Sobre a Educação
(Conversa com a delegação de educadores nepaleses)

Mao Tsé-Tung

1964


Primeira Edição: ....
Fonte: https://pensaryhacer.files.wordpress.com/2010/06/sobre-la-educacic3b3n.pdf
Tradução do espanhol: Eduardo Vasco
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Nossa educação está cheia de problemas, o mais proeminente dos quais é o dogmatismo. Estamos no processo de reformar nosso sistema educativo. Os anos de estudo são muito longos, os cursos são muitos, e diversos métodos de ensino não são satisfatórios. As crianças aprendem livros e conceitos que ficam simplesmente em livros e conceitos; não sabem nada a mais. Não utilizam suas quatro extremidades; nem reconhecem os quatro tipos de grãos(1). Muitas crianças nem sequer sabem o que são as vacas, os cavalos, as galinhas, os cães e os porcos; nem podem dizer as diferenças entre o arroz, o alpiste, o milho, o trigo, o milhete e o sorgo(2). Quando um estudante se forma na universidade, já tem mais de 20 anos. Os anos escolares são muito longos, os cursos são muitos, e o método de ensino é por injeção ao invés de ser por meio da imaginação. O método dos exames é tratar os candidatos como inimigos e emboscá-los (risos). Portanto, lhes aconselho a não ter uma fé cega no sistema educativo chinês. Não o considerem um bom sistema. Toda mudança drástica é difícil, [já que] muita gente se oporia. Atualmente uns poucos podem estar de acordo com a adoção de novos métodos, mas muitos estarão em desacordo. Talvez eu esteja jogando um balde de água fria em vocês.

Vocês esperam ver algo bom, mas eu só lhes contei o que é mau (risos). No entanto, não estou dizendo que não há nada de bom. Tomemos a indústria e a geologia como exemplos. A velha sociedade nos deixou apenas 200 geólogos e técnicos; agora temos mais de 20.000.000. Falando em termos gerais, os intelectuais especializados em engenharia são melhores porque estão em contato com a realidade. Os cientistas, cientistas puros, são piores, porém são melhores do que os que se especializam em questões relacionadas à arte. As questão ligadas às artes [liberais] estão completamente afastadas da realidade.

Os estudantes de história, filosofia e economia não se preocupam em estudar a realidade; eles são os mais ignorantes das coisas deste mundo. Como já disse antes, não temos nada maravilhoso, só coisas que aprendemos das pessoas comuns. Obviamente, aprendemos algo do marxismo-leninismo, mas o marxismo-leninismo sozinho não faz nada. Temos que estudar problemas chineses, partir das características e dos fatos da China.

Os chineses, inclusive eu, não sabemos muito sobre a China. Sabemos que devemos combater o imperialismo e seus lacaios, mas não sabemos como fazê-lo. De modo que temos que estudar as condições da China, assim como vocês devem estudar as condições de seu país. Gastamos muito tempo, vinte e oito anos completos desde a fundação do PCCh até a libertação de todo o país, em forjar, passo a passo, um conjunto de políticas ajustadas às condições da China. A fonte de nossa fortaleza está nas massas. Se algo não representa as aspirações do povo, não é bom. Devemos aprender com as massas, formular nossas políticas, e educar as massas. Portanto, se queremos ser professores, para começar temos que ser alunos. Nenhum professor começa [sua carreira] como professor. Após se converter em professor, deve seguir aprendendo com as massas para entender como ele mesmo aprende. É por isso que existem cursos de psicologia e educação no treinamento dos professores. O que se aprende torna-se inútil se não entende a realidade. Há uma fábrica junto às faculdades de ciências e engenharia da Universidade Tsinghua(3) porque os estudantes devem aprender com os livros e trabalhar ao mesmo tempo. Mas não podemos estabelecer fábricas para as faculdades de artes, assim como uma fábrica de literatura, uma fábrica de história, uma fábrica de economia, ou uma fábrica de novelas; estas faculdades devem considerar toda a sociedade como sua fábrica. Seus professores e seus alunos devem entrar em contato com os camponeses e os operários urbanos assim como com a agricultura e com a indústria.

De que outra maneira poderiam ser de alguma utilidade seus egressos?

Vejamos os estudantes de direito, por exemplo. Se eles não entendem os crimes em uma sociedade, não podem ser bons estudantes de direito. Está fora de qualquer dúvida que não se pode estabelecer uma fábrica de direito; logo, a sociedade é sua fábrica. Falando em termos comparativos, nossas faculdades de artes são as mais atrasadas devido à falta de contato com a realidade. Os estudantes e os professores só fazem trabalho em sala de aula. A filosofia é filosofia de livros. Que utilidade tem a filosofia se não se aprende com a sociedade, com as massas, e com a natureza? Só pode estar composta por ideias vagas. Com a lógica acontece a mesma coisa. Não se entende muito desta se simplesmente a lê nos livros. Mas a entende gradualmente através da aplicação. Eu não entendi muito quando li sobre lógica. Vim a entendê-la quando a utilizei. Estive falando sobre lógica. Também está a gramática, que não se entende muito simplesmente a lendo. Mas agarra-se o uso da estrutura da frase quando está de fato escrevendo. Escrevemos e falamos de acordo com os usos acostumados e não é realmente necessário estudar gramática. Sobre a retórica, é uma matéria opcional. Os grandes escritores nem sempre são retóricos. Eu estudei retórica por conta própria, mas não entendi nada. Vocês a estudam antes de escrever?


Notas de rodapé:

(1) Uma citação dos Analectos de Confúcio. (retornar ao texto)

(2) Uma citação do clássico infantil San Teu Ching (O Clássico de Três Caracteres). (retornar ao texto)

(3) Na zona metropolitana oeste de Pequim. (retornar ao texto)

Inclusão 07/07/2015