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Livro Primeiro: O processo de produção do capital
Sétima Seção: O processo de acumulação do capital
Vigésimo segundo capítulo: Transformação de mais-valia em capital
4. Circunstâncias que, independentemente da divisão proporcional da mais-valia em capital e revenue, determinam o volume da acumulação: grau de exploração da força de trabalho — força produtiva do trabalho — diferença crescente entre capital aplicado e consumido — magnitude do capital adiantado
Pressupondo como dada a proporção em que a mais-valia se cinde em capital e revenue, a magnitude do capital acumulado rege-se manifestamente pela magnitude absoluta da mais-valia. Se admitirmos que 80% é capitalizada e 20% comida toda, o capital acumulado ascenderá então a 2400 lib. esterl. ou 1200 lib. esterl. consoante a mais-valia total tiver montado a 3000 ou a 1500 lib. esterl. Por conseguinte, todas as circunstâncias que determinam a massa da mais-valia cooperam na determinação da magnitude da acumulação. Resumimo-las aqui mais uma vez, mas apenas na medida em que elas oferecem pontos de vista novos no que respeita à acumulação.
Recordamos que a taxa de mais-valia depende em primeira instância do grau de exploração da força de trabalho. A economia política aprecia tanto este papel que, ocasionalmente, identifica a aceleração da acumulação pela elevação da força produtiva do trabalho com a sua aceleração pela elevação da exploração do operário(1*). Nas secções sobre a produção da mais-valia era constantemente pressuposto que o salário era, pelo menos, igual ao valor da força de trabalho. A redução violenta do salário abaixo deste valor desempenha, todavia, no movimento prático um papel demasiado importante para que nela não nos detenhamos um momento. Facticamente, ela transforma no interior de certos limites o fundo necessário de consumo do operário num fundo de acumulação de capital.
«Os salários», diz J. St. Mill, «não têm qualquer poder produtivo; são o preço de um poder produtivo. Os salários, a par do próprio trabalho, não contribuem para a produção de mercadorias mais do que o preço das ferramentas [...] contribui. Se se pudesse ter trabalho sem compra poderia dispensar-se os salários.»(3*)
Mas se os operários pudessem viver do ar eles por nenhum preço poderiam também ser comprados. O seu não-custar é, portanto, um limite em sentido matemático sempre inalcançável, embora sempre aproximável. A tendência constante do capital é reduzi-lo a este ponto niilista. Um escritor do século XVIII, por mim frequentemente citado, o autor do Essay on Trade and Commerce, apenas trai o mais íntimo segredo de alma do capital inglês quando declara tarefa histórica vital da Inglaterra reduzir o salário inglês ao nível do francês e do holandês(5*). Entre outras coisas, ele ingenuamente diz:
«Mas se os nossos pobres» (termo técnico para operários) «querem viver luxuosamente... o seu trabalho tem é claro de ser caro...» Considere-se só a massa de supérfluos (heap of superfluities), de pôr os cabelos em pé, que os nossos operários manufactureiros «consomem; aguardente, gin, chá, açúcar, frutos exóticos, cerveja forte, linho estampado, rapé, tabaco, etc.»(8*)
Ele cita o escrito de um fabricante de Northamptonshire que, com um olhar estrábico para o céu, se lastima:
«O trabalho é um terço mais barato em França do que em Inglaterra; pois os seus pobres trabalham duro, e passam duro no que toca a comida e vestuário. A sua dieta principal é pão, fruta, ervas, raízes e peixe seco; pois eles muito raramente comem carne; e quando o trigo está caro comem muito pouco pão.»(9*) «Ao que», continua o ensaísta, «se pode acrescentar que a sua bebida é ou água ou outros licores fracos, de tal modo que gastam muito pouco dinheiro... Estas coisas são muito difíceis de ser conseguidas; mas não são impraticáveis, uma vez que foram efectuadas tanto em França como na Holanda.»(11*)
Duas décadas mais tarde uma anedota americana — o yankee baronizado Benjamin Thompson (alias Conde Rumford), seguiu a mesma linha de filantropia para grande comprazimento de deus e dos homens. Os seus Essays são um livro de cozinha com receitas de toda a espécie para pôr sucedâneos no lugar da comida normal, cara, do operário. Uma receita particularmente conseguida deste esquisito «filósofo» é a seguinte:
«5 lib. de farinha de cevada [...]; cinco lib. de milho [...]; 3 d. de arenque defumado, 1 d. de sal, 1 d. de vinagre, 2 d. de pimenta e ervas doces, ao todo 20 3/4 d., dá uma sopa para 64 homens, e com os preços médios» dos cereais o custo pode ser reduzido a 1/4 d. por cabeça (que não chega a 3 Pfennig).(13*)
Com o progresso da produção capitalista, a falsificação de mercadorias tomou os ideiais de Thompson supérfluos(15*).
Nos finais do século XVIII e durante os primeiros decénios do século XIX, os rendeiros e os landlords(16*) ingleses forçaram ao salário mínimo absoluto, pagando aos jornaleiros agrícolas menos do que o mínimo na forma de salário e o resto na forma de subsídio paroquial. Um exemplo da palhaçada que os Dogberries ingleses fizeram com a sua fixação «legal» da tarifa do salário:
Quando os squires(17*) fixaram os salários para Speenhamland em 1795 já tinham almoçado, mas manifestamente pensavam que os operários não tinham precisão disso... Decidiram que o salário semanal «“deveria ser de 3 sh. por homem”, quando um pão grande de 8 lib. e 11 onças estivesse a 1 sh., e aumentaria regularmente até que o pão estivesse a 1 sh. e 5 d.; quando ele estiver acima, aquela soma decresce regularmente até que ele esteja a 2 sh. e então a sua alimentação deveria ser 1/5 menos.»(18*)(19*)
Perante o comité de inquérito da House of Lords(21*), em 1814, foi perguntado a um certo A. Bennett — grande rendeiro, magistrado, administrador de casa de pobres e regulador de salários:
É observada alguma proporção entre o valor do dia de trabalho e o subsídio paroquial ao operário? Resposta: «Sim [...]; o rendimento semanal de cada família é completado» acima do seu salário nominal «até ao pão grande (8 lib. e 11 onças), e 3 d. por cabeça! [...] Um pão grande por semana é o que supomos suficiente para o sustento de cada pessoa da família durante a semana; e os 3 d. são para roupa, e se a paróquia achar por bem arranjar a roupa os 3 d. são deduzidos. Esta prática estende-se por toda a parte oeste do Wiltshire, e, creio, por todo o país.»(22*)«Durante anos», exclama um escritor burguês daquele tempo, «eles» (os rendeiros) «degradaram uma classe respeitável da sua gente do campo forçando-a a recorrer à workhouse... o rendeiro, enquanto aumentava os seus próprios ganhos, impediu qualquer acumulação» do mais imprescindível fundo do consumo «por parte dos seus trabalhadores dependentes.»(23*)
Que papel o roubo directo ao fundo de consumo necessário do operário desempenha hoje em dia na formação da mais-valia e portanto do fundo de acumulação do capital — mostrou-o, por exemplo, o chamado trabalho domiciliário (v. cap. XV, 8, c.). Mais factos no decurso desta secção.
Embora em todos os ramos da indústria a parte do capital constante que consiste em meios de trabalho tenha de ser suficiente para um certo número de operários, [número] determinado pela magnitude da instalação, ela não precisa de modo algum de crescer sempre na mesma proporção da massa de trabalho ocupada. Numa instalação fabril cem operários com um trabalho de oito horas podem fornecer 800 horas de trabalho. Se o capitalista quiser aumentar esta soma em metade, ele pode empregar 50 novos operários; mas então terá também de adiantar um novo capital, não apenas para salários mas também para meios de trabalho. Porém, ele pode também fazer os antigos 100 operários trabalhar 12 horas em vez de 8, e então os meios de trabalho já existentes chegam, os quais nesse caso meramente se desgastam mais depressa. Assim, trabalho suplementar criado por elevação da tensão da força de trabalho pode aumentar o sobreproduto e a mais-valia — a substância da acumulação — sem aumento proporcional da parte de capital constante.
Na indústria extractiva, nas minas p. ex., as matérias-primas não formam qualquer parte componente do adiantamento de capital. O objecto de trabalho não é aqui produto de trabalho anterior, mas oferecido grátis pela Natureza. E assim com o minério metálico, minerais, carvão de pedra, pedras, etc. Aqui o capital constante consiste quase exclusivamente em meios de trabalho que podem suportar muito bem uma multiplicação do quantum de trabalho (turnos diurnos e nocturnos de operários, p. ex.). Supondo iguais todas as outras circunstâncias, a massa e o valor do produto aumentarão, porém, na proporção directa do trabalho aplicado. Como no primeiro dia da produção, os formadores originais do produto, logo também os formadores dos elementos materiais do capital, homem e Natureza, vão aqui juntos. Graças à elasticidade da força de trabalho, o domínio da acumulação alargou-se sem aumento prévio do capital constante.
Na agricultura a terra cultivada não pode estender-se sem adiantamento das sementes e adubo suplementares. Mas uma vez feito este adiantamento, mesmo a laboração puramente mecânica do solo exerce uma acção milagrosa sobre a massividade do produto. Uma massa de trabalho maior, prestada pelo número de operários até aqui, aumenta assim a fertilidade sem requerer novo adiantamento em meios de trabalho. É de novo acção directa do homem sobre a Natureza que se toma fonte imediata de aumento de acumulação sem intervenção de um novo capital.
Finalmente, na indústria propriamente dita cada dispêndio suplementar em trabalho pressupõe um correspondente dispêndio suplementar em matérias-primas, mas não necessariamente também em meios de trabalho. E uma vez que a indústria extractiva e a agricultura fornecem à indústria fabricante as suas próprias matérias-primas e os seus meios de trabalho, para esta torna-se também vantajoso o acréscimo de produtos que aquelas criaram sem acréscimo suplementar de capital.
Resultado geral: ao incorporar os dois formadores primitivos da riqueza — força de trabalho e terra —, o capital adquire uma força de expansão que lhe permite estender os elementos da sua acumulação para além dos limites aparentemente postos pela sua magnitude própria, pelo valor e a massa dos meios de produção já produzidos, nos quais ele tem a sua existência.
Um outro factor importante na acumulação do capital é o grau de produtividade do trabalho social.
Com a força produtiva do trabalho cresce a massa de produtos em que um determinado valor, portanto também mais-valia de dada magnitude, se apresenta. Mantendo-se constante a taxa da mais-valia — e mesmo que esta caia desde que caia apenas mais devagar do que a força produtiva do trabalho aumenta — cresce a massa do sobreproduto. Mantendo-se constante a sua divisão em revenue e capital suplementar o consumo do capitalista pode, portanto, crescer sem diminuição do fundo de acumulação. A magnitude proporcional do fundo de acumulação pode crescer mesmo à custa do fundo de consumo, enquanto o embaratecimento das mercadorias põe à disposição do capitalista tantos ou mais meios de fruição do que anteriormente. Mas, com a crescente produtividade do trabalho vai, como se viu, de mão dadas, o embaratecimento do operário, portanto: taxa crescente da mais-valia, mesmo quando o salário real sobe. Ele nunca cresce proporcionalmente à produtividade do trabalho. O mesmo valor de capital variável põe, portanto, em movimento mais força de trabalho e por isso mais trabalho. O mesmo valor de capital constante apresenta-se em mais meios de produção, i. é, mais meios de trabalho, material de trabalho e matérias auxiliares; fornece, portanto, tanto mais formadores de produto como mais formadores de valor ou sugadores de trabalho. Mantendo-se igual o valor do capital suplementar, e mesmo diminuindo, tem pois lugar uma acumulação acelerada. Não só se alarga materialmente a escala da reprodução, como a produção da mais-valia cresce mais depressa do que o valor do capital suplementar.
O desenvolvimento da força produtiva do trabalho reage também sobre o capital original ou sobre o capital que já se encontra no processo de produção. Uma parte do capital constante em funcionamento consiste em meios de trabalho, como maquinaria, etc., que só serão consumidos, e portanto reproduzidos — ou substituídos por novos exemplares da mesma espécie —, em períodos mais longos. Mas cada ano uma parte desses meios de trabalho morre ou atinge o objectivo final da sua função produtiva. Ela encontra-se, por isso, cada ano no estádio da sua reprodução periódica ou da sua substituição por exemplares novos da mesma espécie. Se a força produtiva do trabalho se alarga nos lugares de nascimento desses meios de trabalho — e ela desenvolve-se continuamente com o fluxo ininterrupto da ciência e da técnica —, máquinas, ferramentas, aparelhos, etc., mais eficientes e, considerado o volume da sua prestação, mais baratos, entram para o lugar dos antigos. O capital antigo é reproduzido de uma forma mais produtiva, abstraindo da permanente alteração de detalhe nos meios de trabalho existentes. A outra parte do capital constante, matéria-prima e matérias auxiliares, é reproduzida continuamente durante o ano; a que provém da agricultura, na maior parte dos casos, anualmente. Cada introdução de melhores métodos, etc., actua aqui quase simultaneamente sobre o capital adicional e sobre o capital já em funcionamento. Cada progresso da química multiplica não só o número das matérias úteis e a aplicação útil das já conhecidas como estende assim, com o crescimento do capital, as suas esferas de investimento. Ele ensina simultaneamente a relançar os excrementos do processo de produção e de consumo no circuito do processo de reprodução; cria portanto, sem prévio dispêndio de capital, nova matéria de capital. A semelhança da multiplicação da exploração da riqueza natural por mera elevação da tensão da força de trabalho, ciência e técnica formam uma potência da expansão do capital independente da magnitude dada do capital em funcionamento. Ela reage simultaneamente sobre a parte do capital original que entrou no seu estádio de renovação. Na sua forma nova, ele incorpora grátis o progresso social consumado nas costas da sua forma velha. Sem dúvida, esse desenvolvimento da força produtiva é simultaneamente acompanhado pela depreciação parcial dos capitais em funcionamento. Na medida em que esta depreciação se toma agudamente sensível pela concorrência, o peso principal recai sobre o operário, na subida de cuja exploração o capitalista procura ressarcimento.
O trabalho transfere para o produto o valor dos meios de produção por ele consumidos. Por outro lado, valor e massa dos meios de produção postos em movimento por uma massa de trabalho dada crescem na porporção em que o trabalho se toma mais produtivo. Ainda que, portanto, a mesma massa de trabalho acrescente aos seus produtos sempre a mesma soma de valor novo, o antigo valor de capital que ela, simultaneamente, transfere para eles cresce todavia com a subida da produtividade do trabalho.
Um fiandeiro inglês e um fiandeiro chinês, p. ex., podem trabalhar o mesmo número de horas com a mesma intensidade, de tal modo que numa semana ambos criem valores iguais. Apesar desta igualdade, subsiste uma diferença enorme entre o valor do produto semanal do inglês, que trabalha com um autómato poderoso, e o do chinês, que tem apenas uma roda de fiar. No mesmo tempo em que o chinês fia uma libra de algodão, o inglês fia várias centenas de libras. Uma soma, várias centenas de vezes maior, de valores antigos avoluma o valor do seu produto, no qual eles são conservados cm nova forma útil e podem assim funcionar de novo como capital. «Em 1782», ensina-nos F. Engels, «toda a colheita de lã dos três anos precedentes» (em Inglaterra) «encontrava-se ainda por trabalhar por falta de operários, e assim teria tido de ficar se a maquinaria recém-inventada não tivesse vindo em auxílio e não a tivesse fiado.»(24*) O trabalho objectivado na forma de maquinaria como é natural não fez imediatamente sair do chão nenhum homem, mas permitiu a um número diminuto de operários, por acrescento de relativamente pouco trabalho vivo, não só consumir produtivamente a lã e acrescen- tar-lhe novo valor como conservar o seu valor antigo na forma de fio de algodão, etc. Ele forneceu assim, simultaneamente, o meio e o aguilhão para a reprodução alargada de lã. E dom natural do trabalho vivo conservar valor antigo enquanto cria valor novo. Com o crescimento da eficácia, volume e valor dos seus meios de produção, portanto, com a acumulação que acompanha o desenvolvimento da sua força produtiva, o trabalho conserva e etemiza portanto em forma sempre nova um valor de capital que se avoluma sempre(25*). Esta força natural do trabalho aparece como força de autoconservação do capital ao qual está incorporada, exactamente tal como as suas forças produtivas sociais aparecem como suas propriedades, tal como a constante apropriação do sobretrabalho pelos capitalistas aparece como constante autovalorização do capital. Todas as forças do trabalho se projectam como forças do capital, tal como todas as formas de valor da mercadoria se projectam como formas do dinheiro.
Com o crescimento do capital cresce a diferença entre capital aplicado e capital consumido. Por outras palavras: cresce a massa de valor e a massa material dos meios de trabalho — como edifícios, maquinarias, tubos de drenagem, animais de trabalho, aparelhos de toda a espécie — que, durante períodos mais longos ou mais curtos, em processos de produção constantemente repetidos, funcionam em todo o seu volume ou servem para alcançar efeitos úteis determinados, enquanto só gradualmente se desgastam, portanto só aos pedaços perdem o seu valor, portanto também só aos pedaços o transferem para o produto. Na proporção em que estes meios de trabalho servem de formadores de produto sem acrescentar valor ao produto, portanto, em que são inteiramente aplicados, mas apenas em parte consumidos, eles prestam, como foi anteriormente mencionado, o mesmo serviço grátis que as forças da Natureza, água, vapor, ar, electricidade, etc. Este serviço grátis do trabalho passado, quando agarrado e animado pelo trabalho vivo, acumula-se com o crescimento da escala da acumulação.
Uma vez que o trabalho passado se mascara sempre de capital, i. é, o passivo do trabalho de A, B, C, etc., [se mascarara] de activo do não-operário X, burgueses [Bürger] e economistas políticos estão cheios de louvores para com os méritos do trabalho passado, o qual, de acordo com o génio escocês MacCulloch, tem mesmo de receber um soldo próprio (juro, lucro, etc.)(31*). O peso sempre crescente do trabalho passado que coopera no processo vivo de trabalho sob a forma de meios de produção é atribuído à sua figura — alienada do próprio operário, cujo trabalho passado e não pago ela é —, à sua figura de capital. Os agentes práticos da produção capitalista e os seus parlapatões ideológicos são tão incapazes de pensar o meio de produção separadamente da máscara característica social antagónica que hoje em dia lhe adere como um dono de escravos é incapaz de pensar o próprio operário separadamente do seu carácter de escravo.
Com um dado grau de exploração da força de trabalho, a massa da mais-valia é determinada pelo número de operários simultaneamente explorados, e este corresponde, apesar de em proporção variável, à magnitude do capital. Por isso, quanto mais o capital crescer por intermédio de sucessivas acumulações, tanto mais cresce também a soma de valor que se cinde em fundo de consumo e fundo de acumulação. O capitalista pode, portanto, viver mais desafogadamente e, simultaneamente, «renunciar» mais. E, finalmente, todas as molas da produção actuam tanto mais energicamente quanto mais se alarga a sua escala com a massa do capital adiantado.
Notas de rodapé:
(1*) «Ricardo diz: “Em estádios diferentes da sociedade a acumulação de capital ou dos meios de empregar”» (i. é, explorar) «“trabalho é mais ou menos rápida e em todos os casos tem de depender das forças produtivas de trabalho. As forças produtivas de trabalho são geralmente maiores onde há abundância de terra fértil.” Se na primeira frase as forças produtivas de trabalho significam a pequenez daquela parte alíquota de qualquer produto que vai para aqueles cujo trabalho manual o produziu, a frase é quase idêntica, porque a parte alíquota que resta é o fundo a partir do qual pode, se ao dono aprouver (if the owner pleases), acumular-se capital. Mas então isto geralmente não acontece onde a terra é mais fértil.» (Observations on Certain Verbal Disputes, etc., p. 74(2*).) (retornar ao texto)
(2*) Na edição inglesa: pp. 74, 75. (Nota de edição portuguesa) (retornar ao texto)
(3*) J. St. Mill, Essays on Some Unsettled Questions of Polit. Economy, Lond., 1844, pp. 90, 91(4*). (retornar ao texto)
(4*) Na edição inglesa e francesa: p. 90 (Nota de edição portuguesa) (retornar ao texto)
(5*) An Essay on Trade and Commerce, Lond., 1770, p. 44. De modo semelhante, o Times de Dezembro de 1866 e de Janeiro de 1867 trazia efusões sentimentais de possuidores de minas ingleses onde era descrita a situação feliz dos mineiros belgas que não exigiam mais e não recebiam mais do que o estritamente necessário para viverem para os seus «masters»(6*). Os operários belgas suportam muito, mas figurarem como operários modelo no Times! No começo de Fevereiro de 1867 a strike(7*) dos mineiros belgas reprimida com pólvora e chumbo (perto de Marchienne) deu a resposta. (retornar ao texto)
(6*) Em inglês no texto: «patrões». (Nota de edição portuguesa) (retornar ao texto)
(7*) Em inglês no texto: greve. (Nota de edição portuguesa)(retornar ao texto)
(8*) L. c., pp. 44, 46. (retornar ao texto)
(9*) O fabricante de Northamptonshire comete uma pia fraus(10*) desculpável numa aflição. Ele compara supostamente a vida de operários manufactureiros ingleses e franceses, mas pelas palavras acima citadas descreve, como na sua confusão ele próprio mais tarde admite, operários agrícolas franceses! (retornar ao texto)
(10*) Em latim no texto: fraude piedosa. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(11*) L. c., pp. 70, 71. Nota à terceira edição. Hoje encontramo-nos, graças à concorrência do mercado mundial desde então estabelecida, um bom pedaço adiante. «Se a China», explica o membro do Parlamento Stapleton aos seus eleitores, «se a China se tomar um grande país manufactureiro não vejo como a população manufactureira da Europa poderá aguentar o confronto sem descer ao nível dos seus concorrentes.» (Times, 9 de Setembro de 1873(12*).) — Agora o objectivo ansiado pelo capital inglês já não são salários continentais, não, mas salários chineses. (retornar ao texto)
(12*) Trata-se de uma carta de George Potter ao editor de The Times. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(13*) Benjamin Thompson, Essays, Political, Economical, and Philosophical, etc., 3 vols., Lond., 1796-1802, vol. I, p. 294. No seu The State of the Poor, or an History of the Labouring Classes in England, etc., sir F. M. Eden recomenda vivamente a sopa de pobres de Rumford aos directores das workhouses e admoesta os operários ingleses de que «muita gente pobre, particularmente na Escócia, vive, e muito confortavelmente (and that very comfortable too), meses a fio» — em vez de de trigo, centeio e carne — «de farinha de aveia e farinha de cevada misturadas apenas com água e sal». (L. c., vol. I, livro II, cap. II, p. 503.) «Indicações» semelhantes no século XIX. Os operários agrícolas ingleses, afirma-se, p. ex., não querem comer misturas de espécies inferiores de cereais; «na Escócia, onde a educação é melhor, este preconceito é provavelmente desconhecido.» (Charles H. Parry, M. D.(14*), The Question of the Necessity of the Existing Com Laws Considered, Lond., 1816, p. 69.) O mesmo Parry lamenta todavia que o operário inglês agora (em 1815) esteja muito degradado, em comparação com o tempo de Eden (1797). (retornar ao texto)
(14*) Abreviatura de medicinae doctor, doutor em medicina, médico. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(15*) A partir dos relatórios da última comissão parlamentar de inquérito à falsificação de meios de vida vê-se que até mesmo a falsificação das matérias medicamentosas não constitui em Inglaterra uma excepção, mas a regra. P. ex., o exame de 34 amostras de ópio comprado em outras tantas farmácias de Londres deu que 31 delas estavam falsificadas com cápsulas de papoila, farinha de trigo, mucilagem, barro, areia, etc. Muitas não continham qualquer átomo de morfina. (retornar ao texto)
(16*) Em inglês no texto: senhores da terra. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(17*) Em inglês no texto: fidalgos, senhores rurais. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(18*) Como noutros passos sucede, também nesta citação subsistem pequenas variações entre a versão alemã de Marx, que por vezes resume o sentido do texto original ou altera a ordem das frases, etc, e a edição inglesa. De acordo com o critério geral da nossa tradução, as passagens entre aspas correspondem ao texto inglês. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(19*) G. L. Newnham (barrister at law(20*): A Review of the Evidence before the Committees of the two Houses of Parliamente on the Corn Laws, Lond., 1815, p. 20, nota. (retornar ao texto)
(20*) Em inglês no texto: advogado. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(21*) Em inglês no texto: Câmara dos Lordes. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(22*) L. c., pp. 19, 20. (retornar ao texto)
(23*) Ch. H. Parry, 1. c., pp. 77, 69. Os senhores landlords, por seu lado, «indemnizaram-se» não só pela guerra antijacobina que conduziram em nome da Inglaterra, como se enriqueceram enormemente. As sua rendas duplicaram, triplicaram, quadriplicaram «e, num caso, aumentaram seis vezes em dezoito anos.» (L. c., pp. 100, 101.) (retornar ao texto)
(24*) Friedrich Engels, Lage der arbeitenden Klasse in England, p. 20. (retornar ao texto)
(25*) Devido à análise defeituosa do processo de trabalho e do processo de valorização, a economia clássica nunca compreendeu convenientemente este importante momento da reprodução como se pode ver, p. ex., em Ricardo. Ele diz, p. ex.: Seja qual for a mudança da força produtiva, «um milhão de homens em manufacturas produz sempre o mesmo valor». Isto é correcto quando extensão e grau de intensidade do seu trabalho estão dadas. Não impede, porém, e Ricardo não vê isto em certas inferências, que um milhão de homens transforme em produto massas muito diversas de meios de produção, com uma força produtiva do seu trabalho diversa, e que por isso conserve massas muito diversas de valor no seu produto, sendo os valores dos produtos fornecidos por ela muito diversos. Diga-se de passagem que Ricardo tentou em vão com um exemplo tomar claro a J.-B. Say a diferença entre valor de uso (que ele aqui denomina wealth, riqueza material) e valor de troca. Say responde: «Quanto à dificuldade que o sr. Ricardo levanta dizendo que, por processos melhor entendidos, um milhão de pessoas pode produzir duas vezes, três vezes mais riquezas sem produzir mais valores, esta dificuldade não é uma dificuldade quando se considera, tal como deve ser, a produção como uma troca, na qual se dá os serviços produtivos do seu trabalho, da sua terra e dos seus capitais para obter produtos. É por meios destes serviços produtivos que adquirimos todos os produtos que estão no mundo [...]. Ora... somos tanto mais ricos, os nossos serviços produtivos têm tanto mais valor, quanto maior obtiverem na troca chamada produção uma maior quantidade de coisas úteis.» (J.-B. Say, Lettres à M. Malthus, Paris, 1820, pp. 168, 169.) A «difficulté»(26*) — ela existe para ele, não para Ricardo — que Say deve explicar é a seguinte: por que não se multiplica o valor dos valores de uso quando a sua quantidade em consequência de uma subida da força produtiva do trabalho cresce? Resposta: a dificuldade resolve-se pelo facto de se fazer o favor de chamar valor de troca ao valor de uso. Valor de troca é uma coisa que one way or another(27*) se conecta com troca. Chame-se, portanto, à produção uma «troca» de trabalho e meios de produção pelo produto e é claro como água que se obtém tanto mais valor de troca quanto mais valor de uso a produção fornece a alguém. Por outras palavras: quantos mais valores de uso, p. ex., meias, um dia de trabalho fornece ao fabricante de meias, tanto mais rico ele é em meias. Porém, subitamente ocorre a Say que, «com a maior quantidade» de meias, o seu «preço» (que naturalmente nada tem a ver com o valor de troca) cai, «porque a concorrência os» (aos produtores) «obriga a dar os produtos pelo que eles lhes custam». Mas então de onde provém o lucro, se o capitalista vende as mercadorias ao preço que elas lhe custam? Mas never mind(28*). Say declara que em consequência de uma subida da produtividade cada um recebe agora em substituição do mesmo equivalente dois pares em vez de, como antes, um único par de meias, etc. O resultado a que ele chega é precisamente a proposição de Ricardo que ele queria refutar. Após este poderoso esforço de pensamento, ele apostrofa Malthus de modo triunfante com estas palavras: «Tal é, Senhor, a doutrina bem encadeada, sem a qual é impossível, eu o declaro, explicar as maiores dificuldades da economia política, e nomeadamente como é possível que uma nação fique mais rica quando os seus produtos diminuem de valor, ainda que a riqueza seja valor.» (L. c., p. 170.) Um economista inglês observa acerca de semelhantes habilidades nas Lettres de Say: «Estes modos afectados de falar (those affected ways of talking) constituem globalmente o que o Sr. Say gosta de denominar a sua doutrina e que ele seriamente incita Malthus a ensinar em Hertford, tal como já são ensinadas “dans plusieurs parties de l'Europe"(29*). Ele diz: ‘Se achar uma fisionomia de paradoxo em todas estas proposições, veja as coisas que elas exprimem, e ouso acreditar que elas lhe parecerão muito simples e muito razoáveis.” Sem dúvida, e em consequência do mesmo processo, elas parecerão tudo excepto originais» ou importantes. (An Inquiry into those Principies Respecting the Nature of Demand, etc., p. 110(30*).) (retornar ao texto)
(26*) Em inglês no texto: «dificuldade». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(27*) Em inglês no texto: de uma maneira ou de outra. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(28*) Em inglês no texto: não importa. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(29*) Em francês no texto: «em várias partes da Europa». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(30*) Nas edições inglesa e francesa: 116, 110. (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(31*) MacCulloch registou a patente dos «wages of past labour»(32*) muito antes de Senior ter registado a patente dos «wages of abstinence»(33*) (retornar ao texto)
(32*) Em inglês no texto: «salários de trabalho passado». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
(33*) Em inglês no texto: «salários de abstinência». (Nota da edição portuguesa.) (retornar ao texto)
Inclusão | 08/09/2014 |