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Neste momento em que o nosso exército defronta extremas dificuldades materiais e as suas forças operam separadamente em diferentes regiões, o seu aprovisionamento não deve de modo algum incumbir somente aos órgãos dirigentes superiores, uma vez que, por um lado, isso ataria de pés e mãos um numeroso pessoal dos escalões inferiores e, por outro, seria impossível satisfazer assim as necessidades destes. O que devemos dizer é: camaradas, lancemo-nos todos ao trabalho para vencer as dificuldades! Se os órgãos dirigentes superiores fixam adequadamente as tarefas e têm a audácia de deixar que os escalões inferiores, apoiados nas próprias forças, ajam com toda a liberdade, os problemas serão resolvidos e, o que é mais, duma maneira ainda melhor. Se, pelo contrário, os órgãos dirigentes superiores se encarregam sempre da totalidade desse trabalho, o que na realidade excede as suas possibilidades, se têm receio de deixar os escalões inferiores agir livremente e não suscitam a atividade das grandes massas de maneira que estas se apoiem nas suas próprias forças, tanto os escalões inferiores como os superiores, apesar de todos os esforços destes, ficarão em situação difícil e jamais resolverão os problemas nas condições atuais. A experiência dos últimos anos confirmou isso plenamente. Como já foi demonstrado, o princípio da “direção única e gestão descentralizada” é, nas condições existentes, um princípio justo para organizar toda a vida econômica das regiões libertadas.
Os exércitos das regiões libertadas contam já com mais de 900.000 homens; para derrotar os invasores japoneses é necessário multiplicar várias vezes esses efetivos. Ora, nós não temos recebido ajuda exterior. Mesmo supondo que a receberemos no futuro, nem por isso devemos deixar de assegurar, por nós próprios, a nossa subsistência; há que não alimentar a menor ilusão a tal respeito. Num futuro próximo, e com vista ao ataque de determinados objetivos, ser-nos-á imperioso retirar certas forças das regiões onde atualmente operam em forma dispersa e concentrá-las num número necessário de grandes formações. Operando de maneira concentrada, essas grandes formações não poderão satisfazer as necessidades com o seu trabalho de produção e hão de exigir até grandes quantidades de provisões da retaguarda; apenas as tropas locais e as formações regionais que ficarem nos seus próprios territórios (e que serão ainda em grande número) poderão, como anteriormente, ora combater ora dedicar-se a uma atividade de produção. Sendo assim, acaso será ainda possível duvidar de que as nossas tropas, sem excepção alguma, devam aproveitar as circunstâncias atuais para aprender a cumprir a missão de assegurar com a produção a satisfação parcial das suas necessidades, sem prejudicar as operações e o treino militar?
Nas nossas condições, o abastecimento do exército através da sua própria atividade produtiva é, na forma, uma medida atrasada, retrógrada, mas, na essência, é uma medida progressista que se reveste de grande importância histórica. Formalmente nós violamos o princípio da divisão do trabalho. Mas, nas condições em que nos encontramos — pobreza e parcelamento do país (resultantes dos crimes da principal camarilha dirigente do Kuomintang) e longa guerra popular de guerrilhas em regiões isoladas umas das outras — o que fazemos é progressista. Vejam como os soldados do Kuomintang estão pálidos e magros, e como os combatentes das regiões libertadas estão cheios de força e saúde. Vejam as dificuldades que tínhamos, quando ainda não havíamos começado a produzir nós próprios o indispensável para as nossas necessidades, e como as coisas vão sendo mais fáceis agora que nos abastecemos por nós mesmos. Tomemos duas unidades daqui, duas companhias por exemplo, e deixemos que cada uma escolha um dos dois métodos de aquisição dos meios de subsistência — uma dependendo inteiramente dos órgãos superiores, e a outra pouco ou nada recebendo destes, mas entregando-se à produção, a fim de suprir por si própria a totalidade, a maior parte, a metade ou uma pequena parte das suas necessidades. Qual dará os melhores resultados? Qual dos dois métodos será o preferível? Depois de um ano de experiência séria com o segundo método, abastecimento através da própria produção, poder-se-á responder com segurança que esse é o que dá melhores resultados, é o preferível, enquanto que o outro é o que dá resultados mais fracos, é o que se deve rejeitar. Isto porque o segundo permite a todos os nossos homens uma melhoria das suas condições de vida, enquanto que o primeiro, nas más condições atuais, não pode satisfazer-lhes as necessidades, quaisquer que sejam os esforços dos órgãos superiores em matéria de abastecimentos. Foi porque adotamos esse processo, aparentemente “atrasado” e “retrógrado”, que as nossas tropas puderam vencer as dificuldades quanto a meios de subsistência e melhorar as suas condições de vida, de tal maneira que cada combatente está cheio de força e saúde; que conseguimos aligeirar o fardo das contribuições que pesavam sobre a população civil, já por si mesma sobrecarregada de grandes dificuldades, obtendo assim o seu apoio; que estamos em condições de prosseguir a guerra prolongada e aumentar os nossos efetivos, sendo-nos então possível ampliar o território das regiões libertadas, reduzir o das regiões ocupadas pelo inimigo e atingir finalmente o objetivo de liquidar os agressores e libertar toda a China. Acaso não será isto de grande significado histórico?
O fato de o exército se abastecer através da sua atividade produtiva não somente melhora as condições de vida deste, aligeira a carga do povo e permite portanto um aumento dos efetivos, como ainda determina uma série doutros efeitos imediatos, a saber:
O movimento de retificação e o movimento de desenvolvimento da produção, que começaram, respetivamente, em 1942 e 1943, e se revestiram dum caráter geral, desempenharam e continuam a desempenhar papel decisivo; um, na nossa vida moral, e o outro, na nossa vida material. Se, no momento preciso, não conseguirmos agarrar esses dois elos, toda a cadeia da revolução nos escapará das mãos, e não ficaremos em condições de fazer progredir a luta.
Toda a gente sabe que, dos membros que entraram no Partido antes de 1937, não restam senão algumas dezenas de milhar; ora, o nosso Partido conta atualmente com mais de 1.200.000 aderentes. A maior parte deles, que veio do campesinato e doutras camadas da pequena burguesia, está dando provas duma atividade revolucionária digna de louvor e deseja receber uma formação marxista; contudo, estes entraram no Partido trazendo consigo uma ideologia que não corresponde, ou não corresponde completamente, ao Marxismo. O mesmo acontece, aliás, com uma parte dos comunistas entrados no Partido antes de 1937. Isso constitui uma contradição das mais sérias, uma enorme dificuldade. Podemos, em tais condições, ir para a frente com êxito sem empreender um movimento geral de educação marxista, isto é, um movimento de retificação? Claro que não. Contudo, na medida em que temos resolvido essa contradição existente em numerosos quadros — a contradição, dentro do Partido, entre a ideologia proletária e a ideologia não proletária (sobretudo a ideologia pequeno-burguesa mas também a ideologia burguesa e até mesmo a ideologia dos senhores de terras), isto é, a contradição entre a ideologia marxista e a ideologia não marxista — o nosso Partido tem conseguido, dentro duma unidade sem precedentes (embora não seja completa) no plano ideológico, político e organizacional, progredir a passos largos e firmes. No futuro, o nosso Partido poderá e deverá desenvolver-se ainda mais e, guiados pelos princípios da ideologia marxista, seremos capazes de dirigir ainda melhor esse crescimento.
O outro elo é o movimento de desenvolvimento da produção. A Guerra de Resistência dura há oito anos. No começo da guerra tínhamos ainda produtos alimentares e vestuário mas, depois, a situação agravou-se gradualmente, até que surgiram grandes dificuldades: falta de cereais, de óleos comestíveis, de sal, mantas, roupas e dinheiro. Essas dificuldades, essas contradições enormes, começaram entre 1940 e 1943, quando os invasores japoneses desencadearam uma grande ofensiva e o governo do Kuomintang lançou, por três vezes, grandes campanhas contra o povo (as “campanhas anticomunistas”). Se não se vencem essas dificuldades, se não se resolvem essas contradições e não agarramos esse elo, acaso poderemos fazer progredir a luta contra o Japão? Certamente que não. Mas nós temos aprendido e continuaremos a aprender a ocupar-nos da produção, sendo assim que já recuperamos forças e estamos de novo cheios de vigor. Alguns anos ainda e não temeremos mais qualquer inimigo; ficaremos mesmo em condições de esmagar seja que inimigo for.
Deste modo se compreende, sem mais sombra de dúvida, que importância histórica têm os dois movimentos, de retificação e de desenvolvimento da produção.
Desenvolvamos, alarguemos ainda mais esses dois grandes movimentos que servem de base ao cumprimento doutras missões do nosso combate. Se conseguirmos isso, a libertação total do povo chinês estará assegurada.
Agora estamos no período dos trabalhos da Primavera; esperamos que os camaradas dirigentes, os maiores esforços devem ser feitos este ano, muito especialmente nas áreas em que ainda não se aprendeu a desenvolver a produção.
Inclusão | 11/04/2015 |