MIA > Biblioteca > Huey Newton > Novidades
Fonte do texto em Inglês: Workers World
Fonte do texto em Português: Nova Cultura
Tradução: Gabriel Duccini
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de reprodução: Articles copyright 1995-2012 Workers World. Verbatim copying and distribution of this entire article is permitted in any medium without royalty provided this notice is preserved.
Durante os últimos anos fortes movimentos vem surgindo entre as mulheres e entre os homossexuais que buscam sua libertação. Houve alguma incerteza sobre como se relacionar com esses movimentos. Quaisquer sejam suas opiniões individuais e inseguranças sobre homossexualidade e os diversos movimentos de libertação entre os homossexuais e mulheres (e falo de homossexuais e mulheres como grupos oprimidos), devíamos tentar nos unirmos a eles sob uma perspectiva revolucionária. Eu digo "quaisquer sejam suas inseguranças" porque como nós muito bem sabemos, às vezes o nosso primeiro instinto é querer bater em um homossexual e querer que a mulher fique quieta. Queremos bater no homossexual porque temos medo de que possamos ser homossexuais; e queremos bater nas mulheres ou silenciá-las, porque temos medo de que elas possam nos castrar ou nos levar os culhões que aparentemente podemos nem ter, para começar.
Temos que nós mesmos nos garantir segurança e, portanto, ter respeito e empatia por todos os povos oprimidos. Não devemos usar da atitude racista que os brancos racistas usam contra nosso povo, porque são negros e pobres. Muitas vezes o branco mais pobre é o mais racista porque tem medo de que possa perder algo ou descobrir algo que ele não tem. Então você se torna como uma ameaça para ele. Esse tipo de psicologia está estabelecido quando vemos os povos oprimidos e ficamos com raiva deles por causa de seu tipo particular de comportamento ou seu tipo específico de desvio da norma estabelecida.
Lembrem-se, nós não estabelecemos um sistema de valores revolucionários; estamos apenas no processo de estabelecê-lo. Não me lembro de alguma vez termos constitudo qualquer valor que dissesse que um revolucionário deve dizer coisas ofensivas contra os homossexuais ou que um revolucionário deve se certificar de que as mulheres não falem sobre sua própria particularidade de opressão. Na verdade, é justamente o contrário: pontuamos que reconhecemos o direito das mulheres de serem livres. Não temos falado muito dos homossexuais de qualquer modo, mas devemos nos relacionar com o movimento gay porque é uma coisa real. E eu tenho conhecimento através de leitura, e através de minha experiencia empírica e de observações que aos homossexuais não são dadas nenhuma liberdade por ninguém na sociedade. Existe a possibilidade de serem os povos mais oprimidos da sociedade.
E o que os fez se tornarem homossexuais? Talvez seja um fenômeno que eu não entenda completamente. Algumas pessoas dizem que é decadência do capitalismo. Eu não sei se esse é o caso; sinceramente duvido. Mas qualquer que seja o caso, sabemos que a homossexualidade é um fato que existe, e devemos entendê-la em sua forma mais pura, ou seja, uma pessoa deve ter a liberdade de usar seu corpo da maneira que quiser.
Isso não implica em endossar coisas na homossexualidade que nós não vemos como revolucionárias. Mas não há nada para dizer que um homossexual não pode também ser um revolucionário. E talvez eu esteja agora inserindo um pouco do meu preconceito, dizendo que "mesmo um homossexual pode ser um revolucionário." Muito pelo contrário, talvez um homossexual possa ser o mais revolucionário.
Quando temos conferências revolucionárias, comícios e manifestações, deveria haver uma plena participação do movimento de libertação gay e movimento de libertação feminina. Alguns grupos podem ser mais revolucionários que outros. Não devemos usar a ação de uns para afirmar que são todos reacionários ou contrarrevolucionários em essência, porque não são.
Devemos lidar com os movimentos assim como lidamos com qualquer outro grupo ou partido que afirma ser revolucionário. Devemos tentar julgar, de alguma forma, se eles estão operando de forma sincera e revolucionária e dentro de uma situação de uma opressão real (e convenhamos, que se são mulheres provavelmente há opressão). Se eles fazem coisas que não são revolucionárias de fato ou contrarrevolucionárias, então há de se criticar essa ação.
Se entendermos que o grupo em sua essência possui aspirações revolucionárias na prática, mas cometem erros na interpretação da filosofia revolucionária, ou eles não entendem a dialética das forças sociais em funcionamento, devemos criticar isso e não criticá-los por serem mulheres tentando ser livres. E o mesmo se verifica para os homossexuais. Não devemos falar que todo um movimento é desonesto quando na verdade eles estão tentando ser honestos. Apenas cometem erros honestos. Aos amigos é permitido cometer erros. Ao inimigo não é permitido cometer erros, porque toda a sua existência é um erro e nós sofremos com isso. Mas a frente de libertação das mulheres e a frente de libertação gay são nossos amigos, eles são nossos aliados potenciais e precisamos de quantos aliados quer sejam possíveis.
Devemos estar dispostos a discutir as inseguranças que muitas pessoas têm sobre a homossexualidade. Quando eu digo "inseguranças", quero dizer o medo de que eles sejam algum tipo de ameaça à nossa masculinidade. Eu posso entender esse medo. Devido ao longo processo de condicionamento que constrói insegurança no homem americano, a homossexualidade pode produzir certas amarras em nós. Eu mesmo possuo certas amarras em consideração à homossexualidade masculina. Em contrapartida, não possuo nenhuma amarra quanto à homossexualidade entre mulheres. E isso é um fenômeno em si mesmo. Eu acho que é provavelmente porque a homossexualidade masculina é uma ameaça para mim e homossexualidade feminina não.
Devemos ser cuidadosos acerca do uso desses termos que possam afastar nossos potenciais aliados. Os termos "viado" e "bicha" devem ser suprimidos do nosso vocabulário e, sobretudo, não devemos atribuir esses nomes normalmente concebidos para os homossexuais para os homens que são inimigos do povo, como [Richard] Nixon ou [John] Mitchell. Os homossexuais não são inimigos do povo.
Devemos tentar formar uma coalizão operária com a libertação gay e grupos de libertação das mulheres. Devemos sempre lidar com as forças sociais da forma mais adequada.
Inclusão | 23/07/2015 |