As atuais conjecturas da burguesia e dos revisionistas, de que a arte e a literatura podem ser suprimidas no futuro, apenas expressam o desejo final das classes dominantes, transmitidas por elas de geração em geração, juntamente com a sua sede de poder. Quando estiveram conectadas com os destinos dos povos, a arte e a literatura se tornaram um porto-seguro em sua luta pela liberdade. A melhor expressão da conexão que a arte e a literatura têm com as massas é o partidarismo proletário, o realismo socialista.
Entre as muitas conjecturas sombrias que estão sendo proferidas hoje no mundo da burguesia e do revisionismo, pelos servos das classes dominantes, há algumas que dizem respeito à arte e à literatura. A arte e a literatura continuarão a existir no futuro? Essa pergunta é levantada por sua propaganda, às vezes diretamente e às vezes indiretamente. A resposta a ela consiste em uma série de previsões que são tão fatalistas quanto absurdas; elas preveem a morte do romance, a morte da poesia, a morte da literatura e das artes em geral. Qual é a causa desse gemido incessante dos acólitos da burguesia? A resposta é clara: assim como muitas de suas conjecturas, essas previsões apenas expressam o desejo final das classes dominantes, transmitidas por elas de geração em geração, juntamente com a sua sede de poder e exploração.
Desde a antiguidade, as grandes estruturas burocráticas militaristas, junto as grandes nações agressivas, como o Império Romano, apoiaram a literatura oficial e, portanto, frequentemente entraram em conflito aberto com as literaturas e as artes progressistas. Isso era natural, pois essa arte em geral não conseguia se reconciliar com o espírito agressivo, com o desejo de hegemonia e dominação sobre o mundo, que promovia toda a propaganda desses Estados. A mesma coisa está acontecendo hoje com as superpotências de nosso tempo, os Estados Unidos da América e a União Soviética. Há muito tempo, a literatura e a arte desses países foram confrontadas com uma alternativa: ou se deformavam totalmente, de acordo com os interesses antipopulares desses regimes, ou desapareciam. Assim, as previsões sobre sua morte são, no final das contas, simplesmente ameaças indiretas à literatura e à arte, caso não se conformem totalmente com os objetivos agressivos e hegemônicos dessas superpotências.
Quanto aos povos que lutam por liberdade e independência, a história mostra que elas sempre encontraram nas literaturas e nas artes um porto-seguro para suas lutas e aspirações. A história de nosso país confirma esta afirmação com especial relevância. O camarada Enver Hoxha diz: “Nosso povo nunca separou os fuzis dos livros, as espadas das canetas, a bravura do conhecimento”. Essa é uma verdade incontestável. Nosso povo sempre teve Skanderbeg como o foco de sua memória nacional, mas nunca relegou Naim Frasheri a segundo plano. Nosso povo teve, frequentemente, que se levantar sozinho contra o perigo de ser eliminado da face da terra. Porém, nem a agressão, nem a morte, nem a fome, nem as tempestades da história fizeram com que nós perdêssemos a beleza das palavras, imagens ou sons. Pelo contrário, nosso destino difícil aperfeiçoou nossa habilidade artística. Que maravilha ver uma arte que é vital para as massas, tanto em tempos de paz, quanto em tempos tempestuosos; e que passou por grandes provas com seu triunfo, já que foi apreciada pelas massas nos momentos-chave da história. Os estetas que se alimentam da sua própria autoconfiança, que ficam sentados em suas torres de marfim, estabelecendo a lei e a norma, e se a literatura e a arte devem ou não existir, parecem bastante ridículos em comparação.
O fato de as massas, em sua profunda pobreza, famintas e malvestidas, assoladas por uma infinidade de problemas (aquelas outras tantas montanhas do país), sempre terem amado as artes, mostra que nelas continha um conteúdo e um valor profundo. Nosso povo amou a poesia, a literatura e outras artes albanesas, porque essas artes sempre estiveram ligadas ao destino do povo. Essa ligação com o destino das massas e da nação é a característica principal, a mais importante e mais imortal de nossa literatura e da nossa arte. Todos os seus outros valores seriam aniquilados sem esse fator essencial. Esse vínculo foi a maior bênção das nossas artes, assim como a separação do povo teria sido seu maior infortúnio. Nossa arte do realismo socialista herdou essa conexão como seu tesouro mais precioso, enriquecendo-a e elevando-a a um nível mais alto por meio das ideias da revolução e do comunismo. O partidarismo proletário de nossa arte, do realismo socialista, mostra melhor como ela está conectada, mais plenamente do que nunca, com o destino do povo.
Todos nós, escritores do realismo socialista, temos a grande responsabilidade de manter intacta essa característica inestimável de nossa arte.
Nos trinta anos de sua existência, nossa nova arte, a do realismo socialista, obteve grandes triunfos e vitórias. Colocada sem reservas a serviço da revolução, tendo um conteúdo comunista e uma forma nacional ao mesmo tempo, nossa arte eliminou de uma vez por todas a corrosão secular da arte feudal-burguesa, seu misticismo, não-realismo, sentimentalismo e diletantismo, seus contos de fadas de moças pobres e príncipes encantados, em uma palavra, todas as invenções enganosas do velho mundo. Ela continuou a travar uma luta triunfal quando essas invenções, expulsas pela porta da frente, tentaram entrar pela janela disfarçadas com roupas modernas. A tarefa de preservar a autenticidade de nossa arte é tão difícil quanto magnífica, especialmente no momento atual, repleto de tempestades revolucionárias e contrarrevolucionárias. A verdade é que, apesar dos sucessos alcançados, embora tenhamos preservado a nossa principal fortaleza, não podemos dizer que defendemos suficientemente todas as suas muralhas. Ao se chocar contra elas, a onda de várias influências causou danos e, às vezes, abriu uma brecha, e a responsabilidade por isso recai sobre todos nós. No entanto, nossa ajuda tem uma ligação tão estreita com a revolução e a nação que um breve período foi suficiente para reconstruir as seções danificadas. Mas isso não nos deve fazer baixar a guarda. No futuro, não podemos esperar um enfraquecimento das ondas que estão surgindo, pelo contrário, haverá uma intensificação. A violência da agressão é tão normal quanto a sociedade de classes. Homero, o primeiro poeta, escreveu sobre apenas uma agressão histórica. Mas em nenhum século ela foi tão difundida, astuta e multifacetada como em nossa época. Isso acontece porque estamos vivendo em uma época de grandes revoltas revolucionárias. A agressão não indica a força dos agressores, mas seu medo e seu pânico diante da história. A segunda metade do nosso século está testemunhando uma intensificação sem precedentes das agressões. Não se trata mais da agressão antiga e clássica, que fazia sua presença ser sentida apenas quando a bota do estrangeiro pisava o solo de uma nação. Agora, o inimigo pode estar a milhares de quilômetros de distância e pode não haver troca de tiros, mas, apesar disso, inconscientemente, alguém pode ser vítima de sua agressão. A agressão cultural, a invasão em palavras, sons e cores, não é menos perigosa do que a invasão de um exército real.
Os dirigentes das superpotências querem que o mundo fique mudo, para que ninguém possa denunciar seus crimes. Entretanto, os seres humanos nascem com línguas. Assim eles pensam, se não for possível obrigar as pessoas a ficarem caladas, tente fazê-las falar bobagens, como se estivessem loucas. Dessa forma, temos uma competição febril para criar os livros mais degradados, as poesias mais herméticas, as prosas mais confusas, os sons mais bestiais e as composições mais abstratas. Todo esse desempenho, que frequentemente se assemelha à produção de psicopatas, é um grande serviço prestado à burguesia atual, e é altamente valorizada por ela. A história da decadência é tão antiga quanto a própria arte, mas nunca antes conheceu uma explosão como a atual. Isso se deve ao fato de que em nenhum século anterior as classes dominantes se viram tão perto do abismo como hoje. Ao perceber que sua situação é desesperadora, elas estão correndo freneticamente em todas as direções, econômicas, militares, políticas, morais, ideológicas e artísticas, a fim de evitar a catástrofe, a sua catástrofe. No reino das letras e das artes, percebendo que a conexão da arte com o destino do povo seria o maior infortúnio para si, eles se apressam em destruir essa conexão da forma mais eficaz possível. A frase que resume mais claramente a essência de toda essa multidão de flores venenosas nas artes burguesas e revisionistas atuais é “divorciada dos povos”. O objetivo comum de toda a propaganda reacionária atual é afetar esse “divórcio”.
A burguesia e os revisionistas perceberam que o apelo à separação das artes e do povo pode desacreditá-los aos olhos das massas; portanto, eles procuram maneiras mais sofisticadas e camufladas de conseguir essa separação. Eles começaram uma campanha de forma muito mais desonesta. Para cobrir seus rastros, eles não pedem a separação do povo como tal, mas do ser humano em geral. Isso explica a paixão pela desumanização da arte, por deixar o ser humano de lado e colocar fetiches e máscaras em seu lugar. “Minha superioridade consiste no fato de eu não ter coração”, disse um poeta decadente. Isso também explica a fúria pelo primitivismo, pelo pensamento pré-lógico, que, na opinião deles, é mais profundo porque vem de longe, da barbárie. Ligados a isso estão os esforços para alcançar a desintegração do tempo, a destruição das leis de composição e sintaxe e, finalmente, o colapso da linguagem humana. (Uma das arqui-decadentes, Joyce, ela se esforçou, por exemplo, para criar a linguagem da água e do vento).
Mesmo nos casos em que os decadentes aceitam o ser humano em suas obras, não se trata do ser humano no sentido normal do termo. Ele é outra coisa, um substituto do indivíduo, um ser biológico, fora do tempo, do espaço e da sociedade. A decadência se esforça para tornar exatamente essa criação o herói típico da época. O Homem sem Qualidades é o título de um volumoso romance de Robert Musil, um dos livros mais didáticos da decadência moderna. O indivíduo que não pertence a nenhuma sociedade perde sua identidade e, assim, torna-se uma cifra. Tais personagens são extremamente necessários, hoje em dia, para a reação mundial. Assim, a arte burguesa está se esforçando para criar um novo anti-herói, um “forasteiro”, como é conhecido no Ocidente. Esse forasteiro, que preenche os livros, os palcos e os filmes do mundo burguês e revisionista, encarna a saída do nosso mundo, a rejeição vergonhosa da época. Ele não é uma invenção nova; pelo contrário, suas raízes devem ser buscadas nas profundezas da Bíblia e do Alcorão, que estão repletos de ideias reacionárias. Não é por acaso que um dos ideólogos burgueses atuais escreveu: “O indivíduo começa essa longa jornada como um forasteiro e a terminará, talvez, como um santo”. Os hippies de hoje, ou os forasteiros e anti-heróis de Camus ou Becket, nada mais são do que modificações dos santos barbudos que vagavam pelo deserto do Sinai há dois mil anos, os eremitas, os palmers ou os muçulmanos em peregrinação a Meca. Todas essas ignorâncias e obscuridades mofadas foram herdadas pelas artes burguesas e revisionistas contemporâneas. Portanto, embora essa arte degradada se afirme como atualizada e moderna, na realidade ela é antiga e dogmática ao extremo.
Na 4ª Plenária do Comitê Central do Partido do Trabalho da Albânia (PTA), o camarada Enver Hoxha fez uma análise profundamente marxista da essência verdadeiramente conservadora da burguesia e dos revisionistas atuais. O camarada Enver Hoxha diz: “Não são apenas as ideologias seculares, mas também as ideologias burguesas e revisionistas degeneradas atuais, com todo o seu liberalismo e modernismo, que são conservadoras”. Aplicando a tese do camarada Enver Hoxha no campo das literaturas e das artes, não é difícil perceber a santa aliança entre o conservadorismo mais raivoso e o modernismo mais dissoluto de nosso tempo. Vamos mencionar alguns fatos da história da nossa literatura. Quem foi o maior conservador das letras albanesas, e não apenas das letras, mas de toda a nossa cultura? Sem dúvida, foi Gjergj Fishta. Um fanático raivoso, idealizando tudo o que é patriarcal, um apologista da religião e das instituições medievais, louvando o primitivismo, um inimigo feroz de qualquer progresso – isto resume esse clérigo literário. Entretanto, se perguntarmos quem foi o maior liberal da literatura albanesa, a resposta é a mesma: novamente, Gjergj Fishta. Ele era um halófilo raivoso, um agente do Vaticano, um emissário da ocupação fascista e um defensor da desnacionalização e romanização de nossa cultura. Ele era, por um lado, um arquiconservador fanático, por outro, um arquiliberal, um chauvinista raivoso e um cosmopolita convicto. Quando se tratava de novas ideias sociais, progresso ou revolução, ele era o conservador mais fanático. Quando se tratava do destino da pátria, da liberdade ou das fronteiras, ele era o maior liberal.
O mesmo exemplo é fornecido pela figura do literato fascista Ernest Koliqi. Seu extremo conservadorismo não o impediu de usar, em sua obra reacionária, uma teoria muito apreciada pelo modernismo atual, o freudianismo. Assim, em seus escritos, ele aparece ora como um conservador fanático, ora como um esnobe delirante.
Seria difícil encontrar outra teoria que tenha servido tanto ao conservadorismo quanto ao liberalismo com tanto zelo quanto o freudianismo. Sua essência conservadora, um apelo ao retorno à barbárie, não afasta, mas, ao contrário, atrai ainda mais os artistas decadentes de todos os matizes.
Essa santa aliança entre o conservadorismo e o liberalismo é fácil de explicar se analisarmos o problema do ponto de vista marxista. No final das contas, o objetivo dos dois lados, conservador e liberal, é o mesmo: um retorno ao mundo derrubado, uma reconquista do “paraíso perdido”.
Enquanto correm freneticamente para destruir o elo que conecta o indivíduo e sua arte com a sociedade e a comunidade humana, os decadentes nunca se esquecem de atacar o outro elo, aquele que mantém o indivíduo e sua arte conectados com seu povo, sua nação e seu caráter nacional. Eles atacam furiosamente esses dois elos porque sabem que, se eles puderem ser destruídos, os valores espirituais estarão à mercê da torrente furiosa da reação mundial.
O autodenominado escritor, inimigo do partido, Fadil Paçrami, preencheu seus esforços dramáticos com sombras, e não com seres humanos. Tanto ele quanto Todi Lubonja eram oponentes frenéticos do caráter nacional em nossas artes, principalmente na poesia. Fadil Paçrami odiava referências aos pais, na escultura ele se opunha às mães, na prosa ele desprezava as histórias sobre as idosas de lenços pretos. Ele ficava aterrorizado, como um paxá turco diante de uma menção a Skanderbeg. Assim, ele não suportava nada relacionado aos fundamentos do povo ou da nação. Desse ponto de vista, ele se assemelhava àqueles estudiosos tolos da Ilha Laputa, de Jonathan Swift; Swift nos conta como estavam tentando inventar um método para começar a construção de casas do telhado para baixo. O direitismo de Todi Lubonja e Fadil Paçrami, seu cosmopolitismo, sua aversão ao folclore e seu anti-albanismo mostraram mais uma vez que a luta de classes no campo da literatura e das artes ainda está viva e permanecerá assim por muito tempo.
Como parte integrante do mecanismo da revolução, o realismo socialista tem os mesmos inimigos que a revolução. Sua fúria e seus ataques ferozes apenas mostram sua força e o perigo que representa para as classes dominantes. As acusações de que ele é “estreito e limitado” por regras restritivas que encurtam sua vida foram refutadas inúmeras vezes. O realismo socialista é a arte do futuro. Ele tem um enorme potencial para produzir obras de espírito e profundidade épicas, poder dramático e alto nível ideológico-artístico. Essas qualidades lhe foram conferidas pela revolução socialista. A liberdade decorrente da revolução é a maior liberdade já vista neste planeta, porque é a liberdade para milhões de pessoas. Antes dessa liberdade, todas as outras liberdades celebradas pelos poetas se obscurecem. O realismo socialista, como uma criação da revolução, desfruta da mesma liberdade que a revolução. Não obedece a regras e dogmas, como afirmam seus inimigos declarados ou seus falsos amigos, mas obedece apenas às leis da revolução e reconhece e respeita essas leis; isso não dá origem à fraqueza e a uma vida curta, mas, ao contrário, à força e à imortalidade. Às vezes, nós mesmos, escritores e artistas do realismo socialista, não sabemos como usar melhor, ou somos incapazes de usar as possibilidades menos limitadas dessa arte. O marxismo diz que, muitas vezes, acontece que o primeiro gosto estético dos elementos da classe vitoriosa é o das últimas preferências da classe derrotada; o dever constante de todos, e em especial o nosso, os artistas, é o de nos livrarmos de tais elementos.
Rejeitando totalmente a teoria do realismo “sem limites” promulgada pelo revisionista francês Roger Garaudy, que visa integrar uma parte da decadência ao realismo socialista, também somos contra limitações artificiais do escopo da nova arte da classe operária. O realismo socialista tem tanta força interna que é capaz de desenvolver todos os temas em seu âmbito, começando com a revolução proletária e terminando com as lendas mais profundas dos séculos. Ele está em condições de reexaminar e reexplicar artisticamente o mundo inteiro, desde o cerco de Troia até o cerco imperialista-revisionista. Essa nova capacidade de esclarecer lhe é dada pela própria revolução; é exatamente aí que reside a essência de seu grande potencial de inovação. Limitar a esfera do realismo socialista no tempo e no espaço apenas separa as raízes dessa arte de seus fundamentos nacionais e dá o domínio completo de cinco mil anos da história dos povos à tirania cultural de todas as velhas superestruturas.
A época do capitalismo está em declínio, e o tom mais elevado da arte internacional está sendo estabelecida, e será ainda mais estabelecida nos próximos anos, não pela burguesia, mas pela classe operária. O realismo socialista ainda está em seus primeiros anos. Nos próximos anos, ele estreitará cada vez mais o império cultural burguês-revisionista até que, finalmente, o cercará. Graças à posição de vanguarda do Partido do Trabalho da Albânia na luta contra o velho mundo, na estrutura da arte mundial comunista, a nova arte albanesa tem hoje uma posição privilegiada e um potencial ilimitado para grandes obras.