Contra a discriminação racial do imperialismo americano

Mao Tsé-Tung

8 de Agosto de 1963


Primeira Edição: Pekin Review nº 33, 1963

Tradução: Jorge Fonseca de Almeida da versão disponível em https://www.marxists.org/reference/archive/mao/selected-works/volume-9/mswv9_04.htm

HTML: Fernando Araújo.

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Um líder Negro norte-americano, hoje refugiado em Cuba, o Sr. Robert Williams, antigo Presidente da sessão de Moroe na Carolina do Norte da Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor(1), pediu-me este ano por duas vezes uma declaração de apoio à luta dos Negros norte-americanos contra a discriminação racial e pela liberdade e direitos iguais.

Existem mais de dezanove milhões de Negros nos Estados Unidos ou seja cerca de onze por cento da população. A sua posição na sociedade é a de escravização, opressão e discriminação. A esmagadora maioria dos Negros está privados do seu direito de voto. Em geral os empregos disponíveis para eles sãos os mais duros e desprezados. O seu ordenado médio varia entre um terço e metade dos ordenados dos brancos. A taxa de desemprego entre eles é a mais alta. Em muitos Estados não podem frequentar as mesmas escolas, comer na mesma mesa, ou viajar na mesmo compartimento do autocarro ou do comboio que os brancos. Os Negros são arbitraria e frequentemente presos, agredidos e mortos pelas autoridades americanas aos seus diversos níveis e pelo Ku Klux Klan e outros racistas. Cerca de metade dos Negros estão concentrados em onze Estados do Sul dos Estados Unidos. Aí a discriminação e a perseguição que sofrem são impressionantes.

Os Negros norte-americanos estão a acordar e a sua resistência cresce e torna-se cada vez mais forte. Nos anos recentes a luta de massas dos Negros americanos contra a discriminação racial e pela liberdade e por direitos iguais tem-se vindo sempre a desenvolver.

Em 1957 os Negros de Little Rock no Arkansas travaram uma luta feroz contra o proibição das suas crianças frequentarem a pública. As autoridades abriram fogo contra eles e daí resultou o incidente de Little Rock(2) que chocou o mundo.

Em 1960 os Negros promoveram em mais de vinte Estados manifestações de ocupação sentada(3) do espaço contra a discriminação racial em restaurantes, lojas e outros espaços públicos.

Em 1961 os Negros lançaram a campanha dos “passageiros pela liberdade” contra a segregação nos transportes, uma campanha que rapidamente se estendeu a muitos Estados.

Em 1962 os Negros do Mississippi lutaram por direitos iguais no acesso à universidade e foram saudados pelas autoridades com repressão que culminou num banho de sangue.

Este ano a luta dos Negros americanos começou no início de Abril, em Birmingham, Alabama. Massas de Negros desarmados e de mãos nuas foram sujeitas a prisões em massa e à mais bárbara repressão apenas porque se juntavam para comícios e manifestações contra a discriminação racial. A 12 de Julho com o assassinato do Sr. Medgar Evers, um líder dos Negros do Mississippi, a repressão atingiu um extremo. As massas Negras despertadas pela indignação e sem se deixar intimidar pela violência continuaram as suas lutas de forma cada vez mais corajosa e ganharam rapidamente o apoio dos Negros e de todas as camadas sociais nos Estados Unidos. Uma gigantesca e vigorosa luta de nível nacional está em curso em praticamente todas os estados e cidades dos Estados Unidos e a luta continua a crescer. As organizações Negras americanas decidiram iniciar uma “marcha da liberdade” sobre Washington a terminar a 28 de Agosto e na qual 2.500.000 pessoas participarão.

O rápido desenvolvimento da luta dos Negros americanos é uma manifestação da luta de classes e da luta nacional no interior dos Estados Unidos; e tem causado uma forte e crescente ansiedade na clique governante dos Estados Unidos. A Administração Kennedy recorreu à astuciosa tática das duas-caras. Por um lado contínua conivente e participante na descriminação e perseguição contra os Negros, chegando ao ponto de enviar tropas para os reprimir. Por outro lado desfila como defensora dos “direitos humanos” e da “proteção dos direitos civis dos Negros”, apela ao povo Negro para que se “contenha”, e está a propor ao Congresso legislação dita dos “direitos civis” numa tentativa de adormecer a vontade combatente dos Negros e enganar as massas de todo o país. Contudo estas táticas da Administração Kennedy estão a ser percebidas com clareza por cada vez mais maior número de Negros. As atrocidades fascistas cometidas pelos imperialistas dos EUA contra os Negros puseram a descoberto a verdadeira natureza da chamada democracia e liberdade nos Estados Unidos e revelaram o elo profundo entre as políticas reacionárias seguidas pelo Governo dos EUA no seu país e as suas políticas de agressão no estrangeiro.

Apelo aos operários, camponeses, intelectuais revolucionários, elementos esclarecidos da burguesia e outras personalidades esclarecidas de todas as cores do mundo, brancos, negros, amarelos, castanhos, etc. para que unam contra a discriminação racial praticada pelo Imperialismo americano e para que apoiem os Negros americanos na sua luta contra a discriminação racial. Em última análise a luta nacional é uma questão de luta de classes. Nos Estados Unidos é apenas uma clique reacionária dominante de entre os brancos que oprime os Negros. Eles não podem de forma nenhuma representar os operários, os camponeses, os intelectuais e outras pessoas esclarecidas que formam a maioria das pessoas brancas. No presente, é uma mão-cheia de imperialistas, chefiada pelos Estados Unidos e os seus apoiantes reacionários noutros países que levam a cabo a opressão, a agressão, e a intimidação contra a esmagadora maioria das nações e dos povos do mundo. Eles são uma minoria e nós somos a maioria. Eles representam no máximo 10% das 3.000 milhões de pessoas do mundo. Estou profundamente convencido que, com o apoio de mais de 90% das pessoas do mundo, a justa luta dos Negros americanos será vitoriosa. O maligno sistema colonialista e imperialista cresceu simultaneamente com a escravização dos Negros e com o tráfego de Negros; seguramente chegará ao seu fim com a total emancipação dos Negros.


Notas de rodapé:

(1) NAACP (National Association for the Advancement of Colored People) associação norte-americana fundada por WEB DU BOIS. (retornar ao texto)

(2) Em 1957 depois de uma decisão favorável do Supremo Tribunal a NAACP matriculou 9 crianças na escola primária pública, até aí só para brancos, de Little Rock Central High selecionados com base nas suas notas anteriores. Os brancos opuseram-se ferozmente. (retornar ao texto)

(3) Conhecidas pela designação anglo-saxónica de “sit-in”. (retornar ao texto)

Inclusão: 18/11/2020