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Primeira Edição: Política Operária nº 83, Jan-Fev 2003 - sob o pseudônimo de Mário Fontes
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Semana após semana, os 200 operários das fábricas das Porcelanas de Coimbra que ficaram com salários e subsídios por receber fazem marchas e concentrações, enquadrados pelos seus dirigentes sindicais, a pedir providências do governador civil, do presidente da Câmara, dos tribunais. Semana após semana recebem promessas e vão sendo empurrados de um lado para o outro. Agora, o Sindicato dos Cerâmicos do Centro anuncia que vai pedir ao ministro do Trabalho que obrigue o administrador da empresa a “cumprir as suas obrigações para com os trabalhadores”. Enternecedor!
No Vale do Ave, cerca de dez mil operários da têxtil, calçado, metalurgia, electrónica, comércio, ou tem os salários em atraso (alguns desde Setembro!), ou enfrentam despedimentos colectivos, ou são mandados para casa sem indemnizações.
Na Marinha Grande, começaram a ser julgados, por “motim armado” os operários da Pereira Roldão que há sete anos protestaram por não lhes pagarem os salários; apesar de o “motim armado”, todos o sabem, ter sido da polícia que espancou às cegas quem encontrou pela frente.
Na Grundig de Braga os trabalhadores percorrem há cinco anos a via sacra do processo judicial, reclamando que seja reconhecida a ilegalidade do despedimento colectivo que atingiu mais de 100 operários. Decidiu agora o tribunal da Relação que o despedimento se justificou por razões de ordem económica. Segue-se o recurso para o Supremo e daqui por uns anos, quem sabe, para o Tribunal Constitucional...
Este desprezo impune pelos direitos dos trabalhadores não vos faz lembrar os tempos do salazarismo? E porque esta mansidão dos espoliados se o fascismo já vai longe?
Inclusão | 18/08/2019 |