O Capitalismo e a Imigração dos Operários

V. I. Lénine

29 Outubro de 1913

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Primeira Edição: Za Pravdu nº 22
Fonte: Obras Escolhidas em seis tomos, Edições "Avante!", 1984, tomo 2, pp. 119-122.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t. 24, pp. 88-92.
Transcrição e HTML: Manuel Gouveia
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo, 1977.

capa

O capitalismo criou uma forma particular de migração dos povos. Os países em rápido desenvolvimento no aspecto industrial, introduzindo mais máquinas, desalojando os países atrasados do mercado mundial, elevam os salários acima da média e atraem operários assalariados dos países atrasados.

Centenas de milhares de operários transferem-se assim para centenas e milhares de verstas de distância. O capitalismo avançado atrai-os pela força para o seu turbilhão, arranca-os aos seus lugarejos, faz deles participantes do movimento histórico mundial, coloca-os frente a frente com a poderosa e unida classe internacional dos industriais.

Não há dúvida de que só a extrema miséria obriga as pessoas a abandonar a sua pátria, de que os capitalistas exploram da maneira mais desavergonhada os operários migrantes. Mas só os reaccionários podem fechar os olhos ao significado progressista dessa migração moderna dos povos. Não há nem pode haver libertação do jugo do capital sem o desenvolvimento do capitalismo, sem a luta de classes sobre o seu terreno. E é precisamente a essa luta que o capitalismo atrai as massas trabalhadoras de todo o mundo, quebrando o embrutecimento bafiento da vida local, destruindo as barreiras e preconceitos nacionais, unindo os operários de todos os países nas grandíssimas fábricas e minas da América, da Alemanha, etc.

A América detém o primeiro lugar entre os países que importam operários. Eis os dados sobre o número de emigrantes para a América:

Durante os 10 anos 1821-1830 90 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1831-1840 496 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1841-1850 1 597 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1851-1860 2 453 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1861-1870 2 064 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1871-1880 2 262 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1881-1890 4 722 000 imigrantes
      “       “   “    “ 1891-1900 3 703 000 imigrantes
      “       “   9    “ 1901-1909 7 210 000 imigrantes

O aumento da emigração é enorme e intensifica-se cada vez mais. Em cinco anos, de 1905 a 1909, emigraram em média para a América (trata-se apenas dos Estados Unidos) mais de um milhão de pessoas por ano.

É interessante notar a alteração da composição dos imigrantes (isto é, dos que se instalam na América). Até 1880 predominou a chamada velha imigração, vinda de velhos países civilizados, da Inglaterra, da Alemanha, em parte da Suécia. Mesmo até 1890 a Inglaterra e a Alemanha em conjunto contribuíam com mais de metade de todos os imigrantes.

A partir de 1880 começa um aumento incrivelmente rápido da chamada nova imigração, da Europa oriental e do Sul, da Áustria, da Itália e da Rússia. Estes três países forneceram aos Estados Unidos da América do Norte os seguinte imigrantes:

Durante os 10 anos 1871-1880 201 000
      “       “   “    “ 1881-1890 927 000
      “       “   “    “ 1891-1900 1 847 000
      “       “   “    “ 1901-1909 5 127 000

Deste modo, os países mais atrasados do velho mundo, os que mais conservaram os vestígios da servidão em todo o sistema de vida, são por assim dizer submetidos à escola forçada da civilização. O capitalismo americano arranca milhões de operários da Europa oriental atrasada (incluindo da Rússia, que forneceu 594 000 imigrantes em 1891-1900 e 1 410 000 em 1900-1909) às suas condições semimedievais e coloca-os nas fileiras do exército avançado e internacional do proletariado.

Gúrvitch, autor de um livro inglês extraordinariamente instrutivo intitulado Imigração e Trabalho, publicado no ano passado, faz uma observação interessante. Depois da revolução de 1905, o número de imigrantes para a América aumentou particularmente (em 1905 1 milhão, em 1906 1,2 milhões, em 1907 1,4 milhões, em 1908-1909 1,9 milhões por ano). Os operários que tinham conhecido toda a espécie de greves na Rússia levaram também para a América o espírito das greves de massas mais corajosas e mais ofensivas.

A Rússia atrasa-se cada vez mais, ao ceder ao estrangeiro uma parte dos seus melhores operários; a América avança cada vez mais depressa, recebendo de todo o mundo a população mais enérgica e mais apta para o trabalho(1*).

A Alemanha, que avança mais ou menos ao mesmo nível que a América, transforma-se de país donde partiam operários num país que atrai operários estrangeiros. O número de emigrantes da Alemanha para a América, que atingiu 1453000 nos dez anos 1881-1890, desceu para 310 000 nos nove anos 1901-1909. Quanto ao número de operários estrangeiros na Alemanha, era de 695 000 em 1910-1911, e em 1911-1912 era de 729 000. Se considerarmos a repartição destes últimos por ocupações e por países de origem, teremos o seguinte quadro:

Operários estrangeiros na Alemanha em 1911-1912 (em milhares)

Na agricultura Na indústria Total
Da Rússia 274 34 308
Da Áustria 101 162 263
Dos restantes países 22 135 157
Total 397 331 728

Quanto mais atrasado é um país tanto maior é o número de operários não qualificados, «serventes», trabalhadores agrícolas, que fornece. As nações avançadas apropriam-se, por assim dizer, dos melhores tipos de trabalhos, deixando aos países semibárbaros os piores tipos de trabalhos. A Europa em geral (os «restantes países») dá à Alemanha 157 000 operários, dos quais mais de 8/10 (135 em 157) são operários industriais. A Áustria atrasada dá apenas 6/10 (162 em 263) de operários industriais. A Rússia, a mais atrasada, dá apenas 1/10 de operários industriais (34 em 308).

Deste modo, em tudo e em toda a parte fazem a Rússia pagar pelo seu atraso. Mas os operários da Rússia, em comparação com a restante população, são os que mais procuram escapar a esse atraso e a essa barbárie, os que mais reagem a esses traços «encantadores» da sua pátria, os que mais estreitamente se unem aos operários de todos os países numa única força libertadora mundial.

A burguesia lança os operários de uma nação contra os da outra, procurando dividi-los. Os operários conscientes, compreendendo a inevitabilidade e o carácter progressista da destruição pelo capitalismo de todas as barreiras nacionais, procuram ajudar à formação e à organização dos seus camaradas dos países atrasados.


Notas de rodapé:

(1*) Além dos Estados Unidos, também outros Estados americanos avançam rapidamente. O número de emigrantes para a América no último ano passado foi de cerca de 250 000, para o Brasil cerca de 170 000, para o Canadá mais de 200 000, num total de 620 000 por ano.(retornar ao texto)

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Inclusão 16/08/2016