Fonte: Esquerda Diário.
Tradução: Caio Reis.
HTML: Lucas Schweppenstette.
Políticos e diplomatas ainda tentam encontrar a fórmula para a desastrosa situação em que a Palestina foi colocada pela ONU por conta da decisão da partilha. Seria isso uma “violação da paz internacional” ou estamos lidando apenas com alguns “atos hostis”? No que nos diz respeito não há sentido nesta distinção. Nós estamos diariamente testemunhando o assassinato e a mutilação de homens e mulheres, velhos e jovens, judeus ou árabes. Como sempre, as massas trabalhadoras e os pobres são aqueles que mais sofrem.
Não muito tempo atrás, os trabalhadores árabes e judeus se uniram em greves contra um opressor estrangeiro. Está luta comum chegou ao fim. Hoje, os trabalhadores estão sendo incitados a matarem uns aos outros. Os incitadores tiveram sucesso.
“Os britânicos querem frustrar a partilha através do terrorismo árabe”, explicam os sionistas. Como se essa luta comunitária não fosse o próprio instrumento pelo qual a divisão é provocada!! Foi simples para os imperialistas preverem isso e muito bem ficarão satisfeitos com o curso dos acontecimentos.
A Grã-Bretanha foi a perdedora da última grande guerra. Ela perdeu a maior parte de seus ativos estrangeiros. Sua indústria está ficando para trás. Construir seu aparato produtivo requer dólares e mão de obra.
“Manter a ordem” na Palestina custa à Inglaterra mais de 35 milhões de libras ao ano, um montante que excede as provisões que ela consegue extorquir deste país. A partilha a liberará de suas obrigações financeiras, permitindo-lhe empregar seus soldados no processo produtivo enquanto sua fonte de renda permanecerá intacta. Mas isto não é tudo - A partilha cria um conflito entre os trabalhadores árabes e judeus. O estado sionista com suas linhas provocativas de demarcação trará o florescimento de um movimento irredentista (vingativo) de ambos os lados, haverá luta por uma “Palestina Árabe” e por um “Estado judeu” dentro das fronteiras históricas de Erentz Israel (Terra de Israel). “Como resultado, a atmosfera chauvinista criada vai envenenar o mundo árabe no Oriente Médio e desviar a luta anti-imperialista das massa, enquanto os sionistas e os feudalistas árabes irão competir por favores dos imperialistas.
O preço que a Grã-bretanha pagará pelas vantagens obtidas pela partição é a renúncia do monopólio governante naquele país. Por outro lado, Wall Street terá que se manifestar ao público e demonstrar a sua posição de salvaguardar as posições imperialistas nesse negócio sujo. Isto, é claro, obscurece a reputação "democrática" do Estado do dólar enquanto, ao mesmo tempo, prestigia a Grã-bretanha. A partilha, portanto, é um compromisso entre os assaltantes imperialistas que surgiram com a mudança na correlação de forças.
Se o imperialismo anglo-americano forçasse esta “solução” sobre a Palestina por ele mesmo, este jogo podre seria patenteado em todo o leste árabe. No entanto, eles se esquivam: o “problema” foi passado para a ONU. A função da ONU foi de adoçar o prato amargo cozinhado na culinária imperialista, temperando-o, nas palavras de Bevin, com a tagarelice do “julgamento da consciência do mundo".Exatamente! E os diplomatas dos países restantes dançaram ao som da flauta do dólar, reiterando a “opinião pública do mundo”. E a performance do peculiar elenco possibilitou a Grã-bretanha aparecer como o anjo da guarda transbordando simpatia para ambos os lados.
E a União Soviética? Por que seus representantes não denunciaram a fraude que o jogo da ONU realmente é? - Aparentemente, a atual política externa da URSS não está preocupada com a luta das massas colonizadas. E como a questão da Palestina é um assunto de segunda categoria para os "Grandes", os diplomatas soviéticos acharam por bem insistir no que Stalin havia dito sobre "a União Soviética estar pronta para enfrentar a América e a Grã-Bretanha no meio do caminho, apesar das diferenças econômicas e sociais".
Esta é a forma como a ONU “resolveu” o problema Palestino. Contudo, é o mesmo prato desagradável que foi entregue para a Índia, Grécia e Indochina.
Os sionistas foram dominados por um senso de triunfo quando lhes foi oferecido o osso pelos cozinheiros da ONU. “ Nosso trabalho, nossa justa causa venceu … perante o fórum das nações”.
Os sionistas tinham o hábito de pedir “justiça” aos inimigos do povo judeu desde Herzl: ao czar, ao Kaiser alemão, aos imperialistas britânicos, Wall Street. Agora eles viram sua chance. Wall Street está distribuindo empréstimos e "independência política". Claro, não por nada. O preço deve ser pago com sangue.
O estado judeu, este presente de Truman e Bevin, oferece uma trégua à economia capitalista dos sionistas. Essa economia se baseia em fundamentos muito frágeis. Seus produtos não podem competir no mercado mundial. Sua única esperança é o mercado interno do qual os produtos árabes são excluídos. Assim, o problema da imigração judaica passou a ser um problema de vida ou morte.
O fluxo contínuo de imigrantes que viriam com os restos de seus bens tende a aumentar a circulação de mercadorias, permitirá aos produtores burgueses disporem de suas mercadorias caras. A imigração em massa também seria muito útil como meio de forçar a redução dos salários que “pesam tanto” na indústria judaica. Um estado envolvido em conflitos militares inevitáveis significaria ordens do “Exército Hebraico”, uma fonte de lucro “hebreu” que não pode ser subestimada. Um estado significaria milhares de beliches confortáveis para funcionários veteranos sionistas.
Os trabalhadores e os pobres. Eles terão que pagar um alto preço após a proibição dos produtos árabes. Eles se desintegrarão sob o jugo de incontáveis impostos,diretos e indiretos. Eles terão que cobrir o déficit do estado judeu. Eles estão vivendo ao ar livre, sem ter um teto sobre as suas cabeças, enquanto suas instituições terão “negócios mais importantes” a tratar.
Os trabalhadores judeus foram separados do seus colegas árabes e impedidos de configurarem uma luta de classes em comum, ficaram à mercê de seus inimigos de classe, o imperialismo e a burguesia sionista. Será fácil colocá-los contra seus aliados proletários, os trabalhadores árabes, “ que os privam de seus empregos e abaixam os seus salários” (método que não falhou no passado). Não foi em vão que Weitzmann disse que “ o estado judeu conterá a influencia comunista”. Como compensação, os trabalhadores judeus receberam o privilégio de morrer como heróis no altar do estado hebreu.
E que promessas o estado judeu oferece? Isso realmente significa um passo em direção à solução do problema judaico?
A partição não foi um meio de resolver a miséria judia e nem é provável que o faça. Este estado nanico que é muito pequeno para absorver as massa judias, não pode resolver o problema de seus cidadãos. O Estado hebreu pode, apenas, infestar o leste árabe com antissemitismo e muito bem bem se tornar - como dito por Trotsky - com uma armadilha sangrenta para milhares de judeus.
Os líderes da Liga Árabe reagiram à decisão sobre a partilha com discursos lotados de ameaças e entusiasmo. Como matéria de fato, um estado sionista é para eles uma mensagem divina de Allah. Convocar os trabalhadores e companheiros para uma “guerra santa para salvar a Palestina” é um pressuposto para sufocar seus gritos por pão, terra e liberdade. Outro método consagrado é o de desviar a amargura do povo para combater o perigo comunista judeu.
Na Palestina, a lei feudal começou a perder terreno. Durante a guerra, a classe trabalhadora árabe cresceu em número e em consciência política. Trabalhadores árabes e judeus se levantaram contra seus opressores estrangeiros, contra quem juntos realizaram greves. Um forte sindicato de esquerda havia surgido; e a “Associação de Trabalhadores dos Árabes da Palestina” estava em um bom caminho para se libertar da influência dos Husseinis. O assassinato de seu líder, Sami Taha, cometido por mercenários do Alto Comitê Árabe não pôde conter esse desenvolvimento. Mas onde os Husseinis falharam a decisão da agência imperialista, a ONU, teve sucesso. A decisão da partilha sufocou a luta de classes dos trabalhadores palestinos. A perspectiva de estar nas mãos dos “conquistadores do solo e do trabalho” sionistas está causando medo e ansiedade entre os trabalhadores e companheiros árabes. Slogans de guerra nacionalistas caem em solo fértil. E os assassinos feudais veem sua chance. Assim, a política da partilha permite aos feudalistas retrocederem as rodas da história.
A colheita inicial da política de partilha: judeus e árabes são afogados em um mar de entusiasmo chauvinista. Triunfo de um lado, raiva e exasperação do outro. Comunistas estão sendo assassinados. Incentivo à pogroms entre os judeus. Um olho por olho de assassinato e provocação. As “expedições metralhadoras” do Haganah são óleo para a máquina de propaganda dos patriotas árabes em sua campanha para arregimentar as massas para mais derramamento de sangue. O conflito militar e a destruição dos movimentos dos trabalhadores são uma dádiva para os extremistas chauvinistas em ambos os campos.
A onda patriótica faz com que seja desagradável estar em cima do muro. O partido “Socialista” sionista, rapidamente “corrigiu” sua fase anti-imperialista e a insistente “resistência” contra “despedaçar o país” e deu lugar ao apoio total e entusiasmado à politica da partilha imperialista. era uma questão insignificantes, uma mera questão de mudança tática por parte dos sionistas.
Contudo, era esperado do Partido Comunista da Palestina uma posição diferente. Não advertiram repetidamente contra os resultados fatais que viriam com o estabelecimento de um Estado judeu ? “A partilha deve ser desastrosa para judeus e árabes … a partilha é um esquema imperialista destinado a dar ao domínio britânico um novo sopro de vida...” ( evidências apresentadas pelo PCP perante a Comissão anglo-Americana de inquérito em 25 de março de 1946). O secretário do partido se manteve fiel a esta posição até Julho de 1947 quando disse antes da comissão da ONU: “ Recusamos o esquema de partilha à risca, pois esse esquema é prejudicial aos interesses dos dois povos”. Entretanto, após este esquema ser aplicado com o apoio dos representantes soviéticos, Kol Ha’am ( O órgão central stalinista) apressou-se a declarar que “a democracia e a justiça venceram!!”. E da noite para o dia, o recém batizado Partido Comunista da Palestina mudou seu nomes para Partido Comunista de Eretz Israel ( Partido Comunista da Terra de Israel). Assim, até o último vestígio de contato com a população árabe foi interrompido. A lacuna que ainda os separava do sionismo foi finalmente preenchida.ME vez de ser a vanguarda da luta anti-imperialista das massas árabes e judaicas, o Partido Comunista da Palestina tornou-se a cauda “comunista” da esquerda sionista. Precisamente na hora em que o sionismo mostra a todos sua face contra-revolucionária, o seu escandaloso servilismo ao imperialismo. Desta forma, o Partido Comunista em si mesmo levou ao ridículo suas posições anteriores sobre o imperialismo e o sionismo.
A política do Partido Comunista Palestino carece de qualquer linha contínua. A política do PCP reflete tanto as necessidades derivadas da luta de classes do trabalhador judeu na Palestina quanto as necessidades da política externa soviética. As necessidades da luta de classes, no entanto, exigem uma política internacional consistente, a negação do sionismo, de sua discriminação entre árabes e judeus. Por outro lado, a necessidade de adequar a linha partidária às manobras diplomáticas da URSS exige uma política “elástica”, que carece de espinha dorsal. Como resultado, encontramos o notório ziguezague que atraiu o PCP agora para a carroça sionista. A quinta roda!
Os árabes Stalinistas, a “Liga de Libertação Nacional”, não fizeram melhor do que suas contrapartes judaicas. Eles estavam em uma situação difícil tendo que justificar o apoio russo ao Estado judeu. Não se podia esperar que os trabalhadores árabes aceitassem essa linha. Não por muito tempo. Eles conheciam da mediação da diplomacia soviética pelo o que realmente era: a quebra da “unidade dos trabalhadores Palestinos e um verdadeiro golpe traiçoeiro" Após a declaração pró-partilha de Zarapkin, o povo da Liga de Libertação Nacional se viu cercado de desprezo e hostilidade.
A política da União Soviética minou a posição da Liga entre os trabalhadores árabes, abriram a porta para o reacionarismo e campanhas chauvinistas contra o “perigo vermelho”.Atualmente, a Liga de Libertação Nacional defende a paz e está ocupada em expor o papel provocador desempenhado pelo governo britânico. Mas, como clamava por “unidade nacional” (com os feudais Husseins, os atuais instigadores da guerra nos últimos anos), sua atitude atual não convence. Mas a Liga de Libertação Nacional convenceu os trabalhadores árabes de que a força motriz por trás de sua política não é o interesse do proletariado palestino, mas o do Kremlin.
Os dois campos mobilizam as massas em baixo da máscara da “auto-defesa”. “ Nós fomos atacados, deixem que nos defendamos" - falam os sionistas. “ Vamos evitar o perigo de uma conquista judaica!” declara o Alto Comitê Árabe. Onde está a verdade?
A guerra é continuação da política por outros meios. A guerra levada pelos feudalistas Árabes é a continuação de sua reacionária guerra contra os trabalhadores e os fellah quem estão lutando para livrarem-se da opressão e da exploração. Para os feudais effendis “A salvação da palestina” significa salvaguardar suas receitas às custas dos fellahin, mantendo seu governo autocrático na cidade e no campo, esmagando as organizações proletárias e a solidariedade de classe internacional.
A guerra travada pelos sionistas é a continuação de sua política expansionista baseada na discriminação entre os dois povos: eles defendem o kibbush avoda (expulsão da mão de obra árabe), kibbush adama (expulsão dos fellah), boicote aos produtos árabes, “governo hebraico”. O conflito militar é resultado direto da política dos conquistadores sionistas.
Em nenhum dos lados se pode dizer que esta guerra tem um caráter progressivo. A guerra não libera forças progressistas nem elimina obstáculos sociais e econômicos no caminho do desenvolvimento das duas nações. Muito pelo contrário. É capaz de obscurecer o antagonismo de classe e abrir a porta para os excessos nacionalistas. Isso enfraquece o proletariado e fortalece o imperialismo em ambos os campos.
Cada lado é “anti-imperialista” até o osso, ocupado detectando reacionarismo no campo oposto. E o imperialismo é sempre visto ajudando o outro lado. Mas esse tipo de exposição é óleo sobre o fogo imperialista. Pois a política de persuasão do imperialismo é baseada em agentes e agências dentro de ambos os campos. Portanto, dizemos ao povo palestino em resposta aos fomentadores da guerra patriótica: Faça desta guerra entre judeus e árabes, que serve ao fim do imperialismo, uma guerra comum de ambas as nações contra o imperialismo!
Esta é a única solução que garante uma verdadeira paz. Este deve ser nosso objetivo, que deve ser alcançado sem concessões ao humor chauvinista que prevalece atualmente entre as massas.
“O principal inimigo está dentro do nosso próprio país” - Isto era o que diziam Karl Liebknecht e Rosa Luxemburgo para os trabalhadores quando os imperialistas e sociais democratas os incitavam a massacrar seus companheiros trabalhadores em outros países. Nesse espírito, nós dizemos para os trabalhadores judeus e árabes: O inimigo está em seu próprio campo!
Trabalhadores judeus! Livrem-se dos provocadores sionistas que lhe dizem para se sacrificar no altar do estado hebraico
Trabalhadores árabes e Fellahs!!! Livrem-se dos provocadores chauvinistas que estão os colocando em uma confusão de sangue para seu próprio bem e bolso.
Trabalhadores de ambos os povos, unem-se em uma luta comum contra o imperialismo e seus agentes.
O problema que preocupa todos esses dias é o problema da segurança. Os trabalhadores judeus perguntam: “Como proteger nossas vidas? Não deveríamos apoiar o ‘Haganah’? ” E os trabalhadores árabes e fellahin perguntam: "Não deveríamos nos juntar à‘ Najada ’ou‘ Futuwah ’para nos defender contra os ataques sionistas?”
Deve ser feita uma distinção entre os lados prático e político desta questão. Não podemos impedir a mobilização e, portanto, não dizemos aos trabalhadores que se recusem a se mobilizar. Mas é nosso dever denunciar o caráter reacionário dessas organizações chauvinistas, mesmo em sua própria casa. O único caminho para a paz entre os dois povos deste país é virar as armas contra os instigadores do massacre em ambos os campos!
Em vez do abstrato “anti-imperialistas” dos social-patriotas que encobrem seu servilismo ao imperialismo, estamos mostrando uma forma prática de lutar contra o opressor estrangeiro: desmascarando seus agentes locais, minando sua influência; para que o trabalhador árabe e fellah entendam que a campanha militar contra os judeus ajuda a fazer a partilha e ajuda apenas os feudalistas e imperialistas, enquanto o peso da guerra é colocado nas costas e paga com o sangue do povo palestino; para que o trabalhador judeu reconheça finalmente a ilusão do sionismo e compreenda que não será livre e seguro enquanto não acabar com a discriminação nacional, o isolacionismo e a lealdade ao imperialismo.
Devemos manter o contato entre os trabalhadores de ambos os povos em qualquer local de trabalho em que isso ainda possa ser feito, a fim de prevenir atos provocativos e salvaguardar a vida dos trabalhadores no trabalho e nas estradas. Vamos formar quadros revolucionários. Neste inferno escaldante de chauvinismo, devemos erguer a bandeira da fraternidade internacional.
O capitalismo mundial estando em declínio tenta perdurar inflando conflitos nacionais imaginários, pisoteando as massas e brutalizando-as. No longo prazo, esse remédio falhará. As massas terão aprendido sua lição através do sofrimento. Eles conhecerão seu inimigo: o capitalismo monopolista, escondendo-se atrás de sua agência governante local. Com a luta de classes cada vez mais intensa em todo o mundo, e em particular nos países árabes, o fim da guerra fratricida neste país está prestes a chegar.
A onda patriótica hoje varre todos os que carecem dos princípios do comunismo internacional. A atividade revolucionária nesta conjuntura requer paciência, persistência e clarividência. É um caminho cheio de perigos e dificuldades. Mas é a única maneira de sair dessa lama patriótica. Bem podemos lembrar as palavras de Lênin que, ditas em situação semelhante, se aplicam também à nossa:
“Não somos charlatães ... Devemos nos basear na consciência das massas. Mesmo que seja necessário permanecer em minoria, que seja. Não devemos ter medo de estar em minoria. Continuaremos o trabalho de crítica para libertar as massas do engano... Nossa linha se mostrará certa... Todos os oprimidos virão até nós. Eles não têm outra saída.”
Colaboração