Resposta às perguntas de Karl Wigand,
correspondente em Berlim da Agência de Informação americana «Universal Service»(N130)

V. I. Lénine

18 de fevereiro de 1920

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Escrito: em 18 de Fevereiro de 1920

Publicado: em Inglês em 21 de Fevereiro de 1920 no New York Evening Journal, nº 12671. Publicado pela primeira vez em russo em 22 de Abril de 1950 no nº 112 do Pravda

Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1977, t3, pp 250-252.

Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.40, pp. 145-147.

Transcrição e HTML: Manuel Gouveia

Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo.


capa

1. «Propomo-nos atacar a Polónia e a Roménia?»

Não. Proclamámos as nossas intenções pacíficas do modo mais solene e oficial tanto em nome do CCP como em nome do CECR(1*). Infelizmente, o governo capitalista francês incita a Polónia (provavelmente também a Roménia) a atacar-nos. Isso dizem-no mesmo uma série de mensagens rádio americanas provenientes de Lyon.

2. «Os nossos planos na Ásia?»

Os mesmos que na Europa: coexistência pacífica com os povos, com os operários e os camponeses de todas as nações, que despertam para uma nova vida, uma vida sem exploração, sem latifundiários, sem capitalistas, sem comerciantes. A guerra imperialista de 1914-1918, guerra dos capitalistas do grupo anglo-francês (e russo) contra os capitalistas do grupo germano-austríaco pela partilha do mundo, despertou a Ásia e intensificou ali, como em toda a parte, a aspiração à liberdade, ao trabalho pacífico, à interdição das guerras no futuro.

3. «As bases da paz com a América?»

Que os capitalistas americanos não nos toquem. Nós não lhes tocaremos. Estamos mesmo prontos a pagar-lhes em ouro as máquinas, ferramentas, etc., úteis para os transportes e para a produção. E não só com ouro, mas também com matérias-primas.

4. «Os obstáculos a essa paz?»

Nenhuns da nossa parte. O imperialismo da parte dos capitalistas americanos (como de todos os outros).

5. «As nossas opiniões sobre a expulsão dos revolucionários russos da América?»

Nós acolhemo-los. Não receamos os revolucionários no nosso país. Em geral não receamos ninguém, e se a América ainda receia algumas centenas ou milhares de cidadãos seus, estamos prontos a iniciar conversações para acolher no nosso país todos e quaisquer cidadãos que assustam a América (com excepção, naturalmente, dos criminosos).

6. «A possibilidade de uma aliança económica entre a Rússia e a Alemanha?»

Essa possibilidade, infelizmente, é pequena, porque os Scheidemann são maus aliados. Nós somos pela aliança com todos os países, sem exceptuar nenhum.

7. «A nossa opinião sobre a extradição dos culpados da guerra, pedida pelos Aliados?»

Se se falar seriamente disto, os culpados da guerra são os capitalistas de todos os países. Entreguem-nos todos os latifundiários (que possuem mais de 100 hectares de terra) e os capitalistas (que possuem um capital superior a 100 000 francos), e nós ensinar-lhes-emos a fazer um trabalho útil, desabituá-los-emos do papel vergonhoso, vil e sangrento de exploradores e de culpados de guerras para a partilha das colónias. Então as guerras tornar-se-ão em breve absolutamente impossíveis.

8. «A influência da paz connosco sobre a situação económica da Europa?»

A troca de máquinas por cereais, linho e outras matérias-primas poderá ser desfavorável para a Europa? É claro que não pode deixar de ser favorável.

9. «A nossa opinião sobre o desenvolvimento futuro dos Sovietes como força mundial?»

O futuro pertence ao regime soviético em todo o mundo. Demonstraram-no os factos: basta medir o crescimento, digamos por trimestre, do número de brochuras, livros, panfletos e jornais em qualquer país favoráveis aos Sovietes e que simpatizam com os Sovietes. Não pode ser de outro modo: uma vez que os operários nas cidades, os operários, os trabalhadores agrícolas e os jornaleiros nas aldeias, e depois os pequenos camponeses, isto é, aqueles que não recorrem à exploração de operários assalariados, uma vez que essa imensa maioria de trabalhadores compreenderam que os Sovietes põem nas suas mãos todo o poder libertando-os do jugo dos latifundiários e capitalistas, como é possível impedir a vitória do regime soviético em todo o mundo? Eu não conheço quaisquer meios para o evitar,

10. «A Rússia deve recear ainda a ingerência contra-revolucionária do exterior?»

Infelizmente deve, porque os capitalistas são estúpidos e cobiçosos. Eles fizeram já uma série de tentativas de ingerência tão estúpidas e cobiçosas, que é preciso recear que as repitam enquanto os operários e os camponeses de cada país não tiverem reeducado os seus capitalistas.

11. «A Rússia está pronta a estabelecer relações de negócios com a América?»

Sim, naturalmente, como de resto com todos os países. A paz com a Estónia, à qual fizemos enormes concessões, mostrou a nossa disposição de, para isto, outorgar mesmo concessões de empresas, em determinadas condições.


Notas de rodapé:

(1*) CCP: Conselho de Comissários do Povo. CECR: Comité Executivo Central de toda a Rússia. (N. Ed.) (retornar ao texto)

Notas de fim de tomo:

(N130) Após a derrota das tropas de Koltchak e Deníkine pelo Exército Vermelho, a imprensa americana, exprimindo a vontade dos seus círculos de negócios, solicitou por duas vezes uma entrevista com Lénine. Em 18 de Fevereiro de 1920, Lénine respondeu às perguntas do correspondente da agência noticiosa American Universal Service em Berlim, Karl Wigand. O texto da resposta de V. I. Lénine foi comunicado por radiograma para Berlim, e daí para Nova Iorque em 21 de Fevereiro de 1920. Nessa mesma tarde as respostas de Lénine foram publicadas no New York Evening Journal. As respostas de V. I. Lénine foram reproduzidas também na imprensa comunista e socialista alemã. (retornar ao texto)

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Inclusão: 04/01/2020