Discurso no VII Congresso da União das Juventudes Comunistas-Leninistas da URSS
(Komsomol)

M. I. Kalinin

11 de Março de 1926


Primeira Edição: Atas taquigráficas do VII Congresso do Komsomol, págs. 15/18, ed. 1926.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1954. Traduzido da edição em espanhol de "Ediciones em Lenguas Extranjeras” de Moscou 1949. Pág: 9-15.
Nota da Edição Original: Neste livro foram compilados discursos e artigos escolhidos de Mikhail Ivánovitch Kalínin dedicados à educação comunista, que abarcam um período de quase vinte anos. Alguns dos discursos são reproduzidos com pequenas reduções.
Transcrição e HTML:
Fernando A. S. Araújo.
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Tereis observado que tanto o C.C. do Partido como o nosso Poder Soviético prestam ao Congresso do Komsomol uma atenção maior que a qualquer dos outros congressos. A que se deve isto? A causa principal, está claro, é que nas fileiras do Komsomol se desenvolve a riqueza principal de nosso país. O Komsomol nos proporcionará os destacamentos que mais tarde hão de substituir os velhos lutadores pelo socialismo. O Komsomol é o destacamento de vanguarda da juventude proletária e camponesa, é sua flor e nata.

Em consonância com isso, parece-me que no Komsomol devem crescer e desenvolver-se em grande escala as aspirações e os ideais que mais caracterizam a juventude.

O que é mais próprio da mocidade, da juventude? O que é que distingue o Komsomol do homem culto comum e corrente, de mim, digamos por exemplo? Naturalmente, no aspecto externo eu me diferencio de vós por possuir uma barba encanecida. Mas isto é só uma diferença externa. Se existissem somente diferenças externas, não haveria necessidade de uma organização juvenil especial. O Komsomol se distingue, além disso, por suas peculiares qualidades espirituais.

A primeira qualidade, que distingue particularmente o Komsomol, é sua especial e excepcional impressionabilidade. Vós, komsomóis, não vos dais conta disso, de modo cabal, mas nós, os adultos, quando recordamos o passado, sabemos que as recordações de nossa época juvenil são muito mais vivas que as demais. Para o homem adulto, os acontecimentos que se desenrolam na idade madura se esfumam da memória com mais rapidez do que os que o impressionaram nos anos da juventude. Que significa isto? Significa que a idade juvenil é a mais impressionável.

Por isso, deve ser diferente nossa tática em relação ao Komsomol. Tomemos, por exemplo, o problema da agitação comunista. A dose admissível para um adulto resulta perigosa para um jovem, pela razão de que uma mesma dose produz uma impressão distinta, provoca diferentes reações interiores no homem adulto e no Komsomol. Partindo desta premissa, pode-se tirar toda uma série de conclusões práticas no que se refere à propaganda e à agitação entre a juventude comunista.

A particularidade da idade juvenil está no veemente anelo pelas emoções ideais, que abriga em seu íntimo. A juventude sempre aspira ao sacrifício pessoal: o jovem sempre sonha percorrer o mundo todo a pé, tornar-se marujo, ser capitão, descobrir novas terras e outras coisas desse estilo. E isto é natural, camaradas. Eu não sei o que teria ocorrido aos demais, mas no que a mim se refere, essas fantasias ferviam em minha mente mais ou menos até os 18 anos. Não creio que a juventude atual seja diferente neste aspecto. Não creio que esse afã do maravilhoso, que essas aspirações a converter-se em herói legendário, a realizar grandes façanhas em benefício do povo, tanto no terreno da ciência como em outros terrenos, não creio que todas essas qualidades não sejam também próprias da juventude atual.

Há mais. A juventude em sua maior parte é extraordinariamente sincera e franca. Por muito sincero e franco que seja o homem em sua idade madura, a experiência da vida e as sacudidas práticas que desta recebeu vão desalojando consideravelmente essas impetuosas aspirações juvenis à verdade e à franqueza.

Assinalei somente alguns dos traços que distinguem os jovens dos adultos. Parece-me que são os fundamentais e não vou deter-me em outros. Mas, por si mesmos, têm esses traços algum valor para o homem? Sem dúvida alguma. Se essas qualidades não tivessem por si mesmas um valor especial e extraordinário para o homem, não duvido de que uma grande parte da beleza espiritual da juventude talvez perdesse a sua louçania.

E por isso nós, e particularmente os dirigentes das organizações do Komsomol, e o Partido, que é quem traça a linha do trabalho do Komsomol e o orienta, pensamos que não se deve afogar essas qualidades especiais da juventude. Pelo contrário, é preciso mantê-las, fomentá-las, e na base dessas qualidades educar um homem novo e mais perfeito. Claro que é muito fácil dizer “educar”, mas, naturalmente, na prática, toma-se muito difícil chegar a formar um homem.

... Muitos têm a ideia errônea de que quando os jovens estão ocupados com suas obrigações de Komsomol, isso já constitui o desenvolvimento, a formação da pessoa. E essas obrigações de Komsomol consistem principalmente no estudo político, no estudo do marxismo, numa palavra, no estudo dos problemas sociais.

Parece-me falso um conceito tão estreito dos problemas do desenvolvimento e da formação do homem. Recordo como, antigamente, nos desenvolvíamos como marxistas: estudávamos não só à base dos livros especificamente marxistas — a propósito, é preciso dizer que estes eram então muito mais escassos: hoje em dia, somente o curso político de Bérdnikov e Svetlov já é um livro de bom tamanho —, ao passo que naquele tempo só existiam o Programa de Erfurt e o “Manifesto Comunista”. Assim, pois — refiro-me aos círculos clandestinos de estudo — ao mesmo tempo que aprendíamos os fundamentos do marxismo, seguíamos um curso de cultura geral, começando pelos clássicos da literatura, da história e da crítica russa; numa palavra, estudávamos todo o conjunto da sabedoria encerrada nos livros. Por um lado, trabalhávamos na fábrica e, por outro, desenvolvíamos nossos conhecimentos no campo da literatura, da ciência, etc.

Considero, por exemplo, que se o cumprimento das obrigações de Komsomol em nossas escolas vai dificultar o estudo da matemática — e refiro-me deliberadamente à matemática, já que é a matéria que mais se distingue do estudo político — se nossos estudos políticos vão substituir a matemática, as ciências naturais, então cometeremos um erro Neste caso, um Komsomol que tivesse lido alguns livros de política não seria mais que um homem desenvolvido exteriormente. Em uma conversação sobre qualquer matéria, poderá expor algumas opiniões, terá uma cultura e um brilho aparentes, mas não poderemos dizer que seja um homem culto e desenvolvido. Quando vos encontrardes com um camarada assim, a princípio ele vos causará uma impressão muito boa. Mas conversai com ele durante algumas horas e vos convencereis de que sua cultura política não tem base, vereis que, no que se refere às ciências naturais, não possui os conhecimentos que são comuns ao homem que terminou a escola intermediária ou a de primeiro e segundo grau. E é por essa razão, ao que me parece, que a organização do Komsomol deve contribuir para transformar os jovens em homens que possuam não somente uma instrução política; é necessário que a cultura política se apoie naqueles ramos da instrução social e da ciência, que se consideram como atributo indispensável do homem mais ou menos desenvolvido, para que esse desenvolvimento e essa ciência não caiam no esquecimento.

Em certa ocasião, na Academia Militar Lobatchevski, dizia eu que estudar o marxismo não significa só ler Marx, Engels e Lênin; podereis estudar suas obras de cabo a rabo, pode-reis repetir textualmente estas ou outras ideias; não obstante, isso não quer dizer que tenhais aprendido. Aprender o marxismo significa saber abordar, uma vez dominado o método marxista, todos os restantes problemas ligados a vosso trabalho. Se fordes trabalhar, suponhamos por exemplo, na agricultura, servirá do algo saber utilizar o método marxista? Claro que servirá. Mas, para poder aplicar o método marxista, devereis estudar também a agricultura, tereis que ser especialistas em matéria agrícola. Sem isso, a aplicação do marxismo na agricultura é coisa morta. Isso é o que não deveis esquecer, se quiserdes aplicar praticamente o marxismo, se desejardes ser lutadores e não simples exegetas do marxismo. Mas, que significa ser marxista? Significa saber adotar uma linha acertada. E para adotar uma linha marxista acertada é preciso ser um excelente especialista no ramo em que se trabalha.

Esta tese geral é integralmente aplicável a todos os membros do Komsomol, começando pelos estudantes e terminando pelos que trabalham na agricultura e os aprendizes das fábricas. Na fábrica, cada Komsomol, para ser um bom ajustador, que saiba aplicar praticamente seus conhecimentos e que saiba abordar cada tarefa da maneira mais acertada e conveniente, deve pensar de antemão na forma de iniciar seu trabalho. Quem começa seu trabalho sem um plano, trabalha mal, e como resultado produz; um artigo de baixa qualidade. Pelo que foi dito acima, compreendereis que a organização do Komsomol deve incutir em seus filiados a convicção de que sua tarefa fundamental consiste em conhecerem com perfeição a especialidade a que se dedicam, em chegarem a ser tão bons mestres como seus instrutores. Esse conhecimento da especialidade não só proporciona uma segurança material, mas também permite desenvolver com mais amplitude no futuro as particularidades individuais. Se o torneiro ou o ajustador trabalham mal, ver-se-ão presos a seu local de trabalho, pois é muito difícil ao mau operário encontrar outra colocação; mas, para o Komsomol, é muito difícil trabalhar durante muito tempo num mesmo lugar, uma vez que seu desejo é o de correr mundo. E se se deseja correr mundo, é preciso ser um ajustador ou um torneiro tão bom que, depois da primeira prova, seja admitido em qualquer parte onde chegue.

Como resumo, uma pequena lição de moral. Observei que nossos jovens têm uma atitude pouco séria em relação aos mestres instrutores. Eu gostaria muito de que nossa juventude lesse os filósofos da antiguidade. Assim veriam com que atenção e respeito os discípulos tratavam seus mestres. Para aprender a trabalhar bem é preciso apaixonar-se sinceramente pelo trabalho; sem essa paixão não é possível aprender a trabalhar. O aprendiz de ajustador, por exemplo, deve deixar de lado todos os aspectos negativos de seu mestre e dele aprender os conhecimentos de sua especialidade. Vós mesmos compreendereis que um velho de 60 anos pode ter muitas coisas ridículas do ponto de vista da juventude, mas se reparardes unicamente nisso, escapar-vos-á o mais importante. O que deveis fazer é absorver dele os conhecimentos de seu ofício.

A União Soviética deposita todas as suas esperanças na organização do Komsomol. De seus êxitos, da assimilação por ela das conquistas que possuímos, dependerão nossos êxitos futuros. Por isso, é inteiramente compreensível que, se o Komsomol prestar pouca atenção a essas tarefas fundamentais, não poderemos cumprir nossa missão e perderemos toda uma série de especializações muito valiosas, sem ter podido transmiti-las por completo ao Komsomol. Eu desejaria que vós mesmos meditásseis a fundo sobre estas diversas teses, sobre todas estas questões, que acabo de expor de forma resumida.

Se a juventude abordar com acerto estes problemas, então uma grande parte dos aspectos negativos sobre os quais acabo de falar desaparecerá por si mesma. Pois a vida é demasiado interessante e são muitas as coisas dignas de que a gente se apaixone por elas. Tão somente, é preciso fazer com que a juventude se apaixone pelo que tem verdadeiro valor e serve para desenvolver o homem em todos os aspectos.


Inclusão 11/10/2012