A Produção Também é Possível nas Regiões de Guerrilhas

Mao Tsetung

31 de Janeiro de 1945


Primeira Edição: Editorial redigido pelo camarada Mao Tsetung para o Quiefanjepao, de Ien-an.
Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo III, pág: 301-307.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

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Há já muito que ficou resolvido e deixou de constituir problema o saber se se deve ou pode lançar um movimento pela produção, entre o exército e a população, nas bases de apoio relativamente estáveis situadas por trás das linhas inimigas. Mas saber se pode ser lançado também nas zonas de guerrilhas e nas longínquas áreas situadas por trás das linhas inimigas é que é questão ainda não resolvida em muitos espíritos, por falta de provas.

Mas agora dispomos dessas provas. Em 1944 a produção foi empreendida, em grande escala, em muitas zonas de guerrilhas no Xansi-Tchahar-Hopei, e os resultados foram excelentes, como informa o camarada Tcham Pim-cai, no seu artigo publicado a 28 de Janeiro no Quiefanjepao e consagrado ao movimento de produção das unidades de guerrilhas da região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei. As regiões e unidades enumeradas pelo camarada Tcham Pim-cai no seu relatório foram as seguintes: no Hopei central, a VI sub-região, o IV contingente distrital da II sub-região, o VIII contingente distrital da IV sub-região, o destacamento Siuchuei-Tincien, o destacamento Paotim-Mantchem e o destacamento Iumpiao; e no Xansi, as tropas dos distritos Taicien e Cuocien. Nessas regiões, as condições são muito más:

“Os pontos fortificados e os blocausses do invasor e fantoches são tão numerosos como as árvores da floresta, e os fossos, muralhas e estradas tão cerrados como as malhas duma rede; o inimigo aproveita-se da sua superioridade militar e facilidade de comunicações para lançar-nos com frequência ataques de surpresa e operações de cerco e ‘limpeza’. Em tais circunstâncias, as unidades de guerrilhas veem-se frequentemente obrigadas a mudar de posições várias vezes num só dia.”

Não obstante, essas unidades conseguiram lançar-se na produção, aproveitando os intervalos entre os combates, e eis aqui os resultados:

“Todos estão agora melhor alimentados — cada um recebe meio liam de azeite e sal, um jin de vegetais por dia e um jin e meio de carne por mês. Além disso, já é outra vez possível adquirir escovas para dentes, pó dentífrico e manuais elementares para leitura, artigos de que estávamos privados havia anos.”

Vejam! Como se poderá ainda dizer que a produção é impossível nas zonas de guerrilhas?

Muitos afirmam que onde a população é densa não há mais terra para lavoura. Será realmente assim? Por favor, olhem para a região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei:

“Primeiro, o problema da terra foi resolvido de acordo com a política de considerar a agricultura como o principal. Recorreu-se no total a nove processos distintos: 1) arrasar as muralhas e atulhar os fossos que o inimigo utilizava nos seus bloqueios; 2) destruir as estradas que este pode utilizar, e semear dos dois lados destas; 3) utilizar as pequenas parcelas de terra deixadas sem lavoura; 4) ajudar as milícias populares, através duma garantia de proteção armada, quando nas noites de luar semeiam os campos à roda dos blocausses, em desafio ao inimigo; 5) lavrar os campos em associação com os camponeses a quem faltam forças de trabalho; 6) disfarçados de camponeses, cultivar mais ou menos abertamente as terras situadas à volta dos pontos fortificados ou blocausses do inimigo; 7) transformar as margens dos rios em campos cultiváveis, construindo-se diques e removendo-se as areias; 8) ajudar os camponeses a transformar as terras secas em campos irrigados; 9) participar no trabalho agrícola das aldeias situadas dentro do raio de ação das guerrilhas.”

A agricultura é possível mas talvez o artesanato e as outras formas de produção sejam impossíveis. Será realmente esse o caso? Por favor, olhem para a região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei:

“A atividade produtiva das tropas das regiões vizinhas das linhas e fossos de bloqueio inimigo não se limita à agricultura, pois, como nas regiões estáveis, desenvolvem-se nelas o artesanato e os transportes. O IV contingente distrital instalou uma oficina de bonés de feltro, um lagar de azeite e uma moagem que, em sete meses, obtiveram lucros atingindo quinhentos milhares de yuan, em moeda local. Não somente superaram as suas dificuldades como ainda satisfizeram as necessidades da população da respetiva região de guerrilhas. Os combatentes podem bastar-se inteiramente em malhas e meias de lã.”

Mas se os combates são tão frequentes nas regiões de guerrilhas, não se correrá assim o risco de a atividade produtiva das tropas afetar as operações? Será realmente assim? Por favor, olhem para a região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei:

“Aplicando o princípio de combinar o trabalho produtivo com a atividade militar, atribuíram igual importância às tarefas da produção e do combate.”

E

“Tomemos por exemplo o IV contingente distrital da II sub-região. Desde que iniciou a faina de Primavera, ao mesmo tempo que desencadeava uma poderosa ofensiva política despachou um destacamento especial para atacar o inimigo. Exatamente por isso, o resultado foi atividade militar mais intensa e elevação da combatividade das tropas. De Fevereiro a princípios de Setembro, esse pequeno destacamento travou setenta e um combates, capturou os pontos fortificados de Tchutunche, Chantchuam, Ietchuam, Funquiatchai e Iatou, abateu e feriu cento e sessenta e cinco soldados japoneses e fantoches e capturou noventa e um soldados fantoches, três metralhadoras ligeiras e cento e uma espingardas e pistolas.”

E

“Coordenando a ação militar com a propaganda em favor dum vasto movimento de produção, lançou-se imediatamente uma ofensiva política sob a palavra de ordem de ‘golpear todos os que pretenderem sabotar o grande movimento de produção!’ Nas capitais de distrito, Taicien e Cuocien, o inimigo perguntou à população a razão ‘por que o VIII Exército se tornou tão terrível nos últimos tempos’ e esta respondeu-lhe: ‘porque vocês sabotam o grande movimento de produção da região fronteiriça.’ Os soldados do exército fantoche comentaram entre si: ‘Melhor será não fazer sortidas enquanto eles realizam o seu grande movimento de produção.’"

Mas será possível levar o povo das zonas de guerrilhas a lançar também uma campanha de produção? Estarão os camponeses interessados aí em aumentar a produção, quando as rendas ainda não foram reduzidas ou a redução não foi radical? Para essa pergunta a região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei dá também resposta afirmativa:

“Ademais, com o desenvolvimento do movimento de produção nas vizinhanças das linhas e fossos de bloqueio inimigo, as tropas conseguiram prestar uma ajuda direta à população local. Por um lado asseguraram proteção armada às massas empenhadas na produção e, por outro lado, ajudaram-nas por toda a parte contribuindo com mão-de-obra. Algumas unidades estabeleceram como regra consagrar metade da sua força de trabalho à ajuda desinteressada às massas, na época dos grandes trabalhos agrícolas. Assim, o entusiasmo das massas pela produção elevou-se consideravelmente, as relações entre o exército e o povo tornaram-se mais harmoniosas e, além disso, as massas têm bastante para comer. Daí o aumentar da simpatia e apoio que estas manifestam ao Partido Comunista e ao VIII Exército nas zonas de guerrilhas.”

Estão pois removidas todas as dúvidas quanto à possibilidade e necessidade de o exército e o povo empreenderem um movimento de produção em grande escala nas zonas de guerrilhas. Nós apelamos para que todos os quadros do Partido, governo e exército nas regiões libertadas, sobretudo nas zonas de guerrilhas, compreendam inteiramente esse problema, pois, uma vez entendida plenamente essa “possibilidade” e “necessidade”, a produção desenvolver-se-á por toda a parte. Foi exatamente desse ponto que se começou na região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei:

“Na campanha de produção, as tropas das vizinhanças das linhas e fossos de bloqueio inimigo não só puderam cumprir, dentro dos prazos estabelecidos, os seus planos de produção num curto período de apenas cinco meses, como ainda, e o que é mais, foram capazes de introduzir muitas inovações práticas. Isso deu-se porque os quadros reformaram a sua mente, prestaram séria atenção à produção e à integração da capacidade de trabalho com a força armada e forjaram heróis do trabalho e trabalhadores-modelo entre as massas (sessenta e seis heróis do trabalho e trabalhadores-modelo, segundo um balanço preliminar).”

É necessário que, em 1945, todas as regiões libertadas desenvolvam entre o exército e a população um movimento de produção de escala maior do que nunca, através da união dos esforços de todos; e no Inverno próximo compararemos os resultados obtidos nas diferentes regiões.

A guerra não é apenas uma competição no plano militar e político, é também uma competição no plano econômico. Para vencer o agressor japonês devemos, além das demais tarefas, entregar-nos ao trabalho econômico e aprender a realizá-lo num prazo de dois ou três anos; neste ano de 1945 precisamos de obter êxitos ainda mais significativos. É o que o Comitê Central do Partido Comunista da China espera instantemente de todos os quadros e de toda a população das regiões libertadas; temos esperança de que tal objetivo seja atingido.


Inclusão 21/04/2015