Ao mesmo tempo que a greve dos ferroviários alemães e que a ação revolucionária dos mineiros do Rand estavam atraindo a atenção tensa do mundo, a Índia também foi visitada por uma greve industrial de uma natureza muito séria e extensiva, a greve dos trabalhadores da East India Railway. Esta prolongada luta dos nossos, não tão bem organizados e mal liderados, camaradas indianos passou sem receber grande atenção, o modo que a informação que chegou a Europa por meio da imprensa capitalista foi muito pobre.
A greve foi declarada no dia 2 de fevereiro e não pode ser considerada completamente acabada até hoje. A luta durou quase três meses. E quando lembramos que organizações da classe trabalhadora ainda estão em condição bem rudimentar na Índia e que os trabalhadores encaram a fome crua assim que saem do emprego, não tendo fundos sindicais para se apoiar, a natureza revolucionária da greve da East India Railway se torna evidente para nós. Para aqueles que só tem uma ideia bem vaga do movimento indiano (e infelizmente o número de tais camaradas é muito grande) deve ser apontado que desde o início esta luta dos escravos assalariados indianos, como muitas outras antes, não foi criada pelos esforços de políticos burgueses, que estão se afundando cada vez mais fundo no poço do pacifismo reacionário, assustados pelo pesadelo de um levante de massas. Foi uma ação tomada pelos trabalhadores por iniciativa própria, sem mesmo consultar os líderes sindicais, que começaram a sabotar a greve assim que ela foi declarada. E os trabalhadores tiveram de lutar não só contra os empregadores, mas também contra aqueles que pretendiam liderá-los. Esses autoproclamados líderes podem ser divididos em três categorias; a ver,
- agentes do governo.
- políticos aventureiros, e
- pacifistas reformistas dedicados a enevoar a consciência revolucionária das massas. Levar a luta por três meses sob tais circunstâncias testemunha a determinação resoluta dos trabalhadores indianos para melhorar a sua situação.
A greve, iniciada nas Províncias Unidas, que tem sido o teatro de uma série de revoltas camponesas nos últimos anos. Iniciou como um protesto contra a agressão de um bombeiro indiano por um engenheiro inglês. Em algumas horas, os trabalhadores indianos da fábrica de locomotivas deixou o trabalho, e foram seguidos instantaneamente pelos trabalhadores das estações e das ferrovias de todo o distrito. Então, os homens se jogaram na luta antes que os líderes sindicais tivessem a chance de prevenir isso ao abrir negociações fúteis, que sempre colocam os empregadores em vantagem. A greve se espalhou como um rastilho de pólvora por todo o principal sistema ferroviário do país, e em alguns dias ela tinha afetado mais de 1.200 milhas da linha principal, mais as ramificações. Quase cento e cinquenta mil homens estavam envolvidos, e o tráfego de passageiros e bens foi quase completamente paralisado nas três grandes e importantes províncias de Bengal, Behar e Orissa, e nas Províncias Unidas. Em todos os importantes centros ferroviários, protestos de massas foram realizados, e a maioria desses protestos terminou em conflitos entre os grevistas e a política armada, que foram chamados para guardar as estações e trilhos assim como para proteger aqueles ainda trabalhando. Em muitos lugares, os grevistas, em grandes grupos, atacaram as fábricas e forçaram os fura-greves, incluindo os trabalhadores ingleses privilegiados, a sair.
Mesmo que um protesto contra a agressão de um trabalhador tenha sido a causa imediata da greve, não demorou para que as demandas dos trabalhadores fossem formuladas; como o seguinte: primeiro, o reconhecimento do seu sindicato; segundo, aumento dos salários em 25%; terceiro, sem vitimização: os líderes da greve demitidos sumariamente deveriam ser readmitidos sem nenhum prejuízo; quarto, nenhum confisco do Fundo de Previdência no caso de algum trabalhador não retornar ao trabalho; quinto, pagamento integral dos salários do período em greve; e sexto, salário igual para trabalho igual.
Os líderes dos diversos sindicatos de várias ferrovias se reuniram em uma conferência para discutir essas demandas com os trabalhadores. Nesta conferência os habilidosos advogados e os políticos reformistas levaram os grevistas ignorantes e inocentes para o caminho da negociação. Foi decidido que uma delegação desses enganadores levaria o “caso dos empregados para a audiência da Sua Excelência o Vice-rei” e abriria negociações com a empresa.
A intervenção não-solicitada dos líderes burgueses não apenas impediu o maior desenvolvimento da greve junto as suas linhas revolucionárias iniciais, mas dirigiu ela ao beco escuro da negociação. O Governo se recusou a interferir, para deixar os trabalhadores em greve inteiramente à mercê da empresa, que empilhou lucros na taxa de centenas por cento, durante o último século e meio. Evidentemente, de acordo com a lógica imperialista, enviar as forças armadas para proteger as propriedades de uma empresa, para aterrorizar grevistas esfomeados ou para simplesmente atirar nos protestantes inofensivos, não foram considerados atos de intervenção. O Sr. Andrews, o missionário ex-cristão, que tomou a tarefa de fazer os trabalhadores rebeldes se submeterem a exploração capitalista mascarada por palavras doces e sentimentos liberais, já tinha se aproximado do diretor da empresa e aceitado sua oferta para induzir os grevistas a retornarem ao trabalho, deixando a decisão do seu futuro ao senso de justiça do empregador. O Governo indicou ao chamado “representante” dos grevistas que se chegou a um entendimento entre o diretor e o Sr. Andrews. A Companhia, por sua parte, ameaçou os homens com a demissão sumária se eles não retornassem ao trabalho em alguns dias.
Apesar da sua ação ameaçadora, a Companhia estava pronta para continuar as negociações, porque esta era a melhor maneira de quebrar a resistência dos grevistas. Longas e demoradas negociações eram a arma mais certa para obrigar os homens a voltar ao trabalho sem ter tido nenhuma das suas demandas cumprida. Essa multidão de religiosos, aventureiros e reformistas que posaram como defensores dos interesses dos trabalhadores aconselharam desde o início que voltassem ao trabalho, na condição que suas requisições seriam ser subsequentemente consideradas pelos empregadores. Mas a intervenção e sabotagem de todos os tipos de pessoas, que eram, no fundo, tudo, menos amigos dos interesses da classe trabalhadora, não podiam manter o caráter real da greve escondido. Participando de um encontro de massas em Burdwan em 21 de fevereiro, o secretário do Comitê do Congresso local chamou os grevista para se manter estritamente na linha da não-violência indicada por Gandhi, porque, ele disse, “essa era a única maneira de conquistar Swaraj.” Durante o seu sermão, os homens, que não estavam lutando tanto por Swaraj mas por seus próprios interesses, rebateram pertinentemente “pet ka waste” (nós estamos lutando pelo nosso estômago). O discursante então respondeu com grande indignação “então não diga Gandhi ki hai, mas grite pet (estômago) ka jai”. Acidentes como esse não são raros. Eles mostram que as massas indianas estão se tornando conscientes dos seus interesses de classe e estão avançando na luta cada vez mais conscientes.
Como esperado pela empresa e temido pela seção mais inteligente dos grevistas, as negociações, vez iniciadas, se arrastaram, desgastando o poder de resistência dos homens, que tinham poucos recursos para se amparar. Grandes números de grevistas, que tinham vindo recentemente dos seus vilarejos natais e que ainda tinham alguns meios de subsistências lá, voltaram, deixando a vida tempestuosa do industrialismo; um número crescente de mãos não-especializadas foi esmagado e obrigado a voltar ao trabalho; a seção mais avançada, composta principalmente pelos homens especializados que o trabalho não poderia ser tão facilmente dispensados, continuaram a lutar determinantemente. Traídos pelos líderes em que eles confiaram, desertados pelos menos conscientes e menos determinados camaradas, esses homens adotaram métodos mais violentos. Estações foram queimadas, trilhos foram destruídos, fábricas tocadas por fura-greves foram atacadas, trens destruídos, etc., etc.. Isto não somente fez cair sobre eles todas as armas da repressão do Estado, mas também invocou a raiva justiceira daqueles que professaram ser seus amigos e líderes.
O Sr. Andrews, que tomou a posição mais proeminente nas negociações, abertamente denunciou os grevistas como Sindicalistas quando eles tentaram chamar uma conferência dos delegados de vários sindicatos ferroviários para declarar uma greve geral abraçando todos os sistemas ferroviários indianos. Esta conferência deveria se reunir no início de maio; nenhuma notícia sobre suas deliberações e decisões está disponível.
A greve da East India Railway foi praticamente encerrada na exaustão e na derrota temporária dos trabalhadores. Mas eles ganharam uma experiência valorosa e desenvolveram a consciência da sua classe. A revolução indiana está progredindo junto à luta de classes.