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O camarada Cai Fum acaba de enunciar o objetivo da reunião de hoje. Eu gostaria agora de falar de como o subjetivismo e o sectarismo se servem do estilo de cliché do Partido como instrumento de propaganda ou modo de expressão. Se, ao combatermos o subjetivismo e o sectarismo, não liquidamos também o estilo de cliché do Partido, estes encontrarão ainda refúgio e poderão portanto esconder-se. Mas se liquidamos igualmente o estilo de cliché do Partido, isso contará como xeque-mate final ao subjetivismo e sectarismo, o que deixará à plena luz a face real desses dois monstros, os quais, como os “ratos que atravessam uma rua sob os gritos de ‘mata! mata!’ ”, serão facilmente eliminados.
As coisas não preocupariam muito se os que escrevessem no estilo de cliché do Partido o fizessem apenas para si próprios. Mas mostrando os seus escritos a outros, o número de leitores já fica dobrado e o prejuízo causado deixa então de ser pequeno. E se, além disso, tais escritos são afixados nas paredes ou policopiados, publicados em jornais ou editados em livro, o problema torna-se sério porque podem influenciar muita gente. Os que escrevem no estilo de cliché do Partido querem sempre ser lidos por muitos. Assim, torna-se absolutamente necessário denunciar e liquidar esse estilo de cliché.
O estilo de cliché do Partido é ademais uma variedade do “estilo de cliché estrangeiro”, contra o qual se ergueu Lu Sun há já muito(1). Por que razão pois o designamos por estilo de cliché do Partido? Porque, além do seu sabor estrangeiro, tem um certo cheiro de solo nativo. Talvez se queira também considerá-lo como uma espécie de criação! Quem poderá então pretender que nenhuma obra de criação se realizou entre nós? Aí está uma! (Gargalhadas.)
O estilo de cliché tem uma longa história no nosso Partido, chegando a constituir por vezes um problema muito grave, sobretudo no período da Revolução Agrária.
Encarado historicamente, o estilo de cliché do Partido é uma reacção contra o Movimento de 4 de Maio.
Na época do Movimento de 4 de Maio, os homens ganhos às novas ideias combateram a língua escrita clássica e preconizaram o estilo da língua falada, combateram os velhos dogmas e preconizaram a ciência e a democracia. Tudo isso estava inteiramente correto. O movimento era, na época, dinâmico, progressista e revolucionário. As classes dominantes educavam os estudantes na doutrina de Confúcio, obrigavam o povo a crer no sistema confuciano como num dogma religioso e todos os escritos eram redigidos na língua clássica. Numa palavra, os escritos e o ensino das classes dominantes e seus acólitos eram na época, quer no conteúdo quer na forma, do gênero cliché e dogma. Eram os velhos clichés e velhos dogmas. Um dos maiores méritos do Movimento de 4 de Maio foi o ter mostrado ao povo toda a hediondez dos velhos clichés e velhos dogmas, e tê-lo levado a combater tudo isso. Outro grande mérito, ligado ao precedente, foi a luta que o movimento travou contra o imperialismo, mas a luta contra os velhos clichés e os velhos dogmas permanece uma das suas grandes realizações. Mais tarde, porém, o estilo de cliché estrangeiro e os dogmas estrangeiros fizeram a sua entrada em cena, e certos camaradas no nosso Partido, contrariamente ao Marxismo, desenvolveram-nos até convertê-los em subjetivismo, sectarismo, estilo de cliché do Partido. E assim temos os novos clichés e os novos dogmas. Estes enraizaram-se tão profundamente no espírito de tantos dentre os nossos camaradas que precisamos atualmente de despender grandes esforços no trabalho de transformação. Assim resulta que o movimento dinâmico, progressista e revolucionário do período do “4 de Maio”, dirigido contra os velhos clichés e dogmas feudais, foi transformado por alguns no seu contrário e deu lugar a clichés e dogmas novos. Estes últimos já nada têm de vivo, são mortos, nada têm de progressista, são retrógrados, nada têm de revolucionário, são um obstáculo à revolução. Isso significa que o estilo de cliché estrangeiro ou o estilo de cliché do Partido são uma reacção contra a própria natureza do Movimento de 4 de Maio. Mas o Movimento de 4 de Maio apresentava também as suas debilidades. Muitos dos seus dirigentes não possuíam ainda um espírito crítico marxista, os seus métodos eram geralmente burgueses, quer dizer, formalistas. Tinham muita razão em rebelar-se contra os velhos clichés e os velhos dogmas e preconizar a ciência e a democracia, mas ao tratarem as situações do seu tempo, a História e as realidades do estrangeiro, faltava-lhes o espírito crítico próprio do materialismo histórico e viam as coisas más como absoluta e inteiramente más e as boas como absoluta e inteiramente boas. Essa maneira formalista de abordar os problemas afetou o curso ulterior do movimento, o qual, no seu desenvolvimento, se dividiu em duas correntes. Um setor herdou-lhe o espírito científico e democrático e transformou-o na base do Marxismo; foi o que fizeram os comunistas e alguns marxistas não-membros do Partido. Outro setor embrenhou-se na via da burguesia, e foi o escorregar do formalismo para a direita. Mas mesmo no interior do Partido Comunista a situação não era uniforme; alguns membros não dominaram firmemente o Marxismo, desviaram-se e caíram em erros de formalismo, isto é, caíram no subjetivismo, no sectarismo e no estilo de cliché do Partido; foi o escorregar do formalismo para a “esquerda”. O estilo de cliché do Partido constitui pois, por um lado, uma reacção contra os elementos positivos do Movimento de 4 de Maio e, por outro lado, uma herança, um prolongamento ou desenvolvimento dos elementos negativos desse movimento; de modo nenhum é fenômeno fortuito. É bom que compreendamos isso. Tal como, na época do Movimento de 4 de Maio, a luta contra os velhos clichés e os velhos dogmas era revolucionária e indispensável, hoje é também revolucionário e indispensável criticar, à luz do Marxismo, os novos clichés e os novos dogmas. Sem essa luta travada durante o Movimento de 4 de Maio, o povo chinês não teria podido libertar-se ideologicamente da sua submissão aos velhos clichés e aos velhos dogmas e a China não poderia ter esperanças de liberdade e independência. Essa tarefa ficou apenas começada no período do Movimento de 4 de Maio, tornando-se ainda necessário, atualmente, um enorme esforço — colossal trabalho na via da remodelação revolucionária — para habilitar o povo a libertar-se totalmente da dominação dos velhos clichés e dogmas. Se não combatemos hoje os novos clichés e os novos dogmas, o espírito do povo chinês ficará prisioneiro doutra espécie de formalismo. Se não nos desembaraçamos do veneno do estilo de cliché e dos erros de dogmatismo de certo setor dentre os camaradas do Partido (apenas um setor, claro), será impossível fomentar um vigoroso e vivo espírito revolucionário, extirpar o mau hábito de adoptar uma atitude errada com relação ao Marxismo, e propagar e desenvolver amplamente o Marxismo autêntico; além disso, não seremos capazes de combater com energia a influência exercida sobre o conjunto do povo pelos velhos clichés e velhos dogmas, nem a influência exercida sobre muitos dos nossos compatriotas pelos clichés e dogmas estrangeiros, sendo-nos impossível eliminá-los completamente.
O subjetivismo, o sectarismo e o estilo de cliché do Partido são, os três, antimarxistas; não respondem às necessidades do proletariado mas sim às das classes exploradoras. São um reflexo da ideologia pequeno-burguesa no Partido. A China é um país onde a pequena burguesia é uma classe muito numerosa, encontrando-se o nosso Partido rodeado por : essa vasta classe; um número considerável dos nossos membros são oriundos desta e trouxeram inevitavelmente consigo um maior ou menor caudal de ideias pequeno-burguesas para o Partido. Se o fanatismo dos revolucionários pequeno-burgueses e a sua visão unilateral das coisas não são contidos e corrigidos, podem facilmente engendrar o subjetivismo e o sectarismo, de que um dos modos de expressão é o estilo de cliché estrangeiro ou o estilo de cliché do Partido.
Não é fácil liquidar esse fenômeno e eliminar-lhe todos os vestígios. A tarefa deve cumprir-se de modo adequado, quer dizer, com esforço de argumentação convincente. Se os nossos argumentos são bem expostos e formulados a propósito, serão eficazes. A argumentação consiste antes de mais em sacudir fortemente o doente, gritando-lhe: “Estás doente!”, para que, chocado, transpire de medo, e depois, dizer-lhe gentilmente que siga um tratamento.
Analisemos agora o estilo de cliché do Partido e vejamos onde reside o mal. Combatendo o veneno com o próprio veneno, vamos proceder, como o cliché da “dissertação em oito partes”(2), a um requisitório em “oito pontos”, a que poderíamos chamar oito pontos de acusação.
Primeiro crime do estilo de cliché do Partido: entregar-se a fraseologia interminável e vazia de sentido. Alguns dos nossos camaradas gostam de escrever artigos muito longos, mas sem substância, exatamente iguais às “longas e malcheirosas ligaduras de pés das damas preguiçosas”. Por que razão escrevem artigos assim tão longos e tão vazios? Só pode haver uma explicação, é que estão bem decididos a não ser lidos pelas massas. Como os artigos são intermináveis e vazios de substância, as massas abanam a cabeça ao primeiro olhar que deitam sobre eles; como haveriam de querer lê-los? Tais artigos só servem para enganar ingênuos, entre os quais exercem má influência e fomentam uma aquisição de maus hábitos. No dia 22 de Junho do ano passado, a União Soviética começou a travar uma gigantesca guerra contra a agressão, e no entanto a alocução feita por Estáline no dia 3 de Julho não foi mais longa que um editorial do nosso Quiefanjepao. Se qualquer desses nossos senhores tivesse de redigi-la, coisa terrível, constaria no mínimo de várias dezenas de milhares de caracteres. Nós estamos em plena guerra, temos de aprender a escrever artigos curtos e substanciosos. Embora não haja guerra em Ien-an, as nossas tropas batem-se diariamente na frente, e a retaguarda está muito sobrecarregada de trabalho; se os artigos são excessivamente longos quem haverá que os leia? Alguns camaradas da frente gostam também de escrever longos relatórios. Dão-se a grandes penas para escrevê-los e enviam-nos para cá para que leiamos. Mas quem terá coragem para lê-los? E se os artigos longos e vazios não são bons, serão porventura melhores os curtos e vazios? Claro que não. É preciso acabar com toda a tagarelice vã. Mas a tarefa principal, primordial, é atirar para o lixo as longas e malcheirosas ligaduras de pés das damas preguiçosas. Alguns perguntarão: “E O Capital não é acaso muito longo? Que fazer então?” A resposta é simples: continuar a lê-lo. Há um provérbio que diz: “Muda-se de montanha muda-se de canção” e um outro, “Ajustar o apetite às provisões, e a vestimenta à estatura”. Tudo que fazemos tem de fazer-se de acordo com as circunstâncias, e o mesmo acontece quando se trata de redigir artigos ou fazer discursos. Somos contra os clichés intermináveis e vazios de sentido, mas isso não quer dizer que tudo tenha de ser curto para ser bom. Em tempo de guerra necessitamos de artigos breves, e é certo que necessitamos ainda mais de artigos com substância. Os artigos sem conteúdo são o que há de mais injustificável e condenável. O mesmo vale quanto aos discursos; devemos acabar com as tiradas vazias e intermináveis.
Segundo crime do estilo de cliché do Partido: tomar ares afetados e pretensiosos destinados a intimidar as pessoas. Alguns escritos em cliché são não só intermináveis e vazios de sentido como também cheios de pretensões que visam, deliberadamente, a intimidar as pessoas; contêm um veneno dos mais perniciosos. A tagarelice interminável, vazia, sem substância, ainda pode considerar-se infantilidade, mas o recurso a esse ar afetado e pretensioso para intimidar as pessoas já não é infantilidade, é desonestidade pura e simples. Criticando os que atuavam assim, Lu Sun disse uma vez que “insultar e intimidar não é seguramente combater.”(3) Aquilo que é científico nunca receia a crítica, pois a ciência é verdade, de modo nenhum teme a refutação. Ora, o subjetivismo e o sectarismo, tal como os encontramos nos escritos e discursos do estilo de cliché do Partido, sentem um medo terrível da refutação, são extremamente cobardes, razão por que a sua única saída é tomar ares pretensiosos para intimidar as pessoas, crendo poder assim tapar a boca dos outros e “regressar à corte triunfalmente”. Tal pretensão nunca poderá refletir a verdade, é apenas um obstáculo à verdade. A verdade não tem que recorrer à pose de intimidação; impõe-se por palavras e atos sinceros. Há duas expressões que aparecem com frequência nos artigos e discursos de inúmeros camaradas: uma é a “luta crua” e a outra, os “golpes despiedados”. Essas medidas são absolutamente necessárias contra o inimigo e contra a ideologia inimiga, mas usá-las com relação aos camaradas é incorreto. Acontece frequentemente que inimigos e ideias próprias ao inimigo se infiltrem no Partido, como se diz no ponto 4 da conclusão do Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS. Aí, contra tais inimigos, não há dúvida que devemos recorrer à luta crua e aos golpes despiedados, já que são exatamente esses os meios que tal canalha emprega contra o Partido, e, se formos tolerantes, caímos nas armadilhas que nos preparam. Mas as mesmas medidas não devem aplicar-se com relação aos camaradas que tenham ocasionalmente cometido erros; com eles há que adoptar o método da crítica e autocrítica, como se indica no ponto 5 da conclusão do Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS. Se, no passado, certos camaradas passaram à “luta crua” e aos “golpes despiedados” contra outros, foi porque não analisaram, por um lado, o caso daqueles com quem tratavam e, por outro lado, procuravam intimidar tomando ares pretensiosos. Esse método é inadmissível, seja com quem for que se estiver tratando. De todo inoperante contra o inimigo, a tática de intimidação não pode mais que causar prejuízo com relação aos camaradas. É coisa habitual entre as classes exploradoras e entre o lumpemproletariado, mas o proletariado não precisa disso. A arma mais acerada e eficaz para este não é outra senão a atitude científica, séria e militante. A vida do Partido Comunista não ; se baseia na intimidação mas sim na verdade do Marxismo-Leninismo, na busca da verdade nos fatos, na ciência. Quanto a querer obter fama e posição por meio de pretensão, nem vale a pena falar, é desprezível. Numa palavra, quando os organismos tomam decisões ou avançam diretivas, e quando os j camaradas escrevem artigos ou fazem discursos, devem todos apoiar-se na verdade do Marxismo-Leninismo e servir propósitos úteis. Só assim poderá garantir-se a vitória da revolução. Tudo o mais é vão.
Terceiro crime do estilo de cliché do Partido: disparar ao acaso, sem ter em conta o auditório. Há alguns anos vi nos muros de Ien-an a palavra de ordem seguinte: “Operários e camponeses, uni-vos para conquistar a vitória na Guerra de Resistência contra o Japão!” O conteúdo da palavra de ordem de modo nenhum era mau, mas na palavra 工 人 [cunjen=operários], o caráter 工 [cun=trabalho] estava desenhado 五, com o traço perpendicular em zigue-zague; quanto ao caráter 人 [jen=pessoa] tinha-se convertido em 友, três pequenos traços oblíquos cortando-lhe a perna direita. O camarada que os escreveu era sem qualquer dúvida discípulo de velhos letrados, mas escrever tais caracteres nos muros duma cidade como Ien-an, na época da Guerra de Resistência, é coisa incompreensível. Possivelmente ele tinha-se prometido não se fazer entender pelas pessoas comuns pois é de fato difícil encontrar outra explicação. Os comunistas que desejam efetivamente fazer propaganda, devem ter em conta o auditório, pensar naqueles que hão de ouvir-lhes e ver-lhes os artigos, a caligrafia, os discursos e as intervenções. Doutro modo estão realmente decididos a não serem lidos nem ouvidos por ninguém. Muitos imaginam com frequência que o que escrevem ou dizem é compreensível para todos, quando de fato as coisas não são nada assim. Como poderão as pessoas entender o que eles escrevem ou dizem em estilo de cliché do Partido? O ditado “tocar lira para búfalos” traduz a zombaria em relação ao auditório. Mas se, pelo contrário, o interpretamos no sentido do respeito pelo auditório, a zombaria recai sobre o executante. Por que razão se obstinará ele em tocar sem considerar o auditório? E o pior é que o estilo de cliché do Partido tem tudo do crocitar do corvo e não deixa de insistir em moer as massas populares com os seus grasnidos. Quando se arremessam flechas impõe-se visar o alvo, e quando se toca lira há que pensar no auditório. Como pois escrever artigos e fazer discursos sem ter em conta os leitores e os ouvintes? Suponhamos que queremos estabelecer amizade com alguém; poderá chegar-se a uma amizade íntima sem que as partes se compreendam, ignorando cada uma o que a outra tem no fundo da alma? Os nossos propagandistas não chegarão a resultado algum enquanto não fizerem mais que tagarelar sem procurar saber quem é o seu público, sem estudá-lo, sem analisá-lo.
Quarto crime do estilo de cliché do Partido: usar linguagem monótona e insípida, que lembra um piessan(4). O tipo descarnado e feio a que os xangaienses chamam “pequeno piessan” assemelha-se muito ao estilo de cliché do Partido. Se um artigo ou discurso não faz senão repisar uns quantos termos, em tom de sala de aula, sem alma nem vigor, não será de fato um piessan, monótono, insípido e repelente de aspeto? Se alguém entrou para a escola aos sete anos, passou pelo liceu na adolescência, concluiu com mais de vinte anos os estudos universitários mas nunca esteve em contato com as massas populares, nada haverá de estranho se a sua linguagem for pobre e monótona. Nós somos um partido revolucionário, trabalhamos para as massas; se não aprendemos a língua das massas não podemos levar a bom termo o nosso trabalho. Muitos dos camaradas que se ocupam atualmente da propaganda também não estudam a língua; a propaganda que fazem é insípida, e são poucas as pessoas que se dispõem a ler-lhes os artigos e ouvir-lhes os discursos. Por quê estudar a língua e despender nisso grande esforço? Porque uma língua não se domina facilmente, necessita-se grande esforço. Primeiramente, há que estudar a língua junto das massas. O vocabulário do povo é muito rico e vivo, reflete a vida real. Como muitos dentre nós não aprenderam a fundo a língua, os nossos artigos e discursos contêm poucas expressões vivas, precisas, pujantes; apenas lhes restam uns quantos tendões ressequidos, como um piessan horrível de magreza, de modo nenhum se trata dum corpo saudável. Segundo, é preciso assimilar das línguas estrangeiras aquilo que necessitamos. Não devemos utilizar as expressões estrangeiras mecanicamente, abusivamente, mas sim extrair das línguas estrangeiras o que é bom e útil para nós. Como o velho vocabulário chinês é insuficiente, muitas das palavras do nosso vocabulário atual são assimiladas das línguas estrangeiras. Por exemplo, hoje estamos procedendo a uma reunião de campu [quadros], ora, a palavra campu veio do estrangeiro. Há que assimilar ainda mais o que é novo no estrangeiro, não somente ideias progressistas, também termos novos. Terceiro, deve-se também aprender o que há de vivo na língua clássica chinesa. Como não nos aplicamos suficientemente ao estudo da língua clássica chinesa, não fomos capazes de utilizar plena e racionalmente o muito de vivo que nela resta. Claro que nos opomos resolutamente à utilização de expressões ou alusões mortas, isso está assente, mas o que é bom e ainda útil importa recolhê-lo como herança. As pessoas mais intoxicadas pelo estilo de cliché do Partido não se dão ao trabalho de estudar tenazmente o que há de útil na língua popular, nas línguas estrangeiras e na língua clássica chinesa, razão por que as massas não acolhem favoravelmente a sua propaganda monótona e insípida, e nós tão-pouco temos necessidade de propagandistas assim medíocres e incompetentes. Quem são os nossos propagandistas? Os nossos propagandistas não são apenas os professores, jornalistas, escritores e artistas, são todos os nossos quadros. Por exemplo, consideremos os comandantes do exército. Embora não façam declarações públicas, eles têm de falar aos soldados e entrar em contato com o povo; ora, o que será isso senão propaganda? Assim que uma pessoa se dirige a outras, faz propaganda. E a não ser que se seja mudo, há sempre algo para dizer. Por isso se torna imperioso que os nossos camaradas estudem todos a língua.
Quinto crime do estilo de cliché do Partido: alinhar os pontos a tratar segundo uma ordem de cabeçalhos como nas farmácias tradicionais chinesas. Passem os olhos por qualquer farmácia chinesa e olhem para os armários de muitas gavetas, cada uma com o seu rótulo: angélico, dedaleira, ruibarbo, salitre, tudo quanto pode existir. Esse sistema foi também adoptado pelos nossos camaradas. Nos seus artigos e discursos, nos seus livros e relatórios, utilizam primeiro os números chineses em caracteres maiúsculos, logo em minúsculos, a seguir os caracteres para os dez celestiais, depois os caracteres para os doze ramos da Terra e então as maiúsculas A, B, C, D, as minúsculas a, b, c, d, os números árabes e sei lá que mais! Que fortuna terem os antigos e os estrangeiros criado todos esses símbolos, de tal maneira que hoje podemos abrir uma farmácia chinesa sem o mais pequeno esforço! Um artigo que, abarrotado de tais símbolos, não levanta, não analisa e não resolve o menor problema nem se pronuncia por ou contra seja o que for, feitas todas as contas não é mais que uma farmácia chinesa, não tem conteúdo determinado. Eu não digo que os símbolos como os dez celestiais, etc., não devam ser utilizados, somente essa maneira de abordar os problemas é que está errada. Muitos dos nossos camaradas ganharam agora o gosto pelo método da farmácia chinesa que, na realidade, é o mais terra a terra, infantil e vulgar de todos os métodos. E um método formalista que classifica as coisas pelos aspetos externos, e não pelos laços internos. Se uma pessoa agarra num montão de conceitos não relacionados internamente e os alinhava em artigos, discursos ou relatórios, atendendo apenas aos aspetos externos dos fenômenos, está a jogar com os conceitos e pode até induzir outros a entrar no mesmo jogo, com o resultado de não usarem os seus cérebros para pensar os problemas e penetrar na essência dos fenômenos e contentarem-se com uma simples lista de fenômenos segundo a ordem A, B, C, D. O que é um problema? E uma contradição num fenômeno. Onde quer que exista uma contradição não resolvida há um problema. Sempre que há problema há o dever de tomar partido por um lado e contra o outro lado, e impõe-se levantar o problema. Para levantar um problema é preciso, antes de mais, proceder à investigação e estudo gerais sobre os dois aspetos fundamentais do problema, isto é, da contradição, a fim de ser possível entender a natureza mesma da contradição; esse é o processo de pôr em evidência o problema. Fazendo a investigação e o estudo sobre o problema nas suas linhas gerais, pode-se pô-lo em evidência, levantar o problema, mas não ainda resolvê-lo. Para resolvê-lo é necessário passar à investigação e estudo sistemáticos e minuciosos; é o processo de análise. Definir um problema também exige análise, doutro modo ' não é possível, num montão confuso e disparate de fenômenos, ver onde está o problema, quer dizer, a contradição. Mas o processo de análise de que se trata aqui é o processo de análise sistemática e minuciosa. Acontece frequentemente que, levantado um problema, não se pode resolvê-lo porque não se descobriram os laços internos dos fenômenos, não se submeteu o problema a uma análise sistemática e minuciosa, e por isso ainda não se veem claramente os aspetos do problema nem é possível fazer já a respetiva síntese nem dar-lhe solução adequada. Todo o artigo ou discurso, quando importante e indicador duma direcção a seguir, levanta sempre um problema, analisa-o e procede à respetiva síntese, a fim de definir-lhe a natureza e estabelecer i o processo de resolvê-lo; o método formalista de modo nenhum serve. Ora, como o método formalista, infantil, terra a terra, vulgar e de preguiça mental está a generalizar-se no Partido, o nosso dever é denunciá-lo, para que cada um possa aprender a utilizar o método marxista quando abordar, levantar, analisar ou resolver os problemas. Só assim poderemos levar a bom termo o nosso trabalho, só assim poderá a nossa causa revolucionária triunfar.
Sexto crime do estilo de cliché do Partido: não assumir as responsabilidades e causar prejuízos onde quer que se manifeste. Todo o mal enunciado acima deve-se, por um lado, à ingenuidade, e, por outro, ao deficiente sentido das responsabilidades. Tomemos como ilustração a lavagem do rosto. Todos lavamos diariamente a cara, havendo até quem o faça mais de uma vez ao dia, olhando-se ao espelho, como investigação e estudo (gargalhadas), receoso de que algo não tenha ficado bem. Que elevado sentido das responsabilidades! Se escrevêssemos artigos e fizéssemos discursos com o mesmo sentido das responsabilidades, não atuaríamos assim tão mal. Não se deve apresentar aquilo que não é apresentável; há que ter sempre em mente o fato de os nossos artigos e discursos serem capazes de influenciar o pensamento e a acção dos outros! Se alguém não lava o rosto durante um ou dois dias, não há dúvidas de que isso não está bem, e se, quando se lava, deixa ainda um ou dois traços de sujidade na cara é claro que também não é agradável. Contudo, não se trata de algo que represente maior perigo. Mas as coisas já são distintas com os artigos e os discursos, destinados especificamente a influenciar os demais. Não obstante, os nossos camaradas avançam nisso com leviandade, o que significa colocar o trivial acima do fundamental. Muitos escrevem artigos ou fazem discursos sem estudo prévio, sem preparação, e assim que terminam os artigos publicam-nos apressadamente, sem dar-se ao trabalho de relê-los várias vezes, como cuidariam de observar-se ao espelho após a lavagem do rosto. O resultado traduz-se frequentemente nisto: “Escrevem mil palavras num riscar da pena e ficam a dez mil lis do tema”. Muito talentosos na aparência, esses escritores o que fazem é mal a toda a gente. Há que corrigir esse mau hábito, esse fraco sentido das responsabilidades.
Sétimo crime do estilo de cliché do Partido: envenenar todo o Partido e prejudicar a revolução. O oitavo crime está em, com a sua difusão, demolir o país e arruinar o povo. Esses dois crimes são tão evidentes que dispensam comentário. Dizendo por outras palavras, se não se elimina o estilo de cliché do Partido, se se lhe permite livre curso, as consequências poderão ser muito graves. O que se esconde no estilo de cliché do Partido é o veneno do subjetivismo e do sectarismo e, se tal veneno se espalha, será um desastre para o Partido e para o país.
Estes oito pontos de acusação constituem o nosso chamamento às armas contra o estilo de cliché do Partido.
Como forma, o estilo de cliché do Partido é não somente inconveniente para traduzir o espírito revolucionário como até apto para extinguir esse espírito. Para que o espírito revolucionário se desenvolva, torna-se necessário renunciar ao estilo de cliché do Partido e substituí-lo pelo estilo marxista-leninista, vivo, transpirando frescura e vigor. Este existe de há muito mas não foi ainda enriquecido e propagado por toda a parte. Quando tivermos eliminado o estilo de cliché estrangeiro e o estilo de cliché do Partido, poderemos enriquecer e popularizar o nosso novo estilo, o que fará avançar a causa revolucionária do Partido.
O estilo de cliché do Partido não se limita apenas aos artigos e discursos, revela-se também na maneira como se conduzem as nossas reuniões: “i. abertura; 2. relatório; 3. discussão; 4. conclusões; 5. encerramento”. Esse proceder mecânico, repetido por toda a parte em cada reunião grande ou pequena, acaso não é exatamente uma forma de cliché do Partido? Os “relatórios” apresentados nas reuniões contêm frequentemente tais pontos: “1. situação internacional; 2. situação interna; 3. situação na região fronteiriça; 4. situação na nossa secção de trabalho”. As reuniões vão com frequência da manhã à noite, e mesmo os que nada têm a dizer avançam com intervenções, como se, calando-se, faltassem ao seu dever frente aos demais. Resumindo, despreocupando-se das circunstâncias concretas aferram-se às velhas formas e costumes. Acaso não deve também corrigir-se tal fenômeno?
Actualmente, são muitos os que preconizam uma transformação total no sentido nacional, científico e popular, o que é muito bom. Mas “transformação total” significa mudança da cabeça aos pés, interna e externa; ora, há quem não tenha feito sequer a mais “pequena mudança” e esteja no entanto a clamar pela “transformação total”! Eu gostaria pois de aconselhar a esses camaradas que começassem por impor-se uma “pequena mudança” antes de passarem à “transformação total”, pois, de contrário, continuarão presos ao dogmatismo e ao estilo de cliché do Partido. Isso pode definir-se como “visar demasiado alto para débeis recursos”, “grandes ambições para diminuto talento” e a nada pode conduzir. Assim, aqueles que muito falam de “transformação total no sentido dum estilo de massas” quando na prática se limitam aferradamente ao seu grupinho, precisam de fazer muita atenção, pois, um dia, alguém dentre as massas poderá saltar-lhes ao caminho dizendo: “Senhor, mostre um pouco da sua transformação total, por favor!”, com o que receberão um xeque-mate. Se eles não estão apenas pregando, mas querem realmente uma transformação total no sentido dum estilo de massas, devem ir de fato ao povo e aprender com este, pois de contrário a sua “transformação total” permanecerá coisa no ar. Há gente que fica gritando 1 a transformação total no sentido dum estilo de massas mas é incapaz de dizer três frases na língua | da gente comum. Isso mostra como não estão realmente determinados a aprender junto das massas. O seu espírito continua confinado ao seu reduzido grupinho.
Foi distribuída nesta reunião uma brochura, intitulada Guia de Propaganda, que contém quatro artigos; eu aconselho os camaradas a lerem e relerem tal brochura.
O primeiro desses textos compõe-se de extratos do Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS e trata do modo como Lénine fazia o trabalho de propaganda. Entre outros pontos descreve como Lénine redigia um panfleto:
“Sob a direcção de Lénine, a ‘União de Luta pela Libertação da Classe Operária’ de Petersburgo foi a primeira organização que procedeu, na Rússia, à fusão do socialismo com o movimento operário. Assim que estalava uma greve numa fábrica, a ‘União de Luta’, que conhecia perfeitamente a situação nas empresas através dos membros dos seus círculos, reagia logo com a publicação de panfletos e proclamações socialistas. Esses panfletos denunciavam a opressão de que eram vítimas os operários por parte dos fabricantes, explicavam como os operários deviam lutar pela defesa dos seus interesses e enunciavam as reivindicações operárias. Os panfletos proclamavam a inteira verdade sobre as chagas do capitalismo, a vida miserável dos operários, a intolerável jornada de doze a quatorze horas de trabalho e a sua situação de párias. Os panfletos avançavam também reivindicações políticas adequadas.”
Notem bem: “conhecia perfeitamente a situação” e “proclamavam a inteira verdade”!
“Com o concurso do operário Babuchkin, nos fins de 1894, Lénine elaborou o primeiro desses panfletos de agitação e um apelo aos operários grevistas da fábrica Semianikov de Petersburgo.”
Para redigir um panfleto torna-se necessário consultar os camaradas que conhecem a situação. Era na base de tais investigações e estudos que Lénine escrevia e trabalhava.
“Cada um desses panfletos ajudava poderosamente a elevar o espírito dos operários. Estes apercebiam-se de que os socialistas estavam a ajudá-los e a defendê-los.”(5)
Estaremos nós de acordo com Lénine? Se estamos, devemos trabalhar segundo o seu espírito. Quer dizer, devemos agir como Lénine agia e não encher páginas de fraseologia interminável, vazia de sentido, nem disparar ao acaso, sem ter em conta o auditório, ou crer-nos infalíveis e pomposos.
O segundo texto é composto de extratos dum discurso de Dimitrov ante o VII Congresso da Internacional Comunista. Que dizia Dimitrov? Dizia isto:
“Há que aprender a falar às massas, não na língua das fórmulas livrescas, mas na língua dos combatentes da causa das massas, cujas palavras e ideias refletem, cada uma, os pensamentos e sentimentos de milhões.”
E ainda:
"... a assimilação das nossas decisões pelas grandes massas é impossível se não aprendemos a falar uma língua compreensível para as massas. Estamos longe de falar sempre com simplicidade, concretamente, servindo-nos de imagens familiares e compreensíveis para as massas. Ainda não somos capazes de renunciar às fórmulas abstratas aprendidas de cor. Efetivamente, olhem para os nossos panfletos, jornais, resoluções e teses, e verão como são frequentemente redigidos numa linguagem tão pesada que até os nossos militantes têm dificuldade em compreendê-los e, com maior razão ainda, os simples operários.”
Bem? Não terá então Dimitrov posto o dedo no nosso ponto fraco? Como é evidente, o estilo de cliché do Partido existe tanto no estrangeiro como na China, sendo pois uma doença bastante generalizada. (Risos.) Mas seja como for, nós precisamos de curar-nos o mais rapidamente da doença, de acordo com as indicações do camarada Dimitrov:
“Cada um de nós deve assimilar a fundo, como lei, lei bolchevista, a seguinte regra elementar: Sempre que escreveres ou falares, mantêm constantemente no espírito os operários de base * que devem compreender-te, que devem convencer-se do teu apelo e estar prontos a seguir-te! Há que pensar naqueles para quem escreves ou falas.”(6)
Essa é uma receita prescrita pela Internacional Comunista para que nos curemos da doença. Há que observá-la. Tomemo-la pois como lei!
O terceiro texto, selecionado das Obras Completas de Lu Sun, é a resposta desse autor à revista Petoutsatche (Ursa Maior)(7), em discussão sobre o como escrever. Que dizia Lu Sun? Formulava oito regras a observar pelos que escrevem, algumas das quais gostaria de referir aqui.
Regra 1: “Atentar detidamente nas várias espécies de fenômenos; observar no máximo, não escrever se apenas se observou um pouco.”
O que dizia era “atentar detidamente nas várias espécies de fenômenos”, não apenas em um só fenômeno ou metade de fenômeno. Dizia “observar no máximo”, não apenas dar uma olhadela ou meia olhadela. E que fazemos nós? Acaso não fazemos exatamente o contrário e nos lançamos a escrever após termos observado apenas um pouco?
Regra 2: “Não empenhar-se em escrever quando nada se tem a dizer.”
Que fazemos nós? Não é verdade que nos esforçamos a escrever muito, mesmo quando é de todo evidente que nada há nas nossas cabeças? Constitui pura irresponsabilidade pegar na caneta e “empenhar-se em escrever” sem investigação nem estudo prévios.
Regra 4: “Depois de se ter escrito algo, ler pelo menos duas vezes o que se escreveu e fazer o máximo por cortar sem perdão as palavras, frases e parágrafos não indispensáveis. Mais vale condensar a matéria dum romance num conto que alongar a matéria dum conto por todo um romance.”
Confúcio aconselhava a “refletir duas vezes”(8) e Han Iu dizia que “o êxito deve-se à meditação”(9). E isso era nos tempos antigos. Hoje, as coisas tornaram-se muito complicadas e muitas vezes já nem bastam três ou quatro reflexões. Lu Sun falava em “ler pelo menos duas vezes”. E quantas no máximo? Isso ele já não disse mas, em minha opinião, não será prejudicial ler mais de dez vezes os artigos importantes, e revê-los cuidadosamente antes da publicação. Os escritos são um reflexo da realidade objetiva, que é intrincada, complexa, devendo ser estudada repetidamente até que possa ser adequadamente refletida; ser negligente nesse domínio é ser ignorante das noções elementares sobre a arte de escrever.
Regra 6: “Não fabricar adjetivos ou outros termos incompreensíveis para todos exceptuado o próprio autor.”
Nós “fabricamos” demasiadas expressões que, em resumo, “ninguém entende”. Por vezes, uma só afirmação alonga-se por quarenta ou cinquenta caracteres embrulhada em “adjetivos ou outros termos incompreensíveis para todos”. Muitos que incansavelmente proclamam que seguem Lu Sun são exatamente quem lhe vira as costas!
O último texto da brochura é extraído do relatório sobre o processo de desenvolver um estilo nacional de propaganda, adoptado pela Sexta Sessão Plenária do Comité Central eleito pelo VI Congresso do Partido Comunista da China. Nessa sessão, realizada em 1938, nós dissemos que
“toda a afirmação sobre Marxismo, desligada das caraterísticas específicas da China, é apenas Marxismo abstrato, Marxismo no vácuo.”
Quer dizer que devemos opor-nos a toda a afirmação vazia sobre o Marxismo, e os comunistas que vivem na China devem estudar o Marxismo ligando-o às realidades da revolução chinesa.
“Há que acabar com o estilo de cliché estrangeiro, devemos cantar menos canções vazias em toadas abstratas e deixar a dormir o dogmatismo, para deixar lugar a um ar e estilo chineses, plenos de frescor e vida, agradáveis ao ouvido e à vista das pessoas simples do nosso país. Separar o conteúdo internacionalista da forma nacional é prática dos que não compreendem coisa alguma sobre internacionalismo. Contrariamente, nós temos que ligar estreitamente uma coisa à outra. Nesse aspeto há graves erros nas nossas fileiras, erros que devemos conscienciosamente superar.”
Esse documento exigiu a liquidação do estilo de cliché estrangeiro mas, na prática, certos camaradas continuam ainda a fomentá-lo. Exigiu que se cantem menos canções vazias em toadas abstratas, mas certos camaradas persistem em cantarolar mais do que nunca. Exigiu que se deixasse a dormir o dogmatismo mas certos camaradas desejam fazê-lo sair da cama. Resumindo, muitos deixaram que o relatório adoptado pela Sexta Sessão Plenária lhes entrasse por uma orelha e saísse pela outra, como se se opusessem deliberadamente a ele.
O Comité Central decidiu agora que devemos desembaraçar-nos inteiramente do estilo de cliché do Partido, do dogmatismo, etc., essa é a razão por que falei longamente. Espero que os nossos camaradas pensem e analisem quanto disse, e que cada um faça uma análise do seu próprio caso. Cada um deve examinar-se cuidadosamente, discutir com os amigos íntimos e os camaradas à sua volta sobre os pontos que tiver esclarecido e eliminar realmente os seus defeitos.
Notas de rodapé:
(1) O estilo de cliché estrangeiro, desenvolvido e propagado por intelectuais superficiais da burguesia e pequena burguesia após o Movimento de 4 de Maio de 1919, manifestou-se durante muito tempo nas fileiras revolucionárias dos trabalhadores da cultura. Em vários ensaios, Lu Sun combateu o estilo de cliché estrangeiro então existente nas fileiras, e condenou-o nos termos seguintes: “Uma limpeza completa deve fazer-se de todo o estilo de cliché, tanto velho como novo. . . Por exemplo, constitui também uma espécie de cliché, “injuriar”, “intimidar” ou mesmo “lavrar sentenças”, reduzindo-se a copiar velhas fórmulas e a aplicá-las indiscriminadamente a todos os fatos, em vez de, especificada e concretamente, usar fórmulas originadas da ciência para explicar os novos fatos e fenômenos que surgem diariamente.” (“Resposta a Tchu Siu-sia”.) (retornar ao texto)
(2) Dissertação especial que o sistema dos exames imperiais previa na China feudal, do século XV ao século XIX. A dissertação compreendia oito partes: introdução, exposição do tema, teses gerais da dissertação, passagem à exposição, começo da exposição, meio da exposição, fim da exposição e conclusão. A "introdução" compunha-se apenas de duas frases explicativas do tema. A "exposição do tema" eram três ou quatro frases que se seguiam à explicação dada na introdução. As "teses gerais da dissertação" apresentavam, em resumo, o tema, marcando o começo do comentário. A "passagem à explicação" era uma fórmula de transição que se seguia às teses gerais. As últimas quatro partes — começo da exposição, meio da exposição, fim da exposição e conclusão — constituíam o comentário propriamente dito; o meio da exposição era a essência do trabalho. Cada uma dessas quatro partes compunha-se duma tese e duma anti-tese, o que, no total, perfazia oito secções, donde a designação de "dissertação em oito partes" ou "dissertação em quatro pares". O camarada Mao Tsetung refere-se aqui à exposição consequente do tema duma "dissertação em oito partes , para mostrar duma maneira imagética o desenvolvimento das diferentes fases da revolução. Geralmente, porém, recorre-se à expressão "dissertação em oito partes' como metáfora irónica, subentendendo-se por isso o dogmatismo. (retornar ao texto)
(3) Título dum ensaio escrito por Lu Sun em 1932, integrado na coletânea “Dialeto do Norte com Acento do Sul”, Obras Completas de Lu Sun, Tomo V. (retornar ao texto)
(4) Em Xangai, chamava-se piessan aos vagabundos magros em extremo que, não tendo profissão honesta, viviam da mendicidade e do furto. (retornar ao texto)
(5) Compêndio de História do Partido Comunista (Bolchevique) da URSS, capítulo I, secção 3. (retornar ao texto)
(6) J. Dimitrov: Pela Unidade da Classe Operária contra o Fascismo, discurso de encerramento no VII Congresso da Internacional Comunista, sexta parte: “Ter uma Linha Justa ainda não Basta”. (retornar ao texto)
(7) A revista mensal Petoutsatche (Ursa Maior) era editada pela Liga dos Escritores Chineses de Esquerda, em 1931-1932. O artigo de Lu Sun, “Resposta à Redacção da Revista Petoutsatche’’, figura na coletânea “Dois Corações”, Obras Completas de Lu Sun, Tomo IV. (retornar ao texto)
(8) Ver Confúcio, Conversações, Livro V, “Cungie Tcham”. (retornar ao texto)
(9) Han Iu (768-824), escritor célebre da dinastia dos Tans. Na sua “Introdução à Ciência”, escreveu: “O êxito deve-se à meditação e o fracasso à irreflexão.” (retornar ao texto)
Inclusão | 28/03/2015 |