Explorados e Exploradores

Marta Harnecker e Gabriela Uribe


4. As relações sociais de produção


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Vimos até aqui como em todos os processos de produção se estabelecem determinadas relações entre os proprietários dos meios de produção e os trabalhadores ou produtores directos.

A estas relações que se estabelecem entre os homens, determinadas pela relação de propriedade que estes têm com os meios de produção, chamaremos RELAÇÕES SOCIAIS DE PRODUÇÃO.

Podemos distinguir dois tipos fundamentais de relações sociais de produção: a relação explorador/explorado e as relações de colaboração recíproca.

a) A relação explorador/explorado.

A relação explorador/explorado existe quando os proprietários dos meios de produção vivem do trabalho dos produtores directos. As principais relações de exploração são: as relações esclavagistas, nas quais o amo é não só proprietário dos meios de produção como também da própria pessoa do escravo e, portanto, da sua força do trabalho; as relações servis, nas quais o senhor é o proprietário da terra e o servo depende dele e deve trabalhar gratuitamente para ele durante um certo número de dias por ano; e por último, as relações capitalistas, em que o capitalista é o proprietário dos meios de produção e o operário deve vender a sua força de trabalho para poder viver.

b) Relações de colaboração recíproca.

As relações de colaboração recíproca estabelecem-se quando existe propriedade social dos meios de produção e quando nenhum sector da sociedade explora outro. Por exemplo, as relações de colaboração recíproca que existem entre os membros das comunidades primitivas ou as relações de colaboração que caracterizam a sociedade comunista.

Ora bem, é importante esclarecer que as relações que se estabelecem entre os homens no processo de produção não são apenas relações sociais, relações humanas. São relações entre agentes da produção, isto é, entre homens que realizam tarefas bem determinadas na produção de bens materiais. Já vimos de que modo estas relações dependem da forma como estes agentes estão relacionados com os meios de produção: proprietários/não proprietários.

A relação que se estabelece entre os homens resulta da sua relação de propriedade com determinadas coisas: os meios de produção.

Enquanto os meios de produção forem possuídos por um pequeno número de pessoas as relações entre os homens que os possuem e os que não possuem não poderão deixar de ser relações de exploração, de opressão, isto é, relações antagônicas, relações em que os interesses de um grupo se opõem totalmente aos interesses do outro grupo.

Os interesses dos exploradores consistem em prosseguir a exploração dos trabalhadores para poderem continuar a gozar da sua situação de privilegiados. Os interesses dos trabalhadores dirigem-se no sentido da destruição dessa situação de exploração.

Este é um ponto muito importante pois deita por terra todas as ilusões suscitadas por alguns acerca da "colaboração entre os operários e patrões". As relações entre operários e patrões não poderão ser fraternais, amistosas, enquanto as relações destes com os meios de produção não se modificarem, isto é, enquanto não se termine com a propriedade privada capitalista dos meios de produção; porém nessa altura o patrão como tal também desaparecerá. As relações sociais de produção são, portanto, relações que se estabelecem independentemente da vontade ou do desejo dos homens O capitalista explora e explorará o operário mesmo que não o queira fazer, mesmo que pessoalmente lute contra essa exploração, pois as leis do sistema capitalista são inflexíveis. Se o capitalista paga salários muito elevados e, apesar disso mantém os mesmos preços para poder vender está a diminuir os seus lucros. Porém, uma parte dos lucros deve ser reinvestida na empresa para poder aperfeiçoar a sua tecnologia e desse modo poder competir com os seus concorrentes no mercado. O que acontece então é que este capitalista vai ficando para trás até que chega o momento em que já não pode competir com os preços mais baixos dos outros capitalistas que melhoraram as suas indústrias e, portanto, vai à falência.

Portanto no sistema capitalista apenas se apresenta uma alternativa aos trabalhadores: «ou a sua exploração ou a morte dos empresários».

Ora bem, quando o marxismo afirma que ó necessário destruir as relações capitalistas de produção, que é necessário que «o empresário morra» não está a afirmar que os capitalistas devem ser destruídos fisicamente. A afirmação corresponde a algo muito diferente; o que deve desaparecer não é a pessoa do capitalista mas sim a exploração, isto é, o papel de explorador que este desempenha. Se o capitalista aceita ser expropriado e oferece os seus serviços ao novo sistema económico que se pretende implantar, desaparecerá como capitalista, como explorador, mas não desaparecerá como homem, pelo contrário, pode agora cumprir uma função de verdadeiro serviço à sociedade.


Inclusão: 11/05/2020