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Primeira Edição: ODiario.info - http://www.odiario.info/?p=3601
Fonte: http://resistir.info
Transcriçãoe HTML: Fernando Araújo.
O documentário de Laura Poitras "Citizenfour", premiado com um óscar, não tem tido a atenção que merece por parte do público no nosso país. O seu título é o nome de código de Edward Snowden, o ex agente da CIA que revelou ao mundo a existência e o funcionamento do monstruoso sistema de espionagem criado pela NSA, cujos tentáculos cobrem o mundo. Peça fundamental da estratégia imperialista de dominação planetária, o desmascaramento desta ameaça é uma tarefa de defesa da humanidade.
Contei as pessoas à saída da sala do pequeno cinema do Porto que acabara de exibir o documentário Citizenfour: eram apenas 19.
Porquê tão pouca gente?
Eu conhecia a resposta:
Citizenfour é o nome de código de Edward Snowden no Documentário em que a cineasta e jornalista norte-americana Laura Poitras resume em linguagem fílmica a estória do jovem informático, ex agente da CIA, que revelou ao mundo a existência e o funcionamento do monstruoso sistema de espionagem criado pela NSA, cujos tentáculos cobriam o mundo.
O importante no filme não é a sua qualidade, mas o desmascaramento da ameaça à humanidade.
Snowden estava em Hong Kong quando, após cautelosos contactos por mails encriptados, aceitou encontrar-se naquela cidade com Laura Poitras e o jornalista americano Glenn Greenwald, colunista do diário britânico The Guardian. Sabendo que estava a ser vigiado, entregou a ambos os documentos secretos em seu poder. Quando Greenwald, com a sua anuência, começou a publicá-los em The Guardian, ficou transparente que o chamado sistema de vigilância da NSA, elogiado pelo presidente Obama, é, na realidade, uma poderosa máquina de espionagem de dimensão planetária. O escândalo adquiriu proporções mundiais quando o Washington Post e o semanário alemão Der Spiegel e a BBC decidiram também divulgar provas indesmentíveis das atividades ilegais da NSA, criminosas segundo o direito internacional. Até a chanceler Angela Merkel, entre muitos outros aliados dos EUA (incluindo Dilma Roussef e o próprio Cameron) era alvo da espionagem da NSA.
Obama sentiu a necessidade de intervir e pediu desculpas a Merkel, e ela, tão hipócrita como o americano, simulou acreditar na garantia de que não voltaria a ser espiada pela NSA.
O filme ilumina bem o cinismo do presidente dos EUA, mais perigoso para a humanidade do que Reagan e os Bush. Não somente atacou agressivamente Snowden, afirmando que não era "um patriota", como deu luz verde à perseguição judicial iniciada ao ex funcionário da NSA. Para o incriminar acharam que o Patriot Act era insuficiente e foram desenterrar uma lei da época da Primeira Guerra Mundial, que visava desertores e terroristas. No Senado e na Camara dos Representantes chegaram a exigir-lhe a cabeça, e nos grandes media tornaram-se rotineiros os apelos para que fosse assassinado.
Em Hong Kong, Snowden apercebeu-se de que se permanecesse ali as suas probabilidades de sobreviver eram mínimas. Retiraram-lhe inclusive o passaporte americano.
O documentário de Laura Poitras descreve os esforços de Greenwald e outros amigos para o tirarem da China enquanto pedia asilo a muitos países. A ajuda de Sónia Bridi, uma jornalista do Wikileaks, de Julian Assange, foi decisiva para o meterem num avião da Aeroflot que o levou a Moscovo. O desfecho da estória é bem conhecido. Snowden permaneceu na área internacional do aeroporto internacional daquela cidade, até que finalmente o governo de Putin, resistindo às pressões de Washington, lhe concedeu asilo na Rússia. Ali se encontra ainda.
O escasso número de espectadores que o filme de Laura Potras, premiado com um óscar, tem atraído em Portugal é esclarecedor da dificuldade, mencionada no início deste artigo, da desmontagem da máquina de desinformação do imperialismo. O sistema dos Cinco Olhos que transforma a mentira em verdade no qual o Reino Unido, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia participam como cúmplices tem aliás colaborado ativamente com a NSA.
Mas o diabolismo da espionagem mundial da Agencia de Segurança norte americana funciona também como incentivo à luta contra a engrenagem do sistema de poder que gradualmente está transformando os EUA num Estado totalitário com matizes neofascistas.
Não instalou campos de concentração, não construiu camaras de gás e fornos crematórios mas, sob uma enganadora fachada democrática, faz do seu sistema de espionagem o instrumento de um poder hegemónico, desencadeia guerras genocidas, saqueia os recursos naturais de dezenas de povos e semeia o terrorismo pelo mundo. Neste início do seculo XXI os seus atos e ideologia justificam o qualificativo de IV Reich.
Vila Nova de Gaia, 21 de Março de 2015