Problemas Estratégicos da Guerra Revolucionária na China

Mao Tsetung


Capítulo V — Secção 2. A Preparação Duma Contra-Campanha


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Se não fizermos os preparativos necessários e suficientes para repelir uma campanha de "cerco e aniquilamento" metodicamente preparada pelo inimigo, seremos de certeza reduzidos a uma posição passiva. Quando se tem de aceitar à pressa o combate, de maneira nenhuma a vitória está assegurada. Assim, é absolutamente indispensável que, no momento preciso em que o adversário prepara à sua campanha de "cerco e aniquilamento", preparemos a nossa contra-campanha. As objecções levantadas antigamente nas nossas fileiras contra tais preparativos são simultaneamente ingénuas e ridículas.

Aqui surge um problema difícil e que dá facilmente lugar a discussão: quando devemos concluir a ofensiva e passar à fase preparatória da nossa contra-campanha? Quando estamos vitoriosamente na ofensiva e o adversário na defensiva, os seus preparativos para a próxima campanha de "cerco e aniquilamento! são realizados em segredo, sendo-nos por consequência difícil conhecer o momento em que começará a sua ofensiva. Se começamos prematuramente a preparação da nossa contra-campanha, arriscamo-nos a perder uma parte das vantagens que nos valeu a ofensiva, o que pode, por vezes, exercer uma influência nefasta sobre o Exército Vermelho e a população civil. Com efeito, na fase preparatória da contra-campanha, as medidas principais a tomar são os preparativos militares com vistas à retirada, e a mobilização política que estes exigem. Se os preparativos começam prematuramente, podem transformar-se, por vezes, numa espera do adversário; se tivermos de esperá-lo muito tempo, sem que ele se mostre, seremos obrigados a desencadear uma nova ofensiva, podendo acontecer que o início desta coincida com o desencadear da ofensiva do adversário, o que nos colocaria numa situação difícil. Por isso, a escolha do momento em que devemos começar os preparativos reveste-se duma grande importância. O momento exacto deve determinar-se tendo em conta a nossa situação, a situação do inimigo e as relações entre as duas situações. Para conhecermos a situação do inimigo, é necessário recolher informações sobre a sua posição política, militar e, financeira, e ainda sobre o estado da opinião pública nas regiões que ele controla. Ao procedermos à análise desses dados, importa considerar inteiramente as forças do adversário na sua totalidade, sem exagerar a importância das suas derrotas anteriores; por outro lado, porém, é indispensável levar plenamente em conta as contradições que existem no campo adversário, as suas dificuldades financeiras, as repercussões das derrotas que sofreu, etc. Pelo que nos respeita, não devemos exagerar a amplitude das nossas vitórias anteriores nem deixar de considerar inteiramente as respectivas repercussões.

Contudo, quanto à questão do momento em que se devem realizar os preparativos, duma maneira geral pode dizer-se que é melhor começá-los muito cedo do que muito tarde, pois o primeiro caso envolve perdas mais reduzidas e oferece a vantagem de prevenir-nos contra perigos, colocando-nos numa posição praticamente invencível.

Os principais problemas que surgem durante a fase preparatória são: os preparativos para a retirada do Exército Vermelho, a mobilização política, o recrutamento das tropas, as medidas preparatórias no domínio das finanças e do reabastecimento, as medidas a tomar em relação aos elementos politicamente estranhos, etc.

Por preparativos de retirada do Exército Vermelho, queremos dizer que este não se deve deslocar numa direcção que comprometa a sua retirada, nem avançar para muito longe nos seus ataques nem fatigar-se excessivamente. São estas as disposições a tomar pelas forças principais do Exército Vermelho nas vésperas duma ofensiva em grande escala do adversário. Nesse período, o Exército Vermelho deve concentrar principalmente a sua atenção na escolha e preparação dos sectores de operações, na acumulação dos seus meios materiais, no aumento e instrução dos seus efectivos.

Na luta contra as campanhas de "cerco e aniquilamento" do adversário, a mobilização política reveste-se duma importância primordial. Isso significa que é necessário dizer, claramente, resolutamente e sem nada esconder, aos combatentes do Exército Vermelho e às populações das bases de apoio, que a ofensiva do adversário é inevitável e iminente, que ela vibrará um golpe sério no povo, sendo contudo necessário falar-lhes também dos pontos fracos do adversário, das vantagens do Exército Vermelho, da nossa vontade de vencer a todo o custo, da direcção que deve tomar o nosso trabalho, etc. É imprescindível chamar o Exército Vermelho e toda a população à luta contra a campanha de "cerco e aniquilamento" do adversário e à defesa das bases de apoio. A não ser nas questões de segredo militar, a mobilização política deve fazer-se abertamente, englobando todos os que são susceptíveis de defender os interesses da revolução. A questão-chave está em convencer os nossos quadros.

Para o recrutamento das tropas devemos ter em vista dois elementos: por um lado, há que ter em conta o nível de consciência política da população e a sua importância numérica; por outro lado, há que considerar o estado do Exército Vermelho nesse momento, e as perdas que poderá sofrer durante toda a contra-campanha.

Não se torna necessário dizer que as questões financeiras e os problemas de reabastecimento têm grande importância para uma contra-campanha. Há que ter em conta o facto de o inimigo poder prolongar a sua campanha. E preciso calcular o mínimo indispensável para satisfazer as necessidades materiais — principalmente as do Exército Vermelho, mas também as da população da base revolucionária — durante todo o tempo da contra-campanha.

Em relação aos elementos politicamente estranhos, é necessário mostrar-se vigilante, evitando-se contudo as medidas de precaução exageradas por excessivo receio de traições da sua parte. Há que agir de maneira distinta, segundo se trata de senhores de terras, comerciantes ou camponeses ricos. O essencial é explicar-lhes a nossa política, obter a sua neutralidade e organizar as massas para que os vigiem. Somente em relação aos poucos elementos mais perigosos é que se torna necessário recorrer a métodos de maior rigor, como as detenções.

A importância, do sucesso duma contra-campanha depende directamente do estado de realização das tarefas na sua fase preparatória. A negligência nos preparativos, motivada pela subestimação do adversário, bem como o pânico suscitado pelo receio da sua ofensiva, são tendências nocivas que devem ser combatidas resolutamente. O que precisamos é dum estado de espírito entusiasta mas calmo, e duma actividade intensiva mas bem ordenada.


Inclusão 03/05/2010