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Primeira Edição: Política Operária nº 56, Set-Out 1994
Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Acção Revolucionária, Capitulação e Aventura, Álvaro Cunhal, Edições Avante, Lisboa, 1994.
Causa perplexidade a edição “em texto original e integral" deste trabalho, guardado na gaveta durante quase trinta anos. Apesar de no prefácio Cunhal procurar explicá-lo como resposta à campanha de falsificações reaccionárias por ocasião do 209 aniversário do 25 de Abril, esta revelação tardia duma polémica silenciada há trinta anos parece ter muito mais como objectivo segurar as combalidas fileiras do PCP.
De facto, é flagrante a semelhança deste livro com outro que na época teve certa notoriedade, “Radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista”. Em ambos, Cunhal defende a sua concepção do movimento antifascista contra as críticas vindas tanto da oposição liberal-republicana como das dissidências “esquerdistas”. Só que o volume agora editado é composto pelo contra-ataque de Cunhal a algumas figuras destacadas da oposição burguesa, assim como aos marxistas leninistas, críticas que na altura foram julgadas inoportunas, por motivos óbvios: à direita, porque não convinha irritar os “democratas”; à esquerda, porque o PCP não admitia sequer a existência de uma corrente marxista.
Resulta assim que os membros do PCP tomam hoje conhecimento das críticas do partido ao Programa de Democratização da República (de 1962!), à ADS e à ASP, organismos há muito desaparecidos, e podem ler os mordazes comentários de Cunhal às acusações que lhe eram feitas pelos marxistas leninistas... há trinta anos! É de duvidar que tal incentivo os leve a desistir da debandada...
Que Cunhal tenha esperado tanto tempo para dar a conhecer a sua contestação às críticas que lhe fizemos na revista Revolução Popular é maravilha que deixamos à meditação dos interessados. Diz tudo sobre a incapacidade do PCP para a luta de ideias em campo aberto. De qualquer modo, não temos nada a responder. A crítica ao desgraçado projecto cunhalista da “revolução democrática e nacional” está feita pela própria vida.
Se, mesmo em face da evaporação das fugazes conquistas populares de 74-75, Cunhal ainda não percebe que tínhamos razão quando escrevíamos que "a missão histórica objectiva da linha da Unidade é pôr o movimento revolucionário ao serviço do movimento burguês” e que a sua “revolução” era “a teoria e a prática da passagem de Portugal dum regime capitalista antiquado a um capitalismo moderno”; se ainda acha que era “delírio esquerdista” afirmarmos que reais transformações sociais dependiam do derrubamento da burguesia; se não tem uma palavra de autocrítica para o facto de as condições para o seu “levantamento nacional” só terem sido reunidas quando o exército chegou à beira do descalabro em África, isto é, de o esforço central para o derrube do fascismo ter cabido aos povos africanos, como então denunciámos — não há verdadeiramente muito mais a dizer.
Inclusão | 21/08/2019 |