Taciana tinha a certeza de que o valente capitão se fizera revolucionário pensando nela . Julgava-se a inspiradora de Luiz Carlos Prestes. Fora, sem dúvida, o grande amor martirizado por uma separação brusca que o levara a chefiar um movimento armado, enfrentando os maiores perigos, procurando na morte heróica, o esquecimento do seu grande amor.
Lembrava-se de um pensamento dele quando a beijara a vez primeira:
— “Tu nasceste dos sorrisos dos deuses”...
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Se o mundo soubesse que era ela a causadora do heroísmo daquele general de 28 anos de idade, pensava Taciana, seria a mulher mais admirada da época. Mas preferia guardar o segredo do seu coração, com o egoismo de saber, só ela, da causa daquela bravura, daquele heroísmo inédito na história do Brasil.
Invencível na luta, desafiando o mais forte, corajoso até a temeridade, Prestes tornava-se cada vez maior aos olhos da Pátria que ele tanto amava. A energia daquele homem suave como a palavra dos Apóstolos fizera dele o grande general que todos admiravam. Pela sua coragem inaudita conquistara a confiança que o fizera o chefe supremo.
Taciana lia todos os jornais para acompanhar a marcha da Coluna Prestes com a maior exaltação, com o mais vivo interesse.
Lembrava-se com infinita saudade dos tempos que passara ao lado de Prestes!
Quem diria que aquele moço sentimental que passava longo tempo a seu lado sentindo a infiltração da música em sua alma, despertando a saudade de sua mãe e suas irmãs, era o grande chefe que hoje desafiava a morte pelos sertões, florestas, rios e pântanos!
Procurava sempre auscultar a opinião dos outros sobre o heroísmo de Prestes. Era com grande satisfação que ouvia os elogios ao bravo guerreiro.
Venâncio esperava a todo momento a derrota daquele “soldadinho de chumbo” como chamava a Luiz Carlos Prestes. Sabendo da paixão da esposa pelo bravo militar contava que com a morte de Prestes sua esposa “voltasse à razão”.
Taciana comparecia a todos os centros de elegância. Sua vida mundana era de grande irradiação. Frequentava os cinemas, os teatros, os bailes, tudo que a distraísse e a fizesse esquecer.
Sua paixão pelas flores tomava-lhe grande parte do dia. A jardinagem a distraia muito. Com o maior carinho plantava e replantava as begônias, as avenças, as flores de sombra. Namorava as flores do seu jardim e acompanhava, todas as manhãs, o despontar dos pequenos botões até a eclosão das rosas. Era assim que matava a insipidez da sua vida matinal, após o banho de mar.
Nas horas de spleen nada a fazia sair de casa; ficava como a cegonha do poeta — “debruçada sobre a angústia infinita de si mesma”.
Sentia não poder estar ao lado de Prestes e lembrava-se de Anita Garibaldi combatendo junto do seu amado.
Toda a beleza dessa vida de mulher que se fizera guerreira pelo amor do marido, dessa heroína e mártir que sacrificara toda a sua mocidade em holocausto ao seu amor: todo o esplendor, toda a vida de Anita passava em imagens vivas pelo pensamento de Taciana. Imaginava a anjo tutelar do general Garibaldi, na cavalgada indômita, defendendo os ideais do seu amado. Anita, a maior gloria, do grande guerreiro, fora a sua inspiração.
Também ela seria uma heroína se estivesse naquele momento ao lado do seu amado.