Segundo discurso durante os debates em torno do programa agrário

Vladimir Ilitch Lênin

1(14) de agosto de 1903

II. Congresso do POSDR

17(30) de julho/10(23) de agosto de 1903

Primeira edição: Publicado, pela primeira vez, em 1904, na edição genebrina das Atas do II Congresso Ordinário do POSDR. V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 6 págs. 451/452

Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 158-159

Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz

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capa

Antes de passar aos detalhes, quero expor minhas objeções a algumas teses gerais, sobretudo do camarada Martinov. Este diz que devemos lutar não contra o feudalismo que existiu antes, e sim contra o que existe agora. Isto é justo, mas recordarei minha resposta a X. Ele se referiu à província de Saratov; recolhi dados desta mesma província e o resultado foi que as parcelas têm ali uma extensão de 600 000 deciatinas — dois quintos das terras que os camponeses possuíam sob o regime da servidão — e que o arrendamento equivale a 900 000 deciatinas; por conseguinte, dois terços da terra arrendada são parcelas. Assim, pois, reconstituímos dois terços do usufruto da terra. Isto significa que não lutamos contra um fantasma, e sim contra um mal existente. Chegaríamos aos mesmos resultados que na Irlanda, onde foi necessária uma reforma camponesa moderna transformando os arrendatários em pequenos proprietários. Já foi assinalada na literatura econômica dos populistas a analogia existente entre a Irlanda e a Rússia. O camarada Gorin diz que a medida proposta por mim não é a mais adequada, que é melhor transformá-los em arrendatários livres. Mas ele se engana ao pensar que é melhor converter os arrendatários semilivres em arrendatários livres. Nós não inventamos a transição; o que fazemos é propor uma transição pela qual o usufruto jurídico da terra corresponda ao usufruto prático, com o que se destruiriam as atuais relações de submissão. Martinov afirma que a indigência não está em nossas reivindicações, e sim no princípio em que se baseiam. Mas isso se parece com os argumentos que os socialistas revolucionários esgrimem contra nós. Lutamos no campo por dois objetivos distintos do ponto-de-vista qualitativo: em primeiro lugar, queremos dar liberdade às relações burguesas; em segundo lugar, levar a cabo a luta do proletariado. A despeito dos preconceitos dos socialistas revolucionários, nossa missão consiste em indicar aos camponeses onde começa a tarefa proletária revolucionária do proletariado agrícola. Por isso, são inconsistentes as objeções do camarada Kostrov. Dizem-nos que o campesinato não se dará por satisfeito com nosso programa e irá além dele; mas nós não temos medo disso, pois para isso contamos com nosso programa socialista, em virtude do qual tampouco tememos uma nova repartição de terras, que tanto assusta os camaradas Maikhov e Kostrov.

Concluindo: o camarada Egorov qualificou de quimera as esperanças que depositamos nos camponeses. Não! Não nos deixamos seduzir, somos bastante céticos e, por isso, dizemos ao proletariado agrícola: «Agora lutas ao lado da burguesia rural, mas deves estar sempre preparado para combater contra essa mesma burguesia, e travarás essa luta junto com o proletariado industrial da cidade.»

Marx dizia em 1852 que os camponeses não têm somente preconceitos, mas, também, opinião. E ao apontar agora aos pobres do campo a causa de sua miséria podemos confiar no êxito. Uma vez que a social-democracia empreendeu agora a luta em defesa dos interesses camponeses, confiamos em que no futuro levaremos em conta que a massa camponesa se acostumará a considerar a social-democracia como a defensora de seus interesses.


Inclusão: 31/01/2022
Última atualização: 15/12/2023