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As guerras com a Pérsia marcaram um ponto de viragem importante na história da Grécia clássica. Estas guerras resultaram do facto de a Pérsia, que, no tempo de Ciro tinha dominado as ricas cidades gregas da costa da Ásia Menor, pretender subjugar as cidades-estado do próprio continente.
Em 500 a.C., uma das maiores cidades gregas da Ásia Menor, Mileto, revoltou-se contra o domínio persa e foi logo seguida pelas restantes cidades gregas da Ásia Menor. Na sua busca de auxílio exterior para a luta contra o vasto império persa, as cidades revoltosas pediram auxílio às cidades do continente. Os únicos Estados gregos a responder a este apelo foram Atenas, que mandou vinte navios, e Erétria, uma pequena cidade da ilha Eubeia, que só pôde mandar cinco navios. Esta ajuda era muito reduzida e foi insuficiente, mas, depois de esmagar a revolta, o rei persa Dario usou-a como pretexto para declarar guerra às cidades-estado da Grécia.
Dario mandou embaixadores às cidades-estado gregas, os quais em nome do «Grande rei, rei dos reis» exigiam «terra e água», símbolos de submissão completa. A maioria das cidades-estado gregas, sentindo-se incapazes de resistir a um ataque persa, cedeu a esta exigência. Só dois deles deram aos embaixadores uma recepção diferente: em Atenas foram mortos; em Esparta lançaram-nos num poço fundo, onde lhes disseram que encontrariam lá terra e água suficientes.
Em 492, os Persas empreenderam a sua primeira expedição contra a Grécia, e não tiveram êxito. A esquadra persa foi apanhada por uma violenta tempestade ao largo do cabo de Athos, na península Calcídica, e as suas tropas foram obrigadas a regressar. Em 490, uma segunda força expedicionária atravessou o Egeu para as costas da Ática. As tropas desembarcaram na ilha Eubeia, onde tomaram de ataque a cidade de Erétria e devastaram, levando os habitantes como escravos.
Mas a batalha decisiva entre Gregos e Persas teve lugar na costa oriental da Ática, perto da cidade de Maratona. Os Atenienses dispunham apenas de dez mil soldados e mais mil que foram enviados em sua ajuda pela cidade de Plateias. O exército persa, algumas vezes mais numeroso do que o dos Gregos, sofreu apesar disso uma esmagadora derrota. As tropas gregas, sob o comando do velho e experimentado militar Milcíades, que conhecia a táctica dos Persas, lutaram com rara coragem e tenacidade, inspiradas pelos ideais do patriotismo e da liberdade e da dedicação às suas famílias: para cada um deles era evidente que a derrota significava a escravatura.
Mandaram então um mensageiro a Atenas com a alegre notícia. Este, com a respiração quase cortada, correu à praça onde os velhos, as mulheres e as crianças se tinham reunido impacientes por saberem notícias do resultado da batalha; reunindo as suas últimas forças, gritou a palavra «vitória» e caiu. A corrida da Maratona, nos actuais Jogos Olímpicos, é assim chamada em memória desta proeza, e a distância percorrida é mais ou menos igual à distância entre Maratona e Atenas.
Depois da batalha de Maratona, houve um espaço de dez anos antes de recomeçarem as hostilidades entre os Persas e os Gregos, embora os povos de ambos os países tivessem consciência de que era inevitável outra guerra. À morte de Dario seguiu-se a habitual agitação que havia na corte persa nessas ocasiões. Finalmente, o seu filho Xerxes sucedeu-lhe no trono. Xerxes iniciou desde logo preparativos para uma nova expedição contra a Grécia, que duraram quatro anos e incluíram a construção duma ponte sobre o Helesponto (agora conhecido por Dardanelos) e a construção dum canal que cortava uma estreita faixa da península Calcídica, perto do traiçoeiro cabo de Athos.
Os Gregos também se prepararam. Foi concluída uma aliança defensiva entre algumas cidades-estado gregas, chefiada por Esparta. Como Esparta era de difícil acesso por mar e tinha fama de ser o estado que tinha os melhores exércitos de toda a Grécia, preferia que a batalha se travasse em terra firme do que travá-la no mar.
A situação em Atenas nesta altura era mais complicada. Os ricos proprietários, que receavam, acima de tudo, que as suas terras fossem devastadas, apoiaram o plano de defesa de Esparta. Os seus interesses foram representados pelo famoso homem de Estado, Aristides.
A ele se opunha Temístocles que conseguiu alcançar uma posição dominante em Atenas devido apenas à sua energia, ambição e notável talento. Quando tinha pouco mais de trinta anos, foi eleito arconte e três anos mais tarde distinguiu-se na batalha de Maratona. Mas não estava contente com isto, pois aspirava ainda a uma fama maior. Confessou aos seus amigos que «os louros de Milcíades não lhe davam sossego».
Temístocles considerava que os Gregos não tinham possibilidades de vencer os Persas em terra. Insistiu em que o futuro de Atenas estava em tornar-se uma potência marítima e fez o que pôde para construir uma poderosa esquadra. Conseguiu arrecadar o rendimento das minas de prata de Laurion, que eram consideradas propriedade do Estado, para a construção de navios de guerra. O plano para uma guerra marítima com a Pérsia coincidiu com os interesses dos comerciantes e manufactureiros atenienses que não tinham terras.
A terceira expedição contra a Grécia começou no ano 480 a.C. Foi chefiada por Xerxes, que utilizando os povos submetidos pela Pérsia conseguiu reunir forças muito numerosas. Os escritores dos tempos clássicos registaram que estas forças totalizavam quase cinco milhões de homens. Mesmo que este número seja um considerável exagero, é certo que a força persa era muitas vezes maior do que o exército grego.
Uma parte do exército persa avançou por terra ao longo da costa da Trácia, enquanto a outra foi transportada em navios. A primeira batalha naval deu-se ao largo do promontório Artemisum na costa norte da ilha Eubeia e a primeira batalha terrestre nas Termópilas, um estreito desfiladeiro que ligava a Tessália à Grécia Central, tão estreito que só lá podia passar um veículo de cada vez. Do lado do Oeste pendiam sobre ele rochedos escarpados e intransponíveis, do Oriente estendiam-se até ao mar pântanos inacessíveis.
Foi neste local que uma força de gregos tomou posição sob o comando do rei Leónidas, de Esparta.
Um enorme exército persa aproximou-se das Termópilas, e Xerxes pensava que não encontraria séria resistência neste ponto. Mandou uma mensagem a Leónidas exigindo-lhe que depusesse as armas, mas Leónidas respondeu, em estilo verdadeiramente lacónico: «Vem buscá-las». Os primeiros ataques persas não tiveram êxito. Utilizando habilmente as suas posições, os destacamentos gregos defenderam heroicamente o desfiladeiro e aguentaram durante dias o ataque furioso das hordas inimigas. Contudo, um traidor grego conduziu um grande destacamento de persas por caminhos montanhosos até à retaguarda do exército grego. Quando Leónidas viu que estavam a ser cercados, mandou grande parte das suas forças para fora do campo, ficando sozinho com os seus companheiros espartanos para enfrentar o inimigo. Caíram até ao último homem nesta luta desigual. Mais tarde foi erigida à entrada do desfiladeiro das Termópilas uma estátua de mármore que representava um leão, em honra de Leónidas.
Enquanto se dava a batalha das Termópilas travava-se também uma batalha naval ao largo do promontório Artemisum. Os Gregos saíram vitoriosos mas, depois de o exército persa ter conseguido cortar o desfiladeiro das Termópilas, a esquadra foi obrigada a retirar para a costa da Ática.
Os comandantes espartanos eram de opinião que a esquadra devia retirar-se para mais longe ainda, para o istmo de Corinto, onde queriam estabelecer — tanto no mar como em terra — a última linha de defesa. Os Atenienses, que tinham sido forçados a abandonar a sua cidade que ia ser saqueada e destruída pelo inimigo, exigiram que a batalha com a esquadra persa se travasse nos estreitos entre as costas da Ática e a ilha de Salamina. Este plano de acção foi defendido com especial veemência por Temístocles, a quem os acontecimentos subsequentes deram razão.
Ao raiar do dia, Xerxes deu ordem para que o seu trono de ouro fosse colocado numa das colinas de onde se avistava a costa da Ática para ter uma boa perspectiva da batalha. Mas o resultado da batalha de Salamina foi muito diferente do que ele esperava. Os pesados navios persas tinham muita dificuldade em manobrar nos estreitos, enquanto os navios gregos, mais pequenos e mais leves, os abalroavam facilmente. Os navios persas eram terrivelmente sacudidos e muitos dos homens de Xerxes afogaram-se. Foi um instante enquanto se espalhou o pânico entre as tropas persas e os navios que ainda podiam aguentar-se no mar recuaram precipitadamente. A esquadra grega alcançou uma vitória decisiva. Como os acontecimentos posteriores demonstraram, a batalha de Salamina foi um ponto de viragem no decurso da guerra.
Depois da batalha de Salamina, Xerxes foi obrigado a deixar a Grécia, retirando uma grande parte das suas tropas. Contudo, deixou atrás de si 60 ou 70 mil soldados sob o comando do experimentado general Mardónio, e no ano seguinte (478 a.C.) travaram-se mais duas batalhas importantes. Segundo a lenda, ocorreram no mesmo dia, uma, em terra, perto da cidade de Plateias, onde foi infligida às tropas de Mardónio uma esmagadora derrota e o exército persa foi finalmente expulso da Grécia; a outra, no mar, ao largo da costa da Ásia Menor perto do cabo Micala. Pouco depois desta vitória as cidades gregas da Ásia Menor foram libertadas do jugo persa.
Todavia, as guerras pérsicas haviam de durar ainda alguns anos. A partir de agora, a maior parte das batalhas travava-se no mar. A seguir aos ataques gregos, os Persas retiraram-se gradualmente das ilhas do Egeu e da costa dá Ásia Menor.
Assim, lutando desesperadamente para defender a sua liberdade e a sua pátria, um povo pequeno e corajoso alcançou uma brilhante vitória sobre o poderoso e anteriormente invencível império persa.
A vitória na guerra contra a Pérsia foi de enorme importância para toda a Grécia. Mas como nos últimos anos de luta as batalhas mais decisivas se tinham travado no mar, era natural que Atenas, a cidade com a maior esquadra, ascendesse a uma posição predominante entre os estados gregos.
No decurso das hostilidades tinha-se estabelecido uma aliança naval ateniense, em que entraram as cidades-estado gregas das ilhas do mar Egeu e da costa da Ásia Menor à medida que foram sendo libertadas do domínio persa. A aliança estendeu-se a outros Estados e chegou a contar duzentos nomos.
De início, todos os membros da aliança gozavam de direitos absolutamente iguais. Cada nomo ou cidade tinha um voto no Conselho Geral que reunia na ilha de Delos, onde se guardava o tesouro comum. O rendimento provinha de contribuições dos membros da Liga, que eram proporcionais à extensão de cada um. Como o comando militar estava nas mãos dos atenienses, o voto político decisivo nas questões da Liga também estava destinado a pertencer-lhe, mais tarde ou mais cedo. A aliança naval foi pouco a pouco substituída pelo império marítimo ateniense, e os estados associados tornaram-se súbditos, quando lhes foi exigido um tributo. O tesouro foi então transferido para Atenas, foram enviados representantes atenienses para todas as cidades-membros e para todos os nomos, e as coisas foram tão longe que quaisquer tentativas para as outras cidades se retirarem da Liga eram consideradas revoltas e cruelmente esmagadas pelas forças militares atenienses.
O estabelecimento da Liga de Delos e a vitória sobre os persas fez aumentar a expansão da escravatura e do comércio em Atenas. O número total de escravos tornou-se muitas vezes maior do que no período que precedeu as guerras pérsicas. E não há nada de surpreendente nisso, porque a maior parte dos prisioneiros de guerra tinham sido feitos escravos, cujo comércio se desenvolveu rapidamente. Por outro lado, os piratas capturavam muitas pessoas que vendiam nos mercados de escravos que existiam em quase todas as cidades um pouco maiores no estado ateniense. Por vezes, os escravos eram vendidos em leilão. Eram tratados como animais domésticos e tinham que se despir, mostrar os dentes e correr quando eram inspeccionados por prováveis compradores. O preço dos escravos variava muito: os que não sabiam fazer nada eram vendidos a baixo preço, enquanto os artífices hábeis (como por exemplo os armeiros) e os escravos instruídos (tais como «pedagogos» e os médicos) atingiam preços muito altos.
O trabalho-escravo era utilizado sobretudo nas oficinas. Estas eram em geral bastante pequenas, tendo cada uma dez ou doze escravos. Grande número de escravos era também utilizado no trabalho mais duro — nas minas de ouro de Laurion.
A vida dos escravos em Atenas, tal como em todas as outras sociedades que praticavam a escravatura, era extremamente penosa. Os escravos estavam privados de todos os direitos e eram tratados como bens móveis que podiam ser comprados ou vendidos e que os proprietários podiam tratar como quisessem impunemente. Daí que todos os atenienses livres, mesmo o mais pobre dos camponeses, olhasse os escravos com desprezo.
Com a formação da Liga de Delos e a vitória sobre os Persas, os navios mercantes atenienses podiam agora navegar com segurança não só para qualquer parte do mar Egeu e da costa da Ásia Menor mas também através do Helesponto para os países em volta do mar Negro. As relações comerciais de Atenas começaram a expandir-se cada vez mais e um dos homens de Estado ateniense do tempo pôde escrever:
«Todos os produtos do mundo chegam (a Atenas — Nota do Tradutor) e desfrutamos das coisas boas das outras terras tão facilmente como das nossas.»
Da Trácia e do mar Negro vinham cereais, que nunca se produziam em quantidades suficientes no pouco fértil solo da Ática. Importados, ainda, eram a madeira, a resina, o mel, o couro e o peixe salgado, da costa do mar Negro; o marfim da África, especiarias do Oriente, o ferro e o cobre da Itália. Finalmente, havia os carregamentos de escravos importados de muitas terras. As principais exportações de Atenas eram o azeite de oliveira, o vinho, artigos de metal e cerâmica.
O porto ateniense do Pireu, situado a poucos quilómetros de Atenas, tornou-se uma importante cidade independente com ruas apinhadas de gente que falava muitas línguas, com os cais sempre cheios de navios de terras distantes. A actividade anual do porto movimentava milhões de pessoas e fechavam-se lá grandes negócios. Apareceram uma grande variedade de guildas e uniões de comerciantes. E como circulavam no Pireu moedas de muitos países diferentes, havia pessoas que se dedicavam ao câmbio de dinheiro. Pouco a pouco, estas transacções simples foram substituídas por operações financeiras mais complexas. Aos comerciantes individuais ou em grupos eram emprestadas largas somas de dinheiro a juros fixos, ou então as pessoas que trocavam dinheiro guardavam-no durante um certo período e, entretanto, faziam negócios com ele. Algumas das pessoas que se dedicavam a este género de transacções, conseguiam fazer grandes fortunas. Assim se deu, resumidamente, o desenvolvimento do comércio externo ateniense e das transacções financeiras e de crédito a ele ligadas.
O desenvolvimento da esquadra ateniense durante as guerras pérsicas estava intimamente ligado ao desenvolvimento da democracia. Em Atenas, todos os cidadãos alistados nas fileiras da infantaria pesada (que era a parte forte do exército) eram obrigados a pagar a sua própria armadura. Como a armadura era muito cara, só os que tinham um rendimento razoável a podiam adquirir. Na armada, por outro lado, os marinheiros e homens do leme não precisavam da armadura e eram, portanto, recrutados entre os pobres, a «multidão flutuante» como lhes chamavam com desprezo os atenienses nobres e ricos. À medida que a frota cresceu e assumiu uma função cada vez mais importante na guerra, a influência do «demos» fez-se sentir na vida política da república. Daí que as reformas democráticas anteriormente feitas por Sólon e Clístenes se tornassem obsoletas.
A figura política mais notável deste período foi Péricles, descendente de uma antiga família nobre, cujo pai, Xantipo, tinha adquirido fama como homem de acção contra os Persas na famosa batalha de cabo Micala. Péricles chefiou a democracia ateniense e durante quinze anos foi universalmente reconhecido como líder de todo o Estado. Era um político hábil e um orador brilhante. O povo chamava-lhe «o Olímpico», pois o trovejar e o relampejar da sua oratória punham-no a par de Zeus. Contudo, só em raras ocasiões se dirigia ao povo, considerando que cada discurso devia ser um acontecimento que deixasse uma impressão duradoura nos espíritos de quem o ouvisse.
No tempo de Péricles, o Estado ateniense alcançou o zénite do seu poderio e prosperidade. A cidade foi ornamentada com magníficas obras de arquitectura, escultura e pintura. Na Acrópole de Atenas construíram-se edifícios que, mesmo arruinados, ainda hoje encantam» o visitante com a sua extraordinária perfeição formal: o famoso Parténon (o templo de Atena Parthenos), o Propileu (a monumental entrada para a Acrópole) e o Erecteu (templo construído em honra do lendário rei ateniense Erechtheus).
Estudiosos e filósofos célebres abriram escolas em Atenas e o teatro ateniense foi considerado o melhor de toda a Grécia. Péricles rodeou-se das figuras mais notáveis do mundo da ciência e da arte, incluindo o filósofo Anaxágoras, o escultor Fídias e o dramaturgo Eurípides. Sonhava fazer de Atenas a «escola da Hélade».
Péricles iniciava, entretanto, uma série de importantes reformas democráticas. O direito de eleger foi alargado e foi instituída a eleição por sorteio. As funções públicas passaram a ser pagas, o que permitiu que os pobres as desempenhassem também. Mais tarde também passaria a ser remunerada a participação nas sessões da Assembleia Popular. Foi estabelecido um «fundo do teatro», que tornou os bilhetes acessíveis aos sectores mais pobres da população. Em Atenas, o teatro representava não só um espectáculo ou entretenimento mas também um meio de educação política.
Este período conheceu a democracia ateniense no seu apogeu. Toda a vida do Estado era administrada pela Assembleia Popular, que, com o órgão supremo, decidia as questões mais importantes da política interna como da política externa. A Assembleia era convocada de dez em dez dias. Todo o cidadão ateniense tinha direito a falar e podia fazer quaisquer propostas que julgasse adequadas, mesmo novas leis. A reforma de Péricles instituiu plenos direitos de cidadania e participação geral directa nos assuntos do Estado. Todo o cidadão tinha o direito não só de votar na eleição de novos funcionários públicos mas ele próprio podia propor-se para qualquer lugar.
Além da Assembleia Popular existiam outras instituições democráticas na república ateniense, tais como a Heliaea ou tribunal de dieastas, composto de seis mil membros. A Heliaea não era só um órgão de justiça, tinha também funções legislativas. Havia ainda o Conselho dos Quinhentos, cujo dever era garantir o cumprimento das leis promulgadas e inspeccionar a actividade dos funcionários públicos. Para evitar o suborno e a corrupção, as eleições para a Heliaea c para o Conselho dos Quinhentos implicavam escolhas à sorte: primeiro escolhiam-se mais candidatos do que o número preciso e depois tirava-se à sorte quem ficava. Finalmente, havia o Conselho de estrategas ou generais (dez ao todo) que foi de particular importância no tempo de Péricles, visto que ele próprio foi eleito estratega durante dez anos. As eleições para este cargo não implicavam escolha à sorte, eram feitas por proposta de candidatos individuais.
Era, assim, a estrutura republicana de Atenas no tempo de Péricles. À primeira vista parece um modelo ideal, não só para o período clássico mas também para épocas posteriores. O papel predominante da Assembleia Popular, a franquia universal, as eleições à sorte entre candidatos seleccionados, o salário dos lugares públicos — que poderia ser mais democrático e justo? Contudo, se observarmos melhor a estrutura estadual ateniense, surge logo um problema essencial. Quem, na verdade, gozava destes benefícios e privilégios? Era toda a população ou só uma parte dela, e se era só uma parte, qual parte?
Os escravos eram privados de todos os direitos políticos e civis. Assim, este sector da população — um sector numericamente muito significativo — foi completamente impedido de gozar dos benefícios da democracia. O mesmo acontecia com os metecos.
Assim, fica apenas a população livre, que, é claro, era numericamente muito inferior aos metecos e escravos juntos. Além disso, nem mesmo ela participava na totalidade na vida política, porque as mulheres eram excluídas.
É, portanto, claro que a democracia ateniense era de um tipo bastante restrito e limitado; era a democracia de uma minoria privilegiada. A democracia ateniense era típica das democracias que existem nas sociedades que praticam a escravatura, em que os direitos e privilégios só são dados a um sector da população livre.
A guerra do Peloponeso foi a maior guerra da história da Grécia clássica. Durou vinte e sete anos (com pequenos intervalos) e levou a sociedade grega a uma grande crise.
A principal causa da guerra foi a rivalidade entre os dois principais grupos de cidades-estado gregas, o império ateniense e a Liga do Peloponeso. As tentativas de Atenas de alargar a sua influência a certas cidades da Liga, levou a uma amarga resistência de Esparta. As cidades de Corinto e Mégara da Liga do Peloponeso eram centros comerciais importantes e frequentemente competiam com êxito com Atenas. As contradições políticas contribuíram para a rivalidade, porque Atenas defendia os sectores democráticos da população de toda a Grécia, incluindo os das cidades da Liga do Peloponeso, enquanto Esparta apoiava os interesses dos aristocratas em todas as cidades atenienses. Nestas circunstâncias não foi difícil encontrar um pretexto para começar uma guerra.
A guerra começou em 431 a.C. quando os espartanos invadiram a Ática. Péricles, que comandava o exército ateniense, decidiu que os Atenienses lutassem em terra à defesa. Enquanto as tropas espartanas devastavam os campos da Ática, o povo fugiu do campo e procurou refúgio atrás das muralhas fortificadas de Atenas. Péricles não prestara atenção ao facto de que um tal afluxo de povo à cidade podia levar à escassez de alimentos e favorecer o contágio de várias doenças e epidemias. O povo protestou quando estas desgraças lhe aconteceram e pela primeira vez, em quinze anos, Péricles não foi eleito estratega. No ano seguinte morreu de uma doença epidémica, talvez de peste.
As rédeas do governo passaram então para as mãos dos representantes da democracia ateniense que pensavam que se devia conduzir a guerra com mais energia. Entre estes sobressaiu Cléon, curtidor de profissão, um dos chamados chefes do demos. Era um hábil orador, um político ousado, e queria levar a guerra a um fim vitorioso. Por sua indicação, a esquadra ateniense foi enviada para atacar a costa do Peloponeso. Em 425 a.C., os Atenienses tomaram Pilos, ganhando assim uma importante posição na Messénia, e depois a ilha que ficava defronte, a ilha Esfactéria, aprisionando um destacamento de tropas de ataque espartanas que mais tarde foram utilizadas como reféns.
A situação era extremamente grave para os Espartanos, que decidiram transferir o principal campo de acção para o Norte, para a Trácia, onde algumas cidades-estado esperavam uma oportunidade deste género para se libertarem do controlo de Atenas. Os espartanos mandaram grande parte das suas forças para a Trácia sob o comando do hábil Brásidas. Algumas cidades atenienses caíram e em 422 travou-se uma grande batalha perto da cidade de Anfípolis, em que caíram os dois comandantes, Brásidas e Cléon. Pouco depois, foi concluída a paz de Nícias entre Atenas e Esparta (que iria durar cinquenta anos), que assim foi chamada por causa de Nícias, representante de Atenas.
No entanto, esta paz não seria mais do que um período de calma temporária. Em Atenas apareceram mais uma vez agrupamentos militares: desta vez o principal defensor do recomeço das hostilidades foi Alcibíades. Este homem insinuante era sobrinho de Péricles, e fora conhecido desde a juventude pela sua beleza física, pela sua instrução e dotes de orador. Ao mesmo tempo, era considerado, não sem razão, um aventureiro político sem escrúpulos.
Alcibíades propôs que se invadisse a Sicília e sonhava ainda conquistar o Sul da Itália e até Cartago. Estes planos foram bem recebidos por vastos sectores da populaça de Atenas. Em 415 iniciaram-se os preparativos para a expedição à Sicília: preparou-se uma armada composta de 260 navios e um exército de 40 000 soldados.
Contudo, na véspera da partida da esquadra de Atenas deu-se um estranho e inesperado acontecimento. Os rostos dos hermes (pilares quadrangulares encimados por bustos de Hermes, o deus dos viajantes), que se erguiam nas encruzilhadas da cidade, apareceram mutilados. Este facto foi interpretado como um mau presságio, especialmente porque se murmurava que o nome de Alcibíades estava ligado a este acto sacrílego. Apesar disso, a expedição levantou ferro, e as forças atenienses tomaram a cidade siciliana de Catana e foram cercar Siracusa. Inicialmente, o cerco teve êxito, mas nesta altura chegou um navio enviado pelo governo de Atenas, exigindo o regresso de Alcibíades para ser imediatamente julgado, acusado de profanação dos mistérios. Alcibíades obedeceu, mas no caminho para Atenas conseguiu fugir e passou-se para o lado dos espartanos.
Depois da partida de Alcibíades, a situação na Sicília agravou-se. O cerco de Siracusa arrastou-se e, entretanto, chegou um destacamento de reforços espartanos em auxílio dos sitiados. Depois de eles próprios receberem reforços, os atenienses decidiram arriscar uma batalha naval. O combate acabou numa derrota, e as forças atenienses sob o comando de Nícias e Demóstenes começaram a retirar para terra. Esta retirada acabou num desastre completo: os generais foram aprisionados e executados e sete mil atenienses foram feitos escravos e mandados trabalhar para as pedreiras.
Em consequência do desastre da Sicília, o império marítimo ateniense entrou em declínio e algumas grandes cidades e ilhas aproveitaram para se desembaraçarem de Atenas.
Paralelamente ao desastroso resultado da expedição à Sicília, Atenas sofreu uma série de reveses na própria Ática. Em 413 a.C., Esparta violou o tratado de paz e a conselho de Alcibíades utilizou um destacamento fortemente armado para ocupar a cidade de Dekeleia, boa posição estratégica a cerca de quinze milhas de Atenas. Em vez dos anteriores ataques episódicos, os Espartanos começaram a organizar as suas forças no território da Ática. Golpe final nesta cadeia de desastres, foi a passagem de vinte mil escravos atenienses para o lado de Esparta.
Esta sucessão de reveses dos atenienses foi encarada por muitos como resultado da forma democrática de governo. Em 411 a.C., os inimigos da democracia aproveitaram-se da situação delicada para fazer uma revolução. O poder foi tomado pelo Conselho dos Quatrocentos e a constituição democrática foi abolida. Quando a notícia desta revolução chegou à esquadra ateniense, que estava na altura ancorada na costa da Ásia Menor, os marinheiros amotinaram-se e aclamaram Alcibíades como seu comandante, numa altura em que este já se tinha desavindo com Esparta. A oligarquia foi derrubada e Alcibíades obteve várias vitórias sobre a frota do Peloponeso, voltando a Atenas em triunfo. Pouco depois, foi eleito estratega pela Assembleia Popular e foram-lhe atribuídos poderes ilimitados. Contudo, fracassos e derrotas subsequentes da frota ateniense obrigaram Alcibíades a deixar Atenas de novo, desta vez para sempre.
Um factor decisivo durante a fase seguinte desta longa guerra foi a participação da Pérsia, que deu um forte apoio a Esparta. O poder ateniense estava a declinar, sobretudo depois da esmagadora derrota naval no Helesponto na batalha de Egospotamos (rio da Cabra) no ano de 405 a.C. Depois de derrotar a armada ateniense, Lisandro pôs cerco à própria cidade de Atenas, que foi obrigada a render-se-lhe na Primavera de 404. As condições eram que toda a esquadra ateniense fosse entregue a Esparta, as famosas Grandes Muralhas, que iam de Atenas ao Pireu, fossem demolidas e Esparta reconhecida como potência principal da Hélade.
Apoiado pelas tropas espartanas, e particularmente por Lisandro, um governo antipopular pôde finalmente estabelecer-se em Atenas. Porém, a tirânica oligarquia dos Trinta duraria pouco e em 403 foi restaurada a constituição democrática.
De todos os Estados que tomaram parte nesta guerra foi sem dúvida Atenas quem mais perdeu. Os camponeses empobreceram, o comércio foi aniquilado e no fim da guerra o tesouro já estava esgotado. Atenas já não era senhora dos mares.
Mas também Esparta se encontrava em graves dificuldades depois da guerra. Oficialmente, tinha-se tornado a principal potência do mundo grego, mas mostrou logo que este papel estava além das suas capacidades. Como compensação pela ajuda que tinham dado a Esparta, os persas exigiram a entrega de todas as cidades gregas da Ásia Menor. Esparta naturalmente recusou-se a isso, e as relações entre as duas potências deterioraram-se até que a guerra estalou entre elas na Ásia Menor. Depois de vários êxitos dos espartanos, a Pérsia formou uma coligação anti-espartana entre vários estados gregos incluindo Tebas, Argos, Corinto e Atenas e começou a chamada Guerra de Corinto. Esta guerra acabou com uma paz que, ao mesmo tempo que reconhecia a supremacia de Esparta, estabelecia que o rei persa seria árbitro dos Gregos.
Pouco depois, Esparta começou a interferir nos assuntos internos de Tebas, apoiando como sempre a aristocracia local. Apesar disso, estalou uma revolução democrática na cidade, a guarnição espartana foi expulsa e o governo tebano concluiu uma aliança com Atenas. Este facto deu mais uma vez força ao poder de Atenas e levou mesmo à formação de uma segunda aliança naval ateniense. No entanto, esta aliança era de proporções muito menores que a anterior, apenas abrangia Atenas e as ilhas do mar Egeu, e os Estados-membros tinham agora maior autonomia.
Estalou então a guerra entre Tebas e Esparta. O comandante tebano Epaminondas, o primeiro a empregar a táctica estratégica das «alas em declive» (colocar o flanco esquerdo mais à frente do que o corpo principal das tropas), obteve uma brilhante vitória em 371 em Leuctra, não longe de Tebas) sobre os Espartanos, que até aí não tinham sofrido qualquer derrota. Depois desta vitória, Epaminondas invadiu o Peloponeso mas não conseguiu tomar Esparta.
Assim, vemos que a guerra do Peloponeso deu origem a uma alteração no equilíbrio de forças. A história da Grécia na primeira metade do século IV a.C. está cheia de lutas que causaram destruições em ambos os campos e numerosas polis individuais lutaram por estabelecer a sua hegemonia, embora todas fossem incapazes de a defender ou de a conservar. Uma transformação tumultuosa afectou a sociedade grega, como se verificou pelo declínio económico e pelos intermináveis feudos ou por aquilo que alguém da época chamou bellum omnium contra omnes(3).
Nos séculos V e IV a.C., particularmente no tempo de Péricles, Atenas foi o principal foco da vida política e cultural da Grécia. Esta grande cidade, muito grande para aquela época — contava cerca de 200 mil habitantes — era um centro de fermentação intelectual. A qualquer hora do dia, as suas ruas estavam cheias de gente, porque a vida pública desenrolava-se inteiramente ao ar livre. As actividades públicas eram extremamente variadas: assembleias populares, cortejos e festivais, discussões políticas, filosóficas e legais e espectáculos de teatro, etc. Todo o cidadão ateniense participava nos debates da Assembleia Popular, ouvia as discussões legais e intelectuais, ia ao teatro, e por este processo tomava parte activa na vida política e cultural da sua cidade.
Uma das mais notáveis realizações dos antigos Gregos no campo da cultura e do pensamento foi a filosofia que legaram à posteridade, filosofia que contém os princípios de todas as concepções e sistemas filosóficos posteriores.
A primeira fase do desenvolvimento da primitiva filosofia grega foi a filosofia natural, que apareceu nos séculos VII e VI nas cidades gregas da costa da Ásia Menor. Os filósofos desta escola, Tales, Anaximenes e Anaximandro, tentaram definir a essência do mundo visível e representam os primeiros materialistas ingénuos.
Acontecimento notável para a época, foi o sistema filosófico proposto por Heráclito de Éfeso (cerca de 540 ou de 480 a.C.). Os fragmentos das suas obras que chegaram até nós, permitem-nos considerá-lo o primeiro filósofo dialéctico.
«Todas as coisas estão em movimento», escreveu ele. «Não nos podemos banhar duas vezes na água do mesmo rio».
Heráclito descobriu a natureza contraditória da existência, tratando cada fenómeno como um conflito de contrários.
«A justiça é uma luta», escreveu, «e todas as coisas acontecem pela luta e assim tem de ser».
Um dos grandes filósofos materialistas foi Demócrito da Trácia (século V - IV a.C.). A sua premissa básica era que o Mundo consiste em átomos e vácuo. Define os átomos como as mais pequenas partículas uniformes da matéria. Estes átomos, na sua interpretação, estão em movimento no vácuo, embatem uns nos outros e fundem-se, e as combinações resultantes dão origem a todos os fenómenos do mundo visível. As opiniões de Demócrito eram notáveis pela sua coerência lógica: para ele tudo no Universo se baseava no movimento da matéria (átomos materiais).
Outro filósofo grego notável, Platão (427—347 a.C.), foi o fundador de uma tendência filosófica completamente diferente — o idealismo. Platão era oriundo da aristocracia ateniense e este facto foi confirmado pelas suas teorias.
Para Platão a essência do Mundo eram as ideias, entendendo por ideias o conteúdo objectivo do conhecimento, feito de conceitos. As ideias constituem um «Mundo ideal» especial, que está para além dos limites das estrelas móveis. Os homens são capazes de conhecer este mundo de ideias só porque, ante de entrarem nos seus corpos, as suas almas habitavam estas estrelas, e desta posição privilegiada podem contemplar o mundo das ideias. Consequentemente os ensinamentos de Platão implicam um tratamento negativo da matéria, se não desprezível; ele encara a matéria como algo de grosseiro e amorfo, que só tem valor na medida em que está imbuída de espiritualidade sob a forma de ideias. Esta doutrina havia de tornar-se a pedra angular de todos os sistemas e teorias idealistas posteriores.
A filosofia grega atingiu o seu ponto mais alto no tempo de Aristóteles (384—322 a.C.), estudioso dotado de um espírito enciclopédico que representava, por assim dizer, uma síntese de toda a ciência e filosofia clássica.
No seu sistema filosófico, Aristóteles tentou combinar o materialismo de Demócrito e o idealismo de Platão, e nisto residia o ponto mais fraco e mais vulnerável da sua filosofia, porque o idealismo e o materialismo são incompatíveis, e excluem-se um ao outro. Contudo, Aristóteles professou muitos pensamentos e princípios válidos que provaram ser muito importantes para o desenvolvimento posterior da filosofia. Entre estes está a doutrina da unidade da forma e do conteúdo (matéria). Aristóteles não foi apenas um filósofo mas um estudioso extremamente versátil, que dedicou as suas energias a vários campos, tais como a lógica, a astronomia, as ciências naturais, os problemas gramaticais e a versificação.
A filosofia clássica grega conserva ainda o seu significado universal e representa uma contribuição fundamental para o património da cultura mundial.
História é uma palavra grega, tributo ao facto de ter aparecido pela primeira vez na Grécia.
Heródoto, natural da cidade de Halicarnasso, na costa da Ásia Menor, que viveu no século V a.C., é geralmente considerado o «pai da história». A sua obra em nove volumes, geralmente conhecida por História, foi sobretudo dedicada às guerras pérsicas, embora o autor faça largas digressões para incluir parte da história do Egipto, da Pérsia e da Cítia.
Outro grande historiador foi o ateniense Tucídides (460 - 395), que escreveu uma memorável descrição da guerra do Peloponeso, na qual ele próprio tomara parte. É um notável trecho de história, que dá os primeiros exemplos de várias técnicas e métodos de crítica histórica e representa uma tentativa para fornecer uma descrição imparcial dos acontecimentos.
Outro historiador ateniense notável foi Xenofonte (430 - 355 a.C.), autor de alguns escritos históricos, o mais famoso dos quais é o Anabasis.
Aristóteles compilou ainda alguns escritos históricos, muitos dos quais não chegaram até nós. Dos que se conservaram, o mais interessante é a sua Política que dá um esboço histórico do desenvolvimento do Estado ateniense. Estas obras básicas dos historiadores gregos são os alicerces do subsequente desenvolvimento da ciência histórica na época clássica.
Os gregos deram um contributo igualmente brilhante no domínio das artes. No teatro, na poesia, nas artes plásticas e na arquitectura, o génio do povo grego havia de deixar a sua marca para sempre. O teatro na Grécia desempenhava uma função social. Originariamente ligado à religião, tornou-se mais tarde uma das mais importantes características da vida política grega. Foi na Grécia que os dois principais géneros teatrais — a comédia e a tragédia — nasceram e se desenvolveram. Representavam uma síntese de vários elementos — dança, cortejos e jogos ligados ao culto de Dionísio, o deus do vinho. Durante a Grande Dionísia das procissões solenes realizadas em honra do deus, o coro vestido com peles de cabra para representar os companheiros do deus — sátiros (meios-homens, meios-bodes) cantavam hinos em que se narravam vários mitos relacionados com o deus. A partir deste costume desenvolveram-se as futuras tragédias — a actual palavra tragédia significa «canção de cabra».
Primitivamente, as representações teatrais realizavam-se em praças públicas, mas mais tarde tiveram lugar em edifícios para isso destinados. O teatro grego era num anfiteatro ao ar livre com um palco redondo ao centro. Um dos maiores teatros atenienses foi construído num declive da colina da Acrópole e tinha trinta mil lugares.
Os maiores tragediógrafos gregos foram Ésquilo, Sófocles e Eurípides. Ésquilo (525 - 456 a.C.) escreveu cerca de 80 tragédias, das quais sobreviveram apenas sete. A mais interessante é Prometeu Agrilhoado, baseada no mito de Prometeu, que ensinou os homens a fazer o fogo e assim lançou as sementes do desenvolvimento da cultura e da civilização. Por roubar o fogo do Olimpo, Prometeu incorreu na ira de Zeus, que o castigou acorrentando-o a um rochedo e submetendo-o a uma tortura horrível. Ésquilo descreve Prometeu como um rebelde que desafia corajosamente a omnipotência dos deuses.
Sófocles (496 - 406) viveu durante a Idade de Ouro de Atenas. Diz-se que escreveu nada menos de cento e vinte tragédias, das quais também apenas sete se conservaram para a posteridade. Nas tragédias de Sófocles encontramos o desenvolvimento de uma das ideias predominantes do pensamento clássico — a ideia do destino e da vingança. Um dos melhores tratamentos deste tema está na tragédia Rei Édipo, onde a vingança, mesmo no caso de crime involuntário, é apresentada como inevitável.
O terceiro tragediógrafo foi Eurípides (480 - 406 a.C.) que escreveu noventa tragédias, dezoito das quais chegaram até nós. As mais famosas são Medeia, Hipólito, As Bacantes e Ifigénia em Tauride.
As peças de Eurípides são notáveis pela sua penetração psicológica, que faz das suas personagens como que pessoas vivas. Nas obras de Eurípides o papel do coro, que tinha sido considerável nas peças dos seus antecessores, torna-se definitivamente secundário, incidindo o foco principal sobre as personagens.
Um segundo género apareceu também no drama grego — a comédia, que se desenvolveu a partir das farsas populares (ou mimos) e dos ritos ligeiros ou jocosos ligados ao culto de Dionísio.
O mais alto expoente neste género foi Aristófanes (466-385 a.C.). Onze das suas peças chegaram até nós, das quais as mais célebres são As Vespas, As Nuvens, As Rãs, Lisístrata e Os Cavaleiros. As comédias de Aristófanes são de feição claramente política. O autor pertencia a círculos democráticos moderados e atacou todas as formas democráticas extremas e os seus campeões, tais como Cléon.
Ao lado destas grandes realizações literárias, temos outros exemplos ainda não ultrapassados do génio grego nos domínios da arquitectura e das artes plásticas.
Havia três ordens principais na arquitectura grega, que se distinguem pelos diferentes tipos de colunas ou pilares — a Dórica, a Jónia e a Coríntia. As duas principais escolas da escultura grega foram a ateniense, da qual o representante mais famoso foi Fídias, e a escola do Peloponeso, cujo maior expoente foi Policleto. Os escultores gregos realizaram aquilo a que designamos por «cânon» — isto é, as proporções normais da figura humana.
As brilhantes realizações da escultura e da arquitectura gregas são bem ilustradas pelos monumentos da época de Péricles em Atenas. Durante este período acorreram a Atenas artistas talentosos de todas as partes do mundo grego. Entre eles estava o grande escultor Fídias, o maior arquitecto do tempo, Ictino, e os maiores pintores, Polignoto e Parrásio. As mais importantes obras de arte com que Atenas foi embelezada no tempo, foram estátuas dos deuses e edifícios públicos que se distinguiam pela sua graciosidade e pelo esplendor das suas formas. Entre os edifícios mais notáveis erigidos em Atenas contam-se o Parténon e o Propileu na Acrópole e o Odeon na parte mais baixa da cidade.
O Parténon, templo dedicado a Atena, tradicionalmente chamado a «Casa das Donzelas» pela populaça ateniense, era um magnífico edifício de mármore branco, desenhado pelos notáveis arquitectos Ictino e Calícrates, decorado por dentro e por fora com notáveis esculturas. Dentro do templo, havia uma enorme estátua da deusa Atena, feita de marfim e de ouro, com um capacete e uma lança de ouro, obra de Fídias.
Outra magnífica obra de Fídias foi a colossal estátua de bronze de Atena Promacos, ou Atena Guerreira, feita com os despojos capturados em Maratona. A estátua estava no ponto mais elevado da Acrópole, de modo que era possível ver a lança dourada luzindo ao Sol, a grande distância, e servia por isso de farol aos navios.
Obra-prima de Fídias foi também a estátua colossal de Zeus, no templo de Zeus em Olímpia.
O Propileu era a monumental entrada para a Acrópole. Consistia numa colunata de mármore coberta, com quatro entradas laterais e quatro átrios de mármore de cada lado da entrada principal, um dos quais estava decorado com obras de pintores famosos, dos quais Polignoto foi o principal. Uma larga escadaria de mármore conduzia as pessoas ao Propileu.
O terceiro enorme edifício construído no tempo de Péricles foi o Odeon, teatro destinado a competições musicais e poéticas. Ao contrário de outros teatros, o Odeon era coberto, para ter melhores condições acústicas. Foi construído à imitação da tenda de Xerxes que fora capturada aos persas. O tecto inclinado do Odeon era sustentado por traves feitas, segundo diz a lenda, dos mastros dos navios persas. Assim, o Odeon servia também de monumento à libertação da Grécia na invasão persa.
As realizações dos antigos gregos nas esferas da filosofia, da literatura e da arte constituem parte imperecível da herança cultural da Humanidade.
Notas de rodapé:
(3) Guerra de todos contra todos. (N.T.). (retornar ao texto)
Inclusão | 19/03/2016 |