Apelo da Internacional Comunista
aos Operários e Camponeses
da América do Sul

4º Congresso da Internacional Comunista

Novembro de 1922


Fonte: sítio da Liga Quarta Internacionalista do Brasil.

Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo, maio 2006.

Direitos de Reprodução: Marxists Internet Archive (marxists.org), 2006. A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


Camaradas,

O 4º Congresso da Internacional Comunista, reunido em Moscou por ocasião do quinto aniversário da Revolução Russa, faz um apelo a todos os operários e camponeses da América do Sul a fim de que se preparem para a luta de classes e secundem a ação revolucionária do proletariado mundial.

O Papel dos Estados Unidos da América do Norte

A guerra européia anunciou o começo da crise final do capitalismo. Os antagonismos da burguesia internacional levaram ao mais terrível massacre que a História conhece, para decidir qual dos dois grupos imperialistas havia de impor sua hegemonia. Milhões de proletários foram sacrificados, nos campos de batalha, no interesse do imperialismo à procura de uma solução para a crise aguda que o arrasta fatalmente à bancarrota.

A guerra não pôde resolver essa crise. O capitalismo europeu viu aumentar suas crises internas ao mesmo tempo que se acentuava a luta de classes. O Tratado de Versalhes é uma fonte de novos conflitos. As massas proletárias reconhecem cada vez mais que só a Revolução pode abolir os antagonismos capitalistas. As repressões inauditas a que assistimos hoje, a ofensiva implacável da burguesia indicam a crítica situação dos Estados capitalistas.

Unicamente o imperialismo da América do Norte fortificou seu poder durante a guerra. Os Estados Unidos são hoje a potência imperialista mais forte. Após a guerra européia surgiram, porém, novas causas de lutas imperialistas. Os antagonismos entre a América do Norte, a Inglaterra e o Japão ameaçam de novo a paz do mundo. O imperialismo ianque se desenvolve, cria os germens de futuros conflitos, que exigirão das massas proletárias novos sacrifícios sangrentos. A América do Norte torna-se o centro da reação internacional da burguesia contra o proletariado.

A Extensão do Imperialismo Ianque

O imperialismo ianque procura estender seu domínio por todas as regiões do mundo. Na Ásia, como na África como nas margens do Pacífico, ele procura novos campos de atividade para sua exploração. Sobretudo na América Latina, quer sob uma forma pretensamente econômica, quer por uma dominação aberta, é que o imperialismo dos Estados Unidos assenta seu predomínio. Ele procura na América do Sul um mercado seguro para suas mercadorias, visto que o capitalismo da Europa, em razão do abalo de sua base social, não lhe pode mais comprar com segurança.

A Doutrina de Monroe serve aos imperialistas americanos para lhes garantir a conquista econômica da América Latina. Os empréstimos, a colocação de novos capitais americanos nas explorações industriais, comerciais e bancárias, as concessões de estradas de ferro e de empresas marítimas, a aquisição de jazidas de petróleo — essas múltiplas formas de expansão da penetração econômica ianque mostram como o capitalismo norte-americano procura fazer da América do Sul a base de sua potência industrial.

Esta precaução econômica leva também as diversas burguesias nacionais a intervir nas lutas imperialistas da América Central, no Panamá, na Colômbia, na Venezuela, no Peru. A burguesia de todas as Américas prepara a reação contra o proletariado, convocando congressos policiais, e quando os operários da América do Sul se levantam contra as tentativas criminosas do capitalismo ianque, como aconteceu por ocasião do processo de Sacco e Vanzetti, as classes governantes abafam essas demonstrações proletárias, provando assim sua submissão interessada e consciente ao imperialismo do Norte. A união pan-americana da burguesia é um fato evidente, bem como o propósito de manter seus privilégios de classe e seu regime de opressão.

O Dever do Proletariado da América do Sul

Operários, camponeses da América do Sul!

O imperialismo capitalista introduz em vossos países os antagonismos mundiais que levaram os povos da Europa à guerra mais sangrenta e a mais formidável reação. É já tempo de unir as forças revolucionárias do proletariado, pois que os capitalistas de toda a América se unem contra a classe operária.

Camaradas, os operários e camponeses da América do Sul não possuem ainda organizações de luta de classe disciplinadas e a unidade de ação necessárias. Vossa classe governante se apóia sobre a potência formidável dos Estados Unidos no intuito de esmagar vossos esforços, abafar vossas ações libertadoras e impedir toda tentativa revolucionária de vossas massas oprimidas.

Operários e camponeses! A Internacional Comunista apela para vós! Não vos esqueçais de que nos Estados Unidos há comunistas prontos a vos ajudar na luta revolucionária. A luta comum dos proletários de todos os Estados da América contra todos os capitalistas americanos solidários constitui uma necessidade vital para a classe explorada. Ela se impõe como o único caminho para vossa salvação. O exemplo heróico da Revolução Russa, sustentando a luta mais encarniçada contra o capitalismo internacional, vos fará compreender a sorte que vos espera se permaneceis indiferentes, quando a classe possuidora agrava a exploração capitalista. Em vossos países, os antagonismos entre a alta finanças e a indústria aumentam, e os conflitos imperialistas mundiais ameaçam arrastar-vos, também a vós, aos massacres.

Camaradas, à ofensiva burguesa é necessário opor a unidade proletária. Organizai-vos, pois, ligai vossa ação revolucionária à ação da classe operária e camponesa de toda a América e de todos os países do globo. Lutai contra vossa própria burguesia e lutareis contra o imperialismo ianque, que é a encarnação mais alta da reação capitalista. Uni-vos em torno da bandeira da Revolução Russa, que criou as bases da revolução proletária mundial.

Como a Revolução Russa, preparar-vos-ei a transformar toda tentativa de guerra em luta aberta da classe operária contra a burguesia. Como a Revolução Russa, empreendereis a ação contra o imperialismo preparando a ditadura proletária que destruirá em toda a América a ditadura burguesa. Se permaneceis divididos e desorganizados, a burguesia americana vos estrangulará, esmagará vossas ações e aumentará a exploração capitalista arrancando-vos as conquistas já antes obtidas por vós. A luta contra vossa própria burguesia redundará cada vez mais na luta contra o imperialismo mundial e se tornará uma batalha de todos os explorados contra todos os exploradores.

Camaradas! Organizai-vos! Fortificai vossos Partidos Comunistas e criai-os onde eles não existem ainda. Ligai vossa ação à ação de todos os comunistas da América. Organizai o proletariado revolucionário, que luta, com a Internacional Sindical Vermelha e trabalhai afim de que em toda a América existam seções da Internacional Comunista e da Internacional Sindical Vermelha!

Viva a Internacional Sindical Vermelha!

Viva a Internacional Comunista!

Viva a Rússia dos Soviets!

Viva o proletariado revolucionário da América

e Viva a revolução mundial!

4º Congresso da Internacional Comunista.

Moscou, novembro de 1922