MIA > Stálin > Imprensa Proletária > Revista Problemas nº 32 > Novidades
Camaradas!
Antes de passar à essência da questão permiti que eu faça algumas retificações, baseadas em fatos, relativamente às declarações da oposição, declarações que ou adulteram os fatos ou representam invencionices e intrigas.
1) Primeira questão — trata-se da questão dos discursos da oposição no pleno ampliado do Comitê Executivo da Internacional Comunista. A oposição declarou que ela se decidira a se manifestar porque o CC do PC (b) da URSS não fizera uma indicação direta no sentido de que o pronunciamento da oposição pudesse infringir a "declaração" da oposição de 16 de outubro de 1926 e que se o CC lhe tivesse proibido de se manifestar então os líderes da oposição não teriam se decidido a fazê-lo.
A oposição declarou, a seguir, que ao se manifestar aqui no pleno ampliado, tomaria medidas no sentido de não aguçar a luta que se limitaria a simples "esclarecimentos" e que nem sequer pensa, Deus nos livre!, em fazer qualquer ataque ao Partido, que não tem, Deus nos livre!, nenhum propósito de apresentar quaisquer acusações contra o Partido e de apelar contra as suas decisões.
Tudo isso não é verdade, camaradas. Isso não corresponde, de forma alguma, à realidade. Trata-se de uma hipocrisia da parte da oposição. Os fatos demonstraram, e particularmente o discurso de Kamenev, que os pronunciamentos dos líderes da oposição no pleno ampliado não foram "esclarecimentos" mas investidas* contra o Partido e ataques contra o Partido.
O que significa colocar abertamente a questão da acusação ao Partido de desvio de direita? Trata-se de um ataque contra o Partido trata-se de uma investida contra o Partido.
Acaso o CC do PC (b) da URSS não indicou nas suas resoluções que os discursos da oposição aguçariam a luta e dariam impulso à luta fracionista? Sim, indicou. O CC do P. C. (b) da URSS advertiu a oposição neste sentido. O CC poderia avançar mais a esse respeito? Não, não poderia. Por que? Porque o CC não poderia proibir os pronunciamentos da oposição. Todo membro do Partido tem o direito de apelar para a instância superior contra as resoluções do Partido. O CC não poderia deixar de levar em conta o direito dos membros do Partido. Por conseguinte o CC do P C (b) da URSS fez tudo o que estava ao seu alcance afim de evitar um novo aguçamento da luta e um novo incremento da luta fracionista.
Os líderes da oposição, alguns deles membros do CC deviam saber que os seus discursos não poderiam deixar de se transformarem apelação contra as resoluções de seu Partido, em investida contra o Partido e em ataque contra o Partido.
Dessa forma os discursos da oposição particularmente o discurso Kamenev, que não é um discurso pessoal seu, mas um pronunciamento de todo o bloco oposicionista, dado que o discurso lido por ele estava assinado por Trotski, Kamenev e Zinoviev — esse discurso de Kamenev assinala um ponto de viragem no desenvolvimento do bloco oposicionista a partir da "declaração" de 16 de outubro de 1926, que a oposição renunciava a seus métodos fracionista de luta, para o novo período de existência da oposição em que ela volta novamente aos métodos fracionista de luta contra o Partido.
Daí decorre a seguinte conclusão: a oposição infringiu a sua própria "declaração" de 16 de outubro de 1926, voltando aos métodos fracionista de luta.
Esses são os fatos, camaradas. Nada de hipocrisia. Kamenev tinha toda razão quando afirmou que se deve chamar um gato de gato. (Vozes: "Muito bem!". "E um porco — de porco").
2) Trotski afirmou no seu discurso que "após a revolução de fevereiro Stálin pregou uma tática errônea que Lênin caracterizou como desvio kautskista".
Isto não é verdade, camaradas. Não passa de maledicência. Stálin não "pregou" qualquer desvio kautskista. O fato de que eu tenha tido algumas vacilações após a minha volta do exílio, não o ocultei eu próprio escrevi a respeito no meu folheto "A caminho de Outubro". Mas quem de nós não passou por vacilações passageiras? No que diz respeito à posição de Lênin e às suas teses de Abril(30) de 1917 — justamente do que se trata aqui — o Partido sabe muito bem que eu estava então nas mesmas fileiras com o camarada Lênin, contra Kamenev e seu grupo que lutavam então contra as teses de Lênin.
As pessoas que têm conhecimento das atas da Conferência de Abril de 1917 de nosso Partido não podem ignorar que eu me encontrava nas mesmas fileiras que Lênin e lutava juntamente com ele contra a oposição de Kamenev.
O embuste aqui está em que Trotski confundiu-me com Kamenev. (Risos. Aplausos).
É verdade que Kamenev se mantinha então em oposição a Lênin, contra as suas teses, contra a maioria do Partido e desenvolvia um ponto de vista próximo à defensiva. É verdade que Kamenev, por exemplo, escreveu então no "Pravda", no mês de Março, artigos de caráter semi-defensivo e, evidentemente, eu não posso responder por esses artigos de forma alguma.
A desgraça de Trotski está em que ele confundiu aqui Stálin com Kamenev. E onde esteve então Trotski, por ocasião da Conferência de Abril de 1917, quando o Partido travava luta contra o grupo Kamenev, em que Partido ele se encontrava então — no menchevique de esquerda ou no menchevique de direita e porque então ele não se encontrava nas fileiras da esquerda de Zimmerwald?(31) — que Trotski nos responda a isso, pelo menos pela imprensa.
Mas que então ele não se encontrava em nosso Partido — é um fato que seria conveniente lembrar a Trotski.
Trotski afirmou em seu discurso que "na questão nacional Stálin cometeu um erro muito grande". Que erro é esse e em que circunstâncias foi cometido — Trotski não o disse.
Isto não é verdade, camaradas. Não passa de maledicência. Nunca tive qualquer divergência com o Partido ou com Lênin quanto ao problema nacional. Trotski se refere aqui, ao que parece, a um incidente insignificante, quando o camarada Lênin me censurou, perante o XII Congresso do nosso Partido, de que ponho em prática uma política orgânica demasiadamente severa em relação aos semi-nacionalistas georgianos, semi-comunistas do tipo de Mdivani, que foi recentemente nosso representante comercial em Franca, e de que eu os "persigo". Os fatos subseqüentes, porém, demonstraram que os chamados "desvisionistas", pessoas do tipo de Mdivani, mereciam na realidade uma atitude em relação a eles mais severa mesmo do que a que eu tive, como um dos secretários do CC de nosso Partido. Os acontecimentos subseqüentes demonstraram que os "desvisionistas" constituem uma fração corrupta do oportunismo mais descarado.
Que Trotski demonstre que não é assim. Lênin não sabia e não podia saber desses fatos, uma vez que se achava doente, estava de cama e não tinha possibilidades de acompanhar os acontecimentos. Mas que relação pode ter esse incidente insignificante com a posição de princípios de Stálin? Trotski, evidentemente, na sua maledicência insinua certas "divergências" entre eu e o Partido. Mas acaso não é fato que o CC em seu conjunto e inclusive o próprio Trotski, votaram unanimemente pelas teses de Stálin relativas ao problema nacional? Acaso não é fato que essa votação teve lugar após o incidente com Mdivani, por ocasião do XII Congresso de nosso Partido? Acaso não é fato que foi precisamente Stálin e não qualquer outro quem fez o informe sobre o problema nacional no XII Congresso? Onde estão aqui, portanto, as "divergências" sobre o problema nacional e para que, propriamente, Trotski quis mencionar este incidente insignificante?
Kamenev declarou em seu discurso que o XIV Congresso de nosso Partido cometeu um erro "ao abrir fogo contra a esquerda" isto é, ao abrir fogo contra a oposição. Conclui-se que o Partido lutou e continua a lutar contra o centro revolucionário do Partido Conclui-se que nossa oposição é esquerdista e não direitista.
Tudo isso são disparates, camaradas. São intrigas espalhadas pelos nossos oposicionistas. O XIV Congresso não cogitou e não podia cogitar de abrir fogo contra a maioria revolucionária. Na realidade, o Congresso abriu fogo, contra os direitistas, contra os nossos oposicionistas, que constituem a oposição de direita, embora se envolvam na toga "de esquerda". A oposição, é lógico, tende a se considerar "esquerda revolucionária". Mas o XIV Congresso de nosso Partido determinou, pelo contrário, que a oposição apenas se mascara com uma fraseologia "de esquerda", mas na realidade é uma oposição oportunista. Sabemos como a oposição de direita se mascara freqüentemente com uma toga de "esquerda" para induzir a classe operária a erro.
A "oposição operária" também se considerava mais esquerdista do que qualquer outra, mas na prática se revelou a mais direitista de todas. A atual oposição também se considera a mais esquerdista de todas, mas a prática e todo o trabalho da atual oposição demonstram que ela constitui o centro de atração e o foco de todas as tendências oportunistas de direita que vão da "oposição operária" e do trotskismo até a "nova oposição" e todos os Souvarine que nela existem.
Kamenev cometeu um "pequeno" engano a respeito de "esquerdistas" e "direitistas". Kamenev fez uma citação das obras de Lênin no sentido de que nós ainda não acabamos de construir a base socialista de nossa economia e declarou que o Partido comete um erro ao pretendermos afirmar que já acabamos de construir a base socialista de nossa economia.
São disparates, camaradas. Trata-se de uma pequena intriga de Kamenev. O Partido nunca declarou, até hoje, que já construiu a base socialista de nossa economia. Atualmente a discussão não se desenvolve, de forma alguma, em torno de se saber se já acabamos de construir, ou não, a base socialista de nossa economia. Não se discute esse problema atualmente. Discute-se, isso sim, se podemos ou vão podemos construir, com as nossas próprias forças, a base socialista de nossa economia. O Partido afirma que temos possibilidades de construir a base socialista de nossa economia. A oposição nega isso e, por isso mesmo, envereda pelo caminho do derrotismo e do capitulacionismo. Eis o que se discute atualmente. Ao sentir a instabilidade de sua posição, Kamenev tenta fugir à questão. Mas não o consegue.
Kamenev cometeu ainda um "pequeno" engano.
6) Trotski declarou em seu discurso que ele "se antecipou à política de Lênin em março-abril de 1917". Conclui-se, dessa forma, que Trotski "se antecipou" às teses de Abril do camarada Lênin. Conclui-se que Trotski já em fevereiro-março de 1917 chegou independentemente à política defendida pelo camarada Lênin em abril-maio de 1917 nas suas teses de Abril.
Permití-me declarar, camaradas, que se trata de uma ostentação estúpida e indecorosa. Trotski "antecipando-se" à Lênin — é um quadro diante do qual não se pode deixar de rir. Os camponeses tem toda razão quando costumam dizer, em tais casos: "Comparam uma mosca a um kalantcha"(32) (Risos). Trotski "antecipando-se" a Lênin ... Que Trotski tente aparecer e provar isto pela imprensa. Porque não experimentou fazê-lo ao menos, uma vez? Trotski "se antecipou" Lênin... Mas, nesse caso, como se explicar o fato de que o camarada Lênin, desde o seu aparecimento no cenário da Rússia, em abril de 1917 considerou necessário afastar-se da posição de Trotski? Como explicar o fato de que o "antecipado" julgue necessário afastar-se do "antecipador"? Acaso não é fato que Lênin declarou, várias vezes, em abril de 1917 que nada tem de comum com a fórmula fundamental de Trotski; "sem o tsar, mas um governo operário"? Acaso não fato que o próprio Lênin declarou então por diversas vezes que nada tem de comum com Trotski que tenta saltar a etapa do movimento camponês e a revolução agrária?
Onde está aí a "antecipação"?
Conclusão: necessitamos de fatos e não de invenções e intrigas, enquanto que a oposição prefere operar por meio de invenções e intrigas.
Afirmei no meu informe que os inimigos da ditadura do proletariado, os mencheviques e os kadetes da emigração russa, elogiam a oposição. Afirmei que eles elogiam a oposição pelo trabalho que esta realiza para romper a unidade do Partido, o que quer dizer para solapar a ditadura do proletariado. Fiz uma série de citações que provam que os inimigos da ditadura do proletariado elogiam a oposição precisamente pelo fato de que a oposição, com o seu trabalho, põe em atividade as forças anti-proletárias do país e se esforça por desmoralizar o nosso Partido, desmoralizar a ditadura do proletariado e, por isso mesmo, facilitar a obra dos inimigos da ditadura do proletariado.
Em resposta a isto Kamenev (e também Zinoviev) se referiu a princípio à imprensa capitalista do Ocidente que, de fato, elogia o nosso Partido e também Stálin, e depois se referiu a Ustrialov, smienovierroviets(33), representante dos técnicos burgueses em nosso país, que se solidariza com a posição de nosso Partido.
No que diz respeito aos capitalistas, as suas divergências a respeito de nosso Partido são ainda maiores. Recentemente, por exemplo, a imprensa americana elogiou Stálin, afirmando que este lhe daria a possibilidade de conseguir grandes concessões. Mas verifica-se que atualmente criticam e insultam Stálin por todas as formas afirmando que ele, Stálin, os "enganou". Certa ocasião, surgiu na imprensa burguesa uma caricatura de Stálin que o representa com um balde d'água nas mãos apagando as chamas da revolução. Mas posteriormente surgiu uma outra caricatura, como refutação à primeira e em que Stálin segura um balde cheio não de água, mas de querosene, e não apaga, mas aviva as chamas da revolução. (Aplausos e risos).
Há entre os capitalistas, como vemos, grandes divergências tanto a respeito da posição do nosso Partido quanto a respeito da posição de Stálin. Passemos à questão de Ustrialov. Quem é Ustrialov? Ustrialov é representante dos técnicos burgueses e da nova burguesia em geral. É um inimigo de classe do proletariado. Não há nenhuma duvida a esse respeito. Mas há várias espécies de inimigos. Há inimigos de classe que não se conciliam com o Poder Soviético e se esforçam no sentido de derrubá-lo custe o que custar. Há inimigos de classe que se conciliam, desta ou daquela forma, com o Poder Soviético. Há inimigos que se esforçam no sentido de preparar condições para a derrocada da ditadura do proletariado. São os mencheviques, os social-revolucionários, os kadetes, etc. Mas há também inimigos que cooperam com o Poder Soviético e lutam contra os que se conservam no ponto de vista da derrubada do Poder Soviético, mantendo esperanças de que a ditadura pouco a pouco se enfraquecerá, degenerará e depois atenderá aos interesses da nova burguesia. Ustrialov pertence a esta última categoria de inimigos.
Por que Kamenev citou Ustrialov? Para demonstrar, talvez, que o nosso Partido degenerou e Ustrialov por isso elogia Stálin ou o nosso Partido em geral? Vê-se que não foi para isso, uma vez que Kamenev não se decidiu a afirmá-lo com franqueza. Para que, então, Kamenev se referiu neste caso a Ustrialov? Evidentemente para fazer alusão à "degeneração".
Kamenev, porém, se esqueceu de dizer que esse mesmo Ustrialov elogiou muito mais Lênin. Os artigos de Ustrialov que contêm louvores a Lênin são conhecidos de todo o nosso Partido. De que se trata então? Talvez o camarada Lênin tenha "degenerado" ou começou a "degenerar" quando introduziu a NEP? Basta colocar esta questão para se compreender todo o absurdo desta suposição sobre a "degeneração".
Pois bem: por que Ustrialov elogia Lênin e nosso Partido e por que os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição — eis o problema que é necessário solucionar em primeiro lugar e a que Kamenev tenta fugir por todos os meios ao seu alcance.
Os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição pelo fato de que ela mina a unidade de nosso Partido, enfraquece a ditadura do proletariado e por isso mesmo facilita o trabalho dos mencheviques e dos kadetes no sentido da derrota do Poder Soviético. É o que provam as citações feitas. Ustrialov, por sua vez, elogia o nosso Partido pelo fato de que o Poder Soviético introduziu a NEP, permitiu a atividade do capital privado, utiliza-se dos serviços dos especialistas burgueses, de cuja ajuda e experiência o proletariado necessita.
Os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição porque esta, com sua luta fracionista, os ajuda na tarefa de preparação das condições favoráveis à derrocada da ditadura do proletariado E os Ustrialov, convictos de que não se conseguirá derrotar a ditadura, abandonam o ponto de vista da derrocada do Poder Soviético, esforçam-se por conseguir um postozinho em torno da ditadura do proletariado e se esforçam no sentido de se manterem nas suas boas graças e elogiam o Partido pelo fato de que adotou a NEP e permitiu, sob determinadas condições, a existência de uma nova burguesia que deseja se utilizar do Poder Soviético para atender aos seus objetivos de classe mas que é utilizada pelo próprio Poder Soviético para atender aos objetivos da ditadura proletária.
É aí que reside a diferença entre os diversos inimigos de classe do proletariado de nosso país.
É aí que reside o motivo por que os mencheviques e os kadetes elogiam a oposição e os senhores Ustrialov o nosso Partido.
Desejaria chamar a vossa atenção para o ponto de vista de Lênin sobre este assunto.
"Na nossa República Soviética — afirma Lênin — o regime social se baseia na cooperação de duas classe: os operários e os camponeses e nela são admitidos, em determinadas condições, também os "nepmans", isto é, a burguesia"(34).
É por que se dá à nova burguesia essa permissão de prestar alguma cooperação condicional e„ evidentemente, subordinada a determinadas condições e sob o controle do Poder Soviético — é precisamente por isso que Ustrialov elogia o nosso Partido, esperando agarrar-se a essa permissão e se utilizar do Poder Soviético para atender aos objetivos da burguesia. Mas os nossos cálculos e os do Partido são outros: utilizarmo-nos dos representantes da nova burguesia, de sua experiência e dos seus conhecimentos para sovietizá-los, assimilar uma parte deles e jogar fora a outra parte que não estiver em condições de ser sovietizada.
Não é verdade que Lênin estabelecia uma diferença entre a nova burguesia e os mencheviques e kadetes, admitindo e utilizando-se da primeira e propondo a prisão dos segundos?
Vejamos o que escreveu a respeito o camarada Lênin na sua obra "O Imposto em Espécie":
"Não devemos recear que os comunistas "aprendam" com os especialistas burgueses e inclusive com os comerciantes, os capitalistas-cooperativistas e os outros capitalistas. Devemos aprender com eles de forma diferente, mas, em essência, da mesma maneira como aprendemos com os especialistas militares. Só se pode controlar os resultados da "ciência" pela experiência prática: devemos trabalhar melhor do que o faziam ao nosso lado, os técnicos burgueses, devemos conseguir, por todos os meios ao nosso alcance, o fomento da agricultura e da indústria e o desenvolvimento da troca entre a agricultura e a indústria. Não devemos regatear o pagamento "pela ciência": não tenhamos receio de pagar caro pela ciência, sob a condição de que aprendamos o que nos é útil".(35).
Foi assim que Lênin se manifestou a respeito da nova burguesia e dos técnicos burgueses, de quem Ustrialov é representante.
Vejamos agora o que Lênin afirmou a propósito dos mencheviques e dos social-revolucionários:
"Quantos aos "sem Partido" que na realidade não passam de mencheviques e social-revolucionários disfarçados no traje da moda dos sem Partido de Kronstadt — devemos mantê-los cuidadosamente na prisão ou mandá-los para Berlim, onde está Mártov, para que possam gozar livremente de todas as belezas de uma democracia pura e para que possam trocar idéias livremente com Tchernov, com Miliukov e com os mencheviques georgianos"(36).
Assim se manifestou Lênin.
Será que a oposição não concorda com Lênin? Que o diga francamente.
É assim que se explica o fato de que condenamos os mencheviques e os kadetes à prisão e permitimos a existência da nova burguesia sob determinadas condições e alguma limitação para, ao lutarmos contra ela através de medidas de ordem econômica e ao superá-la passo a passo, utilizarmo-nos ao mesmo tempo de sua experiência e de seus conhecimentos para a realização de nossa construção econômica.
Conclui-se, dessa forma, que alguns inimigos de classe da espécie de Ustrialov elogiam o nosso Partido, pelo fato de que adotamos a NEP e permitimos certa cooperação da burguesia condicional e limitada, ao regime soviético existente, uma vez que é nosso propósito utilizarmo-nos dos seus conhecimentos e da sua experiência para realização da nossa construção, objetivo que, como se sabe, estamos alcançando com êxito. Mas a oposição é elogiada por outros inimigos de classe, do gênero dos mencheviques e kadetes, uma vez que o seu trabalho conduz ao enfraquecimento da unidade de nosso Partido, ao enfraquecimento da ditadura do proletariado e facilita a tarefa dos mencheviques e dos kadetes que visa a derrota da ditadura.
Espero que a oposição compreenderá, finalmente, a amplitude da diferença entre os elogios da primeira categoria e os elogios da segunda categoria.
A OPOSIÇÃO falou aqui a respeito de alguns erros de determinados membros do CC. Houve alguns erros isolados, não se pode negar. Não há, entre nós, pessoas que sejam absolutamente "infalíveis". Não existe em todo o mundo indivíduos dessa espécie. Mas há diferentes espécies de erros. Há erros em que os seus autores não insistem e que não dão origem a plataformas, tendências e facções. São erros que se esquecem rapidamente. Há outro gênero de erros, sobre os quais os seus autores insistem e dos quais surgem facções, plataformas e a luta dentro do Partido. São erros que não se podem esquecer rapidamente.
É preciso fazer uma distinção rigorosa entre estas duas categorias de erros.
Trotski declara, por exemplo, que eu cometi um erro, em certa ocasião, quando exercia funções junto ao departamento do monopólio do comércio exterior. Isto é verdade. Eu de fato propus, num período de ruína dos nossos órgãos armazenadores de gêneros alimentícios, a abertura provisória de um dos nossos portos para a exportação de trigo. Mas não insisti nesse erro e após me entender com Lênin tomei providências no sentido de corrigi-lo rapidamente. Eu poderia citar dezenas e centenas de erros idênticos de Trotski, corrigidos posteriormente pelo CC, e nos quais ele não insistiu. Se eu fosse me ocupar da enumeração de todos os erros, os muito sérios, os menos sérios e os pouco sérios, cometidos por Trotski durante a sua atividade no CC mas nos quais não persistiu e que foram esquecidos — teria de ler vários relatórios sobre o assunto. Mas penso que na luta política, na polêmica política, deve-se falar não sobre erros desse gênero, mas sobre os erros que se transformam posteriormente em plataformas e provocam lutas dentro do Partido.
Trotski e Kamenev, porém, levantaram justamente uma questão relacionada a esse gênero de erros que não se transformaram em tendências oposicionistas e que foram rapidamente esquecidos. E desde que foram justamente estas as questões levantadas pela oposição, permití-me então que eu também lembre aqui alguns erros do mesmo gênero, cometidos no passado pelos líderes da oposição. Talvez isso lhes sirva de lição e de outra vez não tentarão se agarrar a erros já esquecidos.
Houve uma ocasião em que Trotski afirmou no CC de nosso Partido que o Poder Soviético estava por um fio, que "já dera o que tinha de dar" e só restava ao Poder Soviético alguns meses de vida, senão uma semana. Isso foi em 1921. Foi um erro perigosíssimo que indicava o perigoso estado de espírito em que se encontrava Trotski. Mas o CC achou graça na sua afirmação, Trotski não insistiu nesse erro e o erro foi esquecido.
Houve uma ocasião — isso foi em 1922 — em que Trotski propôs que se permitisse às nossas empresas e trustes industriais que hipotecassem a propriedade do Estado, inclusive o capital fixo, aos capitalistas privados em troca de crédito. (O camarada Iaroslavski: "É o caminho da capitulação".) Sem dúvida que o é. Teria sido, em todo caso, uma base para a desnacionalização de nossas empresas. Mas o CC rejeitou esse plano, Trotski lutou em favor do mesmo, mas deixou depois de insistir em seu erro e hoje já não há mais lembrança desse erro.
Houve uma ocasião — isso foi em 1922 — em que Trotski propôs uma rígida concentração de nossa indústria, uma concentração tão extravagante que acarretaria inevitavelmente o desemprego para cerca de um terço de nossa classe operária. O CC rejeitou essa proposta de Trotski como algo escolástico, extravagante e politicamente perigoso. Trotski lembrou por várias vezes ao C.C. que no futuro se teria, apesar de tudo, de enveredar por esse caminho. Não enveredamos, porém, por esse caminho. (Vozes no auditório: "Ter-se-ia de fechar a fábrica Putilov"). Sim, chegou-se a se cogitar disso. Mas depois Trotski deixou de insistir no seu erro e este foi esquecido.
E etc, etc.
Ou consideremos os amigos de Trotski — Zinoviev e Kamenev que gostam de lembrar com frequência que Bukhárín disse em certa ocasião — "enriquecei-vos" e se divertem todas as vezes em que citam essa sua observação.
Isso foi em 1922, quando se estudava entre nós a questão da concessão do Urkart(37) e as condições escravizadoras dessa concessão. E o que sucedeu então? Acaso não é fato que Kamenev e Zinoviev propunham que se aceitassem as condições escravizadoras da concessão do Urkart e insistiam nesse sentido? O CC, porém, rejeitou a concessão do Urkart, Zinoviev e Kamenev não persistiram no seu erro e este foi esquecido.
Ou consideremos, por exemplo, ainda um fato ligado aos erros de Kamenev a respeito do qual eu não desejaria falar mas que Kamenev me obriga a recordar já que se tornou enfadonho com as suas referências ao erro de Bukhárín, erro que Bukhárín já corrigiu e liquidou há muito tempo. Falo de um incidente acontecido com Kamenev quando este se achava exilado na Sibéria, após a revolução de fevereiro, quando Kamenev junto com ricos comerciantes da Sibéria (em Atchinsk) participou da remessa de um telegrama de congratulações ao constitucionalista Mikail Romanov (exclamações: "Que vergonha!"), ao mesmo Mikail Romanov a quem o tzar transmitiu, ao renunciar ao trono, o "direito ao trono". Sem dúvida que isto constituiu um erro dos mais estúpidos e por esse erro Kamenev recebeu uma severa critica de nosso Partido por ocasião da Conferência de Abril de 1917. Mas Kamenev reconheceu o seu erro e este foi esquecido.
É necessário lembrar erros dessa espécie? É lógico que não é necessário, dado que foram esquecidos e de há muito liquidados. Por que então Trotski e Kamenev lançam esse gênero de erros à face de seus adversários do Partido? Não é claro que isso só serve para nos lembrar os numerosos erros dos líderes da oposição? E somos forçados a fazê-lo embora apenas para obrigar a oposição a perder o seu hábito de lançar mão de intrigas e ardis.
Há, porém, erros de outra espécie, erros nos quais os seus autores insistem e dos quais surgem posteriormente plataformas fraccionistas. Trata-se já de erros de uma espécie inteiramente diferente. Cumpre ao Partido descobrir esses erros e superá-los. Isso porque a superação desses erros é o único meio de manter os princípios do marxismo no Partido, conservar a unidade do Partido, liquidar o fracionismo e criar uma garantia contra a repetição desses erros.
Consideremos, por exemplo, o erro de Trotski por ocasião da paz de Brest e que se transformou em toda uma plataforma contra o Partido. É preciso lutar franca e decididamente contra tais erros? Sim, é preciso.
Ou consideremos outro erro de Trotski, por ocasião da discussão sindical, o qual provocou uma discussão em nosso Partido que abrangeu toda a Rússia.
Ou consideremos, por exemplo, o erro de Outubro de Zinoviev e Kamenev, que provocou uma crise no Partido, antes da insurreição de Outubro de 1917.
Ou, por exemplo, os erros atuais do bloco da oposição que se transformaram numa plataforma fracionista e em luta contra o Partido.
E etc., etc.
É preciso lutar franca e decididamente contra tais erros? Sim, é preciso.
É admissível que nos mantenhamos calados em face de tais erros, quando se trata das divergências no Partido? Claro que não é admissível.
Zinoviev falou, em seu discurso, sobre a ditadura do proletariado e afirmou que Stálin esclarece de maneira errônea a noção da ditadura do proletariado no seu conhecido artigo "Questões do Leninismo".
Trata-se de um disparate, camaradas. Zinoviev responsabiliza os outros pelos seus próprios erros. Na realidade só se pode supor que Zinoviev adultera o conceito leninista da ditadura do proletariado. Zinoviev possui duas versões sobre a ditadura do proletariado, das quais nenhuma delas pode ser considerada marxista e em que uma contradiz radicalmente a outra.
Primeira versão. Partindo da tese certa de que o Partido constitui a força dirigente fundamental do sistema da ditadura do proletariado, Zinoviev chega a uma conclusão inteiramente errônea, de que a ditadura do proletariado é a ditadura do Partido. Zinoviev identifica, assim, a ditadura do Partido com a ditadura do proletariado.
Mas o que quer dizer identificar a ditadura do Partido com a ditadura do proletariado?
Quer dizer, em primeiro lugar, colocar um sinal de igualdade entre a classe e o Partido, entre o todo e uma parte desse todo, o que é absurdo e inteiramente incongruente. Lênin nunca identificou e não podia identificar o Partido com a classe. Entre o Partido e a classe há toda uma série de organizações de massas do proletariado sem Partido e atrás destas organizações se encontra toda a massa da classe dos proletários. Ignorar o papel e o peso específico dessas organizações das massas sem Partido e, além disso, toda a massa da classe operária e pensar que o Partido pode substituir as organizações das massas sem Partido do proletariado e toda a massa proletária em geral significa separar o Partido das massas, levar a burocratização do Partido ao mais alto grau, transformar o Partido em força infalível e implantar no Partido o "netchaievismo"(38) e o "araktcheevismo"(39).
Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com tal "teoria" da ditadura do proletariado.
Quer dizer, em segundo lugar, conceber a ditadura do Partido não em sentido figurado, não no sentido da direção da classe operária pelo Partido, como justamente a concebeu o camarada Lênin, mas concebê-la no sentido exato da palavra "ditadura", isto é, no sentido da substituição da direção pela coerção do Partido em relação à classe operária. Porque, o que é uma ditadura no sentido exato da palavra? A ditadura, no sentido exato da palavra é um poder que se apóia na coerção, uma vez que não há ditadura sem elementos de coerção se considerarmos a ditadura no sentido exato desta palavra.
Pode o Partido ser um poder que se apóie na coerção em relação à sua classe, em relação à maioria da classe operária? É claro que não. Em caso contrário seria não uma ditadura contra a burguesia, mas uma ditadura contra a classe operária.
O Partido é o mestre, o dirigente, o chefe de sua classe, mas não um poder que se apóia na coerção em relação à maioria da classe operária. De outra forma nada se teria a dizer sobre o método da persuasão como método fundamental do trabalho do Partido proletário nas fileiras da classe operária. De outra forma nada se teria a dizer sobre que o Partido deve convencer as amplas massas do proletariado da justeza de sua política e que somente no decurso do cumprimento desta tarefa é que o Partido poderia se considerar um Partido realmente de massas, capaz de arrastar o proletariado à luta.
De outra forma o Partido teria de substituir o método da persuasão pelo método das ordens e ameaças em relação ao proletariado, o que é absurdo e inteiramente incompatível com o conceito marxista da ditadura do proletariado.
Eis a que absurdo conduz a "teoria" de Zinoviev sobre a identificação da ditadura (direção) do Partido com a ditadura do proletariado.
Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com esta "teoria".
Combati esse absurdo, quando me manifestei contra Zinoviev, no meu artigo "Questões do Leninismo".
Talvez não seja supérfluo declarar que esse artigo foi escrito e dado à publicidade de pleno acordo e com a aprovação dos camaradas dirigentes de nosso Partido.
É assim que se coloca a questão acerca da primeira versão da ditadura do proletariado segundo Zinoviev.
Consideremos agora a segunda versão. Se a primeira versão constitui uma deturpação do leninismo num determinado sentido, a segunda versão, por outro lado, constitui uma adulteração num sentido inteiramente diverso e diretamente oposto ao primeiro sentido.
A segunda versão reside em que Zinoviev define a ditadura do proletariado como direção não de uma classe, não da classe proletária, mas como direção de duas classes, os operários e os camponeses.
Vejamos como Zinoviev se manifesta a respeito:
"Atualmente a direção, o leme, a orientação da vida estatal se encontra nas mãos de duas classes — a classe operária e o campesinato" (G. Zinoviev — "A aliança operária e camponesa e o Exército Vermelho").
Pode-se negar que existe entre nós atualmente a ditadura do proletariado? Não, não se pode. Em que consiste a ditadura do proletariado em nosso país? Constata-se, segundo Zinoviev, que ela reside no fato de que duas classes dirigem a vida estatal de nosso país. É isso compatível com o conceito marxista da ditadura do proletariado? É claro que é incompatível.
Lênin afirma que a ditadura do proletariado é o domínio de uma classe, da classe proletária. Nas condições da aliança entre o proletariado e o campesinato, esse poder único do proletariado se manifesta em que a força dirigente nessa aliança é o proletariado, o seu Partido, o qual não divide e não pode dividir a direção da vida estatal com outra força ou com outro Partido. Tudo isso é tão elementar e indiscutível que quase se torna desnecessário explicar cousas tão elementares. Mas Zinoviev conclui que a ditadura do proletariado é a direção de duas classes. Por que, então, não se denominar essa ditadura, não de ditadura do proletariado, mas de ditadura do proletariado e do campesinato? acaso não é claro que, segundo o conceito zinovievista da ditadura do proletariado, deveríamos ter a direção de dois Partidos, de acordo, com as duas classes que estão no "leme da vida estatal"? O que pode haver de comum entre esta "teoria" de Zinoviev e o conceito marxista da ditadura do proletariado?
Não é preciso dizer que Lênin nada tem de comum com esta "teoria".
Conclusão: Zinoviev adultera, de modo evidente, a doutrina leninista da ditadura do proletariado, quer se trate da primeira versão da "teoria" zinovievista ou de sua segunda versão.
Desejaria me deter, também, sobre algumas declarações ambíguas de Trotski que têm o objetivo essencial de induzir-nos a erro. Desejaria apenas citar alguns fatos.
Primeiro fato. Quando se perguntou a Trotski qual era a sua posição atual em relação a seu passado menchevique, Trotski respondeu, não sem alguma pose:
"Já pelo próprio fato de que eu ingressei no Partido Bolchevique... já esse fato por si mesmo demonstra que depositei às portas do Partido tudo o que até então me afastava do bolchevismo".
O que significa "depositar às portas do Partido tudo o que separava"Trotski"do bolchevismo"? Remmele tinha razão ao replicar a essas palavras de Trotski: "Como se pode depositar tais coisas às portas do Partido"? E, de fato, como se pode depositar tais sujeiras às portas do Partido? (Risos). Essa pergunta ficou sem resposta da parte de Trotski.
Além disso, o que significa depositar às portas do Partido as sobrevivências mencheviques de Trotski? Depositou ele estas coisas às portas do Partido e as armazenou para futuras lutas dentro do Partido ou simplesmente as queimou? Parece que Trotski tencionou armazená-las às portas do Partido. Ou então como se explicar de outra forma as divergências permanentes de Trotski com o Partido, que tiveram início algum tempo após o seu ingresso no Partido e que ainda não cessaram até o presente momento?
Deveis julgar por vós mesmos. 1918 — divergências de Trotski com o Partido quanto à questão da paz de Brest e luta dentro do Partido. 1920-21 — divergências de Trotski com o Partido quanto ao movimento sindical e discussão em toda a Rússia. 1923 — divergências de Trotski com o Partido quanto às questões fundamentais da construção do Partido, quanto à sua política econômica, e discussão no Partido. 1924 — divergências de Trotski com o Partido quanto à questão da análise da Revolução de Outubro e da direção do Partido e discussão no Partido. 1925-26 — divergências de Trotski e de seu bloco oposicionista com o Partido quanto às questões fundamentais de nossa revolução e da política corrente.
Não são divergências demais para um homem que "depositou às portas do Partido tudo o que o "separava do bolchevismo"?
Pode-se afirmar que estas divergências permanentes de Trotski com o Partido constituem "um caso casualmente casual" e não um fenômeno regular?
Dificilmente se poderia afirmá-lo.
Qual pode ser o objetivo visado, em tal caso, por essa declaração de Trotski mais do que ambígua?
Penso que um só objetivo: atirar areia nos olhos dos ouvintes e induzi-los a erro.
Segundo fato. Sabe-se que a questão da "teoria" da revolução permanente de Trotski tem grande significação do ponto de vista da ideologia de nosso Partido e do ponto de vista das perspectivas de nossa revolução. Sabe-se que esta "teoria" tinha a pretensão e continua a ter a pretensão de concorrer com a teoria do leninismo sobre a questão das forças motrizes de nossa revolução. É de todo compreensível, por isso, que se tenha dirigido a Trotski, por mais de uma vez, e se lhe tenha indagado a respeito da atitude que mantém, hoje, em 1926, sobre a sua "teoria" da revolução permanente. E que resposta nos deu Trotski em seu discurso perante o Pleno do Komintern? Essa resposta é mais do que ambígua. Ele afirmou que a "teoria" da revolução permanente possui algumas "lacunas" e que alguns aspectos desta "teoria" não foram justificados pela nossa experiência revolucionária. Conclui-se que se alguns aspectos desta "teoria" constituem "lacunas", então há outros aspectos desta "teoria" que não constituem "lacunas" e que devem permanecer em vigor. Mas como separar alguns aspectos da "teoria" da revolução permanente de outros aspectos desta "teoria"? Acaso a "teoria" da revolução permanente não constitui todo um sistema de pontos de vista? Acaso se pode comparar a "teoria" da revolução permanente a uma caixa que tem dois cantos apodrecidos e os dois cantos restantes ilesos e em perfeito estado de conservação? E para que tudo isso, uma vez que podemos nos limitar aqui a uma declaração simples, que não envolve responsabilidade alguma, sobre as "lacunas" em geral, não indicando quais são precisamente as "lacunas" que Trotski tem em vista e quais são precisamente os aspectos da "teoria" da revolução permanente que ele considera errados? Trotski se refere a algumas "lacunas" da "teoria" da revolução permanente, mas quais são precisamente essas "lacunas" e quais são precisamente os aspectos desta "teoria" que ele considera errados — sobre tudo isso ele não disse uma palavra. As declarações de Trotski sobre esta questão devem ser consideradas, por isso, uma resposta formal ao problema, uma tentativa de se livrar de uma dificuldade por meio de uma frase ambígua a respeito de "lacunas" que não envolvem nenhuma responsabilidade para Trotski.
Trotski procede neste caso da mesma forma como procediam, nos velhos tempos, alguns hábeis oráculos que se livravam dos seus clientes por meio de respostas ambíguas como essa: "um grande exército será vencido ao atravessar um rio". Que rio é esse e que exército será vencido — entenda quem puder. (Risos).
EU desejaria, a seguir, dizer algumas palavras sobre a maneira particular de Zinoviev citar os clássicos do marxismo. O traço característico desta maneira zinovievista consiste em confundir todos os períodos e datas, colocá-los num monte, separar teses e fórmulas isoladas de Marx e Engels da sua ligação viva com a realidade, transformá-las em dogmas obsoletos e infringir, dessa forma, a exigência fundamental de Marx e Engels no sentido de que "o marxismo não é um dogma, mas um guia para a ação".
Citemos alguns fatos.
1) Primeiro fato. Zinoviev, em seu discurso, citou um conhecido trecho do folheto de Marx "A luta de classes na França" (1848-1850) que afirma que "a tarefa da classe operária (trata-se da vitória do socialismo.— J. St.) não tem solução dentro dos limites das fronteiras nacionais"(40).
Zinoviev fez, em seguida, a seguinte citação tirada de uma carta de Marx a Engels (1858):
"Um problema difícil para nós é o seguinte: no continente a revolução é inevitável e assumirá imediatamente um caráter socialista. Acaso não será ela inevitavelmente sufocada neste pequeno recanto em vista de que o movimento da sociedade burguesa num território ilimitadamente maior se acha ainda em sua fase ascendente?" (O grifo é meu — J. St.)
Zinoviev faz citações de obras de Marx escritas na década de 40 a 50 do século passado e chega à conclusão de que pelo mesmo motivo o problema da vitória do socialismo em países considerados isoladamente não tem solução em todos os tempos e períodos do capitalismo.
Pode-se afirmar que Zinoviev compreendeu Marx, o seu ponto de vista, a sua linha básica na questão da vitória do socialismo em países considerados isoladamente? Não, não se pode afirmá-lo. Ao contrário percebe-se por essas citações que Zinoviev nada compreendeu de Marx e que adulterou o ponto de vista fundamental de Marx.
Decorre da citação de Marx que a vitória do socialismo em determinados países seja impossível em todas as condições do desenvolvimento do capitalismo? Não, não decorre. Das palavras de Marx decorre apenas que a vitória do socialismo em países considerados isoladamente é impossível somente se "o movimento da sociedade burguesa ainda continua em linha ascendente". Pois bem, e em que ficamos, se o movimento da sociedade burguesa em seu conjunto, por força do curso dos acontecimentos, modifica a sua direção e começa a seguir uma linha descendente? Das palavras de Marx decorre que em tais condições desaparece o motivo para se negar a possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente.
Zinoviev se esquece de que os trechos de Marx dizem respeito à época do capitalismo pré-monopolista, quando o capitalismo em seu conjunto se desenvolvia segundo uma linha ascendente, quando o progresso do capitalismo em seu conjunto não era acompanhado pelo processo de decomposição de um país tão desenvolvido no sentido capitalista como a Inglaterra, quando a lei da desigualdade de desenvolvimento ainda não representava, e não podia representar, o fator tão poderoso de decomposição do capitalismo em que se transformou posteriormente, na época do capitalismo-monopolista, na época do imperialismo. Para a época do capitalismo pré-monopolista é perfeitamente justa a afirmação de Marx no sentido de que é impossível a solução da tarefa fundamental da classe operária em países considerados isoladamente. Já em meu informe apresentado à XV Conferência do PC (b) da URSS eu afirmei que para os velhos tempos, para a época do capitalismo pré-monopolista, a questão da vitória do socialismo em países considerados isoladamente não tinha solução e isso era perfeitamente justo. Pois bem, e agora, na etapa atual do capitalismo, em que o capitalismo pré-monopolista se transformou em capitalismo imperialista — pode-se afirmar que o capitalismo em seu conjunto se desenvolve atualmente segundo uma linha ascendente? Não, não se pode afirmá-lo. A análise da essência econômica do imperialismo feita por Lênin nos indica que na época do imperialismo a sociedade burguesa em seu conjunto segue uma linha descendente. Lênin tem toda razão quando afirma que o capitalismo monopolista, o capitalismo imperialista é o capitalismo moribundo. Vejamos o que nos diz o camarada Lênin a respeito:
"Compreende-se porque o imperialismo é o capitalismo moribundo, o período de transição no sentido do socialismo: o monopólio que surge do capitalismo já é a morte do capitalismo e o princípio de sua transição ao socialismo. A gigantesca socialização do trabalho realizada pelo imperialismo (o que os apologéticos — os economistas burgueses, chamam de "entrelaçamento") significa a mesma coisa"(41).
Uma coisa é o capitalismo pré-monopolista que se desenvolve em seu conjunto segundo uma linha ascendente. Outra coisa é o capitalismo imperialista, quando o mundo já se acha dividido entre grupos capitalistas, quando o desenvolvimento aos saltos do capitalismo exige novas repartições de um mundo já repartido por meio dos choques armados, quando os conflitos e as guerras entre os grupos imperialistas que surgem nessa base, enfraquecem a frente mundial do capitalismo, tornam-o facilmente vulnerável e criam a possibilidade do rompimento dessa frente em determinados países. A vitória do socialismo em países considerados isoladamente era impossível outrora, na época do capitalismo pré-monopolista. Hoje, na época do imperialismo, na época do capitalismo moribundo, já se tornou possível a vitória do socialismo em países isolados.
É assim que se apresenta o problema, camaradas, e isso Zinoviev não quer compreender.
Vemos que Zinoviev cita Marx como o faria um colegial, afastando-se do ponto de vista de Marx e apegando-se a trechos isolados das obras de Marx, empregando, além disso, essas citações não como marxista, mas como social-democrata.
Em que consiste a maneira revisionista de se citar Marx? A maneira revisionista de se citar Marx consiste na substituição do ponto de vista de Marx por citações de determinadas teses de Marx tomadas sem ligação com as condições concretas de uma determinada época. Em que consiste a maneira zinovievista de se citar Marx? A maneira zinovievista de se citar Marx consiste, na substituição do ponto de vista de Marx pela letra e por citações de Marx desligadas de sua conexão viva com as condições do desenvolvimento que se processou nos anos da década de cinqüenta do século XIX e transformá-las em dogma.
Penso que os comentários a respeito são supérfluos.
2) Segundo fato. Zinoviev cita palavras de Engels, que constam da sua obra "Princípios do Comunismo"(42) no sentido de que a revolução proletária "não pode ter lugar num país qualquer", confronta estas palavras de Engels com as minhas declarações feitas por ocasião da XV Conferência do PC (b) da URSS relativamente a que nós, na URSS, já realizamos nove décimos das doze tarefas apresentadas por Engels e tira daí duas conclusões: em primeiro lugar que é impossível a vitória do socialismo em países considerados isoladamente e em segundo lugar que eu, nas minhas declarações, considero de maneira demasiadamente otimista as atuais condições da URSS.
Quanto aos trechos de Engels citados, é preciso dizer que Zinoviev, ao comentar as citações que faz, comete o mesmo erro que cometeu em relação à citação de trechos extraídos de Marx. É compreensível que na época do capitalismo pré-monopolista e na época do desenvolvimento da sociedade burguesa em seu conjunto em linha ascendente, Engels devia chegar à uma conclusão negativa quanto à solução do problema da possibilidade da vitória do socialismo em países considerados isoladamente. Divulgar mecanicamente esta tese de Engels, que se refere à velha época do capitalismo, na nova etapa do capitalismo, na sua etapa imperialista — significa adulterar o ponto de vista de Engels e Marx em favor de sua letra, de uma citação isolada tomada sem ligação com as condições reais do desenvolvimento na época do capitalismo pré-monopolista. Eu já afirmei em meu informe apresentado à XV Conferência do PC (b) da URSS que, naquela época, esta fórmula de Engels era a única fórmula justa. Mas não se pode deixar de compreender que é de todo impossível comparar a época dos anos da década de 40 do século passado, quando não se podia falar em capitalismo moribundo, com a atual época de desenvolvimento do capitalismo, a época do imperialismo, quando o capitalismo em seu conjunto é o capitalismo moribundo. Será por acaso difícil se compreender que o que se considerava então impossível se tornou atualmente, na vigência das novas condições do capitalismo, possível e necessário?
Vemos que tanto aqui em relação à Engels quanto em relação à Marx, Zinoviev permaneceu fiel à sua maneira revisionista de citar os clássicos do marxismo.
No que diz respeito, porém, à segunda conclusão de Zinoviev, então se verifica que ele desfigurou completamente o pensamento de Engels relativamente às suas doze reivindicações ou medidas que a revolução operária teria de pôr em prática. Zinoviev é de parecer que Engels nos teria apresentado, nas 12 reivindicações que menciona, um amplo programa do socialismo até o desaparecimento das classes o desenvolvimento da produção mercantil e, inclusive, o desaparecimento do Estado. Isto absolutamente não é verdade. Trata-se de uma adulteração completa do pensamento de Engels. Nas doze reivindicações apresentadas por Engels não há nenhuma palavra que se refira ao desaparecimento das classes, nem ao desaparecimento da produção mercantil, nem ao desaparecimento do Estado, nem ao desaparecimento de todas e quaisquer formas de propriedade privada. Pelo contrário, as 12 reivindicações de Engels se baseiam na existência da "democracia" (Engels considerava então "democracia" a ditadura do proletariado), na existência das classes e na existência da produção mercantil. Engels afirma claramente que as suas 12 reivindicações têm em vista "atentar diretamente contra a propriedade privada" (e não a sua destruição total) e "assegurar a existência do proletariado" (e não o desaparecimento do proletariado como classe). Eis as palavras textuais de Engels:
"A revolução do proletariado que, com toda a probabilidade se processará, só gradualmente é que poderá transformar a sociedade atual e só depois disso é que acabará com a propriedade privada, quando já tiver sido criada uma massa de meios de produção indispensáveis a que isso se realize... Instituirá, em primeiro lugar, um regime democrático e, por isso mesmo, direta ou indiretamente, a dominação política do proletariado... A democracia seria completamente inútil para o proletariado se não fosse utilizada imediatamente como meio para a realização de amplas medidas que atentem diretamente contra a propriedade privada e que assegurem a existência do proletariado. (Os grifos são meus — J. St.). Essas medidas principais, que decorrem necessariamente das condições agora vigentes, são as seguintes".
E segue-se a enumeração das já conhecidas 12 reivindicações ou medidas (Vide Engels, "Os princípios do comunismo")(43).
Vemos, dessa forma, que Engels não trata de um amplo programa do socialismo que inclua o desaparecimento das classes, do Estado, da produção mercantil, etc., mas dos primeiros passos da revolução socialista, das primeiras medidas necessárias a que se realize imediatamente uma limitação da propriedade privada, assegure a existência da classe operária e fortaleça o domínio político do proletariado.
A conclusão só pode ser uma: Zinoviev adulterou o pensamento de Engels, ao caracterizar as suas 12 reivindicações como um amplo programa de socialismo.
Que afirmei eu nas minhas palavras de encerramento da XV Conferência do PC (b) da URSS? Afirmei que entre nós, na URSS, já se acham realizados nove décimos das reivindicações apresentadas por Engels e que constituem os primeiros passos da revolução socialista.
Isso significa que o socialismo já esteja realizado entre nós?
É claro que não.
Por conseguinte Zinoviev, fiel à sua maneira de citar, fez uma "pequena" trapaça em relação às minhas declarações feitas na XV Conferência do PC (b) da URSS.
Por aí vemos aonde é levado Zinoviev por sua maneira específica de citar Marx e Engels.
A maneira de Zinoviev citar me lembra uma "história" bastante engraçada sucedida a social-democratas e que nos foi contada por um sindicalista revolucionário sueco, em Estocolmo. Isso aconteceu em 1906, por ocasião do Congresso de Estocolmo de nosso Partido. Esse companheiro sueco descrevia na sua narração, de modo bastante engraçado, como alguns social-democratas citavam Marx e Engels de maneira pedante e ao pé da letra, e nós, delegados ao Congresso, riamos a valer ao ouvi-lo. Mas vamos à "história". Os acontecimentos se desenrolam na Criméia, por ocasião do levante da esquadra e da infantaria. Chegam representantes da esquadra e da infantaria e dizem aos social-democratas: durante os últimos anos vós nos conclamastes à insurreição contra o tsarismo, nós nos convencemos de que o apelo é justo e nós, marinheiros e soldados da infantaria, entendemo-nos quanto ao levante e agora vimos pedir o vosso conselho. Os social-democratas ficaram alarmados e responderam que não poderiam solucionar a questão sem uma conferência especial. Os marinheiros deram a entender que não se podia perder tempo, que a coisa já estava preparada e que se não obtivessem uma resposta imediata dos social-democratas e se estes não tomassem a direção do levante, a coisa poderia fracassar. Os marinheiros e os soldados se afastaram e ficaram aguardando as diretivas e os social-democratas convocaram uma conferência para a análise do problema. Consultaram o primeiro tomo do "O Capital", consultaram o segundo tomo "O Capital" e finalmente consultaram o terceiro tomo do "O Capital". Procuram indicações relativas à Criméia, a Sebastopol e a insurreições na Criméia. Mas nenhuma indicação, absolutamente nenhuma, encontram nos três tomos do "Capital", nem sobre Sebastopol, nem sobre a Criméia e nem sobre levantes de marinheiros e soldados. (Risos). Consultam outras obras de Marx e Engels, procuram diretivas e continuam a não encontrá-las. (Risos). Que fazer? E os marinheiros já haviam voltado e aguardavam a resposta. E então? Os social-democratas tiveram que confessar que em tal situação de fato não se achavam em condições de dar uma indicação qualquer que fosse aos marinheiros soldados. "Foi assim que fracassou a insurreição da esquadra e da infantaria" — termina a sua narrativa o camarada sueco. (Risos).
Evidentemente há muito de exagero nessa narrativa. Mas não há dúvida também que essa narrativa revela, com muita propriedade, o defeito fundamental da maneira zinovievista de citar Marx e Engels.
Terceiro fato. Trata-se da citação de trechos das obras de Lênin. Zinoviev tudo fez para acumular todo um monte de citações das obras de Lênin e "pasmar" os seus leitores. Evidentemente, Zinoviev pensa que quanto mais citações fizer, tanto melhor e, assim procedendo, pouco leva em consideração o conteúdo dessas citações e a que elas conduzem. E, todavia, se lermos atentamente essas citações, torna-se então fácil compreender que Zinoviev não fez nenhuma citação das obras de Lênin que aludisse, ainda que de passagem à utilidade da atual posição capitulacionista do bloco oposicionista. Convém observar que Zinoviev. por qualquer motivo, não citou um dos trechos fundamentais de Lênin relativamente a que se pode considerar assegurada a solução do "problema econômico" da ditadura e a vitória do proletariado da URSS na tarefa de resolver esse problema.
Zinoviev fez uma citação de um trecho do folheto de Lênin "Sobre a Cooperação" que afirma que temos, na URSS, tudo o que é necessário e suficiente para a construção de uma sociedade socialista completa. Mas ele não tentou mover uma palha ao menos para colocar a questão, ainda que de passagem, de modo a esclarecer qual o objetivo dessa citação e em proveito de quem é feita: em proveito do bloco oposicionista ou em proveito do PC (b) da URSS.
Zinoviev se esforçou por demonstrar que é impossível a vitória da construção socialista em nosso país mas, como prova desta tese, fez citações das obras de Lênin que refutam de alto e baixo a tese de Zinoviev.
Consideremos, por exemplo, uma dessas citações:
"Já tive ocasião de afirmar por mais de uma vez: em comparação com os países avançados seria mais fácil aos russos iniciar uma grande revolução proletária, mas lhes será mais difícil continuá-la e conduzi-la à vitória definitiva no sentido de uma organização completa da sociedade socialista" (O grifo é meu —J. St).(44)
Zinoviev nem mesmo pensou em que esta citação fala não em proveito do bloco oposicionista, mas em proveito do Partido, porque nela se fala não sobre a impossibilidade da construção do socialismo na URSS, mas sobre as dificuldades desta construção e em que se reconhece nessa citação a possibilidade da construção do socialismo como algo que se subentende por si mesmo. O Partido sempre afirmou que será mais fácil iniciar a revolução na URSS do que nos países capitalistas da Europa Ocidental mas será mais difícil construir o socialismo. Isso quer dizer que o reconhecimento deste fato equivale à negação da possibilidade da construção do socialismo na URSS? Sem dúvida que não. Pelo contrário, deste fato decorre somente a conclusão de que a construção do socialismo na URSS é inteiramente possível e necessária, apesar das dificuldades.
Pergunta-se: por que Zinoviev teve necessidade dessa espécie de citação?
Evidentemente para "confundir" os seus leitores com um monte de citações e pescar em águas turvas. (Risos).
Mas agora se torna claro, penso, que Zinoviev não atingiu o seu objetivo e que a sua maneira mais do que divertida de citar os clássicos do marxismo o colocou em situação positivamente insustentável.
CITEMOS, por fim, algumas palavras relativamente à explicação que Zinoviev dá ao conceito "revisionismo". Zinoviev é de parecer que todo melhoramento e todo esforço que se faca no sentido de tornar mais precisas velhas fórmulas ou teses isoladas de Marx e Engels e com maior razão a sua substituição por outras fórmulas correspondentes às novas condições, é revisionismo. Pergunta-se: por que? Acaso o marxismo não é uma ciência e acaso a ciência não se desenvolve, se enriquece com a nova experiência e melhora as velhas fórmulas? Porque, ao que se sabe, uma "revisão" significa "reexame" e o melhoramento e uma precisão maior das velhas fórmulas não podem ser realizados sem um certo "reexame" destas fórmulas e, por conseguinte, todo melhoramento e precisão maior das velhas fórmulas e qualquer enriquecimento do marxismo pela nova experiência e novas fórmulas é revisionismo. Tudo isso é engraçado, sem dúvida. Mas o que fazer com Zinoviev se ele mesmo se coloca em posição ridícula e ao mesmo tempo faz alarde de sua luta contra o revisionismo.
Stálin, por exemplo, teve o direito de modificar e tornar mais precisa a sua própria fórmula relativa à vitória do socialismo em um único país (1924) em completa correspondência com as indicações e a linha fundamental do leninismo? Segundo Zinoviev, Stálin não tinha esse direito. Por que? Porque a modificação e uma precisão maior de uma velha fórmula é o "reexame" desta fórmula, e "reexame" em alemão significa revisão. Não é claro que Stálin caiu no revisionismo?
Conclui-se, dessa forma, que temos, segundo Zinoviev, um novo critério do revisionismo que condena o pensamento marxista à completa imobilidade em face do temor da acusação de revisionismo.
Se, por exemplo, Marx afirmou, em meados do século passado, que é impossível a vitória do socialismo dentro das fronteiras de uma nação na época em que o desenvolvimento do capitalismo se processa no sentido de uma linha ascendente, e Lênin afirmou, no ano 15 do século XX que essa vitória é possível em virtude do fato de que o desenvolvimento do capitalismo se processa no sentido de uma linha descendente e nós nos achamos em presença do capitalismo moribundo — então chega-se à conclusão de que Lênin, em relação à Marx, caiu no revisionismo.
Se, por exemplo, Marx afirmou em meados do século passado que "a reviravolta socialista nas relações econômicas de qualquer pais do continente europeu ou até mesmo de todo o continente europeu com exceção da Inglaterra — é apenas uma tempestade num copo d'água"(45), e Engels, levando em conta a nova experiência da luta de classes, modificou posteriormente esta tese, afirmando que "os franceses começariam a revolução socialista e os alemães a acabariam" — ent&o conclui-se que Engels caiu em revisionismo em relação à Marx.
Se Engels afirmou que os franceses começariam a revoluç&o socialista e os alemães a acabariam, enquanto que Lênin, levando em conta a experiência da vitória da revolução na URSS, modificou esta formulação e a substituiu por outra, afirmando que os russos iniciaram a revolução socialista e que os alemães, os franceses e os ingleses a acabariam — então conclui-se que Lênin caiu em revisionismo em relação a Engels e, além do mais, em relaç&o a Marx.
Citemos, a respeito, as palavras de Lênin:
"Os grandes fundadores do socialismo Marx e Engels, ao observarem, no decurso de uma série de décadas de desenvolvimento do movimento operário e de progresso da revolução socialista mundial, notaram claramente que a transição do capitalismo ao socialismo exigirá profundos sofrimentos de gerações e gerações, um longo período da ditadura do proletariado, a destruição de tudo o que é velho, a destruição implacável de todas as formas do capitalismo, a cooperação dos operários de todos os países que devem fundir todos os seus esforços a fim de garantir a vitória total. E afirmaram que em fins do século XIX os acontecimentos se processarão de forma a que "os franceses começarão e os alemães terminarão" — os franceses começarão porque eles criaram em si mesmos, no decorrer de décadas de revolução, a suprema capacidade da iniciativa na ação revolucionária que fez deles a vanguarda da revolução socialista.
Acha-se atualmente diante de nós uma nova combinação de forças do socialismo internacional. Afirmamos que o movimento terá mais facilidade em começar nos países que não pertencem ao número dos países exploradores e que têm a possibilidade de mais facilmente pilhar e subornar a aristocracia operária... Os acontecimentos se processaram de maneira diferente da que Marx e Engels previram (o grifo é meu — J. St.) e nos deram, aos operários e demais classes exploradas da Rússia, o honroso papel de vanguarda da revolução socialista internacional e hoje vemos claramente como marcha a passos rápidos o desenvolvimento da revolução; os russos começaram — e os alemães, franceses e ingleses terminarão e o socialismo vencerá"(46).
Vemos que Lênin, aqui, "re-elabora" Engels e Marx, caindo, segundo Zinoviev, no "revisionismo".
Se, por exemplo, Marx e Engels definiram a Comuna de Paris como uma ditadura do proletariado que, como se sabe, era dirigida por dois Partidos, dos quais nenhum era marxista, e Lênin, levando em conta a nova experiência da luta de classes nas condições do imperialismo, afirmou posteriormente que uma ditadura do proletariado algo desenvolvida só pode ser realizada sob a direção de um Partido, o Partido do marxismo — então conclui-se que Lênin caiu em manifesto "revisionismo" em relação a Marx e Engels.
Se Lênin afirmou, na etapa anterior à guerra imperialista, que uma federação constitui um tipo inadmissível de organização estatal, mas em 1917, levando em conta a nova experiência da luta do proletariado reconsiderou e modificou esta formulação, afirmando que uma federação é um tipo compatível de organização estatal no período de transição ao socialismo — então conclui-se que Lênin caiu em "revisionismo" em relação a si mesmo e ao leninismo.
E etc., etc.
Conclui-se daí, segundo Zinoviev, que o marxismo não deve se enriquecer com a nova experiência, que é revisionismo qualquer melhoramento de determinadas teses e fórmulas deste ou daquele clássico do marxismo.
O que é o marxismo? O marxismo é uma ciência. Pode-se manter e desenvolver o marxismo como ciência se não se o enriquecer com a nova experiência da luta de classes do proletariado, se não se re-elaborar esta experiência do ponto de vista do marxismo, sob o ponto de vista do método marxista? Claro que não.
Torna-se claro depois disto que o marxismo exige o melhoramento e o enriquecimento das velhas fórmulas na base da consideração da nova experiência mantendo-se o ponto de vista do marxismo, mantendo-se o seu método, mas Zinoviev procede ao contrário, mantendo a letra e substituindo o ponto de vista do marxismo e seu método pela letra de determinadas teses do marxismo.
O que pode haver de comum entre o marxismo real e a substituição da linha fundamental do marxismo pela letra de determinadas fórmulas e citações tiradas de determinadas teses do marxismo? Acaso se pode duvidar de que isto não marxismo mas uma caricatura do marxismo?
Marx e Engels tiveram em vista justamente "marxistas" da qualidade de Zinoviev, quando afirmaram:
"A nossa doutrina não um dogma, mas um guia para a ação".
A desgraça de Zinoviev está em que ele não compreende o sentido e a significação destas palavras de Marx e de Engels.
continua>>>Notas:
(30) V. I. Lênin — "As Tarefas do Proletariado na Atual Revolução", Obras, tomo XX, pgs. 87-89, 3ª edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(31) A Esquerda de Zimmerwald — grupo dos internacionalistas de esquerda; foi formado por V. I. Lênin na primeira conferência internacional dos internacionalistas que se realizou de 23 a 26 de agosto (5 a 8 de setembro) de 1915, em Zimmerwald (Suíça). O Partido Bolchevique, à cuja frente se encontrava V. I. Lênin, ocupou no grupo de esquerda de Zimmerwald a única posição justa e consequente até o fim, contra a guerra. Sobre a esquerda de Zimmerwald vide a "Historia PC (b) da URSS." ( pg. 68, Edições Horizonte, Rio). (retornar ao texto)
(32) Kalantchá: palavra russa que significa um mastro ornamentado com flores para as festas do Primeiro de Maio. (nota da redação). (retornar ao texto)
(33) Os Smienovierroviets são partidários de uma tendência política burguesa que surgiu em 1921, no estrangeiro entre a emigração burguesa russa e que tirou a sua denominação da revista "Smiena Ver". O smienovierrovismo constitui manifestação dos pontos de vista da nova burguesia e da intelectualidade burguesa da Rússia Soviética que haviam renunciado, em conseqüência da introdução da nova política econômica (NEP), à luta armada aberta contra o Poder Soviético e que contavam com a gradual transformação do regime soviético numa república burguesa comum. Ustrialov foi o ideólogo do smienovekovismo. (retornar ao texto)
(34) V. I. Lênin - Obras, tomo XXVII, pg. 450, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
(35) V. I. Lênin - "Obras Escogidas", tomo IV, pg. 549, Editorial Problemas, B. Aires. (retornar ao texto)
(36) Idem, Idem. (retornar ao texto)
(37) Urkart — palavra formada das iniciais de Artel Ural-Kusniets. (nota da redação) (retornar ao texto)
(38) Netchaievismo — tática dos complôs e do terrorismo; recebeu a sua denominação do nome do anarquista russo e bakuninista S. G. Netchaiev. Em fins dos anos 60 do século XIX Netchaiev criou na Rússia uma organização estreitamente conspirativa, desligada das massas e na qual a vontade e as opiniões dos seus membros eram completamente sufocadas. (retornar ao texto)
(39) Araktcheevismo — regime de despotismo policial ilimitado, do arbítrio dos militaristas e de violência contra o povo que existiu na Rússia no primeiro quartel do século XIX; recebeu a sua denominação do nome do político reacionário conde Araktcheev. (retornar ao texto)
(40) K. Marx e F. Engels - Obras, tomo VIII, pg. 71, edição russa de 1931, Moscou. (retornar ao texto)
(41) V. I. Lênin — Obras, tomo XIX. pág. 302. Edição russa. Moscou. (retornar ao texto)
(42) K. Marx e F. Engels - Manifesto do Partido Comunista, Anexos, pgs. 75-97, edição russa, 1939, Moscou. (retornar ao texto)
(43) F. Engels — "Princípios do Comunismo", pgs.18 e 19, Edições Horizonte, 1946, Rio. (retornar ao texto)
(44) V. I. Lênin - Obras, tomo XXIV. pg. 250. edição, russa, Moscou. (retornar ao texto)
(45) K. Mar e F. Engels — Obras, tomo VII, pg, 103, edição russa, 1930, Moscou. (retornar ao texto)
(46) V. I. Lênin — Obras, tomo XXII, pg. 318, edição russa, Moscou. (retornar ao texto)
Inclusão | 12/11/2008 |
Última alteração | 03/11/2011 |