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Em relação ao título acima Karl Kautsky publicou recentemente um artigo na Neue Zeit, segue o resumo:
A Guerra é realizada, não para obter a vitória, mas para adquirir uma paz vantajosa. Mesmo aqueles que pensam que a guerra tem sua utilidade na vida dos povos, só entendem que ela é boa, caso se constitua como meio de trazer uma condição melhor e mais pacífica do que o momento anterior. Qualquer guerra que deixe as coisas numa condição pior seria considerada unanimemente uma desgraça. Por outro lado, aqueles, também, que decididamente se opõe à guerra, uma vez que contrariados, teriam que se esforçar para que ela determinasse uma paz vantajosa.
Mas, então, o que é vantajoso? "O que para um é uma coruja é para o outro um rouxinol." Uma coisa, porém, seria geralmente admitido. Para as massas, uma paz vantajosa é a que promete ser de longa duração, e que nada interfira na relação pacífica entre os povos.
A paz como resultado de uma trégua, seria absolutamente prejudicial. Ela seria usada por cada nação para acumular armamentos novos. E qualquer recuperação econômica, originária das feridas da guerra, se tornaria impossível.
A maior promessa de que a paz dure é quando os seus resultados encontram-se na direção do desenvolvimento histórico. Resultados que vão contra a este desenvolvimento são, no entanto, uma fonte de isolamento permanente que não permitem que as populações retornem a um estado de descanso.
A independência dos povos — isto é, a democracia — está na direção do desenvolvimento histórico. Esta democracia foi representada há cem anos, principalmente, pela burguesia e pelo liberalismo. E hoje ela é representada pelo proletariado e pela Social-Democracia, em cada caso, uma crescente classe em desenvolvimento.
A democracia só pode encontrar sua melhor expressão a partir de um Estado que consista de uma nação, com uma língua única. A produção moderna gera um contato maior entre as pessoas. Quanto mais as divisões internas diminuírem e os membros do Estado falar a mesma língua, a vida econômica, a do intelectual e do político podem proceder com mais eficiência. E com esse método de produção, surge a cooperação das classes inferiores para a vida intelectual e política, o que significaria o fortalecimento para toda a nação. Em um Estado, composto por várias nacionalidades que entre em colisão hostil com outro, o efeito seria a regressão do processo econômico e político, mais intensamente que o progresso derivado do desenvolvimento.
Seria, portanto, uma regressão negativa se algum dos grandes Estados nacionais que estão em guerra busque a vitória, a fim de anexar o território estrangeiro, e assim tornar-se um Estado com nacionalidades ao invés de um Estado nacional. Isso seria uma grande desgraça, não só para o derrotado, mas também para o vencedor. Tal ação também seria um prejuízo para a independência das nações, pois cada uma das nações envolvidas juraria só querer proteger sua própria independência e integridade.
Isso não quer dizer que qualquer mudança no mapa da Europa estaria em contradição com este princípio. A derrubada da dominação estrangeira em algumas nações seria benéfica para situação acima. Se, por exemplo, a Rússia fosse derrotada, os habitantes da Polônia, as províncias do leste do Mar e a Finlândia iriam reivindicar o direito de gerir seus próprios assuntos sem coerção externa, o que estaria bastante de acordo com as leis da democracia. O mesmo aconteceria no Egito Pérsia.
Também é de suma importância para todas as nações que quando a guerra chegar ao fim, as causas que a produziu devem ser superadas. Um conflito local entre a Áustria e a Sérvia não teria capacidade de resolver este mundo em chamas neste momento, pois a competição de armamentos já tinha dividido a Europa em dois campos hostis. Para acabar com esta situação atual deve ser mais fácil após o seu término. Pois, provavelmente as nações derrotadas serão obrigadas a se desarmar, e isso, indiretamente, afetará também os armamentos de seus antagonistas.
A partir deste desarmamento obrigatório pela nação derrotada, o nosso papel como social-democratas é protestar contra quaisquer formas humilhantes de degradação que possa vir a acontecer. Mas a coisa em si é muito seria para somente ficar no desejo. Social-democratas em todos os países apoiarão o desarmamento, e a diminuição da ameaça de armamento por seus vizinhos irão dar-lhes mais confiança para defender este desarmamento.
Um terceiro ponto a ser considerado é a respeito dos tratados comerciais. Os tratados existentes serão destruídos pela guerra, e novos acordos, que até agora são inatingível devido a pressão que a guerra produz, podem tornar-se viáveis e concluídos. É possível que o vencedor possa, a partir de seus interesses, forçar o livre comércio ou algo próximo a isso às nações derrotadas. Ou mesmo, que várias nações possam constituir-se a partir de um Zollverein. O que significaria progresso se isto não fosse usado como um meio de proporcionar o livre comércio entre os países em uma área protegida, isto deve ser combatido.
Seria prematuro especular agora sobre possíveis deslocamentos de poder e suas conseqüências. Não podemos "dividir a pele do urso antes dele ser morto", todavia isto pode ser dito agora: Em todos os países, a Social-democracia será, certamente, o primeiro partido a demandar a conclusão da paz, e sempre trabalhar no sentido da moderação.
O sucesso que deveremos encontrar depende das condições que não podem ser reconhecidas hoje. Não são as pessoas que decidem sobre a paz, mais do que sobre a guerra. Entretanto, mesmo os Estados absolutistas devem contar com uma opinião pública fortemente ativa.
Entre as classes dominantes, as maiores diferenças estão muitas vezes em relação aos termos de paz. Nos casos em que as decisões estejam em equilíbrio, a consideração do povo pode ter algum peso, mesmo onde, em outros momentos, as pessoas não eram sequer consultadas.
Inclusão | 03/04/2014 |