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A linha do tempo abaixo lista alguns eventos sociais e políticos que culminaram na guerra entre o norte e o sul dos EUA a partir de 1861. Como sinalizar cada uma de suas batalhas nos exigiria dezenas de páginas, optamos por nos focar no essencial, ressaltando também os marcos abordados pelos próprios Marx e Engels em seus artigos.
Há de se lembrar que eles foram contratados como freelancers pelos jornais para os quais escreveram; essa condição de trabalho os forçou a seguir uma pauta de temas imposta por suas respectivas equipes editoriais. Além disso, os próprios jornais, sobretudo o New-York Daily Tribune, enfrentaram dificuldades financeiras no decorrer da guerra; uma análise da correspondência do editor Charles A. Dana revela que todos os contribuidores internacionais de seu jornal foram dispensados já em 1861, com exceção de Karl Marx. Com muito pesar, porém, Dana enviou-lhe uma carta em março de 1862 pedindo que parasse de enviar artigos, já que não conseguiria mais pagar pelo serviço.
Para mais detalhes sobre a atividade de Marx e Engels como periodistas, ver o posfácio deste volume.
★★★
1688: O Germantown Protest é lavrado por um grupo de imigrantes holandeses e alemães no recém-colonizado estado da Pensilvânia. O documento, que proíbe a escravidão dentro dos domínios daquela comunidade, conta como o primeiro manifesto antiescravista da História dos EUA.
1775: Quakers da Filadélfia organizam a primeira sociedade antiescravidão do país, a Pennsylvania Antislavery Society. O grupo conta com apoio de figuras célebres como William Still, Robert Purvis, John Jay e Benjamin Franklin, defendendo, por meios estritamente jurídicos, a emancipação gradual de cativos.
1776-1783: Guerra da Independência contra o domínio britânico. Quando a constituição do novo país, os Estados Unidos da América, é ratificada em 1788, termina por instituir garantias legais para a posse de escravos. Até a candidatura de Abraham Lincoln em 1860, todos os presidentes dos EUA, com duas exceções (John Quincy Adams e o próprio Lincoln), serão proprietários de escravos.
1793: Eli Whitney inventa o descaroçador de algodão (cotton gin), uma engenhoca que dinamiza significantemente a separação de caroços das fibras de algodão. O presidente Thomas Jefferson é um dos primeiros compradores da invenção, a qual impulsiona o mercado algodoeiro no país de forma inesperada. A partir de então, oligarcas sulistas enriquecem rapidamente e se tornam cada vez mais presentes no Congresso da jovem nação.
1803: Thomas Jefferson negocia, com Napoleão Bonaparte, a compra da Louisiana, Missouri e demais estados, duplicando a extensão do território estadunidense. Todo o território adquirido será usado, mais tarde, para a expansão da monocultura com base em mão-de-obra escravizada.
1820: É assinado o Compromisso do Missouri: em função de um crescente desequilíbrio dentro do Congresso entre forças pró e contra a escravidão, estabelece-se que a federação terá o número igual de estados escravistas e não-escravistas. A instituição passa a ser proibida em regiões situadas acima do paralelo 36°30' (conhecido como a linha de Mason-Dixie, que, até hoje, separa o Sul e o Norte, cultural e politicamente).
1829: O comerciante afro-americano David Walker escreve seu Walker’s Appeal, primeiro manifesto a evocar a luta armada como único meio efetivo contra a escravocracia. Walker é assassinado no ano seguinte. Sua vertente abolicionista ficará conhecida como imediatismo, competindo com os ideais gradualistas de abolicionistas menos enérgicos. As ideias de Walker influenciarão mais tarde Frederick Douglass (a partir de seu The Heroic Slave, 1852), Nat Turner, John Brown e o próprio Karl Marx.
1831: Nat Turner se torna líder de uma rebelião de escravos na Virgínia que levará todos os participantes ao cadafalso (e resultará na morte de 60 brancos). A partir daí instala uma violenta reação por parte dos escravistas.
1836-1844: Gag Rule(ou Lei da mordaça): com a constante pressão de abolicionistas, a Câmara dos Representantes proíbe a discussão de petições públicas concernentes ao tema da abolição. O movimento abolicionista se radicaliza a partir de então, assumindo contornos globais — em 1840, por exemplo, realiza-se a primeira convenção abolicionista internacional em Londres. Em 1838, a American Antislavery Society de Boston passa a financiar e distribuir narrativas de ex-escravizados (começando com The narrative of James Williams, an American slave, who was for several years a driver on a cotton plantation in Alabama), o que viria a se tornar o primeiro gênero de prosa criativa afro-americana e poderoso veículo de divulgação de ideias abolicionistas em todo o mundo.
1846-1848: À anexação do território do Texas segue-se a intervenção americana no México a mando do presidente James Polk. Trata-se de uma guerra claramente imperialista, orquestrada pela escravocracia sulista. Marx comenta intervenções subsequentes no México em duas ocasiões (ver artigos A Intervenção no méxico e O imbróglio mexicano). Apesar do relativo silêncio da mídia ante o evento, intelectuais como Henry David Thoreau protestam publicamente seu descontentamento com os caminhos do governo federal; é nessa ocasião que Thoreau se nega a pagar impostos e passa uma noite na cadeia. Nessa ocasião, escreve o que se tornará um dos textos centrais do antiescravismo e anarquismo moderno: “Resistance to Civil Government” (1849).
1850: O Compromisso de 1850 é ratificado. Trata-se de uma série de leis que favorecem o sistema escravista, da qual se destaca a infame Lei do Escravo Fugido (Fugitive Slave Act), comentada por Marx e por virtualmente todos os grandes nomes do abolicionismo (Harriet Ann Jacobs, Harriet Tubman, Frederick Douglass, James McCune Smith, Gerrit Smith etc).
1854: A Lei do Kansas-Nebraska permite aos novos estados da federação optar se irão aderir ao sistema escravista ou à mão-de-obra livre. O evento leva a um novo desequilíbrio dentro do Congresso.
1857: Dred Scott Decision: a Suprema Corte delibera, em um julgamento individual, que afro-americanos, mesmo livres, não gozam dos mesmos direitos de cidadãos estadunidenses. O julgamento cria precedentes jurídicos desastrosos para o futuro de negros livres, mesmo no norte da federação. Aumenta o número de conflitos físicos entre abolicionistas e escravistas, sobretudo na fronteira do Kansas e do Missouri (em eventos que ficaram conhecidos como Bleeding Kansas).
1859: John Brown, veterano das batalhas do Kansas, lidera uma rebelião em Harpers Ferry, West Virginia. Embora seja capturado e executado, torna-se um mártir da causa abolicionista. Na correspondência entre Marx e Engels da época vemos que contemporâneos de Brown já tinham consciência de que um conflito bélico entre Norte e Sul era inevitável.
18/05/1860: O recém-fundado partido republicano lança a candidatura de Abraham Lincoln, um advogado de Illinois. Lincoln, antiescravista declarado, é eleito presidente em 11 de junho do mesmo ano, para descontentamento dos círculos escravistas.
20/12/1860: A Carolina do Sul se separa da União (isto é, da federação). O ato de secessão virá a ser imitado por cada um dos estados sulistas daí em diante.
08/02/1861: Os estados separatistas se reúnem em Montgomery, Alabama, e criam uma constituição própria (a tal “Constituição Confederada”), passando a assumir ares de um novo Estado nacional. Um dia depois, Jefferson Davis é eleito presidente provisório da chamada Confederação.
12/04/1861: Tropas da Carolina do Sul disparam contra o Forte Sumter, dando início à Guerra Civil Americana (ou Guerra de Secessão). Evitaremos o segundo nome uma vez que a secessão foi somente um dos resultados do embate entre dois sistemas de organização social (o escravista versus o democrático), como mostram as teses de Marx e Engels. A origem do conflito é um embate entre duas noções de sociedade civil, e de quem tem direito à cidadania. A mídia internacional, por sua vez, defende a posição sulista por meses, alegando que o Sul estaria resistindo à tirania tarifária do Norte. Karl Marx é um dos poucos intelectuais públicos a se posicionar a favor de Lincoln e contra o livre-mercado baseado em mão-de-obra escrava. Adiando a escrita de O Capital, inicia uma série de artigos que desvendam os interesses econômicos da escravocracia por trás de grandes órgãos de mídia britânicos e franceses; aqui começa a série de escritos sobre a Guerra Civil.
A linha do tempo continua na seção IV.
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