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Primeira Edição: ....
Fonte: http://guy-debord.blogspot.com/2009/06/paul-mattick-karl-korsch-biografia.html
HTML: Antonio Oliveira e Fernando A S Araújo.
Nascido em 1886 em Tostedt, na região de Lunebourg, Karl Korsch morreu em 1961, em Cambridge (Massachussetts). Em 1919 entra para o U.S.P.D. (Partido Socialista Alemão Independente, onde também se encontra Kautsky e Hilferding). Entra para o K.P.D. (Partido Comunista) em 1920. Em Outubro de 1923 é ministro da Justiça durante as poucas semanas que durará a república "operária" de Thuringe. De 1924 a 1928 é deputado no Reichstag. Dirige o órgão teórico do K.P.D. (Die International) em 1924-1925. A partir de 1921 opõe-se à política do Komintern mas do seu interior. É expulso do partido em 1926. Participa com outros elementos expulsos na revista Kommunistiche Politik. Depois de 1928 exerce as suas actividades políticas fora de qualquer organização definida. A chegada de Hitler ao poder em 1933, obriga Korsch a deixar a Alemanha.
Passa para Inglaterra, reside por curto período na Dinamarca, e, em 1936 emigra para os Estados Unidos. Exercendo actividade docente em Nova Orleães, Korsch, durante os anos passados na América como na Alemanha dedicou-se à teoria marxista. Na América como na Alemanha a sua influência principal foi como educador. Os seus amigos, respeitosamente, chamavam-lhe o Leher. Os seus conhecimentos enciclopédicos e a sua acuidade de espirito destinavam-no para este papel ainda que tivesse preferido estar "no coração das coisas", isto é, envolvido nas lutas reais para o bem-estar e a emancipação da classe operária com a qual se identificava. A sua inteligência e a sua integridade moral faziam-no sobressair, e interditavam-lhe a participação na disputa pelas vantagens e honrarias resultantes da vida política que era uma das características salientes do mundo académico e do mundo operário oficial de então. O facto de a sua morte ter passado quase despercebida parece confirmar a convicção, sustentada por Korsch, de que o marxismo revolucionário só poderia existir em ligação com um movimento revolucionário da população laboriosa.
As repercussões da primeira guerra mundial e mais ainda as da revolução russa, fizeram eclodir violentamente a crise que minava o marxismo e o movimento operário ocidental. Antes da guerra a social democracia tinha-se dividido, segundo bases teóricas, em ala revisionista conduzida por Edouard Bernstein e em ala "ortodoxa" representada por Karl Kautsky. A guerra viria a revelar que estas duas tendências não recobriam senão uma mesma actividade reformista, social-patriota, fundada sobre a colaboração de classes. Os elementos mais extremos da ala esquerda do movimento socialista internacional e os seus representantes mais relevantes, Lenine na Rússia, Rosa Luxemburgo na Alemanha, deixaram de se reclamar da "ortodoxia" marxista, exigindo um regresso à unidade da prática e da teoria socialista perdida desde há bastante tempo.
O "revisionismo" havia rejeitado o marxismo revolucionário e não representava por esse motivo um problema para os socialistas extremistas. Pelo contrário, a "ortodoxia" de Kautsky impunha uma luta em duas frentes contra a social-democracia e a sua aparente justificação: a sua fraseologia marxista. Esta luta que se esforçava por ressuscitar um novo movimento operário a partir da tradição socialista radical, tinha como slogan "Regresso a Marx". Mas, como tanto os inimigos como os discípulos da "ortodoxia" de Kautsky apelavam para a obra de Marx, era necessário por a questão: "O que é o marxismo?". E por outro lado no que e até que ponto o marxismo do tempo de Marx conservava valor nas condições modificadas do novo século? As condições revolucionárias surgidas após a primeira guerra mundial fizeram nascer um redobrado interesse pela teoria marxista.
De 1922 a 1924, Korsch escreveu uma série de estudos(1) contra a "ortodoxia" de Kautsky, apelando para o restabelecimento do conteúdo revolucionário do marxismo. Após a publicação do livro de Kautsky, A concepção materialista de história, onde ele abandonava o seu antigo ponto de vista, Korsch dedicou-se a uma nova análise sistemática e critica do "marxismo doutrinário"(2). A terminologia de Kautsky tinha-se modificado pouco, mas a sua interpretação dos textos de Marx vinha abertamente em auxilio dos castradores revisionistas do movimento socialista. As suas ideias sobre a evolução do Estado, da sociedade, da luta de classes serviam mais a burguesia do que a classe operaria. Korsch fê-lo notar. Este carácter encontrava a sua expressão teórica nos esforços de Kautsky para apresentar a concepção materialista da história como uma ciência independente que não estava necessariamente associada à luta da classe proletária. E, segundo Korsch isso correspondia a transformar o marxismo, em pura ideologia, que pretendendo ignorar o que a condiciona, se toma por uma "ciência pura".
Foi sob esta forma ideológica que o materialismo dialéctico de Marx dominou o movimento socialista, mas foi também sob esta forma que perdeu todo o sentido revolucionário. Sem rejeitar a designação de "socialismo científico" — por oposição a "socialismo utópico" — Korsch não podia admitir que o marxismo fosse ou pudesse ser uma "ciência" no sentido burguês do termo. O Capital, por exemplo não é uma economia política, mas a "crítica da economia política" do ponto de vista do proletariado. Igualmente no que diz respeito a todos os outros aspectos do sistema de Marx, não se tratava de substituir a filosofia história ou sociologia, mas por uma crítica da teoria e da prática burguesas no seu conjunto. O marxismo não tem qualquer intenção de se tornar uma ciência "pura", mas pretende desmarcar o carácter de classe "impuro" e ideológico da ciência e da filosofia burguesas.
Na sua juventude Marx adoptou um ponto de vista filosófico. Na terminologia que usou mais tarde, caracterizou-o como uma posição ideológica de que era necessário libertar-se. Da crítica ideológica chegou à "crítica da ideologia" e daí à "crítica da economia política". A concepção materialista da história — a tese de Marx segundo a qual "o conjunto das condições de produção constitui a estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se eleva a superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência social determinadas", — não resulta de uma tentativa científica ou filosófica de descobrir as "leis gerais da evolução social", mas de uma crítica materialista da sociedade e da ideologia burguesas.
Segundo as concepções de Korsch, o marxismo não constitui nem uma filosofia materialista positivista, nem uma ciência positiva. Todas as suas proposições são específicas, históricas, concretas, inclusive as que têm aparência de universais. Mesmo a filosofia dialéctica de Hegel cuja crítica serviu de ponto de partida à obra de Marx, não pode ser correctamente compreendida senão a ligarmos à revolução social e senão a considerarmos não como uma filosofia da revolução em geral, mas apenas como a expressão no domínio das ideias, da revolução burguesa. E como tal ela não traduz o processo global desta revolução, mas somente a sua fase terminal, como se pode verificar pelo seu acordo com as realidades imediatas.
Tendo terminado o processo revolucionário, a relação dialéctica entre o desenvolvimento real e o desenvolvimento das ideias, perdeu todo o sentido para a burguesia. Inversamente para a classe operária submetida à sua lei e à sua exploração. Como não pode transcender a prática social da sociedade burguesa, salvo no género ideológico-idealista a teoria burguesa, não pode ir além da filosofia de Hegel, inicia então uma via diferente. Ela não pode descobrir o núcleo racional que esconde a sua carapaça mistificadora, nem submetê-la a uma crítica materialista que pusesse a nu, nas relações de classe existentes, as limitações históricas da sociedade burguesa.
Tal não é possível senão do ponto de vista do proletariado, da sua oposição real à sociedade de classe burguesa. O ponto de vista dialéctico não se interessa pelo processo histórico que começa com a revolução burguesa, senão para produzir o movimento revolucionário da classe trabalhadora de que o marxismo é a pressão teórica. Não teria sido uma teoria do movimento revolucionário que se desenvolveria sobre a sua própria base, mas uma teoria que surgida da revolução burguesa, continha ainda na sua forma e no seu conteúdo, as marcas congénitas da teoria revolucionária burguesa.
Nem Marx, nem Engels negavam as raízes históricas das suas teorias materialistas e da filosofia burguesa. Mas, no "Marxismo e Filosofia" Korsch nota que estas conexão não implica que a teoria socialista deva manter este carácter filosófico, no seu desenvolvimento ulterior, de igual modo que não implica que o jacobinismo da teoria revolucionária burguesa deva permanecer um aspecto da revolução proletária. Com efeito Marx e Engels, deixaram de considerar a sua posição materialista como filosofia e falavam do fim de toda a filosofia. Contudo, segundo Korsch eles não pretendiam exprimir com isso qualquer preferência por alguma das ciências positivas por oposição à filosofia. Mais exactamente a sua própria posição materialista era a expressão teórica de um processo revolucionário que se produzia realmente, que aboliria a ciência e a filosofia burguesas, abolindo as condições materiais e as relações sociais que encontram a sua expressão ideológica na ciência e na filosofia burguesas.
Apesar de nas "Teses sobre Feurbach" Marx afirmar que "os filósofos mais não fizeram do que interpretar o mundo de diversas maneiras; o importante, contudo, é transformá-lo", esta transformação é ao mesmo tempo teórica e prática. Na interpretação de Korsch, não se pode ignorar a filosofia nem igualmente suprimir os elementos filosóficos do marxismo. A luta contra a sociedade burguesa é também uma luta filosófica, mesmo que a filosofia revolucionária não tenha outra função que não seja a de transformar o mundo. Korsch sustentava que o materialismo de Marx, ao contrário do materialismo abstracto e natural de Feurbach, era e continua a ser um materialismo histórico e dialéctico, isto é, um materialismo que incorpore, compreenda e modifique a totalidade das condições sociais historicamente dadas. O facto de Marx ter desprezado a filosofia, em nada altera o seu reconhecimento da ideologia e da filosofia como forças sociais reais que devem ser controladas no seu próprio terreno, e tendo em vista uma alteração das condições às quais estão ligadas.
Esta nova atenção de Korsch que se centrava sobre as relações entre o marxismo e a filosofia não provinha de um interesse especial pela filosofia; era mais uma necessidade, um desejo de expurgar o marxismo das suas escórias ideológicas e dogmáticas; era uma consequência teórica da nova tendência revolucionária libertada pela guerra e pela revolução. Com efeito pode-se também aplicar o marxismo, que elucida a relação dialéctica entre a consciência social e a sua base material, ao marxismo e ao movimento operário. Não há razão para a admiração pelo facto de o marxismo de 1848 e o Manifesto Comunista serem diferentes do movimento marxista que se desenvolveu - paralelamente a um capitalismo em expansão — num longo período não revolucionário que não terminou, ainda que temporariamente, senão a seguir às alterações revolucionárias da primeira guerra mundial. O "revisionismo" marxista era apenas a teoria de uma prática não revolucionária, a "ortodoxia" marxista uma teoria separada de toda a prática que por consequência servia indirectamente de apoio ideológico ao reformismo burguês.
O novo movimento revolucionário nascido da revolução russa, considerava-se o restaurador do marxismo original. Mas, para Korsch não poderia ser senão uma alteração aparente e ideológica. Ela não poderia eliminar a necessidade de um novo desenvolvimento da teoria e da prática marxistas, em conformidade com a situação histórica específica na qual se encontrava o próprio movimento revolucionário. Contudo, numa primeira tentativa de combater a prática não revolucionária, isto é, contra-revolucionária, do movimento reformista, o facto de ser utilizada a teoria de Marx era apesar de tudo um progresso, pois correspondia a pôr de novo a questão da revolução e da ditadura do proletariado.
A palavra de ordem do movimento revolucionário era "todo o poder aos conselhos operários". Apesar de poderem ser vagas as ideias que encerrava, esta palavra de ordem exprimia a vontade revolucionária de um proletariado, dotado de uma consciência de classe, de acabar com a sociedade capitalista. Mesmo se no que diz respeito à Rússia, havia desde o inicio um largo fosso que parecia intransponível entre a ideia soviética e a possibilidade de a realizar, não era razão para que não se tentasse uma solução revolucionária nas nações mais favorecidas. Se a revolução proletária triunfasse no ocidente talvez pudesse criar as condições necessárias para um desenvolvimento socialista nas nações menos desenvolvidas industrialmente. Como todos os revolucionários desta época, Korsch acolheu a revolução bolchevique colocando-se ao lado dos operários revolucionários da Alemanha e doutras nações.
Mas a partir de 1921 a vaga revolucionária do após-guerra começou a refluir e com ela a esperança de uma revolução mundial. A contra-revolução no ocidente não podia deixar de afectar o caracter da revolução russa. Quaisquer que tenham sido as suas aspirações internacionais no seu início, o facto de ter um carácter nacional, e local, limitava as suas possibilidades revolucionárias, e em definitivo fê-la aparecer como uma incarnação particular da contra-revolução internacional. O regime bolchevique da Rússia não podia subsistir senão fazendo concretamente o que ideologicamente era obrigado a rejeitar: desenvolver e expandir o modo de produção capitalista. Não era esse o objectivo original do bolchevismo, mas nessa altura o antigo objectivo não era mais do que uma ficção ideológica, sem ligação com a estrutura económica do país e as forças sociais em presença. Como ideologia, esse objectivo continuou a existir e o marxismo enquanto ideologia, punha-se ao serviço de uma prática não marxista: a transformação da Rússia em estado capitalista moderno.
Nestas condições pode compreender-se que o "Marxismo e Filosofia" surpreendeu não só Kautsky e os seus discípulos mas também os ideólogos bolcheviques. Aplicar a concepção materialista da história ao marxismo correspondia a pôr a nu a oposição entre a teoria e a prática, que marcava o conjunto do movimento operário de então. A frente comum que se constituiu rapidamente contra a obra de Korsch provava claramente que o movimento leninista era ainda parte integrante da "ortodoxia" de Kautsky. Tal como a adesão ideológica de Kautsky aos fins últimos do socialismo não servia senão para apoiar o reformismo sem "objectivos" de Bernstein, o dogmatismo de Lenine não podia funcionar senão como a falsa consciência de uma prática contra-revolucionária.
Os ideólogos da III Internacional classificaram o "Marxismo e Filosofia" de "Heresia revisionista". Do seu ponto de vista tinham razão pois consideravam a "ortodoxia" de Lenine e de Kautsky como marxista. A discussão(3) à volta do livro de Korsch que parecia puramente teórica, tomou rapidamente carácter mais político. A estratégia comunista no mundo do após guerra compreendia a participação nos governos socialista sempre que tal fosse possível, e a sublevação revolucionária quando as circunstâncias o permitissem. Sofreu uma derrota decisiva na Alemanha quando dos acontecimentos de 1923. Daí resultaram novas crises no interior do movimento comunista. Tendências direitistas e ultra-direitistas, esquerdistas e ultra-esquerdistas apareceram e disputaram o controle das diversas organizações nacionais da III Internacional. Se tal ou tal outro se desviava da linha oficial, por mais variável que esta fosse, era atacado não por divergência táctica, mas por desvio do próprio marxismo. E quando Korsch criticou a política comunista depois de 1923, tal posição foi tomada como consequência da sua posição herética desenvolvida no "Marxismo e Filosofia". Mas só em 1926 Korsch e o seu grupo foram excluídos.
1926 foi uma ano favorável para se dar conta da fraqueza real dos sobressaltos revolucionários que se seguiram à Primeira Guerra Mundial. Mas o capitalismo estava longe de se ter estabilizado e o regresso de nova vaga revolucionária era ainda possível. E para Korsch a preparação desse regresso exigia uma intensificação e não um amortecimento da luta de classes. Mas se a possibilidade de nova sublevação não tinha desaparecido, a contra-revolução reforçava-se. Todas as forças anti-comunistas, da direita reaccionária à esquerda reformista, conjugavam-se para impedir toda a solução revolucionária da crise existente. Estas forças encontraram nos bolcheviques, obrigados a manter e a consolidar o poder do partido na Rússia e no mundo inteiro, aliados indesejáveis mas eficazes. O movimento comunista internacional torna-se um instrumento político do estado russo e deixa por esse motivo de ser uma força revolucionária no sentido de Marx. Para Korsch subordinar o movimento comunista internacional às necessidades nacionais da Rússia, era repetir a História da II Internacional nas vésperas da Primeira Guerra Mundial; isto é sacrificar o internacionalismo proletário ao imperialismo nacional.
Uma crítica à política bolchevique sobre questões de pormenor era então desprovida de sentido, pois o que determinava esta política não era nem uma má interpretação da situação real em relação às aspirações proletárias, ou mesmo a ausência de tais aspirações, nem tão pouco uma teoria falsa susceptível de correcção por via da discussão. Pelo contrário esta política radicava directamente nas necessidades concretas, específicas do Estado Russo, da sua economia, dos seus interesses nacionais, dos interesses da nova classe dirigente: os chefes de fila bolcheviques e o seu séquito de burocratas. O comunismo proletário seria obrigado a romper com a Rússia e a III Internacional, tal como outrora rompera com o social reformismo e a II Internacional. Tudo isto, certamente, condenava, nesse momento, o comunismo proletário. A combinação das forças reais e ideológicas do capitalismo tradicional com os seus suportes sociais reformistas e do capitalismo de estado russo engalanado de ouropéis marxistas, era mais do que suficiente para liquidar uma minoria revolucionária ainda incapaz de reconhecer a sua derrota.
Korsch e os seus novos amigos dos grupos comunistas, ditos de ultra-esquerda(5) nunca advogaram uma conquista ou uma reforma das organizações da III Internacional. Não procuraram tão pouco alinhar com uma ou outra das fracções bolcheviques que lutavam pelo controle do aparelho de estado russo, nem procuraram apoiar este ou aquele golpe táctico destinado a salvaguardar o regime bolchevique. O que importava segundo Korsch era o aparecimento de uma oposição proletária à nova forma bolchevique, capitalista ou socialista de estado, de produção do capital. E quanto à Rússia foi com o grupo dito do centralismo democrático ("decismo"), sobretudo conhecido através de um dos seus fundadores, Sapronov, que Korsch estabeleceu ligações, pois este grupo sublinhava o carácter de classe da luta proletária contra o partido comunista russo. Este grupo deu-se contra de que a luta devia ser travada fora do partido entre os operários. Mas os "decistas" como outros grupos de oposição, iriam dentro em pouco tombar, vítimas do terror estalinista.
A II Internacional não tinha conseguido transformar o movimento operário em organização de controle sobre os trabalhadores; a III Internacional conseguiu-o. Daí em diante a autodeterminação operária devia afirmar-se contra todas as organizações operárias existentes, quer políticas quer económicas. O partido tradicional da democracia burguesa e com ele o sindicato tanto na sua forma artesanal como na forma industrial, revelavam-se instrumentos de manobra nas mãos colossais da burocracia do trabalho. Estas identificavam os seus próprios interesses à manutenção do statu quo social, ou tornavam-se abertamente instituições de controle dependentes dos governos. Era claro que as formas organizativas em que Marx e Engels, em circunstâncias diferentes, haviam depositado as suas esperanças com vista a um desenvolvimento da consciência de classe proletária, não podiam já ser consideradas como forças de emancipação. Bem pelo contrário, surgiam como novas formas de sujeição operária. Ainda que contra vontade — dada a inexistência de qualquer outra nova forma e melhor adaptada de organização de luta da classe proletária — Korsch acaba por reconhecer que o fim do capitalismo pressupõe e comporta o fim das organizações operárias tradicionais. É precisamente pelo apoio que os operários dão a estas organizações que se mede a sua consciência de classe.
Korsch sublinhava que o totalitarismo russo estava estreitamente ligado à convicção de Lenine de que se devia recear e não estimular a espontaneidade da classe operária e que algumas camadas não proletárias da sociedade — a intelligentsia — tinham por função levar às massas a consciência revolucionária, dado que estas eram incapazes por si de adquirir a sus própria consciência de classe. Lenine não fez senão adaptar às condições russas, o que, silenciosamente sem dúvida, se havia apoderado desde há muito o movimento socialista, a saber: o reino da organização sobre os organizados, o controle da organização pela hierarquia dos dirigentes.
A revolução burguesa tinha lançado as ideias da liberdade e da independência, da razão e da democracia, mas essa ideias não podiam realizar-se na sociedade de classes burguesa. A crítica da economia política desenvolvida por Marx era em si mesmo um programa de revolução proletária para a abolição das relações de classe. Pouco importava que a maior parte das pessoas sofresse os horrores da revolução burguesa, ou tivesse ainda de os vir a sofrer. Onde tal revolução tinha triunfado, simultaneamente tinha sido criada a sua negação: as aspirações do proletariado industrial. A revolução burguesa não era o fim, mas pelo contrário inicio de uma revolução social "em permanência" que não cessaria enquanto não deixasse de ser o instrumento do desenvolvimento social, isto é da sociedade sem classes. Não se podia prever a duração desse processo, senão em função do desenvolvimento da consciência de classe, do interesse das lutas reais do proletariado. Assim sendo, a existência duma tal consciência e das lutas proletárias por objectivos de classe, mesmo restritos aos quadros da revolução burguesa, permitia predizer que a revolução proletária seria o produto final do desenvolvimento capitalista.
Mas sendo o mundo propriedade da burguesia, as funções revolucionárias do proletariado deviam ser única e estritamente de ordem crítica tanto no domínio da teoria como no domínio da prática. Esta crítica devia recair sobre as lacunas da revolução burguesa, pois considerava-se o capitalismo como pré-condição para o socialismo. Mas, o desenvolvimento do capitalismo acelerava-se e a sua duração de vida encurtava em virtude da iniciativa crescente da classe operária e simultaneamente das acções de classe do proletariado. Onde era necessário apoiar a revolução burguesa, não era senão para criar uma base de partida para a revolução proletária. Uma tal acção não podia dispensar uma consciência de classe clara, constantemente despertada, não perdendo de vista o objectivo socialista, sob pena de se tornar um apoio puro e simples da burguesia. O facto de Marx encorajar e apoiar os movimentos nacionalistas e democráticos burgueses não estava em contradição com a sua teoria da revolução proletária, mais simplesmente provava que existia ainda um fosso entre a revolução burguesa e a revolução proletária, entre a aparição da classe operária e a sua emancipação. O fracasso das revoluções de 1848 e o desenvolvimento do capitalismo que se seguiu, em ambiência contra-revolucionária não pode impedir o crescimento do movimento operário. Este movimento nascido da revolução burguesa adaptou-se às condições não revolucionárias saídas do compromisso entre a classe burguesa ascendente e o Estado semi-feudal. Mas mesmo nos países em que o governo não era senão o executivo das classes dirigentes capitalistas o movimento operário não evidenciou, contudo, um carácter revolucionário contrariamente às esperanças de Marx. O programa político traçado por Marx em 1848 perdia toda a relação real com o estado das relações capital-trabalho numa sociedade burguesa avançada. Havia então lugar para um programa reformista, guarnecido de ideologia marxista por onde permanecessem as tradições de 1848.
Marx apenas apoiava as revoluções burguesas por consideração táctica afim de conquistar o controle destas revoluções e transforma-las em revoluções proletárias, em socialismo. Procurava somente apoiar a formação de uma classe cujo nascimento faria igualmente surgir a sua contrapartida a classe proletária e asseguraria assim como termo para o seu sucesso o aparecimento de uma nova revolução. Este apoio ligado às condições da Europa em 1848, perdeu todo o seu sentido quando essas condições desapareceram. E o Marx do Capital e da I Internacional não considerava já a classe operária como ponta de lança da revolução burguesa; ele via-a apenas interessada nos seus próprios objectivos de classe, a sua luta contra a burguesia, pois esta já não se opunha ao feudalismo, mas recolhia os restos daquele. Esta situação não era visivelmente a da Rússia. As condições sociais desta pareciam análogas às da Europa de 1848. Burgueses e proletários afrontavam-se uns contra os outros, e as condições semi-feudais do tsarismo opunham-se às aspirações não socialistas das massas camponesas. Uma revolução aproximava-se, mas não seria nem proletária no sentido de Marx, nem burguesa no sentido da revolução francesa. Ela devia conter elementos das duas, seria uma revolução camponesa num país ainda atrasado do ponto de vista do capital, num país já sob o controle do mercado capitalista mundial por isso envolvido tanto nas actividades capitalistas e imperialistas como socialistas, em diversas convulsões que constituem a política nacional e internacional.
Sabe-se que Lenine esperava que a revolução desencadeada na Rússia fosse uma revolução burguesa e democrática mas apesar disso não baptizou a revolução real de "proletária", pelo facto de os bolcheviques terem conseguido conquistar o Estado, e de os bolcheviques serem um partido marxista. A lei totalitária do partido estendeu-se lentamente a toda a sociedade e foi apresentada como "ditadura do proletariado", apesar de o proletariado ter sido proclamado classe dominante, teria em primeiro lugar de ser criado por uma transformação forçada da Rússia atrasada, em estado industrial moderno. Acabou por se considerar que o lapso de tempo decorrido entre o início da revolução e a tomada do poder pelos bolcheviques constituía a transição da revolução burguesa com a revolução proletária. Isto correspondia a eliminar toda uma etapa do desenvolvimento social por métodos políticos, a criar o proletariado e as pré-condições do socialismo, não por relações capitalistas de classe, mas por meios combinados de ideologia marxista e do poder directo de estado. Era uma posição inteiramente não marxista, mas que se podia justificar desde que se concebesse a revolução russa, não como questão nacional, mas como parte de um processo revolucionário mundial e se este último triunfasse, reuniria as regiões atrasadas do mundo aos países capitalistas, tal como outrora o capitalismo apesar das diferenças de um país para outro, havia reunido todas as nações numa economia mundial determinada pelo capital.
Mal existisse uma possibilidade de expansão para o ocidente a tentativa de Lenine de conduzir a Revolução Russa para além dos limites objectivos estava de acordo com a necessidade de uma revolução proletária no ocidente. Contudo se esta revolução não eclodisse este acordo desapareceria. Todavia movimentos com a importância do bolchevismo, se fracassaram, não podem então ressuscitar. Uma vez no poder era necessário mantê-lo a todo o preço; abandoná-lo não era recuar, mas morrer. E permanecer no poder era submeter-se à lei marxista, segundo a qual as forças produtivas determinam as relações sociais de produção e através destas as superestruturas políticas, e não o inverso. O que a burguesia tinha realizado nas outras nações, quer dizer a criação do capital por "acumulação primitiva" e exploração do proletariado, devia ali ser realizado por um partido que se dizia marxista. Que por esse facto se tenha conservado a ideologia marxista não é facto surpreendente, porque de igual modo no capitalismo a ideologia reinante não reflecte as condições reais. Não é precisamente o papel das ideologias mascarar e justificar uma prática social inaceitável?
A digressão precedente tinha por fim resumir as ideias expostas e as posições tomadas por Korsch num certo número de artigos sobre as relações entre a revolução russa, burguesa e proletária. Marx teve de ter em conta as realidades criadas pela revolução burguesa e as suas consequências, quando via no capitalismo apenas um estado intermédio de um processo revolucionário destinado a culminar no socialismo. Igualmente Korsch teve de tomar partido sobre as questões levantadas pela revolução bolchevique e o seu carácter particularmente não marxista. Enquanto as condições permitiram esperar uma revolução no ocidente — isto é durante o período dito "heróico" da revolução russa, a do comunismo de guerra e da guerra civil — o partido era preservado. Opor-se ao regime bolchevique em tais circunstâncias, era juntar-se à contra-revolução não só na Rússia como também no mundo inteiro. Quaisquer que possam ter sido as suas restrições mentais os revolucionários alemães deviam por necessidade apoiar a revolução russa. Não foi senão quando os bolcheviques se viraram contra os revolucionários russos e contra os revolucionários do Ocidente — procurando estabelecer a paz com o mundo capitalista — foi possível a viragem contra o regime bolchevique sem, por esse motivo, tivessem servido de apoio à contra-revolução internacional.
Ainda que o marxismo possa estabelecer situações análogas às que existiam na Rússia antes dos bolcheviques ou em outros países atrasados pouco desenvolvidos, não pode fornecer nenhum programa de reconstrução social para os movimentos revolucionários que aí se manifestem. O seu domínio restringe-se à revolução proletária nos países avançados, mas nestes países a revolução não se pôs em marcha, ou quando fez fracassou. E aí onde uma revolução social poderia triunfar — na Rússia — não teve porém um caracter proletário. Ela não extraiu a sua ideologia do marxismo, porque a ideia da revolução estava indissoluvelmente ligada à de socialismo marxista. Esta situação tornou necessário dissociar uma tal revolução do socialismo proletário e assim delimitar o sentido verdadeiro e limitado da doutrina marxista.
Korsch afirmava que as teses marxistas "não representam senão um esboço Histórico da ascensão e do desenvolvimento do capitalismo da Europa ocidental. O marxismo não tem validade universal fora deste domínio senão no sentido em que todo o conhecimento empírico aprofundado de formas naturais e históricas se aplica a casos numerosos não se limitando pois ao caso estudado"(6) . O marxismo opera pois "a dois níveis de generalidades: como uma lei geral do desenvolvimento histórico, e é o materialismo histórico; e como lei particular do desenvolvimento do modo de produção capitalista de hoje e da sociedade burguesa que daí resulta"(7). Neste último caso, ele não se interessa "pela sociedade capitalista real no período em que se estabelece e se reforça, mas pela sociedade capitalista no seu declínio, onde se pode ver e demonstrar a existência de tendências conduzindo à sua derrocada e à sua decadência"(8).
O Capital de Marx sendo uma crítica da economia política é, bem entendido, uma contribuição para a ciência económica. Se se examina à luz do materialismo histórico, a economia política não aparece somente como sistema teórico de proposições verdadeiras ou falsas, mas como o pôr em evidência uma parte da realidade histórica, neste caso a totalidade e a história da única sociedade burguesa. Porque esta totalidade constitui o objecto do "Capital" esta obra é uma teoria histórica, sociológica e económica.
Submetida aos mecanismos concorrenciais do mercado e às relações de exploração do capital e do trabalho, a ciência económica burguesa não tem senão valor descritivo e ideológico. Bem pode lutar para obter qualquer possibilidade de aplicação prática, mas a sua estrutura de ciência "independente" interdita-lhe qualquer sucesso. Pelo contrário a teoria marxista, apesar do seu caracter sócio-económico, não procura enriquecer a ciência da economia, mas pretende destruí-la, destruindo as relações sociais que esta ciência se esforça por justificar e defender. O marxismo não quer compreender a economia capitalista senão na medida em que esta compreensão pode ajudar a destruir o capitalismo; não é "operacional" no sentido burguês do termo. Esta ciência económica "que a classe proletária herdou, não pode ser transformada em arma teórica da revolução proletária, pela simples eliminação das suas tendências burguesas e pela elaboração metódica das suas premissas"(9). Para acabar com a exploração do trabalho
"não se deve recorrer a uma interpretação diferente da economia burguesa, mas através de uma alteração real da sociedade, determinar uma situação prática em que as leis desta economia cessem de ser válidas e onde a ciência económica vazia do seu conteúdo, se esvazia pura e simplesmente"(10).
Segundo Korsch a análise económica de Marx não se aplica senão às contradições burguesas. A produção do capital não é uma relação entre o homem e a natureza "mas uma relação entre os homens e os homens, fundada sobre a relação entre o homem e a natureza". As investigações económicas e sociais de Marx, no seu desenvolvimento último, transcenderam todas as formas e fases da economia burguesa e demostraram que
"as ideias e os princípios mais gerais da economia política são pura e simplesmente conceitos fétiches que mascaram as relações sociais reais existentes entre os indivíduos e classes numa época determinada da formação sócio-económica"(11).
Não há via para a sociedade sem classes que não implique a destruição das relações sociais fetichistas da produção do capital e uma sociedade verdadeiramente socialista não pode assentar sobre a lei do valor. As fronteiras precisas, o carácter de especificidade que Korsch atribui às teorias sociais e económicas de Marx interditam toda a tentativa de considerar o marxismo como uma simples fase do desenvolvimento, sem solução de continuidade, da teoria económica; votam ao fracasso toda a tentativa de utilizar a economia marxista para fins socialistas.
"O princípio da especificidade aplica-se também à "filosofia marxista". Sem desprezar o facto de Marx Ter aceite sem reticências a primazia genérica da natureza exterior sobre todos os acontecimentos históricos e humanos, Korsch considera que o marxismo se interessa em primeiro lugar pelos fenómenos e interrelações de vida social e histórica, sobre a qual pode exercer uma influência prática. Erigir o materialismo dialéctico em lei eterna do desenvolvimento cósmico, como o fez Engels e o seu discípulo Lenine, é inteiramente estranho a Marx. O facto de Engels ser o iniciador deste erro permite compreender a razão pela qual a teoria da revolução proletária foi tão precocemente transformada numa Weltanschaung, sem nenhuma ligação com a luta da classe proletária. Sob esta forma ideológica o marxismo podia ser utilizado para fins absolutamente estranhos ao proletariado, tal como o fizeram Lenine e a "intelligentsia" na sua luta para modernizar a sociedade russa. Sendo certo, por outro lado que durante a sua actividade revolucionária Marx, se tinha especialmente interessado à formação de um partido político revolucionário, poderia crer-se que Lenine era fiel ao marxismo revolucionário ao atribuir mais importância ao partido do que ao proletariado. Certamente Marx havia falado da destruição final do modo fetichista de produção capitalista por uma nova organização social, consciente e directa do trabalho; mas as suas declarações a este propósito não deixam de ser obscuras. Poderiam interpretar-se de diversas maneiras, em especial porque Marx concebia a transformação do capitalismo em socialismo, não como um só acto revolucionário, que durante um certo tempo, não poderia deixar de conservar numerosas características da sociedade burguesa. A economia planificada, controlada por cima, o novo aparelho de estado realizando a ditadura do proletariado: tantas coisas que poderiam parecer em conformidade com a teoria marxista, se se considera-se como etapas transitórias na marcha para a sociedade socialista sem estado e determinando-se por si própria. Com efeito neste ponto da argumentação o materialismo científico de Marx tornou-se uma previsão utópica.
O facto de a "ortodoxia" marxista de Lenine e a sua prática revolucionária se puderem colocar ao serviço de uma revolução, capitalista no fim de contas — mesmo se o seu curso foi alterado pelas circunstâncias históricas — testemunhava que o marxismo desenvolvido por Marx e Engels e o movimento operário desde o início não puderam libertar-se da herança burguesa. E bastantes pontos da teoria e da prática marxianas, que, outrora, pareciam anti-burguesas, surgem hoje como assimiláveis pelo modo de produção capitalista. O que parecia um novo rumo para o socialismo levou a um novo tipo de capitalismo. O que na perspectiva marxista parecia transcender a capitalismo revelou-se como um novo método de perpetuar o sistema capitalista de exploração. E quando Korsch critica a "ortodoxia" marxista e a "ortodoxia" leninista em particular ele acaba por fazer uma crítica do próprio marxismo, e por conseguinte uma autocrítica.
Em geral reagindo contra o fracasso do marxismo, os marxistas académicos acabaram por deixar de ser marxistas. Alguns consolaram-se ao constatar que o marxismo desaparecia enquanto a escola de pensamento independente e que as diversas ciências sociais burguesas incorporaram o que dele podiam assimilar; era um reconhecimento triunfal do génio de Marx. Outros declararam pura e simplesmente o marxismo ultrapassado, desaparecido com o capitalismo do "laissez faire" e com todos os outros aspectos da época vitoriana. Esqueciam, tal como Korsch evidenciou, que a análise marxiana das realizações do modo capitalista de produção e do seu desenvolvimento histórico mantinha todo o seu valor. Nenhum dos problemas sociais que se punham no mundo no tempo de Marx, não deixa de se pôr hoje, num mundo que vai visivelmente para a sua própria destruição. Toda esta gente apenas constatou que na conjuntura actual, não há marca de um proletariado revolucionário no sentido de Marx e concluíram que um tal proletariado não existiria amanhã.
Mas o proletariado não somente existe como aumenta sobre todo o globo em virtude da industrialização capitalista dos antigos países subdesenvolvidos. Aumenta igualmente nos países avançados, em virtude da proletarização resultante da concentração e da centralização do capital, inexoráveis, reforçados por métodos políticos. Mesmo se, temporariamente, em certos países, é possível evitar as consequências sociais deste processo por um crescimento extraordinário da produtividade, geradora da estabilidade social, o crescimento da produção não deixa também de ser afectado em virtude das relações de classe existentes. Em resumo, todas as contradições capitalistas permanecem intactas e exigem outras soluções que não as capitalistas. E para Korsch, o que se pode concluir do período actual da contra-revolução, é que a evolução capitalista não atingiu os seus limites históricos extremos, enquanto o capitalismo liberal e o socialismo reformista atingiram os limites das suas possibilidades de evolução.
Todas as imperfeições da teoria revolucionária de Marx — que se podem retrospectivamente explicar pelas circunstâncias que as fizeram nascer — não alteram, segundo Korsch, o facto de o marxismo permanecer superior a toda outra teoria social, mesmo hoje, e isso apesar do seu fracasso patente como movimento social. E este mesmo fracasso que conduz, não à recusa do marxismo, mas a uma crítica marxista do marxismo, isto é a uma proletarização acrescida do conceito de revolução social. E para Korsch não existia qualquer dúvida sobre o facto de o período da contra-revolução ser limitado historicamente, como qualquer outro, e as novas forças produtivas da sociedade, tomando corpo numa revolução socialista, viriam a reafirmar e a realaborar a teoria revolucionária, adequada à sua tarefa prática. Contudo de momento, parece prematuro esperar novas sublevações revolucionárias de carácter proletário, quem sabe se não é já demasiado tarde?"
Boston 1960
Notas:
(1) Reunidas sob o título MARXISMUS UND PHILOSOPHIE "Grunberg`s Archiv" (1923) (Segunda edição aumentada, Leipzig, 1930). (retornar ao texto)
(2) Die materialis tische Geschichtsauffassung, Eine Auseinandersetzung mit Karl Korsch (Grunberg`s Archiv, XIV, 1929). (retornar ao texto)
(3) Esta discussão englobava igualmente o livro de George Lukács "História e Consciência de Classes (Berlim, 1923) que, tal como o livro de Korsch foi classificado como desvio idealista do marxismo. (retornar ao texto)
(4) K. Korsch: Der Weg der Komintern, Berlim, 1926. (nota não referenciada no texto)
(5) Kommunistische Arbeiter Partei, Allgemeine Arbeiter Union, e os grupos políticos ligados a F. Pfempfert, O. Rühle e ao jornal Die aktion. (retornar ao texto)
(6) Introdução ao CAPITAL, Berlim 1933, pág. 33. (retornar ao texto)
(7) Ibidem. (retornar ao texto)
(8) K. Korsch: Why I am a marxist. "Modern Monthly", New York, vol. I n.º 2 pág. 88 (retornar ao texto)
(9) K. Korsch: K. Marx, Londres, 1938, pág. 90. (retornar ao texto)
(10) Ibid., p. 91 (retornar ao texto)
(11) Ibid., p. 114 (retornar ao texto)
Inclusão | 13/04/2010 |
Última alteração | 25/01/2011 |