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Entre o 16 de Março de 1974 e o 25 de Abril do mesmo ano vai já uma diferença de intenções, de objectivos políticos. Pelas páginas dos jornais de direita lamentam-se, agora, os homens do 16 de Março pela traição que lhes foi feita. E um ano depois eram esses mesmos homens que faziam o 11 de Março e que eram presos. O processo revolucionário que se seguiu ao 25 de Abril atraiçoou-lhes os seus objectivos — foi muito mais além do que a simples mudança de fachada do sistema capitalista, proposta por spinolistas e afins.
Mas, no Movimento que fez o 25 de Abril as contradições também eram muitas. A maior parte dos oficiais pensava, ainda, em termos de simples alteração do regime, mas alguns deles punham já as coisas em termos de socialismo. Dessas contradições nasceram muitas das discussões acerca do programa do MFA de que hoje temos eco.
É assim que, à partida, o Movimento apareceu logo contendo variadas tendências que correspondiam a diferentes interesses de classe. A maneira como, logo à partida, os reformistas de vários matizes passaram a apelar à «unidade do MFA» mascarou a existência dessas várias tendências e impediu que se distinguisse o trigo do joio. Em sentido inverso, os maoístas, com o seu sectarismo habitual, classificaram logo o MFA de «burguês» e votaram-no ao ostracismo.
Mas, o 28 de Setembro, o 11 de Março e as movimentações destes dois anos, levaram a que fosse o próprio processo a mostrar à evidência quais as tendências contidas dentro do MFA.
Foi assim que acabaram por ser claras as 3 tendências: a de direita, a reformista e a revolucionária. Qualquer das três fez a sua história dentro desta História de dois anos. Os primeiros fizeram o 11 de Março e urdiram o golpe de direita de 25 de Novembro; estão agora no poder. Os reformistas corresponderam, filiados ou não, às intenções do PC e tiveram na Marinha o seu grande suporte; conseguiram ser o tampão da revolução, evitá-la. Os terceiros foram aqueles que compreenderam, pelo próprio desenrolar do processo que, só a revolução socialista, só a insurreição armada, seriam solução para a situação portuguesa. Esses constituem o grosso da coluna dos presos do 25 de Novembro e são eles que estiveram presos à mão do actual poder.
Esta terceira corrente do MFA foi aquela que entendeu que só tinha um caminho — estar ao lado dos soldados e dos marinheiros, representantes do proletariado dentro dos quartéis. Mas mais do que isso: compreenderam que tinham que passar as armas (material precioso e tabu para qualquer direitista ou qualquer reformista) para as mãos dos trabalhadores. A sua posição revolucionária, consagraram-na no Projecto de Aliança Povo-MFA, no Documento do Copcon e, sobretudo, no Manifesto dos 18, lido na manifestação de 20 de Novembro. Esses homens são mais do que aliados da esquerda revolucionária. Tornaram-se militantes revolucionários.
É, pois, artificial falar em «Forças Armadas» como um todo e em «MFA» como um todo. Dentro das Forças Armadas há generais, há oficiais, e há soldados. Só são proletários os soldados. Os outros, os generais, os oficiais, só serão revolucionários por uma opção profunda, opção essa que alguns fizeram tornando-se, na sua prática, mais revolucionários que muitos soldados.
E no MFA tudo ficou dividido, tudo ficou esclarecido. Hoje, ao fim de dois anos, há homens revolucionários e marxistas nascidos desse processo complexo que foi o Movimento do 25 de Abril. Tantas eram as contradições deste exército colonial!
No futuro há que fazer, realmente, um exército revolucionário, há que acabar com o exército regular, que tanto deu PM e RALIS como, uns meses depois, PE e Região Militar de Lisboa. Há que fazer um Exército Revolucionário com os trabalhadores armados, com os soldados e com os oficiais que escolheram o proletariado, que escolheram a revolução. E, então, falar em disciplina, e então falar em comando e então falar em defesa da revolução.