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Discurso na Reunião Conjunta do CEC de Toda a Rússia, do Soviete de Deputados Operários e Camponeses de Moscou, do Conselho Central dos Sindicatos de Toda a Rússia e dos Comitês de Fábrica, consagrada ao segundo aniversário da Revolução de Outubro
Primeira edição: Pravda, n.º 251, 9 de novembro de 1919. V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 30, págs. 106/116
Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 510-519
Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz
HTML: Fernando Araújo.
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Camaradas:
Há dois anos, quando a guerra imperialista ainda estava em seu apogeu, a insurreição do proletariado russo e a conquista do poder político por ele pareciam a todos os partidários da burguesia na Rússia, pareciam às massas populares e talvez à maioria dos operários dos outros países uma tentativa audaz, mas sem perspectivas. Parecia então que o imperialismo mundial era uma força tão enorme e invencível que, se os operários de um país atrasado tentassem levantar-se contra ele, procederiam como insensatos. Mas agora, olhando para os dois anos transcorridos, vemos que até nossos adversários começam a reconhecer cada vez mais as razões em que nos apoiamos. Vemos que o imperialismo, que parecia um colosso inabalável, mostrou-se, aos olhos de todo o mundo, como um colosso de pés de barro. Estes dois anos de experiência e de luta marcam com evidência cada vez maior a vitória não só do proletariado russo, mas do proletariado internacional.
Camaradas: No primeiro ano de existência de nosso poder tivemos ocasião de observar o poderio do imperialismo alemão e sofrer as consequências da paz violenta e espoliadora que nos foi imposta; precisamos lançar sozinhos nosso apelo à revolução, sem encontrar apoio nem eco. Se o primeiro ano de nosso poder foi também o primeiro de nossa luta contra o imperialismo, muito cedo pudemos comprovar que a luta das diferentes partes deste gigantesco imperialismo internacional não era outra coisa senão as convulsões da agonia, e que nessa contenda estavam interessados tanto o imperialismo da Alemanha como o da burguesia anglo-francesa. Durante este ano vimos que esta luta somente reforça, multiplica e restaura nossas forças, e dirige-as contra todo o imperialismo. Se durante o primeiro ano criamos essa situação, no decorrer de todo o segundo ano nos defrontamos cara a cara com os nossos inimigos. Houve pessimistas que já no ano passado nos criticavam com veemência, já no ano passado diziam que a Inglaterra, a França e a América do Norte representavam uma força tão enorme, tão gigantesca que esmagaria nosso país. Passou-se um ano e vemos que, se este primeiro ano pôde ser chamado ano do poderio do imperialismo internacional, o segundo ano será denominado ano da invasão do imperialismo anglo-norte-americano e da vitória sobre ela, da vitória sobre Koltchak e Yudenitch, e marcará o início do triunfo sobre Denikin.
Sabemos muito bem que todas as forças militares mobilizadas contra nós têm uma origem determinada. Sabemos que os imperialistas lhes fornecem todos os instrumentos bélicos, todo o armamento; sabemos que entregaram a nossos inimigos uma parte de sua frota mundial de guerra e agora os ajudam por todos os meios e preparam novas forças no sul da Rússia e em Arkhanguelsk. Mas sabemos muito bem que todas estas forças do imperialismo internacional, à primeira vista grandiosas e invencíveis, são frágeis; não as tememos, estão apodrecidas por dentro, nos robustecem mais e mais, e este reforçamento nos permitirá alcançar o triunfo na frente exterior e chegar até o final vitorioso. Não vou me deter na análise disto, porque desta tarefa se encarregará o camarada Trotsky.
Creio que agora é preciso tentar extrair os ensinamentos gerais que se depreendem dos dois anos de heróico trabalho na, esfera da edificação.
O que, a meu ver, constitui a dedução mais importante dos dois anos de construção da República soviética; o que, a meu ver, tem mais importância para nós, é a lição que oferece a edificação do poder operário. Parece-me que neste sentido não precisamos limitar-nos aos fatos concretos e isolados que se referem ao trabalho de um ou outro Comissariado e que a maioria aqui conhece por experiência própria. Creio que agora, examinando a experiência vivida, necessitamos retirar um ensinamento geral desta edificação, ensinamento que assimilaremos e daremos a conhecer com amplitude crescente às massas trabalhadoras. Este ensinamento consiste em que só a participação dos operários na direção geral do Estado permitiu que nos mantivéssemos firmes em meio a dificuldades tão incríveis, e em que somente seguindo esse caminho conseguiremos a vitória completa. Outro ensinamento que devemos extrair é que conseguimos estabelecer relações justas com os camponeses, com a massa enorme de milhões e milhões de camponeses, á que essas relações são as únicas que nos permitiram superar felizmente todas as dificuldades, e só elas indicam o caminho pelo qual marchamos de êxito em êxito.
Se lembrarem o passado, se lembrarem os primeiros passos do Poder Soviético, se lembrarem toda a edificação da república em todos os ramos da administração, sem excluir o aspecto militar, verão que há dois anos, em outubro, o poder da classe operária atravessava sua etapa inicial, pois o aparelho do Estado não estava ainda realmente em nossas mãos. Dirigindo a atenção aos dois anos transcorridos, todos concordarão comigo em que cada setor — militar, político, econômico — foi preciso conquistar palmo a palmo cada posição, para criar um verdadeiro aparelho do poder estatal, varrendo do caminho aqueles que antes de nós estavam à frente das massas operarias e trabalhadoras.
Para nós tem particular importância compreender a evolução operada durante este período, porque em todos os países esta evolução segue caminho idêntico. As massas operarias e trabalhadoras não dão seus primeiros passos com seus verdadeiros dirigentes; agora é o próprio proletariado que toma em suas mãos a direção do Estado, o poder político; à frente do proletariado vemos em todo lugar chefes que acabam com os velhos preconceitos da democracia pequeno-burguesa, velhos preconceitos de que são expressão em nosso país os mencheviques e esserristas e em toda a Europa os representantes dos governos burgueses. Isto, antes, era exceção, mas agora converteu-se em regra geral. Se em outubro, há dois anos atrás, acabou-se com o velho governo burguês na Rússia — com sua aliança, sua coalizão com os representantes dos mencheviques e esserristas — sabemos que, ao organizar nosso trabalho, tivemos depois que transformar cada ramo da administração de modo a que os verdadeiros representantes, os operários revolucionários, a autêntica vanguarda do proletariado, tomassem em suas mãos a edificação do Poder. Em outubro, há dois anos atrás, este trabalho desenvolvia-se com extraordinário esforço; não obstante, sabemos e devemos dizer que ele ainda não terminou. Sabemos que o velho aparelho do poder estatal nos opôs resistência, que os funcionários tentaram no início negar-se a exercer suas funções; esta sabotagem, a mais grosseira, foi exterminada em algumas semanas pelo poder proletário. Tal poder demonstrou que aquelas negativas não produziam o menor efeito, e uma vez que acabamos com tão rude sabotagem, esse mesmo inimigo empreendeu outro caminho.
Frequentemente ocorria que até a administração operária era organizada por partidários da burguesia; nós tivemos que empreender este trabalho a fim de utilizar inteiramente a força dos operários. Tomemos, por exemplo, a época que tivemos que atravessar quando, à frente do departamento ferroviário, à frente do proletariado ferroviário, havia homens que o conduziam não pelo caminho proletário, mas pela senda burguesa. Sabemos que em todos os ramos em que pudemos acabar com a burguesia o fizemos, mas quanto isto nos custou? Em cada ramo fomos passando ao controle pouco a pouco e promovendo os operários, colocando nos postos nossos homens de vanguarda, que cursaram a difícil escola da organização do poder estatal. É possível que, vendo as coisas de fora, todo este trabalho não ofereça grande dificuldade; mas, na realidade, se aprofundarem a questão, verão quanto esforço custou, aos operários que viveram todas as etapas da luta, impor seus direitos; como organizaram as coisas, desde o controle operário até à administração operária da indústria, bem como no transporte ferroviário, onde, começando pelo tristemente célebre Comitê Executivo do Sindicato Ferroviário de toda a Rússia, estruturaram um aparelho eficiente; verão como os representantes da classe operária vão pouco a pouco penetrando em todas as nossas organizações, fortalecendo-as com sua atividade. Tomemos, por exemplo, o cooperativismo, onde vemos um número enorme de representantes operários. Sabemos que antes figuravam no trabalho cooperativo quase exclusivamente indivíduos que não pertenciam à classe operária. Também aí, no antigo cooperativismo, encontramos homens apegados às concepções e aos interesses da velha sociedade burguesa. Neste sentido, os operários tiveram que lutar muito para tomar o poder em suas mãos e subordinar a cooperação a seus próprios interesses, para levar a cabo um trabalho mais frutífero.
Mas o trabalho mais importante foi realizado por nós na esfera da reestruturação do antigo aparelho estatal. Embora este trabalho tenha sido difícil, ao cabo de dois anos vemos os resultados dos esforços da classe operária e podemos afirmar que nesta esfera contamos com milhares de representantes operários que foram curtidos no fogo da luta, afastando dos seus postos pouco a pouco os representantes do poder burguês. Vemos os operários não só no aparelho do Estado, mas também no abastecimento, em um ramo em que havia quase exclusivamente representantes do velho governo burguês, do velho Estado burguês. Os operários criaram uma máquina de abastecimento. Se há um ano não podíamos ainda manejar com perfeição este aparelho, se há um ano havia ali tão somente 30% de representantes operários, atualmente, na edificação interior do aparelho de abastecimento podemos contar com quase 80%. Com estas cifras simples e eloquentes podemos mostrar o passo dado pelo país. Para nós o importante é que tenhamos conseguido grandes resultados na construção do poder proletário depois da revolução política.
Além disso, os operários realizaram e estão realizando outro trabalho importante: o de forjar os chefes do proletariado. Milhares e milhares de operários intrépidos destacam-se entre nós e lançam-se contra os generais brancos. Pouco a pouco vamos arrebatando o poder ao nosso inimigo. Se antes os operários não dominavam plenamente esta arte, agora estamos conquistando paulatinamente a nosso inimigo ramo após ramo, e não há dificuldades que possam deter o proletariado. A despeito de obstáculos de toda espécie, o proletariado conquista gradativamente, uma depois de outra, cada uma das esferas de atividade e atrai os representantes das massas proletárias para que em cada setor da administração, em cada pequena célula, de baixo a cima, por toda parte, sejam os próprios representantes do proletariado que cursem a escola da edificação, que formem dezenas e centenas de milhares de homens capazes de dirigir por si sós todos os assuntos da administração e edificação do Estado.
Camaradas: Nos últimos tempos fomos testemunhas de um exemplo extraordinariamente brilhante do êxito com que se realizou nosso trabalho. Sabemos a amplitude que adquiriram entre os operários conscientes os sábados comunistas. Conhecemos os representantes do comunismo mais fustigados pela fome e pelo frio, que na retaguarda fazem a sua parte com utilidade não menor do que o Exército Vermelho na frente; sabemos como no momento crítico, quando o inimigo avançava em direção a Petrogrado e Denikin tomava Orei, quando a burguesia, exacerbada, recorria à sua última arma preferida, semeando o pânico, declaramos aberta a semana do Partido. Naqueles momentos, os operários comunistas dirigiram-se aos demais operários e a todos os trabalhadores, aos que mais haviam sofrido em consequência dos rigores da guerra imperialista, aos que mais padeciam de fome e de frio, a todos aqueles em que mais depositavam suas esperanças os semeadores de pânico do campo da burguesia, a todos aqueles que maiores sofrimentos haviam suportado; durante a semana do Partido nos dirigimos a eles e lhes dissemos: «Assustam-lhes as dificuldades do poder operário, as ameaças dos imperialistas e dos capitalistas; vêem nosso trabalho e nossas dificuldades; a vocês, e somente a vocês, somente aos representantes dos trabalhadores, apelamos e abrimos de par em par as portas de nosso Partido. Neste momento difícil contamos com vocês e os chamamos a engrossar nossas fileiras para assumir todo o peso da edificação do Estado.» Todos aqui sabem que foi um momento terrivelmente difícil, tanto no sentido material como no dos êxitos do adversário na política exterior e no terreno militar. É todos sabem o êxito inusitado, inesperado e incrível com que terminou esta semana do Partido em Moscou, onde tivemos mais de 14 000 recrutamentos. Eis o resultado desta semana do partido, que transforma e refaz por completo a classe operária, e através da experiência do trabalho forja verdadeiros artífices da futura sociedade comunista, que antes eram instrumentos inativos e desalentados do poder burguês, dos exploradores e do Estado burguês. Sabemos que no seio da juventude operária e camponesa há reservas de milhares e milhares de rapazes e moças que viram e conhecem todo o velho jugo da sociedade latifundiária e burguesa, que viram as dificuldades incríveis da edificação, que observaram os heróis forjados na primeira promoção de ativistas em 1917 e 1918 e acodem a nós em tanto maior número e com tanto mais abnegação quanto mais ingentes sejam as dificuldades. Estas reservas nos fazem abrigar a plena certeza de que em dois anos conseguimos um reforço firme, indestrutível, e um manancial do qual podemos extrair novas forças durante um longo período e em proporções ainda maiores, a fim de que os próprios representantes dos trabalhadores empreendam o trabalho de construção do Estado. A este respeito, adquirimos em dois anos tanta experiência na prática da administração operária em todas as esferas, que podemos afirmar decididamente e sem qualquer exagero que o que falta agora é prosseguir no trabalho iniciado, e nossos êxitos serão iguais aos destes dois anos, a um ritmo cada vez mais intenso.
Noutro aspecto, no das relações da classe operária com os camponeses, tropeçamos com muito mais dificuldades. Em 1917, há dois anos atrás, quando o poder passou às mãos dos sovietes, estas relações não estavam ainda claras, longe disso. O campesinato em seu conjunto já se havia voltado contra os latifundiários, apoiava a classe operária, porque via nela o executor dos desejos da massa camponesa, verdadeiros combatentes operários, e não gente que raia o campesinato aliando-se com os latifundiários. Mas sabemos muito bem que a luta ainda não havia alcançado o auge no seio do campesinato. Durante o primeiro ano, o proletariado não contava ainda com posições sólidas no campo. Isto foi observado com particular evidência naquelas regiões periféricas em que temporariamente se fortaleceu o poder dos guardas brancos. Vimo-lo no verão passado, em 1918, quando os guardas brancos obtiveram vitórias fáceis nos Urais. Vimos que o poder proletário ainda não se havia constituído no campo, que não bastava trazê-lo de fora e instaurá-lo ali. Era preciso que o campesinato, por sua própria experiência, através de sua própria construção, chegasse a essas mesmas conclusões, e embora este trabalho seja incomensuravelmente mais difícil, mais lento e duro, é incomparavelmente mais frutífero quanto aos resultados. Esta é nossa principal conquista durante o segundo ano do Poder Soviético.
Não vou referir-me à importância militar da vitória sobre Koltchak, mas direi que se não tivesse existido a experiência do campesinato, que comparou o poder dos ditadores da burguesia com o poder dos bolcheviques, não se teria conseguido esta vitória. Os ditadores começaram com a coalizão, com a Assembleia Constituinte, e nesse poder participaram os mesmos esserristas e mencheviques, com os quais nos encontrávamos a cada passo em nosso trabalho, na sua qualidade de homens do passado, de construtores das cooperativas, dos sindicatos, das associações de professores e de muitas outras organizações que agora temos que transformar. Koltchak iniciou sua empresa em aliança com eles, com homens aos quais não bastava a experiência de Kerenski e que fizeram uma segunda experiência. Esta lhes foi necessária para que se levantassem contra os bolcheviques as regiões periféricas, que eram as mais desligadas do centro. Não podíamos dar aos camponeses na Sibéria o que lhes havia dado a revolução na Rússia. Os camponeses não receberam na Sibéria a terra dos latifundiários porque ali ela não existia, e por isso lhes foi mais fácil acreditar nos guardas brancos. Nesta luta participaram todas as forças da Entente e do exército dos imperialistas que menos havia sofrido na guerra: o exército japonês. Sabemos que foram destinados centenas de milhões de rublos para ajudar Koltchak, que foram utilizados todos os recursos para apoiá-lo. O que não tiveram do seu lado? Tiveram tudo. Tudo o que tinham à sua disposição as grandes potências do mundo, mais o campesinato e um território imenso, onde mal havia proletariado industrial. Pois bem, por que veio abaixo tudo isso? Porque a experiência dos operários, dos soldados e dos camponeses mostrou uma vez mais que os bolcheviques tinham razão em seus vaticínios, em seu cálculo da correlação das forças sociais, ao dizer que a aliança entre operários e camponeses é difícil de realizar, mas, de qualquer modo, constitui a única aliança invencível contra os capitalistas.
Isto, camaradas, é uma ciência, se cabe falar de ciência neste caso. Esta é a experiência mais difícil do comunismo, lima experiência que tudo tem em conta e tudo confirma; só podemos construir o comunismo se os camponeses chegam conscientemente a uma conclusão determinada. Só podemos fazê-lo se estabelecemos a aliança com os camponeses. Pudemos nos persuadir disso com a experiência da luta contra Koltchak. A aventura de Koltchak foi uma experiência sangrenta, mas os culpados não fomos nós.
Todos aqui sabem muito bem qual a segunda desgraça que se abateu sobre nós; sabem que foi em nosso país que a fome e o frio fizeram os maiores estragos. Todos sabem que as causas disto são atribuídas ao comunismo, mas sabem também que o comunismo nada tem a ver com isso. Vemos como se estendem e se agravam em cada país a fome e o frio; e dentro em pouco todos se convencerão de que tal situação na Rússia não é consequência do comunismo, mas dos quatro anos de guerra internacional. Esta guerra deu origem a todos os horrores a que assistimos, foi a causa deste frio e desta fome. Mas confiamos em que sairemos logo desta situação. O quid da questão está somente em que os operários precisam trabalhar, mas trabalhar para si e não para os que durante quatro anos os sacrificaram naquela matança. A luta contra a fome e o frio já se trava em toda parte. As maiores potências sofrem hoje esta mesma calamidade.
Tivemos que recolher trigo de milhões e milhões de camponeses como estocagem do Estado. É isto nós não o fizemos como os capitalistas, que atuavam mancomunados com os especuladores. Para resolver este problema marchamos com os operários, marchamos contra os especuladores. Seguimos o caminho da persuasão, dirigimo-nos aos camponeses dizendo-lhes: Fazemos tudo o que está ao nosso alcance somente para apoiá-los e para apoiar os operários. O camponês que tem excedentes de grão e os entrega ao preço de tabela é partidário nosso. Aquele que não o faz é nosso inimigo, é um delinquente, é um explorador e um especulador, e com ele nada podemos ter em comum. As prédicas com que nos dirigimos aos camponeses os atraíram cada vez mais para o nosso lado. Obtivemos neste sentido resultados muito concretos. Se no ano passado, de agosto a outubro, recolhemos 37 milhões de puds de cereais, este ano armazenamos 45 milhões, se bem que esta cifra não tenha sido submetida a uma comprovação especial, meticulosa. Como se pode ver, há uma melhoria, lenta, mas indubitável. É se nos referimos inclusive às falhas devidas a ocupação de nossa zona fértil por Denikin, as coisas marcham de tal modo que podemos levar a cabo, ao preço fixado pelo Estado, nosso plano de estocagem e de distribuição. Também neste sentido criamos em certa medida nosso aparelho, e atualmente empreendemos a via socialista.
Agora temos que enfrentar a crise de combustíveis. O problema dos cereais já não é tão grave; criou-se uma situação na qual possuímos trigo, mas carecemos de combustível. Denikin deixou-nos sem a zona do carvão. A ocupação desta zona criou-nos dificuldades inusitadas, e neste caso agimos do mesmo modo que em relação aos cereais. Dirigimo-nos aos operários tal como fizemos antes. Assim como transformamos nosso aparelho de abastecimento, que, uma vez reforçado e normalizado seu funcionamento, levou a cabo um trabalho bem concreto que deu brilhantes resultados, melhoramos agora, dia após dia, nosso aparelho de fornecimento de combustíveis. Dizemos aos operários de onde procede um ou outro perigo, com que destino e de que zona é preciso mobilizar novas forças, e estamos certos de que, do mesmo modo como superamos no ano passado as dificuldades em relação aos cereais, superaremos agora os obstáculos na questão do combustível.
Permitam-me que por ora me limite a fazer este balanço do nosso trabalho. Para terminar, quero assinalar em poucas palavras como vai melhorando nossa situação internacional. Uma vez comprovado o caminho por nós escolhido, os resultados demonstraram que era direto e seguro. Quando em 1917 tomamos o poder, estávamos sozinhos. Em 1917 dizia-se em todos os países que o bolchevismo não podia ser transplantado. Agora, nesses mesmos países, já existe um poderoso movimento comunista. Dois anos depois de ter sido conquistado o poder e meio ano depois de ter sido fundada a III Internacional — a Internacional Comunista — esta já se converteu de fato na força principal do movimento operário de todos os países. Neste sentido, a experiência que vivemos deu os resultados mais brilhantes, inusitados e rápidos. É certo que o movimento no sentido da libertação não se desenvolve na Europa como em nosso país. Mas se são lembrados os dois anos de luta, se verá que também na Ucrânia, inclusive em algumas partes da Rússia, povoadas por russos, onde a composição da população oferece traços particulares, por exemplo, nas zonas dos cossacos e da Sibéria ou nos Urais, o movimento em direção à vitória não foi tão rápido nem seguiu o mesmo caminho que em Petersburgo e em Moscou, isto é, no centro da Rússia. É claro que não nos pode surpreender o movimento na Europa, que vai mais devagar, já que é preciso fazer frente a uma pressão maior do chauvinismo e do imperialismo; mas, não obstante, o movimento ali avança constantemente, seguindo o mesmo caminho que indicam os bolcheviques. Vemos em toda parte como avança este movimento. Os porta-vozes dos mencheviques e esserristas dão lugar aos representantes da III Internacional. Esses líderes caem, e em todos os lugares levantou-se o movimento comunista, de modo que agora, aos dois anos de Poder Soviético, podemos dizer que temos pleno direito, confirmado pelos fatos, de assegurar que hoje contamos, não só no Estado russo, mas também em escala internacional, com tudo o que há de consciente, com tudo o que há de revolucionário nas massas, no mundo revolucionário. É podemos afirmar que, depois dos obstáculos que enfrentamos, nada tememos, e que arrostaremos todas as dificuldades e as venceremos uma por uma. (Calorosos aplausos).