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No início do século XIII desenvolveu-se na Ásia um poderoso Estado mongol. Este foi um período turbulento, em que houve enormes campanhas militares das hordas mongóis, que trouxeram sofrimentos e devastações inenarráveis aos povos que conquistaram.
Os Mongóis vieram das estepes do Norte da China. A maior parte das tribos mongólicas eram pastores nómadas. Inicialmente tinham formado uma primitiva sociedade de clãs, mas no século XII os seus padrões sociais tinham enfraquecido e os chefes, ou khans, tinham-se apoderado do poder e concentrado toda a riqueza nas suas mãos. Estes puseram ao seu serviço os nobres menores e os camponeses pobres. A riqueza dos khans e dos seus vassalos veio do trabalho dos camponeses simples, que eram obrigados a dar aos seus senhores o melhor gado para abater, assim como o melhor para a produção de leite, a pastorear as manadas pertencentes aos senhores e a suportar longos períodos de serviço militar.
No início do século XIII começou a formar-se um Estado mongol de tipo feudal primitivo. Tiveram neste novo Estado papel importante os nukut — séquito armado ao serviço dos khans, que mais tarde se tornaram seus vassalos. Os nobres fortaleceram o seu poder com o apoio dos nukut. No início do século XIII, os khans resolveram apoiar Tensijin (1155-1227), líder dos Mongóis das estepes, que em 1206 foi eleito chefe tribal ou grande khan e adoptou o nome de Gengis Khan.
Gengis Khan uniu toda a Mongólia sob o seu poder e juntou um enorme exército. Todo o mongol era um guerreiro destro a cavalo e em pouco tempo se formou um exército de cavaleiros cujas proporções não tinham precedentes. O exército era formado por grupos de dez mil homens, divididos em unidades de mil homens, cada uma delas composta de 10 subunidades de cem homens. Os soldados mongóis eram quase invulneráveis às setas dos seus inimigos, armados como estavam de elmos e armaduras feitas de couro duro, de arcos, setas e sabres afiados, cavalgando nos seus velozes cavalos. A sua estratégia militar também era nova. Depois de conquistar o Norte da China, Gengis Khan conseguiu consolidar consideravelmente o seu poder. Os engenheiros chineses ensinaram às tropas mongóis a táctica do cerco e o uso de catapultas e os experimentados funcionários administrativos chineses reorganizaram o aparelho burocrático do Estado. Mais tarde, os Mongóis conquistaram também o Sul da China. Eram utilizadas armas especiais para arremessar pedras e recipientes com azeite a ferver por cima das muralhas das cidades.
O exército mongol constituía mais uma ameaça para o resto do Mundo, pois estava bem armado, era extremamente móvel e estava unido sob um único líder.
Gengis Khan conquistou logo os povos da Sibéria, assim como os Buryats que viviam nas margens do Lago Baikal, os Yakuts e os Oirots no sopé dos montes Altai. Depois destas anexações Gengis Khan conduziu o seu exército para conquistar a Ásia Central e a Transcaucásia.
Na Ásia Central, Gengis Khan ia encontrar-se frente a frente com as ricas cidades e povos de uma civilização antiga. Estes territórios tinham sido ocupados pelo homem desde tempos imemoriais. A população local vivia, sobretudo, nos vales férteis e as suas principais actividades eram a agricultura, a criação de gado e o cultivo de árvores de fruto e vegetais. Os camponeses da Ásia Central dominavam desde há muito eficientes técnicas de irrigação, que utilizaram para alargar as suas terras cultiváveis. Também tinham construído ricas cidades, onde as artes e os ofícios já eram tradicionais, tais como Samarcanda e Merv. Os canteiros e arquitectos desta região eram famosos pela sua perícia.
Quando a Ásia Central foi ameaçada pela invasão dos Tártaros Mongóis, os seus povos já viviam numa sociedade com padrões feudais bem estabelecidos. Os chefes locais eram praticamente independentes e não havia um poder central forte na região. Isto fez com que fosse muito mais fácil para Gengis Khan conquistar estas terras.
A hoste de Gengis Khan atravessou toda a área até ao Estado de Khorezm, conquistando cidades e aldeias, pilhando, massacrando a população local e levando homens e mulheres para o cativeiro como escravos. Os povos da Ásia Central ofereceram uma corajosa resistência aos invasores. Havia fortes guarnições em todas as cidades e em Samarcanda havia mesmo vinte elefantes de guerra. No entanto, os portões desta cidade, como os de muitas outras, foram abertos a Gengis Khan por traidores. Em Samarcanda, Gengis Khan fez cerca de 30000 artesãos prisioneiros e distribuiu-os pelos seus sequazes como escravos. Usou uma táctica semelhante noutras cidades. A rica cidade de Merv e muitas outras foram tomadas e destruídas.
A falta de unidade entre os nobres locais facilitou consideravelmente a conquista mongol, porque enfraqueceu a resistência aos invasores.
Depois de anexar a Ásia Central no início do século XIII, Gengis Khan levou o seu exército para a Geórgia. Os povos da Transcaucásia lutaram durante muito tempo pela sua liberdade, mas, por fim, também a sua resistência foi vencida. A Mongólia subjugou os povos da Arménia e da Geórgia, cuja cultura era mais avançada que a dos seus conquistadores. Os Mongóis capturaram e reduziram à escravidão artesãos e os aprendizes especializados Geórgios e Arménios. A escravidão mongólica infligiu um duro golpe na cultura dos povos da Transcaucásia. Muitas cidades foram destruídas e Georgianos e Arménios foram obrigados a pagar um pesado tributo aos seus novos senhores.
Os Mongóis, além de exigirem um décimo da propriedade de cada homem, também recebiam um imposto adicional de cada herdade: cerca de 1001 de cereais, cerca de 251 de vinho, cerca de 5 kg de arroz, uma porção de lenha, uma moeda de prata e uma ferradura. Os que não podiam pagar eram condenados à escravatura.
Uma vez estabelecido o seu domínio na Transcaucásia, os khans mongóis confiaram a cobrança dos impostos aos príncipes locais que tinham de levar o tributo aos seus superiores mongóis. O domínio mongol na Transcaucásia duraria quase duzentos anos, até ao fim do século XIV.
A conquista da Ásia Central e da Transcaucásia pelo exército mongol levou-o ao território do Estado Rus. As forças de Gengis Khan atravessaram as montanhas do Cáucaso e dirigiram-se às estepes do Sul da Rússia. Aqui encontraram os nómadas polovtsi que pediram ajuda aos príncipes russos. «Hoje massacram-nos a nós e amanhã será a vossa vez se não vierem em nosso auxílio», foram as palavras dos seus enviados. Os príncipes decidiram unir as suas forças contra Gengis Khan e partiram para travarem com ele uma batalha em território polovtsi.
A batalha deu-se em Maio de 1223 nas margens do Kalka, um pequeno rio que vai desaguar no mar de Azov, não longe do estuário do Don. As forças russas foram derrotadas. Os khans mongóis cobriram os corpos dos feridos e dos prisioneiros com tábuas, sentaram-se sobre eles e deram uma grande festa para celebrar a sua vitória. Esta foi a primeira vez que os Mongóis (ou Tártaros como lhes chamavam os Russos) apareceram na Rússia. Desta vez não continuaram para consolidar a sua vitória, retiraram-se para a Ásia e nada mais se soube deles durante doze anos.
Quando Gengis Khan morreu, sucedeu-lhe o seu filho Ogdai que enviou o seu sobrinho Khan Batu (que morreu em 1255) a conquistar a Europa. A ameaça de destruição e escravatura pairou sobre toda a Europa.
Nessa altura não existia um Estado russo unido. A maior parte dos principados russos eram pequenos e mais fracos do que o principado de Vladimir ou Novgorod. A desintegração feudal do Estado Rus minou as possibilidades de uma resistência efectiva aos inimigos do exterior. O Estado Rus foi presa fácil para este horrível inimigo porque estava desunido e faltava coesão aos seus exércitos.
Em 1236, a horda de Batu atravessou as estepes junto do Cáspio, invadiu o reino dos Búlgaros do Volga e conquistou a capital, Bulgar. Daí avançaram sobre o Estado Rus. No Inverno do ano seguinte (1237), Batu atravessou o Volga com um enorme exército e marchou sobre o principado de Ryazan. Depois de uma dura luta, Ryazan rendeu-se e foi completamente queimada. Um destino semelhante coube a outros principados que preferiram «esperar até ver» a juntarem-se aos seus vizinhos para enfrentar o inimigo comum. Assim, Vladimir e outras cidades caíram nas mãos do inimigo.
Moscovo também foi queimada pelas hordas mongóis. O príncipe Yuri Vsevolodovich (1187- 1238) saiu a enfrentar o inimigo com todos os seus soldados e uma multidão de camponeses nas margens do rio Sit, mas era demasiado tarde. Os Russos perderam também esta batalha e o seu príncipe foi morto em combate.
Pouco a pouco, Batu tornou-se senhor de todo o vale do Dniepre. Em 1240, as suas hordas marcharam sobre Kiev e puseram cerco à cidade. Batu ficou tão impressionado com a beleza desta cidade, com o perfil dos seus belos edifícios e as cúpulas douradas das suas igrejas brilhando ao sol, que decidiu tomá-la sem a destruir e propôs aos homens de Kiev que se rendessem sem luta. Eles recusaram, preferindo lutar até à morte, e durante o cerco que se seguiu quase toda a cidade foi queimada e destruída.
A um desastre ia seguir-se outro. Enquanto Batu marchava sobre os dispersos principados russos pelo Leste, outro poderoso inimigo apareceu pelo Noroeste e marchou sobre Novgorod. Os cavaleiros alemães começaram a avançar em direcção à Rússia, ansiosos por capturar novas terras e camponeses para as cultivarem. Reduziram os povos bálticos à escravatura e apoderaram-se das suas terras. Na Livónia, no estuário do Dvina, construíram a fortaleza de Riga, que se tornaria o principal ponto de apoio dos cruéis opressores, a Ordem dos Irmãos dos Espatários.
Outra união de cavaleiros, a Ordem dos Cavaleiros Teutónicos, começou a ameaçar os Lituanos pelo Oeste. Em breve os Cavaleiros Teutónicos se juntaram aos Espatários e em conjunto atacaram Pskov e Novgorod.
Perante este estado de coisas, fracções agressivas de entre os nobres proprietários de terras da Suécia foram também incitados a pôr-se em acção. Regozijaram-se quando souberam da invasão mongólica pensando que, agora que o Estado Rus estava a ser atacado pelo Leste pelos Tártaros, podiam entrar pelo Norte e conquistar mais terras enquanto o país se encontrava em posição vulnerável.
Em 1240, o chefe sueco Jarl Birger aportou nas margens do Neva com as suas tropas. O exército russo reuniu-se na Praça de Santa Sofia em Novgorod e aos soldados do príncipe juntou-se uma parte da guarda da cidade. O príncipe Alexandre Yaroslavich (1220-1263) chefiou o exército de Novgorod contra as forças de Birger. Os dois exércitos encontraram-se no Neva: Os Russos apanharam os suecos de surpresa e seguiu-se um massacre total. Durante a batalha, o príncipe Alexandre encontrou-se, frente a frente, com Birger e «marcou-lhe a cara com a sua lança aguçada». O jovem guerreiro Savva chegou à tenda de tecto dourado de Birger e quebrou a sua lança: a tenda caiu perante os exércitos aliados e os russos regozijaram-se. A feroz batalha do rio Neva acabou com uma vitória russa, em honra da qual o príncipe Alexandre passou a ser chamado Alexandre Nevsky.
Entretanto, os cavaleiros alemães não estavam de braços cruzados. Marcharam sobre Rus com um enorme exército. Em Abril de 1242 deu-se a famosa batalha sobre o gelo do lago Chudskoye, que na história ficaria a ser chamada o «massacre sobre o gelo». Os Alemães desdobraram as suas forças formando em cunha para penetrar a linha de ataque russa e cortar o seu exército em dois. À frente do exército alemão avançava a cavalaria com pesadas armaduras; atrás dela vinha a infantaria com lanças e espadas, flanqueada por soldados a cavalo.
Alexandre Nevsky compreendeu o plano do inimigo e concentrou as suas forças principais não no centro, mas nos flancos. Atraiu o inimigo a atacar o seu exército no centro e depois cercou-o pelos flancos com as forças principais. Seguiu-se um massacre e o gelo em breve ficou vermelho de sangue. Os cavaleiros alemães foram derrotados e os poucos sobreviventes foram feitos prisioneiros.
Estas vitórias no tempo de Alexandre Nevsky foram de grande significado e deixaram intacto o Noroeste da Rússia, poupando-o à escravidão dos barões alemães e suecos.
Embora a Rússia tenha conseguido bater os seus inimigos no Noroeste, foi menos feliz contra a invasão mongólica de Batu. Grande parte do país iria sofrer sob o flagelo tártaro, e até Novgorod, embora os Tártaros não chegassem tão longe, era obrigada a pagar-lhes um tributo.
A Rússia estava agora sob o jugo dos khans tártaros, que ia durar mais de duzentos anos — de meados do século XIII ao final do século XV. O Estado fundado pelo Khan Batu foi chamado de Horda Dourada. Batu estabeleceu a sua capital na cidade de Sarai no Volga (não longe da actual Astrakan). Mais tarde, a capital foi mudada para as zonas superiores do Volga (para um sítio não muito distante da actual Volgogrado). A nova capital foi chamada Novy (Nova) Sarai. O Estado da Horda Dourada incorporou parte da Ásia Central e o Casaquistão, o vale do Volga, a Crimeia, o vale do Dniepre e todo o Nordeste da Rússia.
Os conquistadores tártaros exigiram um tributo exorbitante ao povo russo, um décimo de todos os seus bens. E, além disso, exigiram também um tributo em forma de cereais, gado e dinheiro. Tudo isto era cobrado pelos baskaks ou cobradores do khan. Aqueles que não podiam pagar ou que se recusavam a pagar, eram feitos escravos.
«Aquele que não tem dinheiro, perderá o seu filho,
Aquele que não tem filhos, perderá a sua mulher,
Aquele que não tem mulher, perderá a cabeça»,
cantavam os russos numa canção acerca dos seus senhores estrangeiros.
À mínima resistência às suas ordens, os Tártaros respondiam com saques e massacres. O jugo tártaro significava cruéis sofrimentos e derramamento de sangue.
Os príncipes russos perderam a independência e foram submetidos ao khan tártaro. Eram obrigados a ir a cavalo à capital da Horda Dourada para prestar homenagem ao khan e a levarem-lhe presentes dispendiosos, para receberem dele uma patente ou jarlyk que confirmava as suas funções. O próprio khan nomeava o grande príncipe. A Rússia, que fora independente, era agora um domínio da Horda Dourada. O domínio tártaro impedia o desenvolvimento cultural social e político da Rússia, fazendo dela um país atrasado.
Os Mongóis empreenderam algumas expedições mais para Oeste, invadindo a Polónia, a Hungria e penetrando até à longínqua Veneza. Contudo, Rus, que gastou as energias e os recursos dos conquistadores, salvou a Europa Ocidental de um destino semelhante.
Inclusão | 08/06/2016 |