O Caldeirão das Bruxas e Outros Escritos Políticos

Hermínio Sacchetta


Resposta Proletária: Frente-Única de Classe(1)


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Já, agora, os menos prevenidos do campo socialista podem sentir esta verdade elementar. Hoje, a força de nossos inimigos de classe, no Brasil, não existe por si mesma: ela se impõe pela fraqueza organizacional da classe operária, cuja disposição de luta, contudo, ainda que obscurecida pelas manobras escamoteadoras dos “pelegos” políticos e sindicais, começa de novo a manifestar-se. A II Conferência Nacional de Dirigentes Sindicais, embora enquadrada num abjeto legalismo apolítico e bafejada por um suspeito nacional-reformismo de contrabando, foi obrigada a proclamar que “nós, trabalhadores, estamos submetidos a uma hedionda espoliação salarial, a uma insuportável apropriação de nossos salários”. Os “pelegos” sentem o braseiro, ainda coberto de cinzas, lhes queimar as plantas dos pés e vêem ameaçada a “liderança” que os neofascistas de Castelo e Costa e Silva lhes atribuíram. Não foi outra a causa dessa “combatividade”, contida nos estritos limites tolerados pelo governo que, ao mesmo tempo, investe contra manifestações sindicais de São Paulo e Rio Grande do Sul.

Não apenas os “pelegos” sindicais pressentem a tempestade que, cedo ou tarde, pode desabar. Larga parcela do clero, pelos seus bispos, se mostra ainda mais assustada e, por isso mesmo, mais exigente nas reivindicações “reformistas” para reduzir a intolerável e explosiva situação de miséria dos trabalhadores. No mesmo sentido, a Frente Ampla de Lacerda, Kubitschek e Goulart constitui o lance de maior envergadura, se bem que ainda não de todo revelado, por motivos táticos.

“Pelegos”, bispos e Frente Ampla, mesmo que com interesses próprios, buscam, na verdade, um só objetivo: anular ou, pelo menos, afastar um perigo potencial que até os menos argutos percebem: a explosão revolucionária do proletariado, que arrastará atrás de si a maioria dos explorados e oprimidos.

Os três caudilhos da Frente Ampla, — Lacerda, J. K. e J. G. — de inegável prestígio político, estão, no momento, se fingindo de mortos, à espera que se agravem ainda mais as dificuldades do governo de Costa e Silva, cujo cego reacionarismo neofascista e conservantismo agrarista começam a inquietar sua base de apoio civil e, militar, já não de todo disposta a correr os riscos de uma orientação econômico-política tão ostensivamente antipopular e, mesmo, nociva a alguns setores da burguesia.

À hora oportuna, pretende a Frente Ampla dar a arrancada rumo às massas e, não haja dúvidas, nas condições presentes, não somente a pequena burguesia mas também significativas parcelas dos trabalhadores se deixarão envolver pela demagogia dos chefes frentistas, um dos quais tem tradições “trabalhistas”.

Desempenhado o “papel sujo” por Castelo e Costa e Silva, caberá à trinca frentista o “papel limpo” no jogo da burguesia. Se não à trinca, pelo menos a um deles; provavelmente a Lacerda.

A esta perspectiva, não meramente hipotética, mas amparada em indícios bem concretos, o que estão opondo as chamadas vanguardas revolucionárias? De fato, pouco mais que nada. A menos que se possa considerar política proletária revolucionária o pútrido oportunismo adesista do PCB de Prestes ou o delirante verbalismo radical de alguns grupelhos de “guerrilheiros” do asfalto.

É verdade que no “pouco mais que nada” podemos incluir as facções dissidentes do PCB e o PC do B que, embora encarando com seriedade a ação revolucionária, também se deixam empolgar por um radicalismo ultra-esquerdista, tendo como objetivo próximo, se não imediato, a luta armada, com desprezo dos combates táticos do dia a dia, seja no plano político como econômico, necessários à mobilização e organização da classe operária para a batalha final. Bem entendido, todos nós, marxistas, devemos ter como meta decisiva a luta armada contra o inimigo de classe e seu Estado, mas a situamos num momento do processo revolucionário, que, preparado e radicalizado por ações parciais, terá nela um dos pontos supremos da marcha para a imposição do poder proletário.

Quando se a leva, de fato, a sério, prepará-la é tarefa de cada dia, considerando-a não como ato “putschista” de um grupo de heróis, mas como conseqüência de ações revolucionárias de massas, que se adestram para ela e a aceitam no curso de sucessivos combates contra o inimigo de classe, desde greves econômicas e políticas até grandes manifestações coletivas contra o regime capitalista. Luta armada sem participação de massas é “golpe”, com fracasso certo, não insurreição.

Preparemo-nos para a luta armada, desde já, mas num processo dialético que encare a realidade como ela se apresenta.

Temos à nossa frente o Estado neofascista de Costa e Silva e sua camarilha. É preciso combatê-lo, bem como a todas as “leis” e decretos que o sustentam.

Temos à nossa frente os “pelegos” dominando os sindicatos. Devemos expulsá-los, bem como conquistar plena liberdade sindical.

Temos à nossa frente a Frente Ampla. É preciso destruí-la ou reduzi-la à impotência, antes que se torne um instrumento de mistificação das massas.

Cumpre-nos impor a legalidade do movimento operário político e de sua imprensa.

É tarefa nossa exigir a revogação das leis de “arrocho” salarial. Etc. Etc. Etc.

Cada um dos itens acima apresentados ou a combinação deles deve ser fator de mobilização da classe operária e de seus aliados, que mal começam a se repor sobre os próprios pés, depois das derrotas que lhes foram impostas, a partir do “golpe” de 64, em grande parte como conseqüência do colaboracionismo oportunista e do capitulacionismo de pretensas vanguardas proletárias. Combates parciais por essas e outras reivindicações poderão preparar, de fato, as forças da Revolução para a luta armada contra o regime capitalista e pelo Socialismo.

Com esse objetivo, o MCI considera indispensável a constituição de uma Frente-Única Proletária e reitera, assim, os termos de sua proposta, apresentada no n.º 5 de Bandeira Vermelha.


Notas de rodapé:

(1) “Editorial” do Bandeira Vermelha, Órgão Central do Movimento Comunista Intemacionalista, n° 7, novembro de 1967. (retornar ao texto)

Inclusão 21/04/2014