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Fonte: Carlos Marighella - O Homem por trás do mito. Editora UNESP, 1999, Pág:551-553.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
Em todo e qualquer lugar onde exista nossa Organização, é preciso que os companheiros façam alguma coisa.
Nossa Organização revolucionária cresce à medida que faz ações e não à medida que recebe ajuda dos assistentes políticos mandados de outra parte.
A ação, por sua vez, só é possível criando uma infra-estrutura para tal. Não se trata de ter agora uma coordenação nacional para dirigir, pois neste caso estaríamos criando primeiro uma estrutura orgânica a partir de uma cúpula. Este caminho orgânico é próprio de quem está empenhado em construir um partido ou uma organização para fazer a revolução.
Nosso caminho é outro: para nós o fundamental é primeiro a ação e a estratégia. A organização é conseqüência disto e surge simultaneamente com a ação revolucionária. A organização surge pela base e não pela cúpula.
Toda a infra-estrutura revolucionária é baseada na conceituação estratégica e decorre da ação correlata com a estratégia revolucionária. Não pode haver infra-estrutura revolucionária sem aperfeiçoamento técnico do guerrilheiro.
Para manejar as armas, explosivos, munições; para fazer sabotagem, colocar minas, explosivos, explodir pontes, precisamos de técnicos e técnicos com visão estratégica da revolução brasileira.
Com os guerrilheiros que possuem preparo técnico é que podemos montar uma correta infra-estrutura revolucionária.
O mais importante para nós são os quadros, que devem ser aperfeiçoados. Sem os quadros, sem os homens revolucionários decididos, a potência de fogo da revolução não tem valor. Os homens decidem tudo. Se não fosse assim, as armas decidiriam e nós só precisaríamos também de armas e não, sobretudo, de homens que as manejassem.
A estratégia em nossa organização está colocada em primeiro plano. O comando pertence ao centro estratégico, ao qual está afeto o lançamento da guerrilha e do qual participam todos aqueles que exercem tarefas estratégicas.
O ponto global da revolução brasileira já existe e vem sendo posto em prática. O plano local decorre do plano global e deve ser efetivado através de ações táticas mesmo em caso de desligamento temporário ou prolongado do centro estratégico.
Na primeira fase de nossa luta, os maiores recursos são encaminhados para a formação dos quadros e para a ação estratégica e não para estruturar a organização abandonando a ação revolucionária. Isto põe a questão da revolução não nas costas de uma organização perfeita e acabada, mas ao contrário, a ação é que tem preferência. Jamais a estrutura orgânica precede a ação ou a revolução. A ação é que faz a vanguarda.
Alguns companheiros pensam que nossa Organização já está constituída, perfeita e acabada. Tal pensamento não é correto. Nossa Organização vai se edificando à medida que a ação aparece.
Cada componente de nossa Organização tem que fazer a sua parte. A experiência tem que ser de todos.
Os dirigentes de nossa Organização não podem provir de eleições. Os dirigentes surgem da ação e da confiança que despertam pela sua participação pessoal nas ações.
Todos nós somos guerrilheiros, terroristas e assaltantes e não homens que dependem de votos de outros revolucionários ou de quem quer que seja para se desempenharem do dever de fazer a revolução. O centralismo democrático não se aplica a Organizações revolucionárias como a nossa.
Em nossa Organização o que há é a democracia revolucionária. E democracia revolucionária é o resultado da confiança no papel desempenhado pela ação revolucionária e nos que participam da ação revolucionária.
Alguns companheiros pensam que a Organização revolucionária é constituída de antemão e funciona completa antes que a revolução tenha dado frutos.
Não. A Organização é falha e débil enquanto a revolução é débil. À medida que crescem as ações, cresce a Organização. A Organização parte da estaca zero.
Quando a revolução vence, a Organização tem que enfrentar novos problemas e é reformulada de acordo com a nova situação. A vanguarda surge no curso da revolução e quando a vitória é conquistada.
Os princípios orgânicos para a construção de um partido que precede a revolução são uma coisa, os princípios de uma Organização como a nossa, que se constitui como decorrência da ação revolucionária são outra coisa. Estes princípios são quatro:
Estabelecidas nossas premissas e adotados os princípios pelos quais nos regemos, que não são os do centralismo democrático, e iniciada a ação revolucionária, tudo mais é conseqüência. Quem não estiver em condições de enfrentar as conseqüências, sofrerá uma desilusão e se verá à margem do caminho da revolução.
É perigoso pensar que temos uma força que ainda não possuímos. Quando nossa ação não tem um volume razoável e a desigualdade do movimento revolucionário é muito grande de uma região para outra, a Organização em conjunto é obrigado a refletir o pouco volume de ação e a desigualdade do movimento.
O que resolve a falha da Organização é o crescimento do movimento, o aumento do volume das ações, a superação da desigualdade do movimento revolucionário de região para região.
Ação Libertadora Nacional (ALN).
Inclusão | 16/07/2011 |