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À luz da teoria marxista-leninista, a crítica e a autocrítica constituem a condição para uma atividade militante justa no sentido de que enfrentam o problema da análise do movimento de massas sob todos os seus aspectos, situação de desenvolvimento, grau do descontentamento dos trabalhadores em cada estágio da exploração capitalista, desejos reivindicativos e nível de sua organização, tendo em vista determinar a forma da entrada dos proletários na luta e os meios de como conquistar a vitória.
A crítica e a autocrítica, segundo o marxismo, são fundamentais pelo fato de indicarem a única via existente para tirar todas as lições de qualquer experiência, revelar os erros ou as debilidades, dissecar essa experiência, até as raízes, objetivando descobrir as causas de tais erros a fim de corrigi-los.
É preciso fazer um bom trabalho. A crítica e a autocrítica representam a maneira de trabalhar bem.
Nós, militantes, temos necessidade de realizar muitos esforços visando a exprimir, com palavras simples, idéias claras que traduzam as mudanças que se operam ante nossos olhos.
Quando uma verdade se torna evidente em nosso espírito, esquecemos muitas vezes que, ainda na véspera, ela nos escapava.
Então tornamo-nos os donos dessa verdade, emitimos afirmações categóricas e nos admiramos que todo mundo não tenha compreendido ao mesmo tempo que nós aquilo que ignoramos durante toda a vida passada: pontificamos. O conhecimento do papel da crítica e da autocrítica é capital para o militante. Obriga-o a pôr os pés na terra. Faz compreender que qualquer progresso no terreno das idéias é o resultado de esforços permanentes que precisam ser efetuados. Ajuda a entender a desigualdade do desenvolvimento da luta de classes e do nível político das massas, a influência das ideologias burguesas e das campanhas reacionárias na consciência dos trabalhadores. Esse entendimento aproxima o militante do povo, força-o a ser compreensivo, a se tornar fraternal e modesto e não paternalista e pedante.
Para conhecer bem e amar as massas, é indispensável, primeiramente, conhecer a si próprio e recordar o caminho percorrido a fim de não pontificar.
Creio ser necessário colocar a questão nesse plano para ajudar nossos militantes a passarem da crítica e da autocrítica mecânicas e inconsistentes à crítica e à autocrítica conscientes.
Com efeito, certo número de camaradas resiste à crítica e à autocrítica ou se entrega à crítica e à autocrítica formais. Indo ao fundo dessa resistência, ou dessa caricatura de autocrítica, chega-se a descobrir um espírito de suficiência ou de amor-próprio ferido.
É a característica de quem pontifica, de quem nunca se engana, de quem vive da contemplação do passado, de suas experiências anteriores, de suas idéias adquiridas de uma vez para sempre e que, por essa razão, se engana enganando os outros.
O materialismo dialético nos ensina que tudo na natureza, entre os homens, no movimento das classes e na sociedade socialista é resultado de choques de contrários, de oposições, ou seja, de um combate permanente. Luta constante entre o que vai nascer e o que vai desaparecer, entre o que nasce e o que perece, entre o futuro e o passado. O pensamento do homem, reflexo da vida que o circunda, é um produto deste mesmo combate. Em conseqüência, o pensamento reflete a dupla pressão do passado e do futuro, daquilo que é transmitido e adquirido e do que ainda vai nascer e se impor.
O hábito de executar isto ou aquilo de tal ou de qual maneira e num certo momento, dentro de um quadro freqüente, outra coisa não é que a força do passado. Para avançar numa outra direção, empregando outros meios, faz falta combater e vencer o hábito.
Não existem bons hábitos: o que há são melhores métodos de atividade.
O hábito é resultado de um estado de espírito dado num momento determinado. Prendemo-nos a ele em virtude da aparência de imobilidade do movimento que nos rodeia, sem ver as mudanças bruscas que não previmos.
Temos o hábito de fumar cachimbo sem pensar que nos pode fazer mal. Somente se combate esse hábito quando se sente a indisposição.
Seguidamente adia-se para amanhã, de um dia para outro, a decisão que precisamos tomar, de tal modo está enraizado em nós o hábito de pensar e de agir desta ou daquela maneira.
Adquire-se hábito burocrático e pensa-se burocraticamente. A força do passado prevalece, procura-se defendê-la frente aos que a contestam. Ela está dentro de nós. E nos impede de analisar e de ver claro; pontificamos sem disso nos dar conta.
Somente a crítica e a autocrítica conscientes nos tornam capazes de dissecar os hábitos que existem em nós, de determinar a sua natureza, e de combatê-los quando nos impedem de avançar.
Não imaginamos que a moral burguesa deixou traços em nós. Tomamos a palavra numa assembléia sindical ou num congresso, e cometemos um erro flagrante sobre determinado assunto. Alguém interrompe para dizer que nos enganamos – é um "adversário" – (se fosse, isto não impediria que, sobre esse assunto, tivesse razão), mas prosseguimos, afundando no erro, tentando mostrar que ele não existe, ou afirmamos ter desqualificado o interpelador: questão de "amor-próprio".
Os amigos naturalmente aplaudem, ficamos contentes, dizemos a nós mesmos e a eles: Eu lhe torci o pescoço: "suficiência". Na realidade, levamos os ouvintes atentos e imparciais à convicção de que erramos, de que nossa conduta não é séria para um militante: "mau trabalho".
Um camarada comete uma falta contra seus companheiros ou contra a organização, ele bem o sabe, mas não quer admitir – questão de "amor-próprio": o "eu" acima de tudo. Você o sabe também, mas o apóia: questão de "amizade pessoal"; a amizade pessoal acima de tudo, o interesse da verdade e da organização vem depois.
Mas este "eu" acima de tudo não constitui ainda posição firme, tal como se imagina. Procura, então, e imediatamente, pontos de apoio em torno de si, entre suas "amizades pessoais" ou entre outros "eu" tão vacilantes quanto ele: se os encontra no seio da organização forma-se um clã, um clã contra a organização.
Daí, ele busca encontrar pontos de apoio em outro lugar, fora da organização, e os acha sem tardança entre os adversários do proletariado: o "eu" acima de tudo caminha para o campo da burguesia batizado pomposamente de "campo da liberdade". Isto se chama trair sua classe.
A moral burguesa serve de álibi e, coisa curiosa, permite viver miseravelmente, desdenhosamente, sem remorsos de consciência, pois admite viver assim.
A moral burguesa nos impede de dizer francamente aquilo que deveríamos enunciar sem acanhamento e sem risco de turvar, no que quer que seja, nossas relações de camaradagem.
Um camarada é colocado num cargo. É sério, honesto, faz o que pode, mas considera que o posto não corresponde a seu nível geral, pretendidamente mais alto. Falta-lhe uma qualidade, precisamente aquela que seria necessária. Se fizer sua autocrítica, se aperceberá da ausência dessa qualidade. Sua consciência não estará tranquila. Mas isto não é tão simples. Se a manga do meu casaco está rota no cotovelo, meu vizinho o descobrirá mais facilmente que eu.
Devíamos ser reconhecidos aos amigos que nos abrem os olhos, assim como ao médico que nos adverte do perigo. Se me sinto gripado, digo. Se me fazem uma observação a esse respeito não me zango e se insistem que me trate, não fico contra, nem julgo que isto abale amizades; irei deitar-me.
Mas no caso do militante ao qual falta uma qualidade ou outra coisa, eis que se interpõe a questão do amor-próprio, o medo de ferir as pessoas, de abalar as relações de camaradagem. Como se fosse desonra não conhecer tudo, não ser perfeito, não saber ou não poder fazer tudo, numa palavra, não ser militante universal. Assim como se fosse indignidade envelhecer, sentir que não se pode mais realizar tantas coisas de uma só vez, sendo necessário concentrar seus esforços ali onde pode melhor produzir.
Para dizer o que pensamos de nosso camarada, velho ou jovem, ou seja lá do jeito que ele for, ficamos dando voltas e mais voltas, tateando: ocorre também que, cansados desse expediente, dirigimos-lhe a crítica sem nenhum cuidado, sem explicação, de qualquer jeito.
Em muitos casos, as precauções são necessárias para não desencorajar os companheiros que não venceram ao mesmo tempo que nós a distância que separa a crítica inconsciente da crítica consciente.
Acho que, o mais das vezes, este embaraço entre camaradas revela amizade formal, superficial, convencional – reflexo de relações baseadas na falsa delicadeza da pequena-burguesia, que conduz a atitudes hipócritas, à acumulação das críticas e depois às ofensas recíprocas, prejudiciais às relações de real amizade que precisam existir entre militantes: devemos dizer a verdade claramente, tranquilamente; submetermo-nos, em conjunto, voluntariamente, conscientemente, aberta e serenamente à crítica e à autocrítica, como função indispensável da atividade militante.
Esta luta que travamos é um combate entre a nova e a velha moral, entre o que assimilamos do novo homem e o que existe ou resta em nós do individualismo pequeno-burguês.
O amor-próprio ferido, o espírito de suficiência e o sectarismo com relação à crítica e à autocrítica conscientes são manifestações típicas da moral e do individualismo pequeno-burguês baseado na apropriação individual das riquezas e dos meios de produção: a liberdade individual de explorar outros indivíduos, de mentir livremente, de sair dos apuros às expensas de não importa quem etc.
A crítica e a autocrítica consciente do nosso comportamento individual e da nossa atividade militante constituem os meios para a transformação da consciência burguesa em consciência revolucionária.
A moral que nos permite confrontar nossos pensamentos e atos de acordo com princípios elevados está fundada nos princípios de uma sociedade nova, de uma sociedade sem classes, nas novas relações de produção entre os homens, nos princípios de uma sociedade socialista e comunista.
Mas esta consciência revolucionária já conta com elementos permanentes de sua formação e de seu desenvolvimento no quadro do desenvolvimento da classe operária e das relações com as massas.
É tendo noção dos deveres contraídos com a classe operária que devemos submeter nosso comportamento à crítica e à autocrítica, à autocrítica interior ou pública, segundo o caso e a necessidade.
A crítica e a autocrítica não são artigos de fé nem de oportunidade tática, mas uma lei da dialética estabelecida à luz do materialismo dialético.
É através da crítica e da autocrítica conscientes que chegaremos a expulsar de nós a moral reacionária burguesa e o que resta de individualismo pequeno-burguês, a libertar-nos das ideologias retrógradas que serviram e servem aos pontífices do sistema capitalista para governar os povos que oprimem.
Desse modo preparamo-nos para jogar nosso papel de guias duma humanidade nova alicerçada em uma moral superior.
Fonte |
Inclusão | 12/07/2013 |