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Primeira edição: Pravda, nº 90 e 91; 7 de julho(24 de junho) e 8 de julho (25 de junho) de 1917. Assinado: N. Lênin. V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 25 págs. 103/107
Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 339-343
Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz
HTML: Fernando Araújo.
Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.
Na conferência de sindicatos de toda a Rússia, atualmente reunida em Petrogrado, deve ser colocada uma questão de extraordinária importância: a fundação do sindicato de operários agrícolas de toda a Rússia.
Todas as classes da Rússia se organizam. Parece esquecida a classe dos operários agrícolas da Rússia, a mais explorada de todas, a que vive mais pobremente, a mais dividida e oprimida. Em algumas regiões periféricas não russas, por exemplo, no território da Letônia, existem organizações dos trabalhadores agrícolas assalariados. Mas na imensa maioria das províncias russas e ucranianas não há organizações de classe do proletariado agrícola.
O destacamento avançado dos proletários da Rússia — os sindicatos de operários industriais — têm um dever grandioso e ineludível: ir em ajuda de seus irmãos, os operários agrícolas. É evidente — e a experiência de todos os países capitalistas o confirma — que a organização dos trabalhadores agrícolas apresenta enormes dificuldades.
Tanto mais necessário é aproveitar com a maior rapidez e energia a liberdade política existente na Rússia e fundar sem demora o Sindicato de Operários Agrícolas de toda a Rússia. É isto pode e deve ser feito pela conferência de sindicatos. São precisamente os representantes do proletariado mais experientes, mais desenvolvidos e mais conscientes, agora reunidos na conferência, que podem e devem conclamar os operários agrícolas, exortá-los a incorporar-se a eles, a formar nas fileiras dos proletários que se estão organizando independentemente, nas fileiras de seus sindicatos. São os operários assalariados das fábricas que devem tomar a iniciativa e aproveitar as células, grupos e seções dos sindicatos espalhados por toda a Rússia para despertar o operário agrícola e incorporá-lo à vida independente, à participação ativa na luta para melhorar sua situação, à defesa de seus interesses de classe.
A muitos parecerá, sem dúvida — e esta será, talvez, inclusive a opinião dominante no momento atual — que é inoportuna a constituição de um Sindicato de Operários Agrícolas precisamente agora, quando o campesinato se organiza em toda a Rússia, proclamando a abolição da propriedade privada da terra e o seu usufruto «igualitário».
Pelo contrário. Precisamente em um momento assim, a criação do sindicato dos trabalhadores agrícolas é extremamente oportuna e inadiável. Aqueles que mantêm o ponto-de-vista de classe, proletário, não podem pôr em dúvida a justeza da tese aprovada em 1906 pelos mencheviques, por iniciativa dos bolcheviques, no congresso de Estocolmo do Partido Operário Social-Democrata da Rússia, e que desde então figura no programa do Partido. Diz esta tese:
“O Partido coloca como sua tarefa, em todos os casos e quaisquer que sejam as transformações agrárias democráticas, tender invariavelmente à organização de classe independente do proletariado agrícola, explicar-lhe a contraposição hostil entre seus interesses e os da burguesia rural, preveni-lo contra as ilusões do sistema da pequena exploração agrícola, preveni-lo de que, nas condições da produção mercantil, ela não está em condições de acabar com a miséria das massas e, por último, assinalar a necessidade da revolução socialista completa como único meio para abolir toda miséria e toda exploração.”
Não há um só operário consciente, um só membro dos sindicatos, que não reconheça a justeza destas teses. Aplicá-las no que se refere à organização de classe independente do proletariado agrícola é tarefa dos sindicatos.
Temos esperança de que exatamente na época revolucionária, quando entre as massas trabalhadoras em geral, e entre os operários em particular, está viva a aspiração de se revelar, de abrir para si um caminho, de impedir que se organize a vida sobre novas bases sem que os próprios operários resolvam por si mesmos os problemas do trabalho, exatamente em um momento assim, os sindicatos não se encerrarão em seus estritos interesses profissionais, não esquecerão seus irmãos mais fracos, os operários agrícolas, e acudirão com toda energia em sua ajuda fundando o Sindicato de Operários Agrícolas da Rússia.
Em outro artigo tentaremos assinalar algumas medidas práticas nesse sentido.
No artigo anterior examinamos a importância de princípio da criação do Sindicato de Trabalhadores Agrícolas, da Rússia. Abordaremos agora alguns aspectos práticos desta questão.
Ao Sindicato de Operários Agrícolas da Rússia deveriam pertencer todos os que se dedicam primordialmente, ou principalmente, ou pelo menos em parte, ao trabalho assalariado nas empresas agrícolas.
A experiência demonstrará se é necessário subdividir essas organizações em sindicatos de operários agrícolas puros, e em sindicatos de trabalhadores que somente em parte são assalariados. Em todo caso, isso não é essencial. O essencial é que os interesses fundamentais de classe de todos os que vendem sua força de trabalho são homogêneos e que é absolutamente necessária a união de todos os que obtêm do trabalho assalariado «para outras pessoas» pelo menos uma parte dos meios de existência.
Os trabalhadores assalariados das cidades, das fábricas e das empresas estão unidos por milhares e milhões de elos aos trabalhadores assalariados do campo. O apelo dos primeiros a estes últimos não pode passar despercebido. Mas a questão não deve limitar-se a um apelo. Os operários das cidades têm muito mais experiência, meios e forças. É necessário dedicar diretamente uma parte destas forças a ajudar os operários agrícolas a porem-se de pé.
É preciso fixar uma data em que todos os operários organizados entreguem um dia de salário para impulsionar e fortalecer toda a obra de unificação dos operários da cidade e do campo. Uma parte determinada desta soma deve ser empregada integralmente na ajuda dos operários urbanos à união de classe dos operários agrícolas. Com este fundo devem ser cobertos os gastos resultantes da publicação de uma série de folhetos escritos na linguagem mais popular, e de um jornal — pelo menos semanal, a princípio — para os trabalhadores agrícolas, e do envio de agitadores e organizadores ao campo, ainda que em pequeno número para fundar imediatamente, nas diferentes localidades, os sindicatos de trabalhadores agrícolas assalariados.
Somente a própria experiência de tais sindicatos ajudará _ encontrar o caminho certo para continuar desenvolvendo este trabalho. A primeira tarefa de cada um destes sindicatos deve ser melhorar a situação dos que vendem sua força de trabalho às empresas agrícolas, conquistar salários mais elevados, melhorar os locais de trabalho, a alimentação, etc.
É preciso declarar a guerra mais implacável ao preconceito de que a futura abolição da propriedade agrária privada pode «dar terra» a todos os assalariados e diaristas do campo e cortar pela raiz o trabalho assalariado na agricultura. Este é um preconceito, e um preconceito extremamente prejudicial. A abolição da propriedade privada da terra é uma transformação enorme e indubitavelmente progressista, que responde de modo indiscutível aos interesses do desenvolvimento econômico e aos interesses do proletariado; é uma transformação que será apoiada, com toda a alma e com todas as suas forças, por cada trabalhador assalariado, mas que não eliminará, de modo algum, o trabalho assalariado.
Não se pode comer a terra. A terra não pode ser explorada sem animais, instrumentos e sementes, sem reservas de víveres, sem dinheiro. Confiar nas «promessas», feitas por quem quer que seja, de que «ajudarão» os trabalhadores assalariados nas aldeias a adquirir gado, instrumentos, etc., seria o pior dos erros, uma ingenuidade imperdoável.
O princípio fundamental, o primeiro preceito de todo movimento sindical é o seguinte: não confiar no «Estado», confiar unicamente na força de sua classe. O Estado é a organização da classe dominante.
Não confiem nas promessas, confiem unicamente na força da união e da consciência de sua classe!
Por isso, o Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas deve colocar como sua tarefa, desde o primeiro momento, não somente lutar para melhorar a situação dos trabalhadores em geral, mas, em particular, defender seus interesses como classe na grande transformação agrária que nos espera.
«A mão-de-obra deve ser posta à disposição dos comitês comarcais», dizem frequentemente os camponeses e os socialistas revolucionários. O ponto-de-vista de classe dos trabalhadores assalariados agrícolas é exatamente o inverso: os comitês comarcais devem ser postos à disposição dessa «mão-de-obra»! Semelhante contraposição explica claramente a atitude do proprietário e do trabalhador assalariado.
«A terra para todo o povo.» Isto é justo. Mas o povo está dividido em classes. Todo trabalhador conhece, vê, sente e experimenta sobre si mesmo esta verdade, que a burguesia procura deliberadamente apagar e que a pequena burguesia esquece a todo o momento.
Ninguém ajudará os pobres se eles permanecem isolados. Nenhum «Estado» ajudará o operário agrícola, o trabalhador assalariado e o diarista do campo, o camponês pobre, e semiproletário, se ele não ajuda a si mesmo. O primeiro passo para isso é a organização de classe independente do proletariado agrícola.
Desejamos à conferência de sindicatos de toda a Rússia que empreenda esta obra com a maior energia, que lance seu apelo a toda a Rússia, que estenda sua mão de ajuda, a vigorosa mão da vanguarda organizada do proletariado, aos proletários do campo.