MIA > Arquivos Temáticos > Marighella > Revista Problemas nº 16 > Novidades
O ano de 1949 vem encontrar o Brasil numa das mais terríveis situações no terreno econômico e financeiro e com as condições de vida das grandes massas tremendamente agravadas.
O governo de traição nacional de Dutra, na sua política de descarregar o peso das dificuldades sobres os ombros da classe operária e do povo, procura cobrir o déficit orçamentário de 1.300.000 cruzeiros elevando os impostos indiretos, aqueles que recaem sobre o povo, como é o caso do imposto de consumo. Paralelamente, nos Estados é a mesma a orientação seguida peles governadores, e o imposto de venda e consignações vem sendo sistematicamente aumentado. No Ceará o aumento foi de 1,4 para 2,5%; na Paraíba, de 1,5 para 2,%; em Pernambuco, de 1,4 para 2,2%; em Sergipe de 1,4 para 2,0%; na Bahia, de 1,4 para 2,5%; no Espírito Santo, de 1,4 para 2,5%; em Minas passou de 1,4 para 2,0%; através da criação de uma taxa de produção, que importa em 0,6% . No Estado do Rio passou, de 2,0 para 3,0% . Em São Paulo o aumento foi tão exagerado que ficou conhecido como o imposto da fome. Esses aumentos do imposto de vendas e consignações, que obedecem à política geral das classes dominantes de descarregar o peso das dificuldades sobre as costas das grandes massas, representam em média 50 a 60% de toda a renda tributária de cada um dos Estados.
Enquanto isso, o governo Dutra, para cobrir o déficit orçamentário, não contente de recorrer ao aumento dos impostos, adota o caminho da emissão. Emitindo clandestinamente, aumentou o meio circulante para mais de 21.500.000,00 de cruzeiros, e em fins do ano passado, pela Carteira de Redescontos do Banco do Brasil, emitiu 1.350.000.000 de cruzeiros. Essas emissões são mascaradas com o pretexto de que servem para atender às necessidades da produção nacional, mas elas não têm em vista outra finalidade se não atender aos enormes gastos do governo para financiar as negociatas dos ministros do Estado, dos tubarões da indústria e favorecer os rendosos negócios levados a efeito com os agentes do imperialismo americano.
Por outro lado, satisfazendo às imposições das empresas imperialistas, determina o aumento de tarifas e passagens como acaba de acontecer com a Light apesar de seus fabulosos lucros de 520 milhões de cruzeiros e do empréstimo de quase 2 bilhões que lhe foi garantido pelo governo com o apoio do Parlamento de cassadores. A carestia da vida aumenta assustadoramente. O custo da alimentação elevou-se em cerca de 342% desde 1939, só para a capital de São Paulo. Por sua vez o salário real do trabalhador vai diminuindo progressivamente, em consequência da constante elevação do custo de vida e da política de congelamento de salários, que só vem sendo quebrada através de duras lutas da classe operária.
Entretanto, em contraste com a terrível situação dos trabalhadores, os lucros extraordinários são cada vez maiores, particularmente na indústria. Em São Paulo, só no ano de 1947, a indústria têxtil teve 19,3% de lucros sobre o capital; a de alimentação 20,7%; a metalúrgica 16,9%; a química e farmacêutica 20,4%. No Distrito Federal, para essas mesmas indústrias, a proporção dos lucros sobre o capital foi respectivamente, no mesmo ano, de 32,1%; 23,6% 3,5%; 23,5%. Esses lucros, pelos próprios dados confessados nas publicações oficiais, elevam-se em média a cerca de 20% sobre o capital; quanto às empresas, entretanto, acusam percentagens e lucros muito mais elevados, como é o caso da Cia. Good Year, com 200% de lucros sobre o capital, o da Cia. Paulista de Aniagem com 100% ou o da Refinadora Paulista com 72% .
E enquanto isso se passa, o governo vai levando a cabo a sua política de entrega do país, tudo cedendo ao imperialismo norte-americano, cuja penetração se vai fazendo com intensidade cada vez maior, visando a completa colonização de nosso país. O imperialismo ianque não visa somente apoderar-se do nosso petróleo, o que pretende fazer por intermédio do monstruoso Estatuto em curso na Câmara dos Deputados, e que vem encontrando a mais viva repulsa dos patriotas. A nossa indústria de álcalis foi praticamente entregue ao truste americano da Duperial; a Fábrica Nacional de Motores ao grupo fascista da Isotta Fraschini, sob o controle dos magnatas de Wall Street. O agente imperialista Fairless, magnata do ferro e do aço, veio especialmente ao Brasil em busca do nosso minério de ferro. As nossas areias monazíticas já estão sendo exportadas para os Estados Unidos. As atividades de Rockfeller e Abbink no pais são orientadas abertamente no sentido da nossa colonização, embora encontrando a mais enérgica e decidida resistência por parte das massas. A General Motors acaba de ampliar suas instalações em São Paulo. A Ford segue o mesmo caminho, a General Eletric constrói nova fábrica e Johnson & Johnson anunciam a inauguração de um novo laboratório de produtos farmacêuticos.
Simultaneamente, o governo de Dutra leva a efeito uma política de guerra inteiramente a serviço dos interesses dos círculos expansionistas da América do Norte. O orçamento brasileiro destina 38% de suas despesas a fins militares. Excedentes de guerra são comprados aos Estados Unidos. Os nossos armamentos são padronizados. Recentemente, manobras combinadas das Marinhas brasileira e americana foram realizadas ao largo das costas do Brasil, pondo em vigor o Pacto de Defesa Interamericana, do Rio de Janeiro, que é um pacto de guerra. Na ONU são defendidos os interesses guerreiros da América do Norte, e a delegação brasileira, chefiada pelo Ministro Raul Fernandes, porta-se como um apêndice do Departamento de Estado, defendendo a política expansionista norte-americana e apoiando a intervenção ianque na Grécia. Com essa atitude, o Ministro do Exterior revela os seus pendores pelo fascismo, e justifica, em nome do governo brasileiro, todas as agressões do imperialismo, desde a invasão da República Espanhola pelo nazifascismo, até à agressão dos imperialistas holandeses à Indonésia, enfim toda a política imperialista de colonização dos povos, que para nós constitui um sério perigo.
É evidente que com essa política, o governo de Dutra está entregando o Brasil ao imperialismo ianque e descarregando o peso das dificuldades sobre as massas trabalhadoras. A tática dos patrões e do governo vem sendo, então, a de intimidar e dividir a classe operária, para reprimir o impulso adquirido nas suas lutas e evitar que, com a reconquista das liberdades, as grandes massas possam dar um rumo diferente àquele que as classes dominantes imprimem ao Brasil, quando apelam para o apoio do capitai estrangeiro. Mas por outro lado, procurando garantir seus privilégios, os homens das classes dominantes lançam mão de novas formas de exploração, para anular os aumentos de salário conquistados pela classe operária, recorrem a cláusulas como a de assiduidade, negam-se a cumprir os acordos firmados com os operários e elevam os preços das mercadorias, dos fretes e das passagens. Determinam férias coletivas nas empresas, quando os operários se dispõem a lutar pelas suas reivindicações, ameaçam com o fechamento das fábricas sob a alegação da existência de grandes estoques e apelam para a polícia e o Exército visando aterrorizar os trabalhadores e paralisar os seus movimentos, através da utilização das forças armadas e da policia, jogando assim todo o peso do Estado contra as massas trabalhadoras. E não contentes com esses processos, vão mais longe, valendo-se das leis do Estado Novo, prendendo e condenando grevistas e chegando aos métodos do terror individual, comumente empregados pelo imperialismo. Foi isto o que se tornou evidente com o assassinato do heroico camarada William Dias Gomes, líder dos mineiros de Nova Lima e logo depois, na Bahia, com o fuzilamento dos bravos operários da Usina São Carlos, Cirilo Marques e Serafim dos Santos.
Tal, entretanto, não foi suficiente para deter o ímpeto da classe operária e em geral das grandes massas, que brutalmente atingidas por essa política reacionária de Dutra, levantaram-se com vigor, lutando por suas reivindicações e seus mais elementares direitos. Assim, o ano que acaba de findar assinalou uma reviravolta nos métodos de luta das massas brasileiras. O Manifesto de Prestes lançado a 28 de janeiro marcou uma viragem em toda essa situação. Atendendo ao seu apelo, a classe operária, as massas populares, os camponeses se levantaram em memoráveis lutas que, levaram as classes dominantes do Brasil à derrota em alguns casos, e em outros a modificar a sua tática.
Mais de 250.000 operários entraram em greve durante o ano de 1948. Foram greves como as da Leopoldina, da Mogiana, da Rede Viação Mineira, da Vitoria-Minas, da Santos-Jundiaí, da Belgo Mineira, Lafaiete, Hime, Manufatura Fluminense, tecelões e trabalhadores do açúcar na Bahia, ferroviários em Belo Horizonte e Porto Alegre. Todas essas greves se deram por aumento de salários, e ultimamente ganharam um novo impulso, multiplicando-se pelo país, com a campanha do Abono de Natal e Ano Bom.
Através dessas greves tornou-se manifesta a disposição de luta da classe operária, e foi sob a sua influência que se desencadearam greves nos setores da pequena burguesia. Os estudantes se levantaram no Rio de Janeiro numa greve de solidariedade aos cadetes da Escola Naval. Uma greve nacional de estudantes foi desencadeada contra o projeto Pedroso Júnior. Médicos e engenheiros de S. Paulo lançaram-se a uma greve da maior importância visando a equiparação à situação dos advogados, o que representa na pratica, fundamentalmente, uma luta por aumento dos seus salários. Por sua vez os marinheiros de nossa Marinha de guerra manifestaram em praça pública o seu descontentamento pela injustiça de que foram vitimas, no caso do aumento dos vencimentos dos funcionários civis e militares.
O movimento de 1948 serviu para elevar a consciência de classe do proletariado. Ao mesma tempo a classe operária adquiriu uma grande soma de experiências de que vem se utilizando cada vez mais, não só no sentido do aperfeiçoamento de sua organização como também para enfrentar novas lutas. Cada vez que se lança à greve, o proletariado tem que se chocar com o Estado, que sempre em defesa dos interesses dos patrões se joga com todo o seu peso sobre os grevistas procurando esmagá-los. Mas, apesar de toda a violência e o terror da reação, apesar da lei de segurança do Estado Novo sistematicamente aplicada para impedir as lutas do proletariado, as greves não somente têm sido desencadeadas, mas na maior porte das vezes vem sendo vitoriosas e determinaram na prática a quebra da política de congelamento de salários do governo.
Os trabalhadores têm sabido também resistir à reação elevando o nível de suas lutas, impedindo que os grevistas sejam presos pela polícia, como aconteceu na greve de Lafaiete e da Hime ou até mesmo arrebatando os presos da cadeia como aconteceu em João Pessoa.
Através dessas lutas, a classe operária vem também reconquistando na prática as liberdades democráticas, realizando comícios, manifestações e desfiles em praça pública. Igualmente vem assegurando a sua organização, fundando associações profissionais no decurso das lutas ou apoderando-se dos sindicatos, realizando eleições e empossando diretorias, como aconteceu com os doqueiros em Santos e na greve de Lafaiete, onde o sindicato dos mineiros foi reconquistado, embora depois tivesse sido abandonado. O mesmo se deu, em idênticas condições na Bahia, na greve dos tecelões. É claro que o proletariado precisa de consolidar essas conquistas, que não devem permanecer semente enquanto duram as lutas. Mas é através dessas experiências, que a classe operária vai adquirindo maior consciência de sua força e preparando-se melhor para enfrentar novas lutas. Ao mesmo tempo vai perdendo cada vez mais as ilusões de classe e já pode agora, na base dos exemplos anteriores, repetir manobras como aquela do representante da Mogiana que fez retornar ao trabalho os maquinistas e foguistas apelando para a seu sentimentalismo, sob o pretexto de que a mobilização dos bombeiros para dirigir as locomotivas redundaria na falência da companhia em consequência dos desastres que vinham se repetindo. Os apelos dos advogados das empresas e dos patrões, dos agentes do Ministério do Trabalho, das autoridades policiais, visando enganar os grevistas e fazê-los voltar ao trabalho sob promessas, vão sendo repelidos e a classe operária vai se convencendo de que, só através de sua organização e com a direção firme de suas lutas, sem nenhuma ilusão nos homens das classes dominantes, é que poderá conquistar a vitória. Já na greve da Vitória-Minas, os ferroviários só voltaram ao trabalho depois que ouviram a notícia da cessação da greve, da boca dos próprios dirigentes do movimento — a comissão de salários, para quem a companhia não teve outra saída senão fornecer um automóvel de linha, que percorreu toda a estrada explicando aos trabalhadores que a greve havia cessado com a vitória do aumento de salários.
Ao lado dessas greves tão ricas de experiências, verificamos por outro lado que as massas camponesas se lançaram à luta, enfrentando o reação dos senhores feudais e a polícia, sem atender aos apelos do padre, do advogado ou do coronel. Essas lutas dos camponeses se revestiram das mais variadas formas, desde os comícios contra o alto preço dos arrendamentos, até os desfiles e demonstrações em praça pública contra os latifundiários, como aconteceu em Fernandópolis, onde a cidade foi dominada pelos camponeses, e as autoridades fugiram. Mas não ficaram nisso, e recorreram largamente às greves. Em Santa Adelia, no interior de S. Paulo, cerca de 200 famílias paralisaram o trabalho por mais de 3 meses. Em inúmeras usinas e fazendas de S. Paulo e outros Estados do Brasil, registraram-se greves de camponeses de grande combatividade. E daí foram até à ação prática de massas pela tomada de terras, como aconteceu em Erechim, no Estado do R. G. do Sul.
Essas greves revelam que o proletariado tem nos camponeses o seu principal aliado, que precisa ser ganho, no processo das lutas, para a solução dos problemas da revolução agrária e anti-imperialista. A essas lutas camponesas devemos somar as lutas populares desencadeadas em Cabo Frio, contra a falta de luz em Marapé contra a Cia. imperialista Central Brasileira, de energia elétrica, do grupo de Bond & Share; em Jacilândia contra a arbitrariedade do Prefeito; em Vianópolis, contra as violências da Polícia; em Honório Bicalho contra as violências de um chefete político; e em Suzano, Carlos de Campos, Clemente Falcão, na capital de São Paulo, onde a massa revoltada com os desastres da Central do Brasil, que ocasionaram a morte de inúmeros operários, apedrejou as estações da Estrada.
Ao lado disso, as lutas populares contra a Missão Abbink e a Missão Rockfeller deram um novo vigor ao movimento popular contra o imperialismo americano. Em São Paulo e em Minas as demonstrações contra os dois agentes do imperialismo ianque tiveram enorme repercussão e redundaram em sua fuga precipitada de muitas das cidades para onde estavam anunciadas as suas indesejáveis visitas.
Essas lutas revelam que as massas populares vão cada vez mais recorrendo à sua própria força, fazendo justiça por sua mãos, resolvendo por si mermas os seus problemas, repelindo os agentes do imperialismo, utilizando métodos de luta mais elevados, e sem alimentar ilusões nas leis votadas pelos próprios representantes das classes dominantes, que não são postas em prática nem ao menos respeitadas.
Todas essas lutas tiveram um papel de grande importância no processo de encaminhamento das vastas massas para barrar a reação. E foi por isso que no ano de 1948 a reação, que, no Brasil vinha avançando rapidamente, tendo chegado a cassar os mandatos no tempo relativamente curto, de 6 meses após o fechamento do Partido Comunista, não pôde marchar com a mesma rapidez e teve que manobrar, usando das armas da demagogia, visando amortecer a disposição de luta das massas e ganhar tempo para novos assaltos contra as liberdades.
Isso se tornou claro quando, em face do desenvolvimento da campanha do petróleo, o governo resolveu utilizar os nossos saldos ouro no estrangeiro para aquisição de refinarias, ao mesmo tempo que levava avante uma escandalosa negociata, cedendo as refinarias dos mais importantes centros do país a grupos privados de capitalistas, entre eles o Ministro da Fazenda, Sr. Correia e Castro. Nessas como em outras questões, o governo, entretanto, não pôde lançar mão impunemente da demagogia, o que hoje vai se tornando cada vez mais difícil, em virtude da atuação firme e patriótica da classe operária e de sua vanguarda esclarecida, o que logo desmascara toda essa posição demagógico do governo de traição nacional de Dutra.
Por outro lado, torna-se necessário que as grandes massas no Brasil, tendo à frente a classe operária, saibam manter a continuidade na sua luta contra a reação e pela conquista das suas mais sentidas reivindicações. É preciso também que elas elevem gradativamente o nível de suas lutas, tornando-se mais amplas e vigorosas.
As condições de vida das grandes massas tendem a agravar-se, uma vez que a política de Dutra é firmemente executada no sentido de esmagar a classe operária e o povo, em benefício dos imperialistas e das classes dominantes. O ano de 49 será assim um ano de grandes lutas que terão de ser desencadeadas com um vigor crescente para assegurar às massas trabalhadoras melhores condições de vida e a reconquista de suas liberdades.
Essas lutas terão de desenvolver-se tanto no sentido econômico, particularmente no terreno do aumento de salários, como no sentido anti-imperialista. Evidentemente não se trata da luta pura e simples pelo aumento dos salários ou contra a entrega do nosso petróleo à Standard e os trustes petrolíferos norte-americanos. Todas essas lutas têm no fundo um caráter político que te torna evidente logo nos primeiros choques e quando as classes dominantes veem os seus interesses em jogo. Agora, como aliás em todos os outros períodos de desenvolvimento do movimento operário, a própria polícia se incumbe de dar caráter político às greves, não só pela intervenção direta em defesa dos patrões, como pela maneira brutal com que faz repressão das lutas do proletariado. O proletariado terá que continuar lançando mão da sua principal forma de luta — a greve — pois não poderá manter-se de braços cruzados diante da ofensiva do imperialismo, do governo e dos patrões.
Além disso, as condições são de tal ordem dentro do país, que o próprio governo, sob pressão de massa, tem sido obrigado a ceder em mais de uma vez. Isso se deu com o aumento dos vencimentos aos civis e militares, que em face de suas precárias condições de vida forçaram o Parlamento e o governo a tomar uma decisão em seu favor. Condições de vida tão duras para os funcionários públicos não fazem mais do que colocar a nu a miserável situação da classe operária, que vê na concessão do aumento de vencimentos dos servidores da nação o caminho aberto para que insista com mais força, e com maior razão ainda, na luta pelo aumento dos salários.
Alias, seguindo o caminho das lutas e pressionando o governo e os patrões, a classe operária conseguiu arrancar do parlamento a lei ao repouso remunerado. E em que pese as restrições ainda nela contidas e o fato do descanso semanal não ser assegurado a todos os trabalhadores, o certo é que a classe operária deverá empenhar-se numa luta muito viva no curso do ano de 49 a fim de exigir de um lado o pagamento do repouso àqueles que já o tem assegurado por lei, e, de outro, a fim de exigi-lo para mensalistas e quinzenalistas.
Entretanto, com o imposto sindical cujo desconto se aproxima, a classe operária se vê sob ameaça de mais um terrível corte nos seus salários. O imposto sindical é um imposto de corrupção, revivescência do Estado Novo que esse governo reacionário ainda mantêm com o objetivo de sustentar os "pelegos" e de manter toda a repressão contra o movimento sindical, sustentando as intervenções nos sindicatos, suprimindo a liberdade e a autonomia sindicais e sufocando assim o livre direito de organização da classe operária, tudo isso em beneficio dos fabulosos lucros aos patrões. A luta contra o imposto sindical tem que ser feita desde já, de forma prática, à base do entendimento direto com os patrões, por meio de comissões de operários nas empresas e através dos protestos de todos os trabalhadores, devendo chegar a paralisação parcial ou total, ao trabalho, a fim de fazer sentir aos patrões a disposição em que se encontram de não permitir mais esse assalto aos seus já minguados salários. Não será com ilusões parlamentaristas que a classe operária ira conseguir a vitoria que necessita alcançar, esperando que o Parlamento de cassadores venha per si só tomar a decisão de anular essa monstruosidade que é o imposto sindical. Lutando contra o imposto sindical e pelo pagamento do descanso semanal, a classe operária prossegue na luta por aumento de salário.
Para as massas trabalhadoras não há outro caminho senão a das lutas de que Prestes fala com tanta clareza e energia no seu manifesto de janeiro.
Sem dúvida, todas essas lutas, pela sua própria natureza, se revestem de um caráter político. Mas também é preciso à medida que as massas trabalhadoras amadurecem a sua consciência política, ligar as lutas pelas reivindicações mais sentidas às reivindicações políticas.
Reconquistar as liberdades é o objetivo a alcançar no processo dessas lutas que se abrem no ano de 1949, e isso porque o governo de Dutra aprofunda a reação no país, visando utilizar-se das condições assim criadas no país para levar avante a sua nefasta política do predomínio dos privilégios das classes dominantes e de entrega do Brasil ao imperialismo ianque.
Para conseguir esse objetivo o governo de Dutra lança mão dos mais repelentes processos, tendo em vista reforçar a sua ditadura e suprimir a resistência da classe operária e do povo. É por isso que o governo instaura contra Prestes um monstruoso processo repelido pela consciência de todos os verdadeiros patriotas e democratas.
E não contente com essa medida, contando com o apoio dos partidos das classes dominantes, unidos em união sagrada no acordo interpartidário de inspiração americana, procura agora com a conivência do Parlamento fazer aprovar uma lei de segurança destinada a legalizar toda a sua política de esfomeamento das massas e de traição nacional.
A lei de segurança é uma lei ianque, dirigida contra o movimento democrático. Visa golpear o nosso povo diretamente, procurando impedir o organização vigorosa de suas lutas, deter o movimento grevista em ascenso no país; conter a resistência anti-imperialista, que vem crescendo por toda a parte e que tem o seu ponto de apoio no movimento patriótico pela defesa de nosso petróleo. Esta lei de segurança é um odioso instrumento na mão da ditadura de Dutra contra os seus adversários políticos, e é contra ela que a classe operária e todo o povo precisam voltar-se com toda a firmeza e decisão para barrar o caminho às forças da reação dentro do país.
A luta contra a lei de segurança que deve ser associada à luta contra as leis de exceção, pleiteadas pela ditadura de Dutra, devo ser o denominador comum da luta pelas liberdades democráticas no Brasil que precisa se encaminhar no sentido da organização de uma vasta frente única democrática necessária para conjugação dos esforços de todos aqueles que não querem ver nossa Pátria de joelhos diante do imperialismo americano e o Brasil reduzido a uma senzala de escravos. A luta contra o lei de segurança deve estar ligada às lutas da classe operária pelo aumento dos salários e à luta anti-imperialista contra a entrega do petróleo, contra a Missão Abbink, contra Rockfeller, contra a entrega de nossas riquezas minerais.
Em cada um dos movimentos em que as massas se levantarem pelas suas reivindicações, em cada um dos movimentos patrióticos levantados no Brasil, na luta pela defesa de Prestes, enfim em todas as lutas de massas, a luta contra a lei de segurança deve estar presente.
E dentro desse mesmo terreno, a luta contra a lei de segurança, que é também uma lei de preparação guerreira, deve estar ligada à luta pela paz, outra grande frente patriótica que se abre no pais, no momento cm que os círculos expansionistas norte-americanos, desesperados com as derrotas do campo imperialista, voltam suas vistas para países como o Brasil, aprofundando o seu domínio e procurando utilizar-nos como carne de canhão para suas aventuras guerreiras. O pronunciamento dos intelectuais, artistas e personalidades de maior destaque dentro do país, num manifesto em prol da paz e na formação de um Conselho pela Defesa da Paz e da Cultura, indica bem a necessidade e a urgência de ampliar esse movimento o mais possível, tomando desde já posição contra a lei de segurança.
A luta contra a lei de segurança é o ponto de convergência das grandes lutas que temos em perspectiva no ano de 1949. Através das lutas parciais que teremos de ir desencadeando, deveremos lutar contra a lei de segurança visando a reconquista das liberdades democráticas.
Nestas lutas, os comunistas devem ser a força dirigente capaz de arrastar todos os elementos que estão dispostos a lutar pelas liberdades, contra o imperialismo, contra a ditadura de Dutra. E aqui devemos repetir o que disse Zhdanov:
"O perigo principal para a classe operária consiste atualmente na subestimação das suas próprias forças e na superestimação das forças do adversário".
Se tomarmos o caminho das lutas, podemos estar certos de que asseguraremos para a classe operária e para o nosso povo melhores condições de vida e a liberdade que exigem o futuro e a independência de nossa Pátria.
“Para chegar a ser uma força política aos olhos do público, não basta colocar a etiqueta “vanguarda” sobre uma teoria e uma prática de retaguarda; é preciso trabalhar muito e com insistência para desenvolver nossa consciência, nossa iniciativa e nossa, energia”.
Lenin
★ ★ ★
Se queremos lutar, precisamos compreender os fatos sociais, estudar as leis que regem sua evolução, a natureza enfim da escravidão assalariada em regime capitalista e descobrir a força social capaz de realizar uma nova sociedade.
Prestes
Inclusão | 15/02/2013 |