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Primeira Edição: Revista Novos Rumos, lançada em 1960.
Fonte: TraduAgindo
Transcrição: Andrey Santiago
HTML: Fernando Araújo.
As vésperas do Dia das Mães não me ocorre a ideia de apontar fatos ou pessoas para somar às homenagens que serão prestadas àquelas que criam outras vidas, numa data tão comovente e que foi desvirtuada pela publicidade comercial. Mas penso como é difícil para todas as mães, educar os filhos entre os obstáculos materiais e morais que a sociedade opõe aos sonhos de felicidade que cada mulher guarda, em particular, para saber realizado pela família. É uma luta desigual para dar-lhes uma noção de justiça, de beleza, de humanismo a respeito das coisas e das criaturas. E isso é tão importante como o pão de cada dia. Luta-se contra o sensacionalismo em torno de crimes, contra a má literatura juvenil, contra a falta de uma literatura amena e construtiva para a juventude, contra o exemplo coletivo da exploração e da corrupção, que deforma a compreensão do conteúdo dos fatos refletindo-se sobre o comportamento social da criança.
As crianças sabem de todas as fases do crime da mulher assassinada em Copacabana. Como esconder se os jornais contam a história em série, diariamente, durante semanas? É em torno de crimes, principalmente, que a nossa imprensa cria um centro de interesses, influindo, perniciosamente, nas mentalidades ainda não formadas ou mal formadas dos que não sabe ou não podem, no momento, colocar a paixão de alguns indivíduos como resultante da organização social.
Por isso, nem estranhei quando o garoto de oito anos, preocupado e saturado, perguntou a respeito de Caryl Chessman: Mamãe, por que não matam logo esse homem? Seria uma pergunta imprópria para uma criança que vivesse em outro meio, onde o mundo infantil fosse respeitado pelas publicações, pelo cinema, pelo rádio, pela televisão. Mas, entre nós, é até natural que muito cedo comecem a preocupar-se com o ódio e a morte. Então, é preciso contar ao menino muitas histórias, a história de Sacco e Vanzetti, a de Ethel e Julius Rosenberg, a dos negros linchados, a dos mártires de Chicago, a história do mecanismo brutal que a plutocracia americana detém nas mãos para “justiçar” os que não servem aos seus desígnios. E que esse domínio de terror, as vezes, atinge outras pessoas criminosas ou não, pois não cabe entrar no mérito da culpabilidade de Chessman, mas repudiar o método usado para castigar um homem, mesmo criminoso.
Como vemos, às mães não cabe, apenas figurativamente, a missão de embalar os filhos e guiar-lhes os passos. E todas tem o mesmo dever. Assim declaro-me contra os que escolhem mães apontando-as para homenagem especiais. Louvemos as mães que estão juntas na mesma coletividade humana, lutando para vencer os obstáculos materiais e morais que a sociedade opõe à felicidade de seus filhos.