Dia da Mulher

Alexandra Kollontai

23 de fevereiro (8 de março) de 1913


Primeira Edição: O artigo 'Dia da Mulher' de Alexandra Kollontai foi publicado no jornal Pravda uma semana antes da primeira celebração na Rússia do Dia da Solidariedade Internacional entre o Proletariado Feminino em 23 de fevereiro (8 de março) de 1913. Em São Petersburgo, este dia foi marcado por uma chamada para uma campanha contra a falta de direitos econômicos e políticos das mulheres trabalhadoras, pela união da classe trabalhadora e pelo despertar da autoconsciência entre as mulheres trabalhadoras.

Fonte:

Tradução: Elisa G. Stefanelli

HTML: Fernando Araújo.

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O que é o 'Dia da Mulher'? É realmente necessário? Não é uma concessão às mulheres da classe burguesa, às feministas e sufragistas? Não é prejudicial à unidade do movimento operário?

Essas questões ainda podem ser ouvidas na Rússia, embora não sejam mais ouvidas no exterior. A própria vida já forneceu uma resposta clara e eloquente.

O 'Dia da Mulher' é um elo na longa e sólida cadeia do movimento proletário de mulheres. O exército organizado de mulheres trabalhadoras cresce a cada ano. Vinte anos atrás, os sindicatos continham apenas pequenos grupos de trabalhadoras espalhadas aqui e ali entre as fileiras do partido dos trabalhadores... Agora os sindicatos ingleses têm mais de 292 mil mulheres filiadas; na Alemanha cerca de 200 mil estão no movimento sindical e 150 mil no partido dos trabalhadores, e na Áustria são 47 mil nos sindicatos e quase 20 mil no partido. Em toda parte – na Itália, Hungria, Dinamarca, Suécia, Noruega e Suíça – as mulheres da classe trabalhadora estão se organizando. O exército socialista feminino tem quase um milhão de membros. Uma força poderosa! Uma força com a qual os poderes deste mundo devem contar quando se trata de custo de vida, seguro de maternidade, trabalho infantil e legislação para proteger o trabalho feminino.

Houve um tempo em que os homens trabalhadores pensavam que só eles deviam carregar em seus ombros o fardo da luta contra o capital, que eles deviam lidar sozinhos com o "velho mundo" sem a ajuda de suas camaradas mulheres. No entanto, conforme as mulheres da classe trabalhadora entraram nas fileiras dos que vendem sua força de trabalho, forçadas a entrar no mercado de trabalho pela necessidade, pelo marido ou pai estar desempregado, os homens trabalhadores perceberam que deixar as mulheres para trás nas fileiras dos 'sem consciência de classe' prejudicaria sua causa e a atrasaria. Quanto maior o número de lutadores conscientes, maiores as chances de sucesso. Que nível de consciência possui uma mulher que permanece no fogão, que não tem direitos na sociedade, no estado ou na família? Ela não tem 'ideias' próprias! Tudo é feito conforme manda o seu pai ou marido...

O atraso e a falta de direitos sofridos pelas mulheres, sua sujeição e indiferença não beneficiam a classe trabalhadora e, na verdade, a prejudicam diretamente. Mas como a trabalhadora pode ser atraída para o movimento, como ela pode ser despertada?

A social-democracia no exterior não encontrou a solução correta de imediato. As organizações operárias estavam abertas a mulheres trabalhadoras, mas apenas algumas entravam. Por quê? Porque a classe trabalhadora a princípio não percebeu que a mulher trabalhadora é o membro mais legal e socialmente desfavorecido dessa classe, que ela foi intimidada, acuada, perseguida ao longo dos séculos e que, para estimular sua mente e seu coração, uma abordagem especial é necessária, palavras compreensíveis para ela enquanto mulher. Os trabalhadores não perceberam imediatamente que, neste mundo de falta de direitos e exploração, a mulher é oprimida não só como vendedora da força de seu trabalho, mas também como mãe, como mulher... Porém, quando o partido socialista dos trabalhadores entendeu isso, corajosamente assumiu a defesa das mulheres tanto como trabalhadora contratada quanto como mulher, mãe.

Os socialistas de todos os países começaram a exigir proteção especial para o trabalho feminino, seguro para mãe e filho, direitos políticos para as mulheres e defesa dos interesses delas.

Quanto mais claramente o partido dos trabalhadores percebia este segundo objetivo em relação às trabalhadoras, mais as mulheres aderiam ao partido, mais elas apreciavam que o partido é seu verdadeiro campeão, que a classe trabalhadora está lutando também por suas necessidades urgentes e exclusivamente femininas. As próprias mulheres trabalhadoras, organizadas e conscientes, têm feito muito para elucidar esse objetivo. Agora, o principal fardo do trabalho para atrair mais mulheres trabalhadoras para o movimento socialista recai sobre as mulheres. Os partidos em todos os países têm seus próprios comitês, secretarias e escritórios especiais para mulheres. Esses comitês de mulheres conduzem o trabalho entre a população feminina ainda em grande parte não politicamente consciente, despertam a consciência das mulheres trabalhadoras e as organizam. Eles também examinam as questões e demandas que afetam mais de perto as mulheres: proteção e provisão para mulheres grávidas e lactantes, a regulamentação legislativa do trabalho feminino, a campanha contra a prostituição e a mortalidade infantil, a reivindicação de direitos políticos para as mulheres, a melhoria da moradia, a campanha contra o aumento do custo de vida, etc.

Assim, como membros do partido, as mulheres trabalhadoras estão lutando pela causa comum da classe, ao mesmo tempo em que delineiam e apresentam as necessidades e demandas que mais as afetam como mulheres, donas de casa e mães. O partido apoia essas reivindicações e luta por elas... As reivindicações das mulheres trabalhadoras fazem parte da causa comum dos trabalhadores!

No 'Dia da Mulher', as organizadas protestam contra a falta de direitos.

Mas, alguns dirão, por que essa seleção de mulheres trabalhadoras? Por que há um 'Dia da Mulher', folhetos especiais para mulheres trabalhadoras, reuniões e conferências de mulheres trabalhadoras? Isso não é, em última análise, uma concessão às feministas e sufragistas burguesas?

Somente aqueles que não entendem a diferença radical entre o movimento das mulheres socialistas e o das sufragistas burguesas podem pensar assim.

Qual é o objetivo das feministas? Seu objetivo é obter as mesmas vantagens, o mesmo poder, os mesmos direitos dentro da sociedade capitalista que agora possuem seus maridos, pais e irmãos. Qual é o objetivo das mulheres trabalhadoras? Seu objetivo é abolir todos os privilégios derivados do nascimento ou da riqueza. Para a trabalhadora é indiferente quem é o 'mestre', homem ou mulher. Juntamente com toda a sua classe, ela pode tornar mais leve sua posição como trabalhadora.

As feministas exigem direitos iguais sempre e em todos os lugares. As trabalhadoras respondem: exigimos direitos para todos os cidadãos, homens e mulheres, mas não estamos dispostas a esquecer que não somos apenas trabalhadoras e cidadãs, mas também mães! E como mães, como mulheres que dão à luz o futuro, exigimos atenção especial para nós mesmas e para nossos filhos, proteção especial do estado e da sociedade.

As feministas estão se esforçando para adquirir direitos políticos. Porém, também aqui nossos caminhos se separam.

Para as mulheres burguesas, os direitos políticos são simplesmente um meio que lhes permite seguir seu caminho de maneira mais conveniente e segura em um mundo fundado na exploração dos trabalhadores. Para as mulheres trabalhadoras, os direitos políticos são um passo ao longo do caminho pedregoso e difícil que leva ao desejado reino do trabalho.

Os caminhos seguidos pelas trabalhadoras e pelas sufragistas burguesas há muito se separaram. Há uma diferença muito grande entre os objetivos que a vida colocou diante delas. Há uma contradição muito grande entre os interesses da operária e da senhora proprietária, entre a criada e a sua patroa... Não há e não pode haver pontos de contato, conciliação ou convergência entre eles. Portanto, os homens trabalhadores não devem temer um Dia da Mulher separado, nem conferências especiais de mulheres trabalhadoras, nem sua imprensa especial.

Cada forma especial e distinta de trabalho entre as mulheres da classe trabalhadora é simplesmente um meio de despertar a consciência da mulher trabalhadora e trazê-la para as fileiras daqueles que lutam por um futuro melhor... O Dia da Mulher e o trabalho lento e meticuloso empreendidos para despertar a autoconsciência da mulher trabalhadora estão servindo à causa não da divisão, mas da unificação da classe trabalhadora.

Que o sentimento alegre de servir à causa comum de classe e de lutar simultaneamente por sua própria emancipação feminina inspire as mulheres trabalhadoras a se juntarem à celebração do Dia da Mulher.


Inclusão: 20/04/2023