamadas escolas livres.
Os Americanos gastam milhões e milhões para tentar dar um golpe na CGT. Mantém em Paris um escritório encarregado especialmente de organizar a luta contra a CGT. O embaixador Bullitt escreveu: "Nenhuma tarefa tem mais importância para o futuro da França." Os americanos utilizam para esse trabalho certos dirigentes socialistas que tentaram dividir os sindicatos da Confederação entre os empregados dos Correios e nos transportes parisienses e em algumas outras corporações.
As vãs tentativas de elementos pretensamente autônomos para dividir os trabalhadores e jogá-los contra a CGT através de movimentos parciais, como foi o caso com a greve dos Correios, o começo de greve nas oficinas Renault ou da greve dos condutores do Metro trazem a marca americana. Bullit recomenda o apoio à CFTC e o governo não deixa de faze-lo. Pode a imprensa chantagista fazer uma ofensiva furiosa contra a CGT e a sua direção. De Gaulle, que recusou, no seu tempo, receber a Comissão diretora da CGT manda dizer que seu projeto de revisão da Constituição comporta um capítulo que limita as liberdades sindicais e o direito de greve.
Todo mundo sabe agora que os comunistas foram afastados do governo por ordem dos americanos. É uma das condições de "ajuda" a França. Nas vésperas das eleições, os jornais publicaram as declarações do senador Bridges, presidente da comissão de inquérito na Europa:
"Disse aos ministros franceses — é o Sr. Bridges quem fala — que esperávamos firmemente que o próximo governo francês não ficaria sob o controle dos comunistas. Recebemos a segurança de que, graças a uma colaboração razoável, poder-se-ia seguramente impedir os comunistas de ter o papel principal."
De fato não faltou a colaboração entre os partidos que estavam no governo e o RPF nessa campanha eleitoral realizada sob o signo do anti-comunismo e também na designação das municipalidades através da vergonhosa coalizão socialista-reacionária.
E para cumprir a promessa feita ao Sr. Bridges, Ramadier "concentrou o seu governo de falência e de traição nacional." "O essencial, — teria dito o embaixador dos EE. UU. ao Sr. Bidault — o essencial é manter os comunistas fora do governo."
Os americanos proclamaram dessa forma que somos os melhores defensores dos interesses do nosso país. Nossa presença no governo teria a significação de uma completa independência da política francesa. Nosso afastamento, ao contrário, põe em evidência a dependência da França e dos seus atuais governantes em relação aos EE. UU.
É para esconder essa triste realidade imposta à França de 1789 e 1944, é para envolver de uma cortina espessa as operações às quais se entregaram os imperialistas americanos e seus agentes na França que uma abominável campanha de calúnias é dirigida contra a União Soviética e contra o nosso Partido Comunista. São os americanos que se instalam como senhores entre nós, que fazem e desfazem os governos, que metem as mãos em nossas riquezas nacionais e nos condenam a vegetar miseravelmente, que querem transformar nosso país em campo de batalha e envolver os franceses na nova cruzada anti-soviética. E é à União Soviética que por uma audaciosa mudança de papeis os americanos e os seus agentes acusam falsamente de pretensões imperialistas. Agitando o espantalho bolchevique, alguns políticos queriam fazer esquecer que eles sacrificavam os interesses da França, notadamente na questão alemã e que se colocaram servilmente às ordens da América.
Em outros tempos, o general De Gaulle falava da "nossa bela e boa aliança" com a União Soviética. Hoje, ele excita baixamente contra os nossos aliados soviéticos aqueles que não lhes perdoam haver esmagado o hitlerismo e por contra-golpe o Vichysmo e o petainismo.
O secretário do Partido Radical Socialista tem a audácia de declarar "o inimigo não é a Alemanha: é a Rússia". Que ignomínia! Acreditam, esses caluniadores do partido americano, que os franceses verdadeiros tenham tão pouca memória. Crêem que a palavra gratidão tenha sido riscada do vocabulário francês? Não. O povo da França não esquece os prodígios de heroísmo e os inúmeros sacrifícios que aceitaram pela causa comum os povos soviéticos e o seu glorioso Exército Vermelho. Os trabalhadores de Paris fizeram compreender isso muito bem, ontem à noite, aos provocadores fascistas.
Os caluniadores babam de raiva contra Dimitrov, o herói do processo de Leipzig, porque a justiça do povo búlgaro se abateu sobre um traidor. Mas os franceses não se esqueceram das mesmas campanhas, antes da guerra, quando do processo de Moscou. Já nessa época, os mesmos caluniadores tentaram enganar a opinião pública para levantá-la contra os julgamentos que condenavam aos trotskistas e outros espiões a soldo dos imperialistas alemães e japoneses. O povo da França considera que teria sido melhor fazer a mesma coisa entre nós contra os Laval e os Deat, em lugar de deixá-los consumar seu crime contra a Pátria. 0 povo da França considera que seria melhor seguir o exemplo dos democratas búlgaros e punir os traidores, os milicianos e todos os antigos colaboradores do inimigo, em vez de deixá-los escapar. Haveria assim menos conspiradores e "gangsteres", e também menos aderentes e eleitores para o RPF.
É evidente que os planos americanos que visam a escravização do nosso país não teriam nenhuma possibilidade de êxito sem o apoio que lhes concedem os dirigentes socialistas, e em primeiro lugar: Léon Blum e Ramadier. O imperialismo americano, o "plano Monnet", não têm melhor advogado na França do que Léon Blum. Ele não só atirou a França nesse caminho nefasto, através de suas negociações de Washington como de Londres, mas ainda se esforça por mascarar as exigências brutais da política americana com as aparências de desinteresse. Léon Blum foi o único que se atreveu a sustentar, na França, que os capitalistas americanos não tinham necessidade de exportar. Isto não impediu de facilitar os "navicets" americanos em nossos cinemas ou a importação caríssima de carvão americano para compensar o carvão do Ruhr, a que tinha renunciado. Em nosso 11.° Congresso, já tínhamos dito que a tentativa feita por Léon Blum
". . .para idealizar a política expansionista dos monopólios americanos só pode desarmar ideológica e politicamente a classe operária e o povo da França, em sua resistência à penetração da finança internacional que põem em perigo nossa independência nacional."
Léon Blum acha que a expressão soberania nacional é um vocabulário nacionalista. Ele vê nisso uma nação ultrapassada, anacrônica. Ele lhe opõe sua teoria de uma "super-soberania da comunidade internacional". Quer assim enganar os trabalhadores que têm fé no internacionalismo e reabrir com um verniz democrático e progressista a reunião à independência e à soberania nacional, em proveito exclusivo do imperialismo americano. Mas os operários não podem confundir o internacionalismo proletário com o cosmopolitismo dos trustes.
No mesmo sentido, uma publicação do pacífico-trotskista pretende que foi um erro grave proclamar-se na Carta do Atlântico que "seriam restaurados os direitos soberanos e o livre exercício do governo para os que deles tivessem sido privados pela torça." Essa publicação apóia, evidentemente, o "Plano Marshall".
Léon Blum e Guy Mollet são peritos em sofismas destinados a enganar a classe operária e os verdadeiros amigos da paz. Denunciar os objetivo s agressivos do campo imperialista, lutar contra a ameaça de guerra que ele faz pesar de novo sobre o mundo, seria — dizem os dirigentes socialistas — resignar-se a divisão do mundo em dois blocos, seria aceitar e fatalidade do conflito, seria admitir a guerra.
Já ouvimos frases como essas da boca de Léon Blum, quando ele tomara a iniciativa de pretensa "não-intervenção" que foi mortal para a República Espanhola. Ou quando Blum exprimiu seu "covarde alívio" em presença da traição de Munich que era o prelúdio da catástrofe nacional.
A obstinação dos dirigentes socialistas em falar de dois blocos visa apenas obscurecer, aos olhos das massas, a noção exata da realidade: isto é, que se formou um campo imperialista sob a direção e em proveito dos Estados Unidos e que Léon Blum, como De Gaulle, quer manter a França nesse campo imperialista. Quanto ao campo oposto, não é um bloco de Estados, é a união através do mundo de todas as forças progressistas democráticas e antiimperialistas, amantes da liberdade e da paz: a União Soviética e os países da nova democracia constituem a base poderosa desse campo antiimperialista.
Guy Mollet censura-nos por havermos escolhido entre os antigos aliados. Respondi:
l.° — Que foram os americanos que escolheram a Alemanha de preferência à França, em conseqüência da "doutrina Truman" e do "plano Marshall".
2.° — Que, quanto a nós, sem que tivéssemos que escolher, pelo simples fato de que defendemos posições francesas, ficáramos muito no campo em que se acha a União Soviética. É ou não é verdade que a história é testemunha de que o interesse da França está em ser a amiga e aliada da União Soviética?
Não. Nós não tivemos que escolher. Desde o primeiro dia de sua existência — e a União Soviética fará 30 anos dentro de alguns dias — fomos os amigos fieis e inflexíveis da União Soviética. Continuamos a sê-lo nas horas difíceis e os acontecimentos provaram que tínhamos razão. Continuaremos assim para todo o sempre, conscientes de estarmos servindo bem à causa inseparável da classe operária, da República e da França.
Não teremos a ingenuidade de admirar que Léon Blum, que já o fazia antes, retome o seu lugar no conceito anti-soviético. Numa certa época, quando Os exércitos soviéticos decidiam da sorte da democracia no mundo, os dirigentes socialistas tiveram que pôr num saco as suas habituais campanhas contra a União Soviética. Hoje, como O cão da Escritura, eles voltam a seus vômitos. Acreditam que já chegou o momento de retirar sua máscara de hipocrisia.
Somos obrigados a fazer as mesmas constatações no domínio da política interna. Sob pretexto de manter o equilíbrio entre os operários comunistas e os neofascistas do RPF, os dirigentes socialistas, com Léon Blum à frente, ousam pretender que "os comunistas seriam um perigo para as liberdades."
É uma calúnia pura e simples, que tem por fim dissimular as manobras criminosas dos facciosos que completam o "Plano Azul" e outros "cagoulards", desorientam as massas populares; divide a classe operária, custe o que custar, enquanto a ameaça reacionária cresce.
Os dirigentes socialistas pretendem erigir-se numa "terceira força", Mas, para barrar o caminho ao gaullismo, é ou não necessária a unidade de todos os trabalhadores, de todos os republicanos? É ou não necessário uni-los numa força única erguida contra a reação e contra a guerra imperialista?
A "terceira força" significa na realidade a cisão na classe operária, e a ajuda à reação. Não é significativo que o "esquerdista" Guy Mollet e o "super-esquerdista" Pivert, esse tipo perfeito de demagogo trotskista, tenham estado à frente das operações socialistas-reacionárias contra as municipalidades comunistas? Com um cinismo desconcertante, os dirigentes socialistas fizeram o jogo do degaullismo, aceitando serem eleitos pela reação ou tornando possível a eleição de reacionários. Em Choisi-le-Roi, onde os comunistas contam com 13 vereadores num total de 27, há um prefeito socialista que foi eleito por 10 RPF, 2 M.R.P. e os dois socialistas do Conselho Municipal. O mesmo aconteceu em numerosas localidades.
Os Dirigentes socialistas feriram duramente os sentimentos dos trabalhadores, dos republicanos, que não lhes perdoarão essa traição à classe operária e à democracia; e a adesão de Julien Benda a nosso Partido é a demonstração mais gritante do que dizemos. Depois disso, o trabalhista Lasky pode dirigir-nos seus conselhos e pedir-nos que demos nosso apoio aos dirigentes socialistas. O que faria melhor se admoestasse o seu amigo Léon Blum. Em que os comunistas. poderiam apoiar hoje os dirigentes socialistas que entregam aos facciosos as prefeituras das nossas cidades operárias? No trabalho de opor-se às reivindicações legítimas dos trabalhadores, em quebrar as greves?
Em resumo: em preparar o caminho para o fascismo?
Mas Lasky está habituado a pronunciar as frases de esquerda que escondem a política de direita- Como Guy Mollet, que encobre a sua própria resolução de Lyon, a qual criticava severamente a política de bancarrota de Ramadier, e que guarda todos os seus golpes para os comunistas. O Comité Central teve razão, na sua reunião de Auluvilliers, no mês passado, de dirigir sua crítica tanto contra os direitistas confessos como contra os "pseudo-esquerdistas" do Partido Socialista. O laço entre eles é visível. Estão unidos em sua adulação ao patrão americano, e em seu ódio à União Soviética. Estão unidos na sua política de divisão das forças operárias e democráticas, a qual faz abertamente o jogo da reação.
E ainda os dirigentes socialistas se atrevem a colocar-se na posição de vítimas! O reitor Léon Blum lembra o "ferro comunista" a que "sua inocência" recusaria aderir. Pensa ele, por acaso, que fará esquecer que na hora em que tantos militantes comunistas lutavam e caiam, na batalha contra Hitler, ele se ocupava em redigir certas páginas que são um ultraje à memória dos nossos mártires, uma calúnia contra o seu Partido? Ele forjava novas armas anti-comunistas para o arsenal da reação.
Está claro que não poderemos unir todos os trabalhadores, todos os republicanos, para a luta vitoriosa contra os imperialistas e seus agentes sem denunciar vigorosamente os dirigentes socialistas que se tornaram cúmplices e executores duma política de escravização do nosso país, duma política inteiramente dirigida contra as massas laboriosas, em benefício exclusivo da reação internacional.
A tarefa sagrada do nosso Partido Comunista Francês consiste precisamente em levantar em suas mãos robustas, com mais firmeza que nunca, a bandeira de luta pela independência e soberania nacionais do nosso país.
A declaração dos Nove Partidos diz a esse respeito:
"Se os partidos comunistas continuarem firmes em suas posições, se não se deixarem influenciar pela intimidação e pela chantagem, se agirem resolutamente como sentinelas da democracia, da soberania, da liberdade e da independência de seus países; se souberem, na sua luta contra as tentativas de escravização econômica e política pôr-se à frente de todas as forças dispostos a defender a causa da honra nacional e da independência nacional, nenhum dos planos de escravização da Europa e da Ásia poderá ser realizado."
Tivemos, nestas últimas semanas, uma idéia do barulho que podem fazer a reação e os dirigentes socialistas para tentar intimidar-nos. Que mágica que fizeram logo depois da Conferência dos Nove Partidos Comunistas! Mas nós também mostramos que, apesar da violência do assalto geral, sabíamos manter-nos firmes em nossas posições, e conduzir sob a nossa bandeira, que é a bandeira da França, a maioria da classe operária e importantes massas de camponeses, de artesãos, de funcionários, de populações pobres da cidade e do campo. De três franceses, um votou em nosso Partido. Mostramos que nosso Partido Comunista, o Partido da França, era verdadeiramente capaz de unir, organizar e conduzir a batalha contra as forças de opressão e todas as forças francesas decididas à defender a honra nacional, a independência nacional.
Mas não fechamos os olhos a nossos defeitos e a nossas fraquezas. Como discípulos de Lenin e Stálin, examinamos sob um ponto de vista crítico a nossa própria atividade.
"A atitude dum partido político em face de seus erros — diz Lenin — é um dos critérios mais importantes para julgar se esse partido é sério e se ele cumpre realmente suas obrigações para com sua classe e para com as massas laboriosas. Reconhecer abertamente seu erro, descobrir as suas causas, analisar a situação que lhe deu origem, examinar atentamente os meios de corrigir esse erro, — eis aqui a marca de um partido sério, eis o que se chama, para ele, cumprir com as suas obrigações, educar e instruir a classe, e depois as massas."
(Lenin, "A doença infantil do comunismo", pág. 46)
O Comité Central, em sua última reunião, havia assinalado lacunas, erros na atividade do Partido, de seus diversos organismos e de seus militantes nos diferentes postos aos quais a confiança das massas os chamara. Vamos encontrar a raiz desses erros no atraso do próprio Comité Central em constatar e definir com clareza a natureza e o alcance das modificações que tiveram lugar na situação internacional, e principalmente do reagrupa mento das forças imperialistas e anti-democráticas, sob a direção em proveito dos EE. UU.
Para começar, nós não assinalamos desde o início, e com o vigor necessário, que só tínhamos sido afastados p do governo porque havia uma ordem expressa da reação americana. E abrimos o flanco à manobra de Léon Blum e de Ramadier que queriam fazer crer em divergências que se basearam; exclusivamente em questões de preços e de salários. Deixamos assim que dessem um destaque especial àquilo que só tinha sido um pretexto para afastar-nos do governo.
Por outro lado, se tivemos razão em denunciar nosso afastamento do governo como sendo uma violação das leis da democracia parlamentar — como um novo sintoma de crise da democracia burguesa que os capitalistas põem de lado no momento em que ela pode ser atingida pela classe operária — deixamos criar-se a impressão de que se tratava de uma crise ministerial mais ou menos ordinária. Enquanto que se tratava duma intervenção brutal dos imperialistas americanos nos negócios da França.
Em conseqüência dessa falta inicial, não desmascaramos, desde logo, e implacàvelmente, a conduta dos dirigentes socialistas e dos diversos partidos do governo como sendo uma verdadeira ignomínia, uma vergonhosa traição dos interesses nacionais.
Daí resultaram as decisões, as flutuações do nosso grupo parlamentar na Assembléia Nacional, criticadas pelo Comité Central em sua última reunião: a abstenção, em vez de um voto decididamente hostil contra certos textos governamentais (medidas vexatórias para os camponeses, o estatuto de Argélia); a fraca denúncia à lei eleitoral municipal Depreux-Barrachin, em vista das ilusões que alimentávamos sobre este ou aquele grupo e sua atitude, sem levar em conta a nova situação criada na França e no mundo.
Durante um certo tempo, o Partido parecia que hesitava na sua oposição a um governo que esquecia de maneira tão grave os interesses do país. Demos a impressão de que estávamos sendo sensíveis ao barulho dos socialistas a outros que nos censuravam de querer fazer fracassar a concessão de créditos americanos e de prejudicar assim ao nosso país; em suma, de não agirmos como patriotas. Enquanto que a verdade é que só nós temos, nesse problema como em todos os outros, uma atitude absolutamente de acordo com os interesses da França. E só nós é que nos comportávamos como patriotas apaixonadamente dedicados ao seu país.
As hesitações do Comité Central e do grupo parlamentar prejudicaram numa certa medida a rápida mobilização das massas operárias e democráticas contra o governo Ramadier e sua política nefasta. Elas alimentaram as tendências oportunistas, condenadas um mês antes pelo Comité Central e que se manifestam através da subestimação das forças da classe operária e o receio do movimento das massas. Ao passo que o dever dos comunistas — diz nossa resolução de setembro, — "é colocar-se decididamente à frente do movimento popular com audácia e espírito de responsabilidade", ao passo que o Partido Comunista tem como missão elevar, educar, organizar, guiar o movimento da classe operária e das massas laboriosas.
Tem-se o direito de perguntar, a propósito, se soubemos tirar as lições de todas as nossas experiências passadas, a fim de instruir com elas a classe operária e o Partido, e educar seriamente a nossos quadros. Por exemplo! esclarecemos suficientemente o Partido e as massas sobre os defeitos da Frente Popular e as causas de seu desmoronamento final? — a fim de evitar aos trabalhadores novas dificuldades do mesmo gênero?
O defeito principal da Frente Popular, cuja feliz iniciativa nos cabe, e que teve lados muito positivos — está em que se tornou um simples acordo por cima. Havíamos preconizado a eleição democrática de Comités nas usinas e localidades. Havíamos preconizado a realização de um Congresso Nacional composto de delegados eleitos nas assembléias populares de base. Por sua vez, o Congresso teria eleito um Comité Nacional encarregado de velar pela aplicação do programa da Frente Popular. De fato, foram eleitos Comités de Frente Popular em numerosas usinas e localidades mas não conseguimos vencer a oposição irredutível dos socialistas e dos outros parceiros nossos a esses Comités eleitos e à Convocação dum Congresso soberano. Os socialistas, os radicais, tiveram pouco a pouco à Frente Popular seu conteúdo de luta pelo Pão, a Liberdade e a Paz.
Em conseqüência da fórmula exclusiva de acordo pelo cume, tínhamos admitido na Frente Popular a presença de indivíduos que só pensaram em trair o movimento à primeira ocasião, como Daladier e Paul Faure. Eis porque a Frente Popular foi impotente contra a "não-intervenção" e contra a "pausa" dos quais Léon Blum e o Partido Socialista tomaram a iniciativa. Eis porque a Frente Popular foi importante contra a traição de Munich, perpetrada por Daladier com a aprovação dos dirigentes socialistas. Eis porque a Frente Popular se desagregou pouco a pouco, até desmoronar completamente com a aproximação da guerra.
Tínhamos dito e repetido essas coisas muito antes de 1939. Levamos essas coisas em conta na organização e na direção da Resistência? É preciso reconhecer que não.
Fomos os primeiros — e durante muito tempo os únicos — numa resistência que, para nós, não começou a 18 de junho de 1940, mas que vinha já da luta dirigida pela classe operária e pelos Republicanos (com a CGT e a Liga dos Direitos do Homem) contra a não-intervenção e depois contra Munich. Continuamos a resistência francesa no período sombrio da "drôle de guerre", quando Daladier e Bonnet, com a ajuda do Partido Socialista golpeavam o nosso Partido, dividiam os sindicatos e perseguiam nossos militantes a fim de mais seguramente abrir caminho aos exércitos de Hitler. Fomos os primeiros a empunhar no solo nacional o combate pela independência e o renascimento da França, no momento em que todos os outros partidos afogavam-se na vergonha e na confusão.
Desde os primeiros meses de 1941, franceses de todas as opiniões e de todas as crenças se tinham unido nos Comités da Frente Nacional, com suas formas múltiplas e flexíveis de agrupamento, por usinas e por localidades, ou no plano das atividades profissionais, depois com seus grupos de Franco-atiradores e Guerrilheiros (os "Franc-Tireurs et Partizans Français" — F. T. P. E.). Os socialistas, os católicos e os comunistas não estavam nos Comités da Frente Nacional ou nos grupos de F.T.P.E. como representantes de seus partidos ou de suas crenças: eles estavam ali como combatentes, que lutaram efetivamente contra o invasor alemão e contra os traidores de Vichy. Era o bom caminho. Podemos constatar que, depois de ter prestado imensos serviços à causa da Libertação, a Frente Nacional, em razão de suas raízes populares, é o único movimento da Resistência que conseguiu sobreviver.
Infelizmente, aceitamos, em seguida, que o Conselho Nacional de Resistência (C.N.R.), em vez de ser a emanação dos Comités de base e de suas organizações militares, fosse constituído pela representação direta de partidos e de agrupamentos diversos, como o havia sido a Frente Popular, com essa circunstância agravante de que esses partidos, com exceção do nosso, carregavam a pesada responsabilidade das desgraças da França e — inda mais — que sua ação na Resistência era quase nula. Na verdade, esses partidos, agrupamentos e seus representantes no C.N.R. pensaram menos na organização da luta efetiva contra o invasor que na situação da França logo após à Libertação. De acordo e sob a direção do general De Gaulle, colocaram o seu dispositivo de resistência, não contra os alemães e contra os vichystas, mas contra as reivindicações que o povo francês não deixaria .de apresentar em seguida à libertação.
O general De Gaulle, que hoje declama contra os partidos, fez tudo para dar vida a alguns deles, a fim de opô-los ao nosso, ao Partido Comunista, o único que de fato contou na Resistência. Do mesmo modo, De Gaulle fez tudo para liquidar os Comités locais e departamentais de libertação. O Congresso em Avinhão dos Comités de Libertação da Zona Sul tinha aberto tais perspectivas de renascimento e renovação nacional que De Gaulle e os diversos agrupamentos aderentes ao C.N.R. se apressaram em esmagar um movimento que os assustara e que ameaçava passar por cima deles.
É necessário considerar como uma falta grave o fato de havermos tolerado, na organização e na direção da Resistência, os mesmos defeitos que haviam sido fatais para a Frente Popular e que se revelaram igualmente perniciosos para o movimento de libertação nacional.
Mais ou menos camuflados por trás dos agrupamentos que aderiram ao C.N.R., mais ou menos "purificados" ou "camuflados" pelo C.N.R., os homens da reação recobraram audácia e se puseram de novo sobre a sela, como se viu bem, ontem, na Câmara, com a questão Mutter. Hoje, unida atrás de De Gaulle, a reação desencadeia sua ofensiva contra a classe operária e contra a República.
Nossa conclusão deve ser que, para unir todos os trabalhadores, todos os republicanos, pela defesa de seus interesses imediatos, de suas liberdades, para resistir aos novos assaltos do fascismo e preservar a independência da França, é necessário orientar-se mais para as massas. É preciso lembrar-se de que a frente única, é a ação. As conversações, os acordos eventuais entre agrupamentos e organizações só têm razão de ser quando dão em resultado o reforçamento da ação contra os inimigos do povo e da República.
A experiência positiva da Frente Nacional pode ajudar a encontrar formas novas para a união e a ação das massas populares. Já em várias fábricas da região parisiense os operários elegeram Comités de Defesa da República. É também possível constituir esses Comités na base local, e unir todos os republicanos, comunistas e socialistas, livres-pensadores e católicos, a fim de fazer frente ao perigo fascista e defender — contra o aprendiz de ditador — a Constituição ratificada pelo povo.
Os operários, os republicanos, compreendem que a "revisão" (da Constituição) significa a agressão contra as liberdades, e contra as leis sociais favoráveis aos trabalhadores e a todos os infelizes. O general De Gaulle gostaria de liquidar com as nacionalizações e os Comités de empresas, suprimir o seguro social, intervir e submeter os sindicatos, frustrar à classe operária os seus direitos, e, de uma maneira geral, roubar aos franceses as liberdades pelas quais tantos heróis morreram.
Contra os planos americanos de escravização do nosso país e de liquidação' de nossas produções nacionais, assinalam-se também excelentes iniciativas. Os artistas, os músicos, os trabalhadores do filme constituem uma União para a defesa do cinema francês. É possível estabelecer essas Uniões, com apoio em amplos Comités de base, para a defesa do automóvel francês, ou para a realização dum programa sério de reconstrução, que interesse ao mesmo tempo os pequenos empreiteiros e os trabalhadores em construção civil, os técnicos e os locatários, os sinistrados e os jovens casais à procura de alojamento.
Trata-se de agrupar a todos os franceses que têm consciência dos perigos que ameaçam — com a República — a independência econômica e política da França.
A unidade da classe operária, a unidade entre trabalhadores comunistas e socialistas, deve estar na base, deve ser o tronco desse amplo agrupamento republicano. Mas isso não significa subordinar a união entre os republicanos e os patriotas ao acordo prévio dos dirigentes e das organizações socialistas.
Os últimos acontecimentos abriram os olhos de muitos trabalhadores sobre a política de divisão dos dirigentes socialistas. O conúbio monstruoso entre gaulistas e socialistas para a eleição das municipalidades tornou claro para as massas a relatividade de noções como as de direita e de esquerda, quando se trata de homens que abertamente preparam a cama para a reação.
A última declaração do general faccioso mostra que o perigo é grande. Estimulado, -cheio de audácia com o concurso que lhe trouxeram o a dirigentes socialistas, o aprendiz de ditador exige e ameaça. É o momento em que Blum e Ramadier aprofundam ainda mais o fosso entre os operários. É o momento em que pretendem governar ao mesmo tempo contra os gaulistas, que preparam um "complot", e contra os trabalhadores honestos que confiam no comunismo. Na realidade, como agora tem feito, o governo Ramadier abrirá caminho para o gaullismo e para a aventura.
Um único governo pode fazer recuar os fazedores de golpes de Estado e de guerra imperialista: É um governo que se apóia decididamente sobre as massas laboriosas.
Um governo democrático que aplique um programa conforme às aspirações das massas populares, que faça os ricos pagarem por meio de uma verdadeira reforma fiscal e pela requisição dos haveres franceses no estrangeiro.
Um governo que ponha fim à inflação, realize o equilíbrio do orçamento, sobretudo pela redução em massa dos créditos militares. Isso é possível se se procede à reorganização democrática do Exército é se puser fim à guerra criminosa contra o povo do Vietnam.
Um governo que dê satisfação à reivindicações legítimas dos trabalhadores limitando os lucros capitalistas e detendo a alta catastrófica dos preços.
Um governo que defenda, com energia, a Constituição e a República contra os facciosos do R.P.F, e todos os urdidores de "Complôs" agrupados por trás de De Gaulle.
Um governo que assegure o bem-estar e a liberdade pelo trabalho e pela união, e que salvaguarde — contra a pressão dos imperialistas americanos — a independência e a soberania nacionais.
Chego ao fim do meu informe. Não falei das questões de organização que serão objeto de uma intervenção especial de Léon Mauvais. Limitar-me-ei a insistir, uma vez mais, sobre a importância excepcional dos problemas dos quadros e das direções em todos os escalões. É o momento de mostrar audácia na escolha dos quadros, chamando para as diferentes funções, para os diversos postos da direção a homens e mulheres que saibam agir com espírito de iniciativa e de responsabilidade, militantes que dêem provas da sua capacidade de convencer, de organizar e de dirigir às massas, a prova de sua firmeza, ideológica, de sua combatividade, da sua dedicação absoluta à causa da classe operária e da Nação.
Mais do que nunca, o Partido, suas organizações nas empresas e nas aldeias, seus militantes, devem preocupar-se com a defesa das reivindicações de todas as camadas laboriosas da população, das mulheres, dos jovens, que o fascismo procura alistar sob o seu pavilhão antidemocrático e anti-nacional.
As eleições municipais demonstraram que as forças da reação local e internacional acreditam que chegou o momento de passar ao ataque aberto contra a classe operária e contra a República.
Os imperialistas e seus agentes desejariam levar mais longe sua empreitada da escravização da França e arrastar nosso povo sobre o caminho duma nova guerra imperialista.
As forças da reação, do fascismo e da guerra imperialista são grandes e estão ativas. Mas as forças da classe operária, da democracia e da paz, na França como através do mundo, são ainda maiores e mais poderosas. E a vitória será sua, se elas souberem lutar com firmeza e tenacidade.
"O perigo principal para a classe operária — diz a Declaração dos Nove Partidos — consiste atualmente na subestimação das suas próprias forças e na sobreestimação das forças do campo adverso".
O Comitê Central, todo o nosso Partido, a massa considerável dos franceses e das francesas que acabam de confirmar-nos, em forma tão comovente, sua confiança inalterável, compartilham inteiramente deste modo de ver. Todos, estamos resolvidos a cerrar ainda mais nossas fileiras e a unir em torno de nós, na base de nossa plataforma de luta antiimperialista e democrática, a todas as forças patrióticas de nosso povo.
Nossa causa é justa. Ela triunfará.
Viva a união dos trabalhadores e dos democratas de todos os países, para a luta contra o imperialismo e pelo triunfo da democracia e da paz!
Viva a França!
Viva a República!
Notas:
(1) O partido degaullista. (retornar ao texto)
"A palavra de ordem lançada por Prestes em seu último manifesto deve se apoderar das massas, a fim de que por cima de todos os obstáculos e sacrifícios, formas cada vez mais vigorosas de lutas façam retroceder esse
governo de fome e traição."
Maurício Grabois
Do artigo: Prestes, Dirigente Político.
Inclusão | 26/06/2007 |