Do Partido Comunista da Argentina

Ao IV Congresso do Partido Comunista do Brasil

Novembro de 1954


Fonte: Problemas Revista Mensal de Cultura Política, nº 64, dezembro 1954 a fevereiro de 1955.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, novembro 2006.
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Saudação apresentada em nome do Comitê Central, por Vitor Laralde, membro do Comitê Executivo.

O camarada Vitor Laralde, entre outras coisas, disse:

Camaradas do Presidium do IV Congresso do Partido Comunista do Brasil!

Camaradas delegados ao IV Congresso do Partido Comunista do Brasil!

Permiti-me transmitir uma fervorosa saudação de combate do Comitê Central do Partido Comunista da Argentina, que interpreta o sentimento de todo o Partido, da classe operária e do povo de meu país. E permitime, camaradas, que transmita uma fervorosa saudação e um forte abraço do camarada Vitorio Codovilla ao grande dirigente comunista do Brasil, companheiro Luiz Carlos Prestes, líder da classe operária e do povo brasileiro.

A importância deste grande Congresso não terá repercussão apenas no Partido e no povo brasileiro, sua repercussão será ainda continental e mundial. Esta importância resulta não só do grande valor dos documentos discutidos e das deliberações do Congresso, mas também do momento político decisivo que vive o mundo, o Brasil e todos os países da América Latina; esta importância está refletida nos telegramas de saudação de todos os Partidos Comunistas do mundo e no telegrama do glorioso Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética.

Este Congresso se realiza no momento em que o imperialismo americano vai perdendo dia a dia as perspectivas na Europa e na Ásia pelos grandes êxitos da política de paz e de coexistência pacífica da U. R. S. S., da China Popular e das Democracias Populares.

Este Congresso se realiza no momento em que o imperialismo ianque se lança brutal e violentamente na colonização dos países da América Latina para assegurar, em sua retaguarda, bases militares, matérias-primas e carne de canhão grátis para sua política de agressão e de guerra.

A Guatemala, a carta de Vargas, são os melhores testemunhos dos propósitos e dos planos do imperialismo ianque na América Latina.

A esta bárbara política, respondem cada dia, com mais espirito de unidade e de luta, a classe operária e os povos de toda a América Latina.

A classe operária, o povo brasileiro e o seu partido de vanguarda demonstraram, por ocasião da morte de Vargas, essa combatividade e o ódio contra o imperialismo ianque, inimigo comum de todos os povos.

O importante Informe do camarada Luiz Carlos Prestes, que dá a linha tática de unir todas as forças, do proletariado à burguesia, não entregue ao imperialismo, ajudará grandemente a organizar a unidade de ação para a realização do Programa do Partido Comunista do Brasil, programa estudado e elaborado à luz da situação real e objetiva do Brasil e a luz da ciência marxista-leninista.

As vastas e ricas experiências aqui trazidas pelos companheiros e companheiras, em suas intervenções, nos demonstraram que, apesar dos golpes da reação, o Programa do Partido Comunista do Brasil já está em marcha.

Sem dúvida, a assimilação da linha tática e do Programa e a luta por sua aplicação pelo conjunto do Partido, farão com que o Partico Comunista irmão do Brasil conquiste prontamente grandes êxitos em sua luta para libertar o país do inimigo principal, o imperialismo ianque e seus lacaios, na luta pela independência nacional, pela democracia e pela paz. O povo do Brasil desempenha um grande papel na luta contra o imperialismo ianque, inimigo comum. Temos plena confiança de que o Partido Comunista do Brasil, à frente de seu povo, sairá vitorioso desta luta.

Na Argentina, sempre temos em conta as grandes e heróicas lutas do povo brasileiro e as ricas experiências do Partido Comunista do Brasil.

Permiti-me dizer algo, embora muito parcialmente, sobre a situação e as tarefas do Partido Comunista da Argentina. Em nosso país, tocou-nos atuar numa situação política difícil e complicada.

Peron valeu-se de uma demagogia obreirista, antiimperialista e antioJigárquica. Uma conjuntura económica favorável lhe permitiu fazer algumas concessões âs massas e ganhar a maioria da classe operária.

Os operários viam Peron como sua verdadeira salvação e chegaram até ao fanatismo por Evita e Peron.

Nesta situação nos coube atuar. Somente com um trabalho tenaz e paciente era possível fazermo-nos escutar pelas massas. O Partido dizia que não havia florescimento, que se não se resolvessem os problemas de fundo o país marcharia para uma crise catastrófica. O Partido dizia que Peron não era um governo de justiça social, mas de demagogia social; que não se devia ter ilusões no governo, mas confiança nas próprias forças das massas. O Partido dizia que o governo de Peron não era um governo operário, mas um governo que serve aos interesses da oligarquia e do imperialismo; que o governo de Peron marchava para estabelecer um governo corporativo-fascista.

Tudo isto não era fácil fazer compreender às massas. Quando se criticava o governo, através de algum fato concreto, os peronistas diziam: «Vocês têm razão, mas Peron não pode fazer tudo de golpe».

Quando, através do trabalho paciente do Partido, conseguimos arrancar as primeiras lutas, Peron começou a mostrar sua verdadeira face. As massas começaram a escutar mais o Partido e o governo passou a apertar mais o torniquete do aparelho corportativo-fascista.

Peron fechou toda a nossa imprensa, nossas oficinas, nossas livrarias. Foi desencadeada a repressão mais violenta contra o Partido nas empresas, foram fechadas as sedes do Partido, etc.

Peron fêz a reforma dos estatutos da C.G.T. e todos os sindicatos passaram a ser enquadrados no tipo corportativo-fascista. Novas leis fascistas são postas em prática.

O regime corporativo-fascista na Argentina dá ao governo o monopólio de toda forma de propaganda na imprensa, no rádio e em oficinas. Até «Vanguarda», jornal do Partido Socialista, foi fechado. Toda classe de propaganda só pode ser feita de modo ilegal.

Somente através de um longo trabalho de esclarecimento político e ideológico pôde o Partido trabalhar e ganhar forças. Toda propaganda do Partido e das frentes de massas se tira ilegalmente. Os jornais de empresa desempenharam um grande papel entre os trabalhadores. Um trabalho sistemático de esclarecimentos é feito através da organização dos comitês de luta. As massas peronistas vêm fazendo sua experiência.

Organizamos centenas de lutas nas grandes empresas. Organizamos importantes greves, como a dos gráficos, a do açúcar, a dos ferroviários, a dos marítimos, etc.

Na Argentina cresce dia a dia um grande descontentamento em todos os setores. A crise não só golpeia a classe operária, mas também a pequena e média burguesia. Peron não procura a saída da crise econômica através de uma política democrática e progressista aliada ao campo da paz. Sua política é a política de guerra do imperialismo ianque, é a detesa da velha estrutura, da oligarquia, dos grandes monopólios. Sua política é de capitulação e de entrega ao imperialismo. Cada vez mais descarrega a crise nas costas do povo. Estes fatos causam um grande descontentamento popular, especialmente entre as massas peronistas. Se Peron não marcha mais no sentido da entrega é por temor às massas.

Disto resulta que grandes setores das massas peronistas estão compreendendo que Peron não é o governo que supunham, que Peron não resolveu nenhum problema e que as coisas continuam cada vez piores. Por isso, dia a dia aumenta a desconfiança, cresce entre as massas o descrédito em Peron. Cada vez mais amadurecem as condições para a unidade de ação por baixo e por cima. E amadurece o espirito de unidade e de luta da classe operária, como ficou demonstrado na greve dos metalúrgicos. Por temor a esta unidade, Peron golpeia nosso Partido.

O Partido está dando passos importantes, apesar de termos muitas debilidades a corrigir.

O Partido ganhou um grande prestígio. Seus materiais e documentos são muito lidos em todos os setores. Cresce o espírito de unidade e de luta. O ódio contra o imperialismo se desenvolve. Os comités de luta estão em marcha no caminho da Frente Democrática Nacional, da frente única nacional antioligãrquica e antiimperialista+

Sem dúvida, camaradas, se trabalharmos bem, guiando-nos pelo caminho do marxismo-leninismo, apesar de todos os obstáculos, derrotaremos o inimigo comum, o imperialismo ianque, a oligarquia e o governo fascista de Peron que os serve.

Na Argentina, como em outros países, transformaremos o curso reacionário e fascista no curso democrático, progressista e de paz, aberto no mundo pela grande União Soviética, a China e as Democracias Populares.

Para mim foi uma grande experiência haver participado neste importante Congresso do Partido Comunista do Brasil. Foi uma grande satisfação haver conhecido os velhos e jovens quadros irmãos do Brasil.

Tratarei de levar, o mais fielmente, ao meu Partido, as ricas e grandes experiências deste importante Congresso.

Viva o IV Congresso do Partido Comunista do Brasil!

Viva a fraternidade entre os Partidos Comunistas de todo o Continente!

Viva o grande Partido Comunista da União Soviética!

Viva Prestes, chefe do Partido Comunista do Brasil, e o Comitê Central do Partido Comunista do Brasil!


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Inclusão 12/11/2006